Sasuke saiu da sala de reuniões como um furacão.
Sua visão turva e os sentidos nublados pela fúria. O sangue corria como lava pelas veias e parecia não enxergar nada a sua frente.
Como uma locomotiva descontrolada atravessava os corredores da Sharingan sem nem se dar conta das pessoas que praticamente atropelava.
Naruto vinha atrás gritando seu nome e ordens para que saíssem do caminho dele. Tinha consciência que no atual estado em que seu melhor amigo estava era capaz de matar qualquer um que tivesse a infelicidade de perturba-lo.
Apesar dos chamados aflitos de Naruto, Sasuke nada escutava. O ambiente ao redor parecia sem som algum e tudo que ele fazia era continuar correndo.
No exato momento em que se deu conta que Sakura fora maltratada de alguma forma sua mente apagou.
Agora o Oyabun era movido apenas pela fúria e pela vontade de resgata-la.
E nada iria para-lo.
– SASUKE! – Naruto chamava desesperado tentando acompanhar o ritmo do Uchiha ao descer a grande escadaria principal da mansão.
Mas ele só parou na sala de armas onde passou tão rápido que nem deu tempo do Uzumaki entrar junto. Saiu de lá com as mãos ocupadas por uma escopeta, nas costas a inseparável Kusanagi e enquanto andava colocava as munições nos bolsos.
– Vai dar muita merda – Naruto choramingava sozinho conferindo suas armas e munições também enquanto apressava o passo – Que Deus nos ajude!
E quando chegaram ao estacionamento achou que o moreno fosse pegar um dos esportivos de luxo que deixava nas vagas destinas a ele, mas não, ele passou direto parando no último carro coberto com uma lona preta.
Levantando poeira a lona foi ao chão revelando o Mitsubishi Eclipse GT que Sasuke costumava usar quando eram adolescentes e participavam de rachas. A boca de Naruto foi ao chão e mesmo sem acreditar entrou antes que o carro arrancasse.
– Porque não a Ferrari?! – Perguntou apontando para o veiculo vermelho exuberante que estava a duas vagas de distância. O Eclipse era o único carro de Sasuke que não era blindado e se estivesse certo, era exatamente do que iriam precisar para não morrer.
– Para busca-la só confio em um carro que eu tenha montado – Disse dando partida fazendo o motor rugir alto no estacionamento silencioso.
Quando tirou carteira de motorista ganhou o Mitsubishi Eclipse GT de presente de Itachi, e juntos desmontaram e remontaram o veiculo para que ficasse perfeito. Sasuke nunca perdeu uma corrida com ele e foi assim até ter que parar quando o pai descobriu que em vez de treinar no dojo com Kakashi para assumir a Sharingan estava em meio a corridas ilegais. Provavelmente havia sido um dos únicos atos de rebeldia de sua juventude e sentia falta da adrenalina que as noites de velocidade o proporcionavam.
O carro preto saiu cantando pneu pela pacata rua onde ficava a sede da Sharingan. Vendo o modo insano que Sasuke dirigia Naruto teve certeza que se não morresse em Oto, morreria no caminho.
O Uchiha simplesmente ignorava a existência de sinais de trânsito.
Buzinas e xingamentos eram direcionados a eles a todo o tempo mas ele não se importava.
Precisava ir mais rápido.
A imagem de Sakura caída e machucada passava incessantemente em sua mente como uma tortura particular e a cada vez que isso acontecia ele acelerava mais.
Costurando entre carros, motos, ônibus e até pedestres que com certeza viam suas vidas passarem diante de seus olhos naqueles momentos.
Em pouco tempo já estavam saindo de Tóquio e Naruto sabia que dali para frente estariam sozinhos, fora do alcance de reforços.
Por mais que ao seu lado fosse o Oyabun mais poderoso do Japão, fora da cidade sede eles perdiam a proteção que tinham.
Estava tão concentrado nas manobras imprudentes que Sasuke fazia na estrada que assustou quando seu celular tocou.
– Naruto, onde vocês estão? – A voz de Itachi do outro lado da linha era aflita.
– Em um carro a 200 km/h saindo de Tóquio e indo para Oto – Respondeu e aparentemente a informação fez com que Sasuke achasse que a velocidade ainda era insuficiente, e o ronco alto do motor potente avisou que estava trabalhando a toda quando ele trocou de marcha e enterrou o pé no acelerador até atingir a velocidade máxima.
O corpo do Uzumaki foi impulsionado para trás tamanha a velocidade e na esperança que Itachi pudesse acalmar o Oyabun, colocou o celular no viva voz.
– Como assim Oto? – Ouviram a voz de Fugaku – Vocês estão loucos?! – Se bem conhecia o ex-Oyabun ele estava praticamente arrancando os cabelos pela situação.
– Não – Sasuke respondeu antes que Naruto pudesse falar qualquer coisa – Estou pouco me importando com Orochimaru – Disse com a voz banhada em desprezo – Estou indo buscar o que é meu.
“Ela está bem”, repetia como uma reza em pensamentos apertando o volante com força tentando se convencer. Precisava acreditar nisso se não quisesse perder de vez o fio de razão que ainda tinha.
Precisava ir mais rápido.
– Não se atreva Uchiha Sasuke! – Escutou a voz de seu pai repreende-lo como fazia quando era criança.
Mas diferente daquela época agora não sentia medo.
Não dele.
O medo que sentia agora era apenas um: perde-la.
Precisava ir mais rápido.
– O que você vai fazer? – Itachi perguntou apreensivo.
Naruto olhou em expectativa para o amigo que se concentrava na estrada, os olhos ônix mais ferozes que nunca.
– Vou invadir Otogakure e matar quem ficar na minha frente – A voz saiu tão fria e ameaçadora que ninguém duvidou que ele seria capaz de cumprir o que falou.
O Uzumaki desligou o telefone e jogou a cabeça para trás tendo consciência que estavam prestes a inciar uma guerra.
• • • • • • •
– ITACHI! – Escutou o grito feminino tão conhecido e olhou para trás vendo a esposa alcança-lo ofegante pela corrida – O que pensa que está fazendo? – Apontou para o helicóptero onde Kakashi já ocupava o lugar do piloto checando tudo para decolagem enquanto Shisui e Obito carregavam algumas armas.
– Vou ajudar meu irmãozinho – Sorriu para tranquiliza-la mas o ato apenas fez com que ficasse mais irritada.
– Seu idiota! – Socou o braço do marido e logo depois tirou os brincos e o paletó, que usava em conjunto com uma saia para trabalhar, entregando para um dos empregados que ajudavam no carregamento das armas.
– O que está fazendo? – Perguntou parando o que fazia para olhar Izumi prendendo os cabelos em um rabo de cavalo alto.
– Vou junto obviamente – Disse passando pelo marido e sentando no helicóptero – Você não vem? – Perguntou sorrindo enquanto conferia a munição de uma Sniper M24 que Obito lhe passou.
– Já disse que te amo hoje? – Perguntou encantado entrando também antes que um seguranças fechasse a porta.
Só estava tranquilo em deixa-la ir pois sabia que Ryou estava com dona Mikoto seguro na mansão Uchiha.
Com a cabeça livre de preocupações estavam prontos para auxiliar Sasuke no que ele precisasse.
Mas antes de decolar tinha algo importante a fazer.
– Temos uma situação em andamento aqui – Disse segurando o celular entre o ombro e a cabeça enquanto tinha as mãos ocupadas com um rifle idêntico ao de Izumi – Podemos contar com a Shukaku?
– Claro – A voz sempre controlada e séria de Gaara foi ouvida do outro lado da linha – O que precisam?
– Digamos que o Oyabun-sama tenha decidido invadir o território da Akatsuki para recuperar uma pessoa importante para ele – Começou meio incerto sabendo que convocar o clã de Suna para a luta geraria uma grande dor de cabeça com os outros clãs – Você aceitaria ir como apoio? Não acho que vamos chegar a tempo, ele está em alta velocidade pela estrada principal.
A linha ficou muda por um tempo e Itachi viu Kakashi começar a comunicar com a torre para levantar voo. Precisa encerrar a ligação.
– Sim – Disse por fim – Mas antes quero deixar registrado nessa ligação que informei ao Oyabun Uchiha que estou invadindo território de outro clã sem autorização.
– Na ausência do meu irmão eu respondo por ele – Explicou rapidamente – Não se preocupe que com os outros clãs a Sharingan resolve, pode invadir sem medo.
– Como se eu tivesse – E finalizou a ligação.
Itachi então apertou o cinto, conferiu o de Izumi mesmo sob protestos indignados dela e assumiu a postura que sempre tinha em missão.
O helicóptero levantou voo tendo com destino a cidade de Otogakure.
• • • • • • •
Quando a vegetação que os acompanhava ao longo da estrada começou a ficar escassa, Sasuke soube que estavam chegando.
As árvores frondosas eram gradativamente sendo substituídas por paredes rochosas e montes com os picos cheios de neve. O inverno já dava sinais de chegar naquela região também mas ele não sentia frio.
Estava fervendo por dentro em ódio.
Quando passaram por baixo da grande placa “Bem vindo a Otogakure” tanto Sasuke quanto Naruto souberam que não havia mais volta.
– Eles logo vão aparecer – O Uzumaki falou enquanto se ajeitava no assento com a arma em mãos, olhando atentamente pela janela como se esperasse que o inimigo fosse surgir naquele momento.
Sasuke nada disse, se concentrava em manter o controle do carro e também pensar onde começar a procura-la.
“Sede da Akatsuki”, o pensamento lhe ocorreu ao mesmo tempo que chegava ao centro da cidade. Havia passado por Oto apenas uma vez quando mais novo, para aceitar a mão de Karin em casamento, mas sua memória era boa e não teria dificuldades para se localizar.
Mas foi só o tomar a decisão que percebeu pelo retrovisor alguns carros pretos surgindo de algumas ruas adjacentes.
– Já sabem que estamos aqui – Informou para Naruto virando bruscamente para entrar em uma rua mais estreita. Assim que concluiu a curva mudou a marcha e pisou fundo no acelerador. Os olhos alternando o caminho e o retrovisor onde os carros pretos já começavam a aparecer pela esquina fazendo o mesmo caminho que ele.
– Esses carros... São Geely GC9! São chineses! – Naruto exclamou quando o primeiro tiro acertou a lataria do Eclipse onde estavam.
– Merda! – Com agilidade conduziu o carro desviando do máximo de tiros que conseguia. Não tinham blindagem mas tinham velocidade e não era qualquer um que conseguia superar suas habilidades no volante. Mesmo estando enferrujado por tanto andar com motorista, ainda tinha as manhas do antigo Sasuke corredor.
A rua não estava muito movimentada, mas os poucos carros eram suficientes para atrapalhar nas manobras arriscadas que o Uchiha fazia desviando dos tiros.
– Só concentra em não bater essa merda – Naruto pediu para o melhor amigo antes de soltar o cinto de segurança.
Abaixou o vidro e colocou metade do corpo para fora sem se deixar abalar pela alta velocidade ou pelos carros que vez ou outra passavam buzinando rente a ele.
Com a mira perfeita devido aos anos de treino acertou em cheio a testa do motorista do carro que estava mais próximo. O vidro se quebrou e o corpo desfalecido caiu sobre o volante fazendo o veiculo perder o controle e ir de encontro a um poste.
Mais vidro se quebrou, mas dessa vez era o do carro em que estavam. Apreensivo deu uma conferida em Sasuke que nem parecia ter se dado conta da bala que atravessou o vidro traseiro até acertar o dianteiro, passando perto do banco do motorista.
Sem esperar mais voltou a posição anterior e errou três tiros por Sasuke ser obrigado a desviar de dois carros regulares que diminuíram a velocidade por conta de um sinal vermelho que foi prontamente ignorado pelo Uchiha.
Os barulhos de buzinas e batidas foram ouvidas quando passaram praticamente voando pelo cruzamento.
– Isso! – O Uzumaki comemorou quando um dos carros chineses que vinha logo atrás foi atingido por outro assim que furou o sinal.
Agora apenas um vinha em alta velocidade seguindo insistentemente colado a eles. O barulho dos tiros atingindo a lataria ecoava pelo carro e Naruto decidiu acabar com isso logo antes que perdessem a vida por uma dessas balas.
Depois de conferir a munição usou toda a sua concentração e disparou um único tiro na roda esquerda. E foi instantâneo o carro perder o controle, ziguezaguear pela pista, bater em outro veículo que estava próximo e capotar violentamente.
– UHUUUL – Naruto gritou animado voltando para o assento seguro dentro do carro. Apertou o cinto e depois de tentar ajeitar os cabelos que estavam em completa desordem olhou para Sasuke que continuava dirigindo como um louco.
Sasuke traçava um mapa mentalmente e se estivesse certo mais dois quarteirões e chegava na sede da Akatsuki.
Precisava ir mais rápido.
Seu coração até acelerava em expectativa na certeza de que se fosse necessário varreria da face da terra a existência desse clã.
– Itachi? – Naruto perguntou ao atender o celular já no viva voz. Não podia arriscar ficar com as mãos ocupadas com algo que não fosse suas armas.
– Naruto, avisa para o Sasuke que Gaara já está em Oto! – A voz saiu abafada pelo barulho alto do helicóptero – Ainda estou a caminho.
– Sabe onde ela está? – Sasuke perguntou sem paciência.
– Mantenha a calma – Praticamente implorou, sabendo que sua próxima informação iria abalar o irmão – Os homens da Shukaku estão no aeroporto. Já mandaram evacuar o local e aparentemente a Tríade está tentando sair do país.
Alguns segundos foram necessários para que Sasuke assimilasse a fala do irmão e quando o fez foi o estopim para perder o último fio de razão que ainda o restava.
Com uma freada brusca girou o volante de uma vez fazendo com que o carro derrapasse na pista dando meia volta fazendo os pneus protestarem contra o asfalto.
Assim que completou o giro trocou de marcha e afundou o pé no acelerador cantando pneu e fazendo subir poeira enquanto praticamente voava pela avenida. Estavam na contra mão e os carros que vinham certo eram obrigados a desviar subindo na calçada.
Precisava ir mais rápido.
– Aparentemente já iniciaram um confronto – Itachi informou depois de um tempo em silêncio – Os vôos regulares já foram interrompidos por conta da troca de tiros.
– Espero que pelo menos a Akatsuki faça um bom trabalho em manter a imprensa longe – Naruto resmungou.
Mesmo que no momento fossem inimigos, todos os clãs prezavam a discrição e se ainda restasse um pingo de consciência em Orochimaru a área do aeroporto já estaria sendo isolada para ninguém presenciar o confronto.
Mas Sasuke só conseguia pensar em Sakura.
Ela estava perto, apenas mais alguns quilômetros e poderia salva-la.
Mesmo que o pensamento negativo sobre ela estar morta passasse mais vezes do que o saudável por sua cabeça, se segurava na certeza que o que tivesse ao seu alcance seria feito para resgata-la.
Mesmo que tivesse todos os motivos para deixar o pessimismo dominar, continuava a acelerar.
Precisava ir mais rápido.
Quando a construção moderna e o letreiro “Otogakure International Airport” surgiram logo após uma curva feita em drift os dois ocupantes do carro perceberam que não seria exatamente fácil chegar até ele.
Definitivamente a Akatsuki estava trabalhando junto com a Tríade Chinesa. A grande avenida que precisavam percorrer até chegar ao aeroporto estava vazia, o trânsito já havia sido interrompido por quase todas as vias de acesso. Apenas duas estavam liberadas e ao passar por elas mais carros começaram a segui-los.
Não só os chineses como anteriormente, mas agora modelos esportivos também e o Uchiha sabia que eram os homens de Orochimaru.
Não demorou muito para tiros começarem a ser disparados contra o Eclipse. Aproveitando a pista completamente vazia e em linha reta Sasuke pisou sem dó no acelerador como costumava fazer nos rachas de sua adolescência.
Os carros inimigos foram ficando para trás e o aeroporto cada vez mais perto. O telefone tocou novamente assim que avistaram agora uma barreira policial.
– Sasuke! – A voz de Itachi era aflita – Já estou sobrevoando a entrada da cidade mas acabei de receber uma ligação de Gaara. Ela já está dentro de um jato na pista esperando para decolar – Explicou rapidamente – Você não tem mais tempo.
A fala do irmão ficou ecoando na mente de Sasuke e por alguns segundos ele foi desacelerando o carro, perdido como se suas forças tivessem sido roubadas.
“Você não tem mais tempo”
Conseguia escutar Naruto discutindo com Itachi ao longe, era como se todos os sons do mundo estivessem abafados.
Os tiros recomeçaram a atingir a lataria do carro mas ele nada escutava.
“Você não tem mais tempo”
Naruto agora gritava e sacudia seu ombro enquanto o carro perdia cada vez mais velocidade.
“Você não tem mais tempo”
Se aquele avião levantasse voo, se Sakura deixasse o país ele nada mais poderia fazer. Se no Japão ele era o mais poderoso, lá fora ele estava a merce de outras máfias.
A mulher que fazia seu coração bater mais forte, que dominava seus sonhos e pensamentos, que com um sorriso fazia seu mundo sempre cinza se encher de cor.
Aquela por quem ele seria capaz de fazer qualquer coisa.
E faria.
“Você não tem mais tempo”
[On Track: Dream On - Blacktop Mojo (Aerosmith cover)]
– NÃO! – Sua voz saiu como um rugido furioso e angustiado.
Rapidamente recobrou a consciência e trocando a marcha voltou a acelerar, o ponteiro do velocímetro apenas aumentava a medida que o carro voltava a ganhar velocidade.
Sem mais se importar com nada a não ser Sakura, passou pela barreira policial lançando homens e cones para todos os lados, empurrando com seu carro as viaturas que fechavam a rua.
Alguns tiros atingiram o para-brisa mas ele não ligava.
Precisava ir mais rápido.
– Sasuke, o que você ‘tá fazendo? – Naruto perguntou vendo que o moreno parecia estar em transe – Sasuke!
Ele não escutava nada, era como se apenas visse o sorriso dela a sua frente e precisasse ir a toda velocidade para salva-la.
Precisava ir mais rápido.
– Naruto, o que ele está fazendo? – Itachi perguntou aflito – Sasuke! – Chamou o irmão sem deixar que o loiro respondesse – Gaara está atrasando eles, mas você tem dez minutos para estar na pista antes que seja tarde!
Poucos minutos definiriam sua vida.
Minutos que poderiam custar a vida da mulher que amava.
Os carros dos inimigos se aproximavam e mais tiros eram disparados. Alguns seguranças e membros da Akatsuki já os esperava na frente da entrada do aeroporto fortemente armados.
“você tem dez minutos para estar na pista antes que seja tarde”
Apertou as mãos no volante com força.
“Sasuke-kun”
Conseguia ouvia-la chamando seu nome.
“Você não tem mais tempo”
A adrenalina dominou todo seu corpo e ao trocar da quinta para a sexta marcha atingiu finalmente a velocidade máxima.
Indo a 228 km/h ele praticamente voou pela avenida vazia e antes que Naruto fizesse qualquer coisa para impedir o Mitsubish Eclipse preto se chocou contra a parede de vidro que compunha a fachada do aeroporto como em um daqueles filmes de ação.
– CARALHOOO! – Naruto gritou enquanto vidro voava para todo lado e as quatro rodas saiam do chão por um curto período de tempo.
Segurou onde conseguiu e olhou para Sasuke horrorizado, quase batendo a cabeça no teto quando aterrizaram já dentro do prédio. Ele estava louco!
O Uchiha, sem diminuir a velocidade e mais insano do que nunca, derrapou pelo piso encerado do saguão lançando para o ar tudo com o que se chocava. Seus olhos cravados no avião que já estava na pista de decolagem.
O avião que a levaria para longe dele.
E com esse pensamento não exitou em acelerar com tudo no vidro que dividia o saguão da pista atravessando em meio aos cacos e pedaços do próprio carro já bem avariado.
Agradecido pelo bom amortecedor que seu carro tinha, acelerou mais ainda quando atingiu o solo e o carro estabilizou. Segurando o freio de mão girou o volante fazendo o carro derrapar ruidosamente até parar por completo em frente ao jato particular que ainda tinha a porta aberta e a escada acoplada.
– Eu ‘tô logo atrás de você – Naruto informou recarregando a munição de suas armas.
Sem esperar mais Sasuke puxou do espaço atrás do banco a escopeta e a Kusanagi. A Katana foi para as costas mas ao abrir a porta e se deparar com o primeiro inimigo não exitou em disparar um tiro potente da arma que tinha em mãos.
O corpo do infeliz voou longe.
Saiu completamente do carro e olhou atento toda a situação.
Protegidos por alguns carros que transportavam bagagem estava os homens da Shukaku. A cabeleira ruiva de Gaara chamava a atenção em meio aos tiros que eram trocados. Do outro lado, protegidos por carros iguais aos que os perseguiram até ali, estavam os membros da Tríade.
Em segundos fez os cálculos de quantos homens haviam ali e depois de fazer o movimento de recarregar a arma que tinha em mãos atirou no que estava mais próximo o matando instantaneamente. A cabeça praticamente explodiu em vários pedaços mas o moreno nem se importou com isso, já bombeou para carregar mais uma vez e mirou em outro que vinha logo atrás. Desviou de alguns tiros e Naruto atrás acertou mais três que miravam no Oyabun. Seu trabalho ali era protege-lo com sua vida se fosse necessário.
Quem se aproximava tinham morte certa pelo poder de fogo da arma que Sasuke tinha em mãos. Quando as balas acabaram não se abalou e acertou a arma descarregada na cabeça de um que caiu inconsciência no mesmo momento, quebrou o nariz de outro e depois puxou as duas semi automáticas do bolso acertando a cabeça de mais dois inimigos que vinham em sua direção. Cada vez mais irado vendo a movimentação dentro do avião começou a atirar várias vezes seguidas acertando quem conseguisse. As balas acabaram rapidamente já que parecia aparecer três chineses para cada um que morria.
As armas descarregadas foram para os bolsos e com agilidade agora empunhava sua Kusanagi. Naruto atrás dele já ia no braço mesmo até se divertindo a cada nariz que afundava, desviando das balas e tendo a cobertura dos membros da Shukaku.
A lamina da katana cortava quem quer que cruzasse seu caminho.
– Vamos levantar voo – Escutou um mais atrás gritar – Leva a vadia daqui, esse homem vai matar todos nos – Falava em chinês mas Sasuke entendia perfeitamente pelos anos que passou estudando várias línguas para agradar o pai.
Cortou fora a cabeça de um e viu em meio ao sangue o homem subir as escadas apressado com clara pretensão de mandar iniciarem a decolagem.
Com precisão e toda sua força lançou sua katana como uma lança que entrou pelo ombro direito do chinês fazendo com que esse rolasse em meio ao sangue escada abaixo.
Precisava ir mais rápido.
Desarmado agora apenas contava com a proteção da Shukaku, mas não precisava de muito mais. Os treinos exaustivos com Kakashi eram mais que suficiente para resolver essa situação.
Puxou um inimigo que chegava pronto para soca-lo e bateu a cabeça com força na dele que desnorteado nem percebeu quando teve seu pescoço torcido. Com o corpo sem vida nos braços usou como escudo para alguns tiros e o atirou em cima de dois que corriam em sua direção.
Eles estavam começando a recuar amedrontados. Mais deles subiam as escadas entrando no avião e pelo vidro da cabine viu iniciarem uma movimentação para decolar.
Não tinha mais tempo.
Precisava ir mais rápido.
Completamente fora de si chutou o homem com quem lutava e depois bateu a cabeça dele na lataria do avião com toda a força que tinha.
Virou já socando mais um e com força torceu o pescoço produzindo o barulho desagradável mas que sinalizava que mais uma vida havia sido tirada.
Antes que pudesse alcançar a escada um tiro foi disparado contra seu ombro direito. A dor o fez vacilar por um momento, mas não o suficiente de o impedir de puxar o atirador com força e jogar de cabeça no chão lá do alto da escada. Outros dois vieram e tiveram o mesmo destino, descendo os degraus já sem vida.
Quando entrou no avião quatro homens o esperavam, infelizmente para eles estavam desarmados. Eram bons lutadores mas com facilidade Sasuke praticamente esmagou a cabeça de três deles contra o bagageiro. O quarto e último era o melhor lutador, mas não melhor que ele que estava dominado pela fúria e pela vontade de resgatar a mulher que amava.
– Me leve até ela – Exigiu entredentes mais ameaçador do que nunca enquanto pressionava a cabeça do infeliz na janela arredondada do avião.
Já sem ter como respirar e morrendo de medo do homem que sabia ser conhecido por não possuir piedade ou sentimentos se rendeu.
Ao fundo do avião em uma parte mais reservada viu aquela que o tirava de orbita. Não conseguiu impedir o suspiro aliviado que soltou ao ver o peito subir e descer calmamente indicando a respiração dela.
Parecia tão pequena e indefesa deitada naquele lugar. O rosto ainda estava machado pelo sangue agora seco e o cabelo rosado com corte desigual estava espalhado pelo estofado da poltrona.
Mas mais importante de tudo: Ela estava viva.
– Porque ela está assim? – Perguntou em um fio de voz sentindo as mãos tremerem em raiva. Olhando irado para os pulsos delicados dela que de tão fortemente amarados sangravam um pouco.
Aguardou a resposta mas tendo apenas o silêncio bateu o rosto do homem contra a parede com força.
– Ela machucou dois dos nossos homens quando foram cortar o cabelo dela – Explicou com dificuldade em meio ao sangue que saia de seu nariz – Demos apenas uma droga para que ela parasse de tentar acertar quem chegasse perto.
– Entendo – Disse e então bateu a cabeça dele mais uma vez na parede fazendo com que caísse já sem vida no chão.
Virou na direção dela e mesmo maravilhado por, depois de longos cinco anos, poder tocar nela apenas se concentrou em desamarrar os pulsos e os pés.
Sentindo que ela se encaixava perfeitamente em seus braços a carregou como uma noiva em direção a saída. Era tão leve como se lembrava e parecia ser o local perfeito para ela estar.
A saudade que sentia diariamente apenas aumentou ao, sem conseguir se conter, passou o nariz suavemente pelos fios rosados como um carinho.
O cheiro de baunilha característico dela varreu para longe toda a fúria que dominou desde quando soube que ela havia sido levada.
Era como finalmente estar em casa.
A apertou mais forte entre seus braços, mas assim que saiu da parte reservada do avião viu um dos membros da Tríade olhando assustado em sua direção.
Os dois ficaram se encarando por um tempo até que o chinês corresse para a cabine batendo a porta com força.
Olhou por mais um tempo para lá ponderando se valeria a pena arrombar e acabar com a vida de mais esse que ousou desafia-lo, mas teve os pensamentos interrompidos pelo barulho do motor e das turbinas do avião começando a funcionar.
– Maldito – Praguejou correndo até a porta ao mesmo tempo que de maneira desajeitada o avião começasse a se mover pela pista. A escada ficou para trás assim como seus aliados.
Ainda taxiava pela pista até a posição necessária para iniciar a decolagem e Sasuke viu que teria que tomar uma decisão naquele momento.
Olhou para a mulher em seus braços, com o rosto de traços delicados e bochechas rosadas e teve certeza do que iria fazer.
Analisando a distância e a velocidade – Agradecendo por ser um jato particular e não um avião maior – respirou fundo e segurando firmemente o corpo de Sakura nos braços se lançou para fora do avião de modo que caiu com as costas na pista absorvendo todo o impacto.
Rolaram algumas vezes até pararem, mas o Uchiha fez o possível para protege-la de qualquer contato com o chão aproveitando que seu corpo era muito maior que o dela.
Quando finalmente parou sentia as costas ardendo mas não era isso que o preocupava. Com cuidado sentou e acomodou Sakura vasculhando todo o corpo dela com os olhos atrás de algum machucado. Havia um ralado ali e outro aqui, mas nada demais.
Ainda estava desmaiada e isso o preocupava.
O que haviam dado para ela apagar dessa forma?
Olhou para trás e ao longe viu os membros da Shukaku correrem em sua direção com Naruto logo a frente. Estavam tão longe que mal conseguia enxerga-los.
Estava tão distraído vendo o grupo que não percebeu quando acertaram uma granada no jato que teve uma das asas feita em pedaços, perdendo o controle e batendo contra um galpão.
A explosão não foi grande mas temendo o pior se jogou de forma protetora por cima do corpo de Sakura.
O galpão já estava em chamas quando olhou novamente e perto dele viu Orochimaru e seus homens surgirem entre a fumaça. Estavam em maior quantidade visto que a cidade era deles, e por mais que os membros da Shukaku fossem fortes não teriam chances contra tantos.
Mesmo sentindo dor em cada parte de seu corpo levantou com a Haruno ainda nos braços e começou a se afastar o mais rápido que podia.
O Sasuke de anos atrás o julgaria um fraco por fugir. Nunca havia fugido de nada em sua vida e sempre achou quem o fazia covarde.
Mas se ser covarde era salvar a vida de Sakura, então definitivamente o era.
Não tinha condições de lutar e estavam em desvantagem. Se estivesse sozinho não se importaria de ir até seu limite e morrer com honra, mas com ela ali tão indefesa em seus braços não teria coragem.
O barulho dos carros inimigos ficava cada vez mais próximo e em meio a corrida desajeitada já via os membros da Shukaku se prepararem para a luta empunhando suas armas. Naruto parecia ter acelerado mais ainda a corrida e sabia que se fosse necessário o loiro levaria um tiro em seu lugar.
Já quase sem forças e sentindo sangue escorrer não só de suas costas como do buraco de bala em seu ombro, sentia uma tontura e a visão começar a embaçar.
“Não, só mais um pouco”, pedia em pensamento enquanto andava mais rápido. Vez ou outra desviava os olhos para ela como se precisasse disso para pegar forças.
[On Track: Hallelujah - Pentatonix (cover)]
Um tiro passou de raspão em seu braço e foi o suficiente para faze-lo cair de joelhos no chão.
Mesmo tendo sido apenas de raspão, o machucado logo começou a doer e também sangrar.
A força que tinha nos braços ia aos poucos acabando, mas se recusava a deixa-la cair.
– Sakura – Chamou com dificuldade quando escutou a troca de tiros iniciar e as balas passarem por cima de sua cabeça.
Viu alguns tiros acertarem o chão próximo a onde estava e soube que era questão de tempo para que um deles os atingisse.
– SASUKE! – Naruto gritou desesperado enquanto tentava alcançar o amigo.
Corria mais rápido que nunca.
A imagem do Oyabun ajoelhado sem forças e sangrando com Sakura em seus braços em meio ao tiroteio era agonizante.
– Sakura – Apertou a cabeça dela contra seu rosto assim que sentiu uma bala atingir no mesmo braço que já estava machucado.
A dor era intensa e agravada pela fraqueza.
“Sasuke-kun”
Mais uma bala passou raspando, dessa vez por seu rosto e foi exatamente quando achou tê-la escutado chamando seu nome.
Tirando forças da voz dela e da presença dela em seus braços levantou de uma vez ignorando toda a dor.
Não desistiria.
Nunca!
Não era qualquer um.
Era o Oyabun mais poderoso do Japão.
Não seriam alguns tiros que o parariam, ainda mais quando a vida dela estava em jogo.
Cambaleando mas com todas a determinação começou a correr em direção de Naruto que cobria sua retaguarda com tiros precisos.
“Sasuke-kun”
E com suas últimas forças tomou impulso e se jogou no chão com Sakura apertada ao seu corpo entre os membros da Shukaku.
Imediatamente Naruto se colocou a frente dele e revidando os tiros mesmo que esses fossem muitos. Carros com placa de Suna pararam e ele aproveitou para se refugir ali com Sakura usando a carroceria como proteção.
Se arrastou até lá deitando no asfalto com Sakura segura em seus braços mas ainda desacordada.
Alguns membros do clã de Suna já caiam sem vida ao redor deles, mas tudo o que via era o rosto dela.
Sereno como se nada acontecesse.
Sabia que não tinham chances e também não tinha mais forças para correr com ela dali.
Escutou os tiros inimigos ficarem cada vez mais próximos e fechou os olhos conformado encostando a testa na dela.
"Que nada aconteça com ela", pediu sentindo suas forças irem junto com o sangue que saia de seus ferimentos.
E foi quando o barulho alto de helicóptero foi ouvido.
Mais tiros disparados e esses agora vinham do céu.
Abriu os olhos com dificuldade e com a visão embaçada olhou para cima e sorriu como dificilmente fazia.
O simbolo da Sharingan brilhava na lateral do helicóptero e da porta aberta seu irmão atirava ferozmente sendo auxiliado por Izumi, Obito e Shisui.
Kakashi manobrava o helicóptero com habilidade e acertavam todos os tiros.
O calibre do armamento deles era mais pesado e pouco a pouco os homens da Akatsuki caiam.
Já completamente esgotado sucumbiu ao cansaço tendo como última visão os cabelos longos do irmão voando com o vento emoldurando seu rosto furioso.
E segurando Sakura entre seus braços fechou os olhos sabendo que seu nii-san viria salva-lo.
• • • • • • •
Acordou assustado não reconhecendo o lugar em que estava.
Sentou de uma vez na cama reparando no quarto branco mas confortável. Bastou alguns segundos para reconhecer as acomodações médicas do hospital particular da Sharingan.
Olhou para baixo e viu seu ombro enfaixado assim como seu braço.
Não sentia dor.
Só não sabia se era por se acostumado ou por conta de alguma medicação.
Sentia tudo meio devagar mas logo a lembrança do que aconteceu fez com que se levantasse da cama com velocidade. Cambaleou quase indo ao chão mas assim que conseguiu apoiar os pés de maneira firme foi em direção a porta.
A mão já estava na maçaneta quando essa foi aberta por Itachi.
– Sasuke! – Era claro seu alivio quando abraçou o irmão mais novo – Se quer me matar atira logo na minha cabeça porra – Bronqueou ao se afastar.
Mesmo encontrando resistência o empurrou de volta para a cama até que se sentasse contrariado.
– Mamãe e papai nem desconfiam ainda dessa merda que você aprontou... – Começou a tagarelar gesticulando irritado com os braços.
– Sakura – Foi a primeira coisa que falou quando Itachi parou de repreende-lo por tudo que fez.
– Claro – Riu e bagunçou os cabelos do mais novo – Está bem e já com as amigas em um dos quartos do melhor hospital da cidade.
Infelizmente não tinha como ela ser acomodada ali pois apenas membros da Sharingan eram permitidos.
Piscou algumas vezes e por fim fez um movimento para levantar sendo mais uma vez empurrado por Itachi para que voltasse para cama.
– Ela está bem, eu já disse – Falou enfadado – Os únicos machucados são aquele na cabeça, a marca das cordas nos pulsos e os ralados de quando vocês pularam do avião... E meu Deus, o que você tem na cabeça para pular de um avião?! – Questionou horrorizado – Quando Naruto me contou quase infartei! Não quero nem sonhar o que vai te acontecer se dona Mikoto descobrir!
Mesmo escutando que Sakura estava bem sentia necessidade de ver isso com os próprios olhos. Não que não acreditasse no irmão, mas tinha certeza que se julgasse necessário para protege-lo seria capaz de omitir informações.
Não podia arriscar.
E mais uma vez foi impedido de levantar pelo mais velho. Tinha certeza que se tivesse sua kusanagi ali teria cortado a cabeça de Itachi fora tamanha sua frustração.
Precisava ver Sakura.
– Você não ouse sair andando atrás dela – Ameaçou como um irmão mais velho ignorando o título de Oyabun a quem deveria respeitar e obedecer – Antes de procura-la tome um tempo para refletir e decidir o que vai fazer de agora para frente – Aconselhou sério – Qualquer decisão que tomar vai afetar a vida daquela mulher para sempre – Suavizou a expressão – E a sua também.
Vendo que Sasuke parecia absorver as palavras em silêncio se retirou do quarto.
Aquela situação era algo que o Oyabun precisava resolver sozinho.
• • • • • • •
– Então eu entrei na Louis Vuitton e comprei as cinco bolsas mais caras que eles tinham! – Ino narrava empolgada tudo o que fez com o cartão de Sasuke – Eu não podia ficar sentada esperando por notícias! Eu já não tinha mais lágrimas para derramar por não saber o que acontecia com você e não deixavam a gente entrar na Uchiha Corp. – Justificou apontando para Sakura – O gatinho do Sai não falava nada e antes que eu surtasse peguei o cartão e gastei sem dó mesmo!
– Juro que ela ia gastar mais – Tenten se juntou a narrativa, lembrando da loira abraçando as peças de roupa e chorando inconsolável por não ter Sakura junto com ela – Mas quando ela já ia comprar mais vestidos eu sugeri da gente levar algumas crianças para passear – Explicou agora já empolgada – Então conseguimos o contato de um orfanato e passamos o dia na Disney com trinta crianças!
– E compramos brinquedos e acessórios para todos! – A Yamanaka acrescentou sorrindo – Você tinha que ver que gracinha os sorrisos que eles deram – Tinha sido muito gratificante e mesmo que ela e Tenten não tivessem tido animação para brincar se sentiram bem pelo que fizeram.
Infelizmente tudo o que conseguiam pensar era em Sakura e no que ela estava passando nas mãos dos sequestradores enquanto estavam ali no "lugar mais feliz da terra".
– Quando a Ino falou que eles podiam pegar o que quisessem nas lojinhas foi uma bagunça – Riu ao lembrar da cena – Tinha uns que nem conseguiam carregar tudo o que pegaram.
– Mas eu passei o cartão sem peso na consciência – Se vangloriou – O rombo foi generoso.
Foi um modo de se distraírem já que de nada adiantava ficar chorando como estavam fazendo no hotel. Fizeram crianças felizes, se vingaram do Uchiha e quando voltaram descobriram que tudo havia finalmente se resolvido. Foram direto para o hospital encontrar a amiga.
Sakura sorriu imaginando toda a cena e ouvindo atentamente a narrativa das amigas.
– Espero que algum dia possa leva-lo na Disney também – Comentou com a voz fraca. Ainda estava cansada e sonolenta pela droga que usaram para faze-la dormir – Mas você já devolveu o cartão, não é?
Ino bufou e revirou os olhos sentando na cama.
– Sim – Respondeu por fim – Entreguei pro Sai falando que ele havia deixado a carteira cair. Não sei se ele acreditou mas parecia mais interessado em olhar minhas pernas do que pensar no que eu poderia ter feito com o cartão do babaca em mãos.
– Não o chame assim – A Haruno repreendeu – Se ele não tivesse pago o meu resgate eu não estaria aqui. – Pontuou agradecida – E por mais errado que ele seja, não devemos tratar ninguém com grosseria – Ainda tinha ressentimentos a respeito dele, mas acreditava sinceramente que não fazia bem ficar remoendo sentimentos negativos por quem quer que fosse.
O tempo a fez pensar com mais clareza e hoje em dia apenas queria ser feliz e nada mais. Tinha preocupações demais para ficar pensando no ex-namorado por quem infelizmente ainda tinha sentimentos.
– Mas a gente nem sabe se foi ele mesmo que pagou o resgate! – Ino exclamou indignada – Depois que ele disse “Vou ver o que posso fazer” – Tentou imitar a voz de Sasuke arrancando risadas das amigas – Nunca mais apareceu.
– Isso é verdade – Tenten concordou.
– Bem, ele é ocupado e nem deve se lembrar direito de mim – Falou calmamente, mesmo que por dentro ainda a perturbasse o tanto que não conhecia o homem com quem se relacionou – Independente de quem pagou ou não, o importante é que me libertaram.
Nenhuma das três tinha ideia do que havia acontecido de verdade.
Quando Sakura acordou foi informada que havia sido sequestrada por traficantes chineses que queriam extorquir dinheiro da Uchiha Corp.
O resgate foi pago e ela liberada perto do aeroporto de Otogakure, totalmente apagada por uma droga que injetaram nela.
Não viu Sasuke em momento algum, nem Naruto. Sai foi encarregado de cuidar delas e era quem tirava as dúvidas ou auxiliava caso precisassem de alguma coisa.
Mas sempre se esquivava quando perguntada sobre Sasuke.
– Isso é verdade! – Ino abriu um sorriso – Nunca mais me preocupe dessa forma testuda – Abraçou com cuidado a amiga que retribuiu emocionada com o carinho.
– Nunca mais mesmo! – Tenten concordou entrando no abraço.
– Obrigada por tudo o que vocês fizeram por mim.
Sem que percebessem, pela porta entreaberta e protegido pela escuridão, Sasuke observava as mulheres abraçadas sorrindo.
Sakura parecia bem, cansada e um pouco pálida, mas bem.
Apenas de ver o sorriso dela conseguiu acalmar a inquietação que sentia.
Mais tranquilo resolveu deixa-la aproveitar da companhia das amigas.
• • • • • • •
Já era madrugada e o hospital estava silencioso.
Os corredores vazios e pouco iluminados faziam seus passos ecoarem alto mesmo que andasse devagar.
Estava bem e quase não sentia dores. Sempre teve uma recuperação rápida e já estava acostumado a levar tiros. Perder sangue e ter cicatrizes de bala era algo recorrente no mundo da yakuza.
Havia ficado esperando no hospital até que as amigas dela se retirassem para o hotel em que Sai as hospedou.
Não queria que ninguém o visse ali, nem mesmo ela. Por isso aproveitava do sono induzido pela medicação para observa-la.
Com as mãos nos bolsos da calça social andou ate a cama onde ela repousava tranquilamente.
Tão linda.
Nem parecia ser de verdade.
Sai o informou que no dia seguinte ela teria alta e as amigas já haviam providenciado passagens para voltarem para Konoha.
Tinha apenas aquela noite para decidir o que fazer em relação a ela.
Com uma delicadeza que não costumava ter levou a mão até o rosto dela e deslizou o dedo indicador pela bochecha macia. Acariciou algumas vezes aproveitando para gravar todos os detalhes e por fim afastou algumas mechas rosadas para atrás da orelha.
Voltou a posição de antes e sentou na poltrona que ficava ali para acompanhante.
E assim passou a noite velando o sono dela.
Se certificando que nada mais lhe aconteceria.
• • • • • • •
– Aaah, como é bom estar de volta! – Ino exclamou feliz assim que saiu da sala de desembarque.
Tenten e Sakura vinham logo atrás igualmente felizes. A última aliviada por ter passado por toda a situação apenas com alguns poucos machucados.
Tudo o que queria era chegar em casa e abraçar ele com força e nunca mais soltar.
– É minha impressão ou aumentaram a segurança do aeroporto? – Perguntou ao reparar no número de seguranças e policiais que andavam pelo saguão.
– Será que é algum famoso? – Ino perguntou com os olhos azuis brilhando.
– Podia ser algum cantor! – Sugeriu Tenten parando ao lado da loira para observar a movimentação.
– Bem que podia ser o Gerard Butler – Sakura sugeriu esperançosa atraindo a atenção das amigas – O que? Ele é muito bonito!
– Bonito é aquele seu ex – Ino acusou – O maldito parece ter saído de uma capa de revista de moda masculina!
– Vou ter que concordar – Tenten até suspirou – Ele pode ser o pior tipo de homem do mundo, mas que é gato ele é!
Sakura suspirou lembrando de Sasuke. Não havia visto ele em momento algum enquanto esteve em Tóquio. Não sabia se queria encontra-lo mas meio que a decepcionava pensar que ele não se deu ao trabalho de ir falar com ela.
Poxa, haviam sequestrado ela por causa dele!
Pelo visto o que eles tiveram realmente não significou nada. E isso fazia com que a pequena culpa por esconder um grande segredo dele por tanto tempo desaparecesse.
– Ele é bem bonito mesmo – Concordou e então sorriu – Sano teve a quem puxar afinal – Declarou orgulhosa.
– Saudades daquele pequeno – Ino falou já preparando as mãos para apertar bochechas.
Entretidas na conversa nem se davam conta que eram observadas por olhos tão atentos quanto os deu um falcão.
Do segundo andar Sasuke observava cada movimento que Sakura fazia atentamente.
– Espero que não aconteça novamente – Sibilou deixando claro todo o seu descontentamento.
– Pode ficar tranquilo Oyabun-sama – Minato respondeu sorrindo tranquilo – Como deve ter percebido a seguranças já foi reforçada em torno da senhorita Haruno e suas amigas.
Toda a movimentação de seguranças e policias pelo aeroporto eram exclusivamente por conta da chegada de Sakura. Vendo a importância que a mulher tinha para Sasuke não pensou duas vezes antes de ordenar que a segurança dela fosse prioridade máxima do clã Kurama. Já haviam decepcionado o Oyabun uma vez deixando que a Tríade entrasse na cidade e a levasse, não falhariam novamente.
– Hn – Assentiu sério sem desviar a atenção dela.
Minato entendendo que era um momento particular do Uchiha fez uma mesura respeitosa e se afastou passando pelo filho que, como sempre, cuidava do Oyabun.
– O que vai fazer? – Naruto perguntou se aproximando também tendo a visão daquela que considerava como uma irmã.
Aquela era a pergunta que se fazia desde que acordou no hospital.
O que faria de agora em diante em relação a Sakura?
Se durante cinco anos já era torturante estar longe dela, agora que conseguiu estar tão perto e até tê-la entre seus braços, parecia uma tarefa ainda mais difícil tomar a melhor decisão.
Enquanto a via dormir na noite anterior colocou em uma balança tudo o que a relação deles representava.
Foram anos longe e sabia que ela havia refeito a vida, e que era feliz.
Havia lugar para ele na vida dela?
Por mais que o que sentisse por ela fosse algo intenso e verdadeiro, ainda tinha a responsabilidade de estar a frente da Sharingan. Comandava não só os homens ali em Tóquio como manter todos os clãs japoneses unidos.
Ser Oyabun era o havia nascido para fazer.
Existia lugar em seu mundo insano para alguém tão pura quanto ela?
Era justo colocar a cabeça dela na mira de todos os seus inimigos?
Se apenas por olha-la de longe conseguiu fazer com que a levassem, nem podia imaginar o que poderia acontecer se aproximasse na intenção de reconquista-la.
Não que fosse incapaz de protege-la se decidisse toma-la como esposa, porque querendo ou não era o Oyabun mais poderoso do Japão e não foi dando abraços que chegou até essa posição.
Mas era justo fazer isso come ela?
Deitado no asfalto da pista do aeroporto de Otogakure teve certeza que a perderia para sempre e foi o sentimento mais aterrorizador que já havia sentido na vida.
Nunca sentiu medo de nada e com ela inconsciente em seus braços desejou que a vida dela fosse poupada.
E ao encostar a testa na dela sabia que iria em seu lugar caso fosse preciso sem nem pensar duas vezes.
Com esse pensamento e o coração estranhamente apertado olhou pela última vez o sorriso bonito, os olhos verdes e os cabelos rosados gravando cada detalhe, antes de dar as costas com intenção de deixa-la para sempre.
– Comunique-se com a Bratva – Falou para Naruto fazendo o possível para não transparecer o que sentia – Quero ela fora do país o mais rápido possível.
A máfia Russa era aliada da yakuza e não se importaria de cobrar alguns favores em troca de ajuda para conseguir uma ótima oportunidade de emprego capaz de tira-la do radar da Tríade e da Akatsuki para sempre.
Um emprego irrecusável sob a proteção de uma das máfias mais poderosas do mundo era tudo o que podia proporcionar para ela, mesmo que isso a levasse para mais longe ainda.
– Tem certeza? – Naruto perguntou sem esconder o pesar.
– Sim – Respondeu colocando as mãos nos bolsos e voltando a caminhar.
Precisava sair dali antes que mudasse de ideia.
– MAMÃE! – O chamado infantil atraiu a atenção de todos que estavam por perto.
O aeroporto de Konoha não era muito grande e pelo horário estava com pouco movimento. E foi por isso que o grito infantil ecoou por todo o saguão fazendo Sasuke paralisar no mesmo instante.
– O que?! – Naruto balbuciou olhando com os olhos arregalados para o primeiro andar.
Devagar e com o coração acelerado o Uchiha virou e andou quase tropeçando até o parapeito de vidro olhando sem acreditar a cena que se desenrolava lá embaixo.
– SANO! – Sakura exclamou se ajoelhando com os braços abertos pronta para receber o abraço mais gostoso do universo.
Ele vinha correndo meio desengonçado mas lindo sendo seguido de perto por Hinata, que havia feito o favor de cuidar do seu menino em seu lugar.
Quando sentiu o corpo pequeno do filho entre seus braços se sentiu em paz.
Era tão perfeito e tão seu que mesmo o fazendo soltar resmungos adoráveis apertou com vontade.
– Estava com saudades – Falou beijando as bochechas gordinhas dele várias vezes.
– Também – E ele sorriu, tão puro e radiante que varreu para longe todas as suas preocupações.
Ainda lembrava do momento em que acordou no cativeiro e tudo que conseguia pensar é que Sanosuke estava em casa também quando a levaram.
Não sabia o que faria se o tivessem pego também.
Mas sorte que ele dormia profundamente por conta da gripe e só foi acordar quando as meninas chegaram.
Tiveram muita sorte.
– Sasuke – Naruto chamou meio inseguro – Aquela criança... Meu Deus! – Levou as mãos a cabeça sem saber como agir.
O Uchiha não conseguia desviar os olhos.
Era um menino, quatro anos a julgar pelas circunstâncias. A pele era branca, os cabelos pretos exatamente como os seus, até o corte era igual e os fios desordenados também. Os traços aristocratísticos tão comuns dos Uchiha estavam lá, assim como o nariz arrebitado dela. Vestia agasalho e uma touca de raposa por conta do frio que fazia lá fora.
Mas o que mais chamou a atenção foram os olhos verdes brilhantes e o sorriso iluminado, exatamente como os dela.
Vê-los sorrindo juntos fez com que todas as convicções que tinha em sua vida fossem abaladas.
Tudo o que fazia sentido até segundos atrás agora parecia loucura.
Sentindo o mundo ao seu redor rodar vertiginosamente e seu coração falhar uma batida teve a maior certeza que poderia ter em sua vida até aquele momento.
– É meu filho.
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