História Resiliência - Obrigada por tudo

O barulho do liquido inflamável molhando o piso, as paredes e os móveis ecoava pela grande mansão de aparência tradicional japonesa antes ocupadas por gritos agonizantes. Naruto fiscalizava o trabalho enquanto homens vestidos em impecáveis ternos pretos derramavam a gasolina por todos os cantos daquela casa.

As luzes estavam apagadas e a única iluminação vinha das grandes janelas. o céu noturno lá fora, era livre de nuvens e a lua cheia brilhava orgulhosa.

Os homens realizavam a tarefa silenciosamente se mexendo nas sombras com agilidade.

– Vamos logo com isso – Ordenou quando escutou os passos calmos descerem a escadaria. Seus olhos azuis viram o grande Oyabun surgir pela escada até alcançar o piso em que estavam. O peitoral desnudo e os braços musculosos a mostra assim como a tatuagem de cobra. A kusanagi de lamina afiada e agora tingida de vermelho pingava o sangue no chão lustroso e bem encerado – Saiam! – Gritou e todos sumiram pela porta da frente no mesmo instante, de cabeça baixa em respeito ao Oyabun.

Sasuke olhou ao redor vendo tudo encharcado, o cheiro forte de gasolina atingindo seu olfato e o incomodando um pouco.

Era uma pena, uma mansão muito bonita afinal.

A mão livre foi até o bolso de onde tirou um cigarro e colocou na boca acendendo tranquilamente a ponta com seu isqueiro preto com o simbolo do clã gravado, soltando a fumaça por entre os lábios.

Com a tranquilidade que não condizia com a situação ficou por um tempo ali curtindo a droga e observando a fumaça desaparecer no ar. Colocou uma mão no bolso da calça social e resolveu que já era hora de terminar logo tudo isso.

Naruto abriu a porta da frente e Sasuke saiu calmamente logo em seguida, parando no meio da escada de pedra e sem olhar para trás lançou o cigarro ainda aceso por cima do ombro, que ao atingir o chão iniciou um incêndio que rapidamente se alastrou pelo resto da mansão.

Na mesma hora um rolls-royce preto parou aos pés da escada e o Uzumaki abriu a porta traseira por onde Sasuke entrou se acomodando no banco. O motorista rapidamente acelerou para longe dali, deixando para trás a mansão que agora era consumida pelas chamas.

•  •  •  •  •  •  •

“Um incêndio causado por falha elétrica destruiu a mansão do grande empresario Souta Ichita – Uma repórter informava à câmera. Estava em frente aos escombros do que um dia foi a bela residencia – Infelizmente toda a família estava no local e acabaram sendo vítimas fatais desse terrível acidente.”

Sasuke desligou a televisão e girou a cadeira para trás apreciando a vista que tanto o trazia calma. A cidade estava a toda lá embaixo, mas o que ele apreciava mesmo era o contraste do céu de final da tarde com os prédios altos e modernos.

Seus pensamentos passaram rapidamente pela noticia que acabara de ver na televisão. A policia, os bombeiros e a imprensa de Tóquio respondiam à Sharingan. Tudo o que o clã fazia ficava por baixo dos panos. Eram os lucros de todo o dinheiro e influencia que tinham, inclusive com o prefeito eleito nesse ano, que era um membro do clã escolhido a dedo . Em outras palavras, tudo que Sasuke olhava agora pela grande janela de sua sala e até mesmo o que não conseguia enxergar, pertencia a ele.

– Teme! – Naruto entrou na sala, sem bater como já era comum.

Sasuke xingou baixo mas virou a cadeira de volta para o lugar vendo o loiro se esparramar no sofá preto de couro. O móvel já devia ter o formato do corpo do Uzumaki de tanto que ele ficava por ali.

– O que quer? – Perguntou nem um pouco interessado já voltando sua atenção para o computador. Sua caixa de entradas estava cheia como sempre.

– Estou pensando em sair para almoçar daqui a pouco – Respondeu distraído. Mexia no celular digitando freneticamente e hora ou outra soltava uma gargalhada alta.

– Hn – Resmungou resolvendo ignorar a presença do amigo.

Mas estava sendo difícil, Naruto ria alto o tempo todo fazendo com o que o Uchiha se desconcentrasse do trabalho. Começou a encarar o Uzumaki jogado em seu sofá aguardando ele se tocar que era um incomodo.

– O que foi Teme? – Ele perguntou ao perceber o olhar do moreno.

– Não tem trabalho? – Perguntou irritado – Vá para sua sala caçar o que fazer. Não te pago para ficar rindo que nem idiota.

– OPA – Naruto se endireitou no sofá – Que irritação toda é essa? – Perguntou divertido – É falta de sexo? Vou falar com a Sakura-chan ‘pra resolver isso aí!

Sasuke fechou a cara em sua pior expressão e atirou a caneta que estava largada na mesa em direção ao loiro, que só teve tempo de desviar e ver o objeto fincado no couro do sofá.

– Mas vou falar com ela mesmo! – Continuou a provocar sem se importar com a ameça – Sakura-chan, seu homem está descontrolado – Falava em voz alta o que digitava e Sasuke grunhiu irritado.

– Você está falando com ela? – Perguntou tentando conter o tom enciumado.

Naruto apenas fez um “joinha” com a mão e voltou a digitar e rir.

– Não é horário de almoço dela – Sasuke comentou olhando o relógio rapidamente – Está atrapalhando o trabalho dela?

– Não – O Uzumaki respondeu sorrindo – Sakura-chan derrubou a bandeja em cima de um cliente de novo, e a chefe dela adiantou a folga.

Sasuke apenas balançou a cabeça negativamente imaginando exatamente a cena. Provavelmente a Haruno ficou tão desesperada que a tal Shizune a mandou se acalmar antes que derrubasse mais alguma coisa.

– Tsc, nunca vi mais distraída – Sasuke comentou com um meio sorriso pegando o celular. “Vai acabar sendo demitida”, foi a mensagem que enviou para ela.

“Não seja malvado, Sasuke-kun ):”, ela respondeu seguido de vários daqueles emoticons tristes, e ele podia imaginar exatamente o rostinho dela contorcido em uma careta emburrada adorável, com as bochechas infladas e rosadas.

– Toda atrapalhada – Naruto riu deixando o celular de lado. Sakura voltaria ao trabalho agora e não poderia mais responde-lo.

– Quem é atrapalhada? – Itachi perguntou ao abrir a porta. Tinha uma sacola grande em mãos e um sorriso gentil nos lábios.

– A Sakura-chan! – Naruto respondeu – Ela é garçonete em um café, mas como é bem desastrada derrubou uma bandeja cheia de chá quente e biscoitos em um cliente – Riu com gosto da amiga.

– Ela podia derrubar alguma coisa quente no meu irmãozinho – Piscou divertido na direção de Sasuke que bufou irritado – Ia ser uma cena e tanto.

Naruto começou a rir quase caindo do sofá e Sasuke despejou os mais variados tipos de palavrões contra o irmão.

– O que veio fazer aqui? – Perguntou ainda irritado para Itachi.

– Ah, é mesmo! – Levantou a sacola que tinha em mãos – Mamãe mandou almoço – Cantarolou feliz – Tem até para você Naruto.

– Dona Mikoto é um anjo! – O loiro quase chorou emocionado antes de avançar na sacola puxando um bentô com seu nome na tampa.

Sasuke recebeu o dele e sorriu de canto quando viu seu nome escrito na caprichada letra de sua mãe. Por um momento se sentiu criança novamente, quando ela preparava os lanches que ele e Itachi levavam para a escola.

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– Nossa, como é bom quando acaba cedo! – Naruto comentou, se espreguiçando e sorrindo largamente.

Sasuke não respondeu, mas internamente concordava com o amigo. A reunião daquela noite havia sido mais rápido do que imaginava.

O empresário que eles apagaram na noite anterior era um grande aliado do clã, até que descobriram que vinha mantendo negócios com a Tríade Chinesa, que era a maior inimiga da yakuza.

Os malditos chineses ficaram um tempo desaparecidos, mas pelo visto estavam de volta para atormentar não só a Sharingan como também os outros clãs.

– Vamos jantar lá no Mangekyou? – Itachi perguntou quando saíram da sala de reuniões.

– OPA, mas é claro! – Naruto concordou esfregando as mãos empolgado.

Sasuke não respondeu mas acompanhou os dois até a o estacionamento, onde entraram no rolls-royce.

Mangekyou era um dos restaurantes do clã. Ficava na área nobre da cidade e era mundialmente famoso. Três estrelas no guia Michelin, tendo o melhor chef de todo o Japão no comando da cozinha e um cardápio impecável.

Era o xodó de dona Mikoto que mesmo a distancia administrava o negócio. As vezes ela podia ser encontrada por ali, mandando nos empregados ou ajudando na cozinha.

– Oyabun-sama – A recepcionista quase atingiu o chão tamanha foi a mesura que fez à frente de Sasuke – Uchiha-sama, Uzumaki-sama – Cumprimentou de maneira mais contida Itachi e Naruto – Sejam bem-vindos, é uma honra tê-los conosco essa noite – Ela sorriu falando de maneira profissional, mesmo que as bochechas estivessem coradas com a visão de homens tão bonitos – A sala privativa está esperando por vocês, queiram me acompanhar por favor.

Os três seguiram a mulher atraindo olhares de todo o restaurante. Sasuke à frente com a cara fechada e austera, e logo atrás Naruto e Itachi lado a lado, observando tudo com uma expressão mais suave.

A recepcionista abriu a porta de correr e eles entraram no espaço reservado exclusivamente para eles.

– Com licença – Ela pediu fechando a porta e deixando o trio sozinho.

– Gracinha essa doçura hein – Naruto comentou olhando para a porta e Itachi riu sentando e pegando um dos tablets que estavam na mesa. Fornecidos pela Uchiha Corp., é claro.

O cardápio estava todo ali e não precisavam que um garçom viesse atende-los, era necessário que apenas selecionassem o que queriam e logo alguém viria trazer.

Sasuke também sentou mas não se importou de olhar o cardápio e muito menos escolher alguma coisa, o chef já sabia muito bem o que ele normalmente pedia. Assim que colocou os pés dentro do restaurante o seu pedido já começou a ser preparado com prioridade.

– Fala rapaziada! – A porta se abriu e Obito e Kakashi passaram por ela. Eles eram amigos de infância e estavam sempre juntos – Se fosse combinado não teria dado tão certo! – O Uchiha comentou ao se sentar.

– Sim – Kakashi concordou.

– De fato – A porta abriu novamente e dessa vez Shisui e Sai entraram – Coincidência boa essa.

Todos já estavam sentados terminando de fazer seus pedidos quando duas garçonetes vestidas em quimonos – que era o uniforme do restaurante – entraram. Elas se ocuparam de servir o sakê, corando vez ou outra ao olhar para os homens presentes.

– Vocês viram a nova aquisição do clã? – Obito perguntou empolgado puxando o celular do bolso e mostrando com orgulho – Eu ‘tava lá quando pegaram essa belezura. 

– Os chineses tão perdendo a noção – Itachi comentou.

– Porra, um lança míssil? – Naruto perguntou incrédulo tomando o celular da mão de Obito – Você sabia disso? – Perguntou para Sasuke que degustava do sakê calmamente.

– Sim – Respondeu indiferente.

– Vai ficar na sala de armas – Kakashi comentou – Poucos tem treinamento para usar um desses.

– Eu quero aprender! – O Uzumaki tinha os olhos azuis brilhantes.

– Não – Sasuke se adiantou antes que Kakashi respondesse – Não é necessário mexer com essa arma.

– Quem sabe usar? – Shisui perguntou interessado.

– Eu  – Kakashi respondeu. Por muitos anos serviu o exército e seus conhecimentos militares apenas ajudaram o clã, tornando um ótimo treinador – E Oyabun-sama, é claro.

– Fala sério – Naruto cruzou os braços emburrado – Porque ele sempre fica com as coisas mais legais?

– Realmente acho que é por ele ser o Oyabun – Sai respondeu sorrindo e Naruto retribuiu com o dedo do meio.

– Não precisamos usar isso – Sasuke falou sério – Então ninguém mais precisa se preocupar em aprender – Terminou a fala de um modo que ninguém ali pôde mais questionar.

A porta abriu novamente e várias garçonetes entraram com grandes bandejas cheias pelos pedidos feitos pelo grupo. Não demorou muito e a mesa estava lotada com os mais variados pratos, molhos e garrafas de sakê.

– DOÇURAS – Naruto mandou um beijo para as garçonetes envergonhadas antes que elas fechassem a porta e todos riram do loiro. O Uzumaki não era mulherengo, tinha alguns casos por aí mas gostava mesmo de flertar com mulheres bonitas. Tudo em tom de brincadeira claro, se as desrespeitasse de alguma maneira sua mãe o castraria sem dó.

– Naruto, você devia ser estudado – Itachi riu.

– As mulheres podem me estudar a vontade! – Falou fazendo pose e recebendo uma fatia de pepino na testa lançada por Sasuke.

– Acho que elas ficariam decepcionadas quando descobrissem o tamanho do seu pênis – Sai comentou sorrindo e Naruto arregalou os olhos.

– REPETE SUA LOMBRIGA – Esbravejou tentando pular a mesa para acertar Sai com seus hashis – Isso é uma calúnia! Absurdo!

– Não é não – Sai franziu o cenho confuso. Ele era um tipo muito curioso apesar de bom membro do clã. Possuía uma leve Síndrome de Asperger, o que acentuava sua inabilidade social e falta de filtro no que falava – Eu mesmo vi lá no banho coletivo da sede – Comentou sério – Não me impressionou muito.

Na sede da Sharingan existia uma sala para banho coletivo. Normalmente depois das missões era comum que todos tomassem banho por lá.

– SEU GAY! – Naruto berrou vermelho de raiva e Sai o olhou mais confuso ainda – EU GOSTO DE BOCETA!

– Naruto – Sasuke alertou e o Uzumaki sentou no lugar, mesmo que ainda estivesse bufando de raiva.

– Sai, não é muito educado falar esse tipo de coisa – Itachi falou como se repreendesse uma criança pequena – Eu não me sentiria bem se você falasse algo assim de mim.

Sai piscou algumas vezes, olhou em volta, e por fim encarou seriamente Itachi mais uma vez.

– Mas eu nunca falaria isso de você – Disse claramente confuso – O seu é bem grande.

A boca de Itachi se escancarou e todos começaram a rir.

– Naruto é o menor, obviamente por não ser Uchiha – Continuou seu discurso sem sentido e Naruto faltava espumar de raiva – Apesar de Kakashi ter um bom tamanho também – Colocou a mão no queixo olhando seriamente para o Hatake que arregalou os olhos chocado – Mas ninguém supera o Oyabun-sama, como é de se esperar.

Sasuke arqueou a sobrancelha e todos viraram para ele assustados.

– O que? – Perguntou incomodado com os olhares.

– Sortudo maldito – Naruto resmungou olhando feio para o melhor amigo.

O Oyabun se concentrou de volta na comida mas ainda sentia os olhares. 

Os idiotas o olhavam como se ele fosse anormal ou algo assim. Estava irritando já.

– Chega disso – Sasuke falou perdendo a paciência e olhando para Sai seriamente – Pare de falar essas merdas.

– Sim Oyabun-sama – Sai respondeu fazendo uma mesura respeitosa.

– Vamos falar de mulher – Naruto mudou de assunto com um sorriso malicioso – Cara, aquela garçonete loirinha ‘tá tão na sua – Falou cutucando Kakashi com o cotovelo.

O Hatake terminou de beber seu sakê e depois sorriu de canto.

– Mesmo? – Pensou um pouco – Faz tempo que não saio.

– Eu também – Shisui concordou.

– Li certa vez que fazer sexo regularmente é bom para a saúde – Sai comentou – Preciso de uma parceira nova, a anterior foi embora logo depois da relação.

– Imagino o porque – Naruto estreitou os olhos na direção do Uchiha – Você fica com esses papos estranhos, acaba espantando elas.

– Provavelmente foi algo assim – Deu de ombros sabendo de suas próprias peculiaridades – Mas ela pareceu bem satisfeita com o ato.

– É sempre uma experiência intrigante conversar com você Sai – Itachi comentou divertido.

– Digo o mesmo – Sorriu agradecido e todos riram.

– Obito que era o terror da mulherada do clã já foi amarrado – Shisui comentou inconformado.

– Concordo – Kakashi falou achando graça.

– Rin me mata se eu olhar para outra – Respondeu divertido. Havia se casado com Rin a pouco tempo. Foram namorados durante toda a adolescência mas terminaram quando Obito começou a se envolver mais nos assuntos da Sharingan. Acabou por se afastarem e ele se interessar por várias outras companhias femininas, mas quando voltaram a estar juntos ele não conseguiu ter olhos para mais nenhuma.

– Não sei se sirvo para ser casado – Kakashi ponderou pensativo.

– É muito bom quando se é com a pessoa certa – Obito comentou.

Naruto e Itachi na mesma hora olharam para Sasuke, que apesar de não parecer atento a conversa, prestava atenção em tudo.

Na opinião dos dois o Oyabun devia seguir aquele conselho.

– Rin é show de bola – Naruto disse empolgado depois de Sasuke deixar claro através do olhar que não se sentia incomodado pelo assunto e nem parecia que iria refletir sobre tal – As mulheres do clã são duras na queda, mas ela é mais.

– Nisso tenho que concordar – Obito até estremeceu ao lembrar de como a esposa ficava quando brava – Quando junta com a Izumi então, a coisa fica feia.

– Hime-sama também é brava, Oyabun-sama? – Sai perguntou interessado se referindo a Karin.

Sasuke terminou de mastigar o camarão, limpou a boca no guardanapo e suspirou.

– Não – Sua voz saiu fria. Não queria falar de Karin.

– Ela me parece bem nervosa – Sai comentou pensativo.

Naruto e Itachi viram na mesma hora um sinal de alerta começar a piscar em cima da cabeça de Sasuke.

– Mas mudando de assunto – Naruto nenhum pouco sutil falou – Kakashi-sensei, acho que devia passar seu telefone para a garçonete loirinha!

– Concordo! – Itachi se apressou em dizer e logo todos estavam implicando com o Hatake.

Ao fim do jantar cada um foi para sua casa ou então de volta para a sede. Kakashi acompanhado da garçonete foi para um hotel próximo.

Foi uma noite agradável que raramente acontecia mesmo que todos fossem uma grande família.

As vezes as responsabilidades impediam que mais momentos desse acontecessem e todos lamentavam muito isso.

•  •  •  •  •  •  •

– FLUFFYKINS, VOLTE AQUI! – Sakura gritou enquanto corria pela casa. Sua roupa molhada e seus braços cheios de espuma.

O gato igualmente molhado corria aterrorizado, fugindo da dona e do banho que ela queria dar. Sasuke apenas levantou os olhos do computador que tinha no colo, uma sobrancelha ergueu no mesmo momento em que Sakura passou rolando pelo chão à sua frente.

Tirou o óculos de leitura e viu a rosada levantar um pouco desnorteada e voltar a perseguir o animal, gritando e sacudindo os braços espalhando espuma para todos os lados.

Calmamente fechou o computador e colocou na mesinha que tinha ao lado, apoiando os óculos em cima. Cruzou os braços e, com um sorriso de canto, assistiu Sakura subir no sofá de maneira desengonçada e simplesmente despencar para o outro lado. O barulho foi alto assim como o resmungo dela e o miado sofrido do gato.

Era obvio que ela havia caído em cima dele.

O Uchiha suspirou bagunçando os cabelos e levantou de maneira preguiçosa, caminhando em passos lentos. Contornou o sofá e viu a mulher que o enlouquecia caída de maneira engraçada no chão, e o pobre gato embaixo tentando escapar.

Abaixou com toda paciência e ergueu o corpo pequeno de Sakura a colocando sentada no sofá como se fosse uma criança que estava aprontando. Na mesma hora Fluffykins correu e Sasuke apenas voltou a contornar o sofá com tranquilidade fazendo o gato dar de cara com suas pernas.

Antes que Fluffykins pudesse fugir novamente, o moreno se abaixou e o pegou com facilidade. Já cansado o felino nem protestou, apenas miou baixo em desagrado.

– Como você fez isso? – Sakura perguntou chocada enquanto tentava arrumar os cabelos. Mas apenas conseguiu espalhar espuma por eles também.

– Hn – Resmungou antes de levar o gato até o banheiro com Sakura logo atrás indignada com a facilidade do namorado em pegar o bichinho.

Fluffykins, assim que viu a banheira cheia de água e espuma, começou a miar e se debater, mas bastou um olhar de Sasuke para parar e se conformar com seu destino. O Uchiha se aproximou da banheira e jogou o felino na água sem delicadeza alguma. Fluffykins afundou miando de maneira engraçada e soltando bolhas pela boca.

– Obrigada – Sakura beijou a bochecha do namorado e entrou na banheira sem se importar de molhar suas roupas - Um short jeans e uma blusa com estampa de gatinhos - segurando o gato com os braços e iniciando o banho.

Sasuke apenas retirou o celular do bolso para responder alguns emails e sentou no chão, encostado na parede olhando vez ou outra para Sakura e Fluffykins que espalhavam água e espuma para todo o lugar. De alguma forma bizarra não se sentia desconfortável ali, vivendo um momento tão caseiro e descontraído. Era estranho para ele participar de algo assim, mas não se imaginava em outro lugar no momento.

Sentado no chão de azulejo frio do banheiro cor de rosa, assistindo a bagunça protagonizada pela mulher e pelo gato, ele se sentia em casa.

•  •  •  •  •  •  •

– Mas é claro que o assassino é o policial! – Sakura exclamou levando um punhado de pipoca para a boca. Estava acomodada entre as pernas de Sasuke, que lia alguns relatórios e alternava o olhar entre os papéis e a tela da televisão.

Já era final da tarde e estavam assistindo um filme. Sasuke estava aproveitando o quanto podia já que teria de voltar para a mansão naquela noite. Karin aparentemente estava doente e insuportável, clamando por sua presença a todo momento por mensagens. Antes que Chiyo assassinasse sua esposa teria que voltar.

– EU DISSE! – A Haruno cantarolou quando os créditos começaram a subir na tela. Sorridente e muito orgulhosa de suas deduções, se sentindo uma detetive profissional, colocou o pote de pipoca já vazio na mesinha de centro e espreguiçou alongando o corpo. Os olhos ônix de Sasuke acompanharam o movimento da mulher ainda sentada entre suas pernas.

Não sabia se era coisa de sua cabeça, mas ela parecia especialmente linda naquele dia. Desde que colocou os pés dentro daquela casa não conseguiu desgrudar dela, parecia sentir necessidade de ter sua pele sempre em contato com a de Sakura. 

Ela estava sorrindo sozinha como sempre, tagarelando sobre o filme com empolgação. Parecia brilhar e ele não conseguia desviar os olhos, era maravilhosa.

Tirou os óculos de leitura e colocou em cima dos papeis também na mesinha de centro para então puxar o corpo pequeno dela pela cintura para mais perto. Sakura soltou uma exclamação e depois riu descontraída, virando o rosto e beijando os lábios dele de forma apaixonada.

[On Track: Ain't My Fault -  Zara Larsson] 

Logo o beijo se intensificou e ele desceu as mãos para as nádegas dela, puxando com facilidade e a colocando em seu colo – uma perna de cada lado do corpo. Podia sentir as mãos pequenas dela se infiltrando por debaixo de sua camisa e acariciando seu abdômen com delicadeza. Apesar de ser bem controlador – principalmente na hora do sexo – adorava quando ela tomava iniciativa. Por isso apenas à ajudou quando ela tentou retirar a camisa.

Sentiu ela começar a distribuir beijos por seu pescoço e descer pelo seu peitoral, carinhos acompanhados pelos dedos delicados dela que arranhavam vez ou outra sua pele. Reprimiu um suspiro quando as mãos pequenas alcançaram a calça de moletom e abaixaram com um pouco de dificuldade junto com a cueca boxer. Seu membro já ereto saltou para fora e ele se sentiu aliviado da pressão em cima dele.

Um gemido quase escapou de seus lábios quando as mãos pequenas dela seguraram sua ereção com delicadeza e jeito. Os movimentos se iniciaram e logo ela já impunha um ritmo que era perfeito em sua opinião. Quase um ano juntos e ela havia se tornado a melhor parceira para ele, tudo que ela fazia na cama o agradava.

– Porra – Xingou jogando a cabeça para trás, apoiando no braço do sofá, quando sentiu a boca dela envolver seu pau e iniciar as chupadas que o deixavam louco. Era delicioso, ainda mais combinado com o movimento das mãos dela, alternando entre sua extensão e suas bolas.

Olhou para baixo e envolveu os cabelos dela com uma das mãos, os prendendo de maneira desajeitada em um rabo de cavalo impondo um ritmo mais intenso. Ofegos e grunhidos masculinos ecoavam pela sala silenciosa junto à barulhos de sucção.

– Chega – Ordenou com a voz rouca e a respiração acelerada quando sentiu estar próximo ao seu limite. Sakura levantou seus olhos na direção dele e com uma última chupada soltou o pênis produzindo um barulho alto com a boca. O sorriso meigo que ela deu em seguida fez Sasuke se perguntar como alguém poderia parecer tão inocente logo apos fazer um boquete daqueles.

Levantou o queixo dela com a mão e puxou em sua direção, trazendo a boca macia ao seu alcance. Beijou intensamente os lábios tentadores enquanto passeava as mãos pelo corpo dela, a livrando de suas roupas e se certificando que estava bem molhada entre suas pernas.

Quando Sakura já se encontrava nua ele a puxou sem nenhuma delicadeza para seu colo e depois de levantar com ela bem segura em seus braços, a jogou de volta no sofá de costas para ele.

– Empina a bunda para mim – Ordenou, a voz rouca e séria fez todos os pelos de Sakura se arrepiarem e ela não pensou nem por um segundo em desobedecer.

Apoiou as mãos no encosto do sofá e arqueou o corpo, fazendo seu bumbum farto ficar na direção de Sasuke, que a olhava com luxuria. O Uchiha estava fodidamente excitado, a ereção dolorida e uma camada de suor pelo corpo.

Um estalo ecoou pela sala quando ele desceu um tapa na nádega branca dela. Sua palma marcada na pele macia o fez grunhir e bombear seu membro algumas vezes antes de, em uma estocada forte, se enterrar na intimidade molhada dela.

Seu pênis escorregou para dentro e para fora e logo ele iniciou um ritmo selvagem, que fazia o corpo pequeno ir para frente e para trás e o sofá ranger. Sakura se segurava como podia no encosto estofado, gemendo cada vez que ele batia o quadril em sua bunda com força.

Sasuke a segurava pela cintura e via com luxuria seu pau sumindo por entre as nádegas fartas, indo fundo na boceta mais apertada que ele já experimentou na vida.

O Uchiha se mantinha de pé, enquanto ela estava ajoelhada no sofá. Os corpos quentes, os gemidos dela misturados ao grunhidos e palavrões dele, combinados com o som dos corpos se chocando deixava tudo fodidamente excitante. Sasuke já estava próximo ao seu limite, e foi inevitável acelerar mais, tornando as estocadas insanas e os gemidos dela em quase gritos de prazer.

O sofá, por estar um pouco afastado da parede começou a se mover, sendo empurrado pela força que Sasuke empregava nas estocadas. O móvel parou quando atingiu a parede e ele jogou o corpo para frente acelerando mais ainda, de uma forma que ela achou não ser possível, indo fundo e apoiando a mão na janela.

Por um momento o moreno agradeceu a noite já ter chego, se não teriam uma plateia e tanto.

E sua personalidade possessiva não deixaria ninguém olhar aquela mulher nua, mesmo que o nome que ela gemesse fosse o seu.

– Sasuke – Ela gemeu quase sem voz. Sasuke estava insano e ela sentia como se fosse desmontar – Estou quase!

– Porra Sakura – Desceu outro tapa forte na nádega dela – Vem – Ordenou em um tom praticamente animalesco batendo o quadril o mais rápido que conseguia. Sentia a temperatura aumentar e seu sangue bombear mais forte por suas veias.

Agarrou a cintura fina com as duas mãos, de uma forma que sabia que ficaria marcado, e estocou mais cinco vezes. Fundo, forte e duro. E juntos atingiram o limite. Sasuke jogou a cabeça para trás, não resistindo e gemendo o nome de Sakura alto, se despejando dentro dela em abundancia enquanto sentia seu pênis ser apertado de maneira deliciosa.

Voltou o rosto para baixo e viu Sakura praticamente caída no sofá, respirando de forma acelerada.

Passou a mão pelo corpo dela mais uma vez antes de se retirar. Um guardanapo que estava na mesinha de centro foi usado para que seus líquidos misturados não manchassem o sofá tão querido por ela. Com cuidado limpou a intimidade rosada e, agora, inchada e pegou Sakura no colo. A Haruno praticamente desmaiada em seus braços mas com um sorriso adorável nos lábios.

– Eu te amo – Ela sussurrou e depois escondeu o rosto no peitoral dele. Sasuke suspirou e apenas beijou o topo da cabeça dela, aspirando o cheiro doce dos fios rosados agora bagunçados.

Tomaram um banho relaxante juntos e, enquanto lavava os cabelos rosados dela, Sasuke a escutava tagarelar sobre como havia sido seu dia no Café. Ele não prestava realmente atenção, mas ouvir a voz doce dela o fazia se sentir bem. Naquele momento ele era apenas um homem comum, tomando banho com uma mulher encantadora e tendo uma conversa casual, não o homem mais rico e perigoso do Japão.

•  •  •  •  •  •  •

Enquanto Sasuke se vestia, Sakura foi até a sala para arrumar a bagunça que haviam feito. Recolheu os restos de pipoca, o pote e os copos que usaram para beber refrigerante e passou um pano na mesinha de centro. Depois de deixar tudo na cozinha voltou para recolher as roupas jogadas pelo chão.

– Bagunceiro – Riu descontraída quando pegou seus short de cima do abajur ao lado do sofá.

Com o pé empurrou um preguiçoso Fluffykins que usava o moletom de Sasuke como cama e se abaixou para pegar a calça. Quando puxou o tecido escutou o barulho de alguma coisa atingindo o chão e se desesperou quando viu ser o celular de última geração do moreno.

– Droga – Resmungou apreensiva, deixando as outras peças de roupa de lado e se abaixando para pegar o aparelho. Virou com cuidado na mão para ter certeza de que a tela estava intacta.

"Precisaria de cinco salários meus para pagar um desse", ela pensou aliviada ao ver estar tudo ok.

Mas quase o deixou cair novamente quando o celular vibrou e a tela brilhou, acendendo e mostrando uma nova mensagem.

A Haruno não era o tipo de mulher que mexia no celular do namorado, ou ficava invadindo sua privacidade. Ainda mais sendo Sasuke, que era tão reservado. Por isso, foi completamente sem querer que acabou lendo o conteúdo da mensagem recém recebida.

"Amor, estou com dor de cabeça. Passa na farmácia e compra um remédio para sua esposa linda? Se demorar muito vou ligar para a sua mãe! Amo você!"

[On Track: Wicked Game - Gemma Hayes]

Foi como se o mundo parasse de girar.

Sakura sentiu seu coração falhar uma batida. Prendeu a respiração e sentiu os ouvidos abafados, nenhum som entrava. Como se o tempo tivesse congelado e ela só conseguisse enxergar as palavras digitadas naquela mensagem. O remetente "Karin" comprovava que era uma mulher.

"Quem é ela?", Sakura se questionou, sentindo os olhos se enxerem de lagrimas e o sangue gelar. Seu estomago se retorceu e uma tontura a fez se apoiar no sofá, como uma queda de pressão.

Seus pensamentos estavam a mil, tentando entender e achar uma explicação plausível para a mensagem.

Mas por mais sonhadora e ingenua que Sakura fosse, não era burra. Na verdade sempre foi muito inteligente e não precisou de muito para entender que seu namorado tinha outra mulher. E não qualquer uma, era sua esposa!

Por mais que quisesse pensar positivo, sabia que não tinha como ter sido um engano. Ele tinha o contato salvo na agenda e com apenas o primeiro nome, indicando intimidade. Sua mão tremia e ela tinha que segurar mais forte o aparelho para que ele não fosse ao chão. Tinha vontade de investigar o celular e descobrir mais, mas não sabia se aguentaria a verdade. Ao mesmo tempo que queria invadir o banheiro e gritar com ele, tinha medo de se precipitar e perder o namorado que tanto amava.

Nunca havia namorado antes e era realmente inexperiente no assunto. Não sabia o que pensar, o que fazer e como não parecer uma namorada ciumenta ou se aquele era um dos casos em que tudo bem surtar um pouco.

E quando escutou Sasuke abrir a porta, decidiu por colocar o celular em cima da mesinha de centro, como se nunca tivesse mexido nele e fingir que nada aconteceu. Por hora precisava pensar e mais que isso, precisava de sua melhora amiga.

Forçou um sorriso quando encontrou o rosto austero de Sasuke, sério como sempre. E mergulhando fundo nos olhos ônix que tanto amava, desejou com todas as forças que estivesse errada.

– Vai com cuidado! – Acenou da porta vendo o corpo grande do homem que amava sumir pela rua escura em direção ao carro. Ficou por mais um tempo ali, encarando o nada por onde ele foi, até decidir entrar em casa.

Quando fechou a porta, se escorou nela e escorregou até o chão, como se estivesse em uma cena dramática de um daqueles filmes adolescentes. As mãos tremendo e dos olhos verdes lágrimas escorriam sem parar.

Por sorte ele não havia percebido que ela não estava bem. Sasuke costumava ser muito observador, mas foi só ele mexer no celular que de uma hora para outra pareceu incomodado com algo e por fim anunciou que precisava ir.

A atitude dele apenas confirmou as suspeitas de que a mensagem era realmente para ele. Não foi engano afinal.

– Uma esposa – Sua voz saiu fraca e tremula, entre os soluços que começavam a se formar.

Sem ter forças para levantar, apenas engatinhou até a mesinha de centro onde estava seu celular. Com a visão embaçada pelas lágrimas e o choro um pouco mais forte por ter visto a foto dos dois que usava de plano de fundo, discou o número de telefone que sabia de cor.

– Ino – O nome da melhor amiga saiu como um gemido, perdido entre o choro e os soluços – Você pode vir aqui em casa?

– Sakura?! – A voz da Yamanaka mostrava a preocupação ao ouvir o choro da amiga pelo telefone – Está tudo bem? O que aconteceu?

– Vem – Ela pediu chorosa, apoiando o corpo no sofá onde horas antes havia feito amor com Sasuke – Por favor.

– Estou indo! – Do outro lado da linha Sakura escutava a loira correr e derrubar algumas coisas – Aguenta que já tô chegando! – E desligou, deixando Sakura abraçada ao celular chorando desesperada.

•  •  •  •  •  •  •

Ino praticamente rolou escada abaixo por não ter paciência para esperar o elevador. Provavelmente recebeu multas por infringir diversas leis de transito, principalmente os quatro sinais vermelhos que furou.

A loira podia ser muitas vezes fútil, distraída e escandalosa, mas uma coisa era certa em sua vida, e isso era a amizade que tinha com Sakura. Quando a mulher pequena e delicada de longos cabelos rosados e lindos olhos verdes entrou no Café para seu primeiro dia de trabalho, Ino ficou encantada pela beleza e pela pessoa incrível que Sakura era. Parecia uma boneca de porcelana, com um coração enorme e um sorriso que aquecia qualquer lugar. Mesmo tão diferente uma da outra acabaram se tornando amigas e logo, melhores amigas inseparáveis. Contavam tudo uma para a outra.

Por estar naquela grande cidade sozinha, Sakura despertou em Ino uma necessidade de proteção. A Haruno era ingenua e gentil demais, e a Yamanaka decidiu que não deixaria nada tirar o sorriso radiante dos lábios dela. As vezes tinha vontade de colocar a melhor amiga em um potinho para que nada de ruim a acontecesse. Sem dúvidas Haruno Sakura era a melhor pessoas que ela havia conhecido na vida.

E agora, ao estacionar o carro em frente a pequena casa dela, tinha medo do que encontraria.

– Sakura? – Chamou ao abrir a porta que estava destrancada. As luzes estavam acessas assim como a lareira. O clima ali dentro era acolhedor como sempre, o cheiro doce e o conforto. Mas diferente das outras vezes, a rosada não a recebeu com um sorriso e uma fornada de biscoitos amanteigados.

Os olhos azuis de Ino viram Sakura sentada no chão, entre o sofá e a mesinha de centro. Encolhida, abraçando as pernas e os olhos verdes, por onde lágrimas caiam em abundancia, focados no nada. O corpo pequeno tremia e ela era a visão mais triste que a loira já teve na vida. Era desesperador.

– SAKURA! – Gritou e correu se jogando no chão, envolvendo o corpo da amiga com os braços. Na mesma hora o choro de Sakura se intensificou e ela agarrou Ino como se fosse um bote salva vidas – Calma! Meu Deus! O que foi que aconteceu? – Perguntou aflita com os olhos marejados por ver a amiga naquele estado.

Sakura não respondeu imediatamente. Foi preciso um tempo para que o choro desesperado se acalmasse e a respiração voltasse ao compasso normal, para que pudesse falar sem que os soluços atrapalhassem. Ino pacientemente aguardava e quando percebeu a Haruno mais calma apenas limpou as lagrimas com a mão das bochechas rosadas dela.

– Pronto – Manteve a voz baixa, como se temesse que a qualquer momento Sakura voltasse a chorar daquela forma – Me conta amiga, o que aconteceu?

Sakura respirou fundo, fechando os olhos com força como se sentisse dor e por fim os abriu olhando para o rosto preocupado de Ino.

– O Sasuke... – Começou com a voz falha e tremula, inconscientemente apertando a mão na blusa de Ino – O Sasuke é casado.

– COMO?! – Foi impossível para Ino manter a voz baixa. Olhava incrédula para Sakura a espera de que fosse apenas uma brincadeira, mas o rosto contraído em dor a sua frente mostrava claramente que se tratava da dura realidade – Puta merda, como assim?! Me explica!

Então Sakura relatou entre lágrimas os momentos vividos mais cedo, onde depois de fazer amor com Sasuke havia lido sem querer a mensagem causadora de todo seu sofrimento. Explicou para a amiga sobre suas conclusões e teorias, terminando por fim derramando mais lágrimas.

– Caralho – Xingou Ino quando encontrou a voz. Foram tantas informações jogadas de uma vez que ela estava tentando assimilar tudo. Estava confusa, preocupada, furiosa e mais mil e uma emoções complexas que se misturavam. Vendo Sakura tão quebrada decidiu que por hora teria que ser a pessoa racional ali, para depois, dependendo, assassinar um certo moreno – Ok, primeiro vamos respirar e depois vamos analisar a situação.

Juntas respiraram algumas vezes, as mãos unidas e apertadas. Ino tentava passar segurança para Sakura.

– Bem, estamos mais calmas – Tentou esboçar um sorriso mas tinha certeza que mais parecia uma careta. Sakura apenas tentava enxugar as lágrimas que não paravam de descer – Vamos pensar como pessoas inteligentes que somos! – Anunciou se levantando do chão e puxando Sakura, que apenas deu alguns passos antes de desabar no sofá – É melhor você ficar sentada mesmo – Concluiu preocupada passando as mãos pelos cabelos loiros impecavelmente acomodados em um rabo de cavalo alto.

A loira ficou de pé em frente ao sofá, com os braços cruzados e os olhos azuis percorrendo o comodo como se procurasse uma solução.

– Tive uma ideia! – Exclamou de repente saindo do campo de visão de Sakura, que parecia nem reparar no que a amiga fazia. Os olhos verdes opacos fixos em algum lugar desconhecido.

Ino sentou ao lado de Sakura com o computador cor de rosa dela no colo. Fez uma careta quando abriu e viu que o plano de fundo era uma foto dela com o moreno.

– Eu acho que já vi ele em algum lugar – Pensou alto analisando o rosto másculo e sério do homem na foto, contrastando com a sorridente Sakura ao lado o abraçando. Ficou assim por um momento olhando a imagem até concluir que deve ter sido do Café mesmo já que foi lá que o casal se conheceu – Vamos fazer o que sempre faço quando quero saber algo sobre os caras com quem eu saio – Falou abrindo o navegador da internet e atraindo assim a atenção de Sakura – Hora de por minhas habilidades de stalkear boys em ação!

– Você acha que tem como saber sobre o Sasuke na internet? – A Haruno perguntou baixinho vendo a amiga entrar na página do Google. Era uma verdadeira negação com tecnologia e costumava usar o computador apenas para estudar.

– Comigo sempre funciona – Deu de ombros abrindo um sorriso confiante – Qual o nome todo do infeliz?

– Uchiha Sasuke – O nome saiu amargo de sua boca.

– Acho que já ouvi esse nome antes – A loira colocou o dedo no queixo como se pensasse, mas por fim apenas digitou no espaço de pesquisa e deu enter – PUTA QUE PARIU! – Gritou assustando Sakura e Fluffykins, que rodeava a dona preocupado.

– O que aconteceu? – Sakura perguntou apreensiva olhando da tela para Ino.

– O que aconteceu Sakura – Começou a falar virando o computador para a amiga. Fotos de Sasuke em diversas poses, roupas e ocasiões enxiam a tela – É que você namora o cara mais rico do Japão!

– Como?! – A voz saiu esganiçada e Sakura não conseguia acreditar – Isso não é possível Ino!

– Claro que é! – Retrucou virando o computador de volta para si e movendo o mouse – Sabia que conhecia ele! – Falou baixo mas Sakura escutou – Ele é muito famoso! Vive estampando capas de revistas! A família dele é tradicionalíssima! – Explicou rapidamente antes de abrir a página da Wikipédia sobre ele – Olha aqui, "Uchiha Sasuke é um multimilionário, CEO da empresa multinacional Uchiha Corp. (especializada em  projetar e comercializar produtos eletrônicos de consumo, software de computador e computadores pessoais), duas vezes na lista dos jovens empresários mais ricos do século e dono de grande fortuna e patrimônio, muitas vezes envolvido em causas humanitárias e..."

– E o que? – Perguntou apreensiva vendo a amiga contorcer o rosto em uma careta.

– Casado com a socialite Uchiha Karin – Terminou triste, olhando com pena para a amiga.

[On track: Comptine d`un autre ete (l`apres-midi) - Yann Tiersen]

Sakura ficou um tempo olhando para a tela, mas sem realmente ver alguma coisa. Por fim pegou o computador de forma brusca abrindo uma nova aba e digitando afoita "Uchiha Sasuke e Karin".

Os olhos verdes voltaram a se encher de água quando milhares de fotos do casal Uchiha juntos apareceu na tela. Com pesar viu a estonteante ruiva abraçada naquele que costumava chamar de namorado. Ela era realmente uma mulher linda; alta, de belas curvas, cabelos ruivos longos e brilhantes e um olhar sensual que Sakura sabia não ser capaz de fazer. Falando a verdade, Sakura se sentia uma criança desengonçada e feia comparada com a ruiva.

– Ela é linda – Sussurrou analisando a foto do casamento dos dois. Karin sexy em um vestido de noiva estilo sereia com um grande decote e Sasuke maravilhoso em um terno tipico de noivo. Ela sorria exuberante e ele tinha o rosto sério como sempre, mas não menos lindo – Eles combinam – Admitiu derrotada.

– Você é muito mais bonita que ela! – Ino exclamou indignada. O seu sensor de piranha apitou fortemente ao ver a esposa do Uchiha. "Com certeza é vadia!", pensou analisando as roupas sempre curtas, provocantes e sensuais que a ruiva aparecia nas fotos. Estava julgando mesmo, afinal era a rival da sua melhor amiga!

– Eu não acho – Suspirou tentando parar de chorar. De alguma forma ver todas aquelas informações e fotos fez com que sua ficha finalmente caísse. Havia sido enganada – Ele me enganou – Falou seu pensamento em voz alta, inconformada – Eu pensei que ele me amasse, mas ele me enganou – O rosto já inchado voltou a se contrair, ameaçando outro choro.

– Olha para mim – Ino puxou o rosto de Sakura com as mãos e olhou fundo nos olhos verdes dela – Eu quero acabar com esse homem, quero matar e castrar e destruir esse desgraçado por ter feito isso com você! – A sempre descontraída loira parecia uma psicopata e por um momento a Haruno temeu pela vida do homem que, infelizmente, amava – Mas ele é rico e eu não posso fazer isso – Parecia realmente frustrada com o fato, mas Sakura viu nos olhos azuis que se ela encontrasse Sasuke ele não escaparia de algumas arranhadas e bolsadas – Então por hora, enquanto eu xingo ele de todos os palavrões que eu conheço, você vai chorar. Vai por tudo para fora e secar até a última lágrima, para que nunca mais consiga chorar por ele. Por que essa vai ser a última vez que você vai chorar por ele!

Sakura sentiu a intensidade das palavras de Ino e foi instantâneo as lágrimas voltarem a derramar.

Enterrou o rosto no peito da amiga, sentindo os braços dela apertarem ao seu redor, passando conforto e segurança. Soluçando, praticamente gritando de dor, chorou por horas. O pranto sofrido era doloroso de ver e Ino chorou junto, xingando o Uchiha e amaldiçoando a existência dele.

Enquanto chorava, Sakura relembrava os momentos que viveram juntos. A primeira vez que o viu no café, quando ele puxou assunto falando que o sorriso dela era bonito, as conversas que tiveram, o primeiro beijo, a primeira vez, as noites assistindo filme, os jantares, os beijos e os toques durante as vezes em que fizeram amor. Tudo parecia doloroso agora. Olhando para trás ela sentia como se tivesse vivido uma mentira. Nada era real então, as palavras dele e os momentos, tudo foi mentira.

Não sabia o que havia levado o moreno a escolhe-la para trair a esposa, mas achava triste que ele tivesse feito. Sempre achou Sasuke um homem correto e sério demais, nunca imaginou que ele fosse capaz de algo daquele tipo.

Mas, estava tão atordoada com tudo, que também se perguntava se aquele Sasuke que frequentava sua casa quase que diariamente era realmente ele. Seria ele diferente com a esposa?

Por que ele havia falado que tinha um trabalho modesto quando na verdade era dono da empresa? Poxa, ele era o homem mais rico do Japão e ela nunca desconfiou! Não acreditava que por não ter o costume de navegar na internet ou ler revistas a fizesse passar por algo assim. Talvez se o tivesse apresentado para Ino antes... Bem, era tarde demais. Já havia sido enganada. Praticamente um ano namorando um homem casado que fingia ser alguém que não era.

Sakura estava quebrada com o coração em pedaços.

•  •  •  •  •  •  •

Depois de horas chorando finalmente se acalmou. Estava apenas ali abraçada com Ino e refletindo sobre sua infeliz situação.

– Está mais calma? – Ino perguntou enquanto alisava os cabelos rosados de Sakura com carinho.

– Sim – Respondeu com a voz rouca e falha, já que a voz tinha ido embora com o choro sofrido.

– Então agora é o momento de você dar a volta por cima! – Cantarolou confiante, tentando passar seu otimismo para a amiga. Já havia tido o coração partido várias vezes e sabia como sempre doía. Era apenas a primeira vez de Sakura, ia ser difícil, mas sabia que a amiga ia superar. E ela estaria ali para ajuda-la a colar os pedaços quebrados por Sasuke – E eu sei como vai fazer isso! – Anunciou alargando o sorriso e Sakura franziu o cenho confusa – Aposto que não abriu seu email hoje, né? Pois bem, saiba que o resultado das provas saiu!

– O que?! – Perguntou levantando o corpo, ficando sentada de frente para a amiga.

– Eu passei! – Exclamou jogando os braços para o alto e logo depois recebendo um abraço de Sakura.

– Parabéns! – Estava legitimamente feliz pela amiga. Ino não havia estudado muito mas era muito inteligente, e Sakura sabia que ela ia passar.

– Vamos ver se você conseguiu? – Puxou o computador para o colo e abriu o email de Sakura. As duas ficaram encarando a tela em expectativa enquanto a página carregava.

"É com prazer que anunciamos que a candidata Haruno Sakura obteve nota suficiente para uma bolsa integral do curso de medicina da Faculdade Konoha"

– AAAAAAAAAAAAAH – As duas gritaram ao mesmo tempo, se abraçando e começando a pular quase atropelando o pobre Fluffykins.

– BOLSA INTEGRAL – Ino gritou desacreditada e empolgada jogando os braços para o alto.

– EU NÃO ACREDITO! – Sakura gritou de volta, pulando no mesmo lugar. Por um momento a decepção com Sasuke foi jogada para escanteio em sua mente.

– Pois acredite, porque você passou tanto para a de Konoha quanto para a de Tóquio! – A loira falou olhando para outro email aberto no computador – As duas integrais! AI MEU DEUS! Minha amiga é um gênio! – Exclamou deixando o computador de lado e iniciando uma dancinha desengonçada sendo acompanhada por Sakura.

As lágrimas que agora saiam dos olhos verdes dela eram de pura felicidade. Ao mesmo tempo que aquele era o pior dia de sua vida, também era o melhor. Era o primeiro passo para a realização de seu sonho de ser médica.

– O que vai fazer agora? – Ino perguntou quando, já cansadas, caíram no sofá com as pernas umas por cima das outras.

O sorriso que Sakura tinha nos lábios foi diminuindo gradativamente, até que apenas uma linha rígida se formasse. Como uma onda a lembrança de Sasuke a fez acordar para a realidade.

– Eu vou embora – Disse por fim. Por mais que o rosto mostrasse a fragilidade, a voz era decidida e firme.

– Vai para Konoha então? – Perguntou enquanto segurava a mão da amiga, apertando para passar segurança.

– Sim – Confirmou e depois fechou os olhos suspirando. Se nada tivesse acontecido ela não pensaria duas vezes em escolher a universidade de Tóquio, mas agora tudo o que queria era distancia do homem que antes a fazia sorrir, mas que agora a deixava triste.

– Então vamos começar a ajeitar essa mudança, porque aqui no email fala que as inscrições devem ser feitas ainda essa semana lá na secretaria da faculdade – Soltando a mão da amiga Ino pegou o computador novamente para conferir as informações – Temos que encaixotar nossas coisas, contratar um caminhão de mudanças e por fim pedir dispensa lá na Shizune – Enumerou com os dedos e falando rápido.

– Amanhã a noite então já estaremos longe, não é? – Sakura perguntou depois de pensar um pouco a respeito.

– Como?! – Arregalou os olhos azuis na direção de Sakura. “Ela quer mesmo correr para longe dele”, pensou assustada vendo a amiga praticamente implorar com os olhos verdes sofridos – Vai ficar corrido mas se você realmente precisar, então amanhã você estará longe daquele cafajeste – Disse por fim, compreensiva e Sakura deu um sorriso triste.

A loira já pegou o celular enviando uma mensagem para um conhecido que tinha um caminhão de mudanças e logo depois começou a fazer uma lista de coisas a serem feitas para viagem.

"Amanhã eu vou mudar minha vida para sempre", Sakura pensou enquanto levantava para começar a empacotar suas coisas, quanto mais rápido fosse embora mais rápido seria capaz de se recuperar do estrago causado por Sasuke.

•  •  •  •  •  •  •

– Vamos almoçar! – Naruto escancarou a porta da sala de Sasuke sem nenhum cerimonia.

Sentiu o sangue gelar quando uma adaga afiada passou raspando por sua bochecha antes que ele de fato entrasse no lugar. Olhou para o lado em câmera lenta e viu a lamina cravada na parede logo ao lado de seu rosto.

– Bata antes – O moreno disse entre dentes enquanto se levantava. Fechou o botão do paleto e deu uma última conferida no celular antes de guarda-lo no bolso.

Estava estranhando que Sakura ainda não tivesse mandado nenhuma mensagem. Normalmente ela lotava sua caixa de entrada com "Bom dia", "Dormiu bem?", "Cheguei no trabalho e você?", "Saudades" e etc. Não que sentisse necessidade de receber as mensagens sem proposito da mulher, mas não deixava de achar incomum.

Os dois andaram pelo corredor do andar em direção ao elevador, Sasuke ignorando solenemente a falação do loiro. As portas de metal se abriram revelando Itachi que sorriu ao ver a dupla de melhores amigos.

– Estava justamente indo falar com você – Apontou para o irmão que apenas ignorou e entrou no elevador – Mamãe não te deu educação não? – Ralhou ainda sorrindo e voltando para dentro sendo seguido por Naruto, que ria da situação.

– Hn – Resmungou e apertou o botão do térreo fazendo o elevador panorâmico começar a descer.

– Estamos indo almoçar – Informou Naruto empolgado – Vamos comer um delicioso ramen lá no Ichiraku!

Sasuke olhou por um minuto para o Uzumaki tentando entender quando foi que havia concordado com a escolha de restaurante, mas por fim se conformou que com o loiro não tinha lá muita discussão quanto a isso.

– Estava indo justamente chamar meu irmãozinho tolo para me acompanhar em um almoço – Itachi disse encostando o corpo no fundo do elevador – Vou com vocês.

– Ok! – Naruto respondeu antes que Sasuke protestasse.

O trio passou pelo hall chamando a atenção e arrancando suspiros femininos. Eram homens muito bonitos e vestidos em seus elegantes ternos apenas atraiam mais público ainda.

Naruto nem ligava, distribuía sorrisos para todos mostrando seus dentes brancos e perfeitamente alinhados que compunham muito bem o rosto bonito de pele levemente bronzeada. Os olhos azuis claros brilhavam e o cabelo loiro curto e bagunçado dava um charme a mais. Era um homem alto e quase tão forte quanto Sasuke.

Já os irmãos Uchiha odiavam toda atenção. A genética da família era de fato impecável, os dois tinham um porte grande, uma beleza máscula e viril de tirar o folego das mulheres com quem cruzavam ao atravessar a rua. Enquanto Sasuke tinha os cabelos curtos bagunçados e o rosto rígido e austero, Itachi mantinha os seus longos presos em um elegante rabo de cavalo. O rosto do irmão mais velho tinha uma expressão mais leve e vez ou outra sorria gentil para alguma senhora ou criança que passava por eles.

– Tio, manda um ramen de porco para mim! – O Uzumaki já chegou gritando no pequeno estabelecimento. O senhor Teuchi era velho conhecido do loiro e por isso apenas sorriu e fez um "joinha" com a mão.

Itachi sorriu e Sasuke olhou feio para o amigo enquanto caminhavam em direção a uma mesa mais afastada.

Por conta da gritaria do loiro os três agora eram o centro das atenções e isso deixava Sasuke mais irritado ainda. Já Itachi relevou, estava realmente com fome e queria aproveitar já que nunca havia visitado o restaurante antes.

– Quer dizer que é aqui que vocês almoçam? – Perguntou pegando o cardápio.

– É! – Naruto respondeu – A especialidade da casa é ramen, tem vários sabores, um melhor que o outro – Começou a tagarelar feliz por ter alguém com que conversar, já que normalmente o Uchiha mais novo era monossilábico – Mas tem outros pratos também.

– Acho que vou pedir ramen mesmo – Concluiu fechando o cardápio e o colocando de lado.

Um garçom chegou com o ramen previamente pedido por Naruto e os outros dois aproveitaram para pedir os seus. Não demorou e logo os três estavam comendo, Naruto e Itachi conversando e Sasuke apenas aproveitando o sabor do ramen de tomate.

– O ramen daqui é definitivamente o melhor do mundo – Naruto falava com Itachi como se fosse autoridade no assunto – Nunca comi melhor! – Concluiu sorrindo mas parou parecendo pensar sobre o assunto – Se bem que o da Sakura-chan é maravilhoso e... – Parou de falar na mesma hora esbugalhando os olhos azuis e olhando assustado para Sasuke que continuava a comer tranquilamente.

Itachi vendo a reação do loiro entendeu a situação e sorriu gentil, terminando de mastigar o macarrão e limpando a boca com o guardanapo.

– Eu já sei sobre ela – Explicou calmamente vendo o Uzumaki abrir a boca em surpresa quase cuspindo o ramen de dentro dela.

– Você conheceu a Sakura-chan?! – Perguntou assustado alternando o olhar entre os irmãos.

– Infelizmente não – Ainda mantinha um sorriso nos lábios – Mas espero não demorar para ser apresentado – Concluiu olhando para o irmão mais novo que apenas levantou o olhar irritado.

– Não – Foi a resposta seca de Sasuke antes de voltar a se concentrar em seu prato.

– Nem adiante Itachi – Naruto riu divertido com a situação – Para conhecer a Sakura-chan eu tive que seguir ele um dia até a casa dela!

– Sério? – Perguntou antes de rir alto do fato, imaginando a cara do irmão mais novo ao ver o loiro na porta da casa da rosada – Deve ter sido ilaria a cara do meu irmãozinho tolo.

– Ô se foi! – Acompanhou Itachi na risada e Sasuke bufou revirando os olhos – Mas você tem que conhecer ela, a Sakura-chan é incrível!

– Ela é tão surpreendente assim? – Perguntou interessado. Era uma oportunidade única de saber mais sobre a vida privada do irmão.

– Sim! – Exclamou risonho – As vezes da vontade de guardar ela no bolso de tão fofinha, mas ao mesmo tempo é bem divertida. É inteligente, sabe jogar vídeo game e cozinha como ninguém!

– Interessante – Concluiu sorrindo olhando de canto para Sasuke, que apesar de parecer muito interessado em seu ramen, escutava a conversa.

De fato Sakura era uma mulher incrível e concordava com todas as palavras de Naruto. O pensamento fez com que mais uma vez puxasse o celular do bolso intrigado. Nenhuma mensagem de Sakura, o que era definitivamente estranho.

Só não ligaria para ela pois mais tarde ia passar lá. Enquanto isso tentaria não pensar no assunto. Aquela irritante já ocupava espaço demais em sua cabeça.

Itachi, esperto e observador, viu com curiosidade o irmão encarar o celular incomodado em meio a conversa sobre Sakura.

"Será que aconteceu alguma coisa com ela?", pensou mas resolveu não perturbar o mais novo no momento. Mais tarde conversariam e ele perguntaria o que aconteceu.

Escutando o Uzumaki falar encantado sobre a mulher apenas fez com que se sentisse ainda mais curioso sobre ela. Tentaria convencer Sasuke a apresenta-los e quem sabe assim conseguisse ajudar para que o casal ficasse juntos de vez.

•  •  •  •  •  •  •

[On Track: La Valse D'Amelie Orchestral Version -  Yann Tiersen]

As duas amigas olhavam o caminhão de mudança se afastar. Ficaram ali paradas até ver o veiculo virar a esquina, restando para Sakura uma casa vazia e uma melhor amiga companheira.

Suas coisas junto com as de Ino já estavam indo em direção a casa de sua tia Tsunade e só podia agradecer a melhor amiga por isso. Onde alguém conseguiria organizar uma mudança tão rápido assim? A loira tinha certas habilidades que impressionavam a Haruno.

– Vamos pegar o seu gato e cair na estrada! – Cantarolou a Yamanaka empolgada. Desde a noite anterior estava fazendo de tudo para animar a rosada, ocupando todo o tempo para que Sakura não pensasse em Sasuke.

E claro, se desdobrando em mil para fazer a mudança o mais rápido possível.

– Sim – Sakura forçou um sorriso que saiu triste.

As duas voltaram para dentro da casa e Sakura não conseguiu se impedir de sentir certa nostalgia. Era a última vez que entrava ali. Tantos momentos bons aquelas paredes presenciaram que era muito esquisito deixar tudo para trás. Podia estar sendo precitada mas estava sufocada, precisava respirar em um lugar onde não tivesse tantas lembranças do Uchiha. A presença dele era intimidante até quando ele não estava no lugar.

Pegou a caixa que estava ao lado da porta e com cuidado colocou no centro da sala vazia. Ficou por um tempo parada olhando para o papelão lacrado com uma fita adesiva com estampa de gatinhos e sentiu os olhos se enxerem de lágrimas mas não permitiu que nenhuma caísse. Estava levando a sério o que combinou com Ino, não derramaria mais nenhuma lágrima por Sasuke.

Tinha que deixar de ser ingenua. Sabia que foi enganada pelo moreno apenas por ser como era, tinha que amadurecer e o faria longe dali. Passou a madrugada e a manhã toda querendo ligar para Sasuke, mas por fim fez a escolha certa. Não precisava ter sua recém descoberta confiança em si mesma abalada por qualquer palavra de desculpa que ele pudesse falar. O Uchiha era um homem sedutor e seria fácil para ele faze-la acreditar em qualquer palavra bonita que dissesse. O fato de ama-lo incondicionalmente apenas faria com que ficasse mais vulnerável ainda. Tinha que se afastar.

Suspirando triste passou a mão por cima da caixa como se fizesse um carinho e por fim levantou. Respirou fundo, catou Fluffykins o colocando – contra a vontade – dentro de uma caixinha de transporte e dando um última olhada em volta saiu da casa onde morou nos últimos anos.

– Adeus – Soltou as palavras no vento já com saudades.

Na rua Ino a esperava com os olhos marejados por presenciar a despedida emocionada da amiga. Ao lado da loira estava a senhora da casa do lado onde vez ou outra trabalha de babá. Shizune, sua chefe do Café. O casal da casa da frente, as crianças que costumavam brincar na rua e até mesmo o carteiro que sempre presenteava com biscoitos quando esse lhe trazia as correspondências. Todos para se despedirem da jovem adorável que iluminava a rua com seu sorriso.

As despedidas foram emocionadas, ganhou inúmeros abraços e presentes antes de finalmente entrar no carro de Ino.

– Pronta? – Perguntou a loira olhando para Sakura, que tinha os olhos verdes marejados enquanto acenava em despedida para os vizinhos.

– Sim – Respondeu e Ino ligou o carro, arrancando e acelerando rumo a nova vida que esperava as duas amigas.

Pelo retrovisor Sakura viu desaparecer a charmosa casinha e a rua onde foi tão bem acolhida.

"Vou sentir saudades", pensou triste sabendo que não era apenas da casa que sentiria falta.