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História (res)Surgir - Harmonizar


Escrita por: SilverCamellia

Notas do Autor


verbo
regência múltipla e pronominal
pôr(-se) ou estar em harmonia, em acordo; conformizar(-se).

Capítulo 3 - Harmonizar


Fanfic / Fanfiction (res)Surgir - Harmonizar

Um murmúrio baixo, quase imperceptível, o acordou com calma, como se estivesse acordando de um desmaio. Olhos castanhos encararam o teto cinza, mas pararam rapidamente. O sol parecia brilhar cada vez mais forte em seu rosto, e Aiden cogitou enfiar a cara debaixo do travesseiro, mas desistiu quando rolou para o lado e caiu.

-Puta dia bom da porra... – Xingou baixo, se erguendo devagar do chão. Massageou a cabeça e torceu para um galo não aparecer, ainda não queria ver aquela louca da enfermaria de novo. Olhou pra si mesmo e se cogitou bem vestido o bastante para pegar uma caneca de café na cozinha. E se não tivesse ele faria, não era um adulto tão vagabundo assim.

Coçando o olho, abriu a porta e, sendo recepcionado com uma claridade maior que a do quarto, sentiu vontade de se enfiar nas cobertas de novo. –Bom dia flor do dia. – A voz de Siobhan o saudou, e a selkie acenou para ele antes de virar uma panqueca na frigideira. –Panquecas?

-Bom dia, e não, obrigada. De manhã é só um litro de café. – Respondeu, acenando de volta e procurando o pote de café entre os armários da cozinha. Achou açúcar, xícaras, mas nada de café. – Isso aqui é lichia em conserva? – Questionou para ninguém em específico, encarando a embalagem colorida com letras estranhas.

-Esse ai é meu. O café é na porta em cima do grill. – Uma unha verde-limão com listras rosas apontou para a porta certa, e Erin voltou a fazer suas unhas na bancada. Aiden apenas encarou a demônia por alguns segundos, se questionando como alguém tinha pique para fazer as unhas tão cedo, mas desistiu de pensar e voltou a sua caça pelo café.

-Como foi sua noite, Aiden? Pega a calda de caramelo pra mim, por favor? – Barulho de panelas e pratos batendo fizeram uma pontada de dor subir a cabeça do humano e ele cogitou apenas grunhir como resposta, mas resolveu ser minimamente educado antes que sua mãe aparecesse do chão e lhe desse um sermão.

-Surpreendentemente bem considerando tudo que aconteceu nessa semana. Mas o lençol coça muito. – Jogou a garrafinha de xarope para a selkie, que pegou e, com um agradecimento rápido, encharcou suas panquecas com o líquido. Abriu a cafeteira e, quando foi jogar o pó, foi parado imediatamente por uma mão no ombro.

-O lençol é uma bosta, melhor usar o seu. E você não pode usar a cafeteira, tem de usar o fogão e o coador. – Orientou Killina, se esticando para pegar uma caixa nos fundos do armário e bagunçando o cabelo azul de Aiden no processo. Com rápida eficiência, Killina fechou a cafeteira e virou Aiden para o fogão, onde Siobhan tinha deixado água fervendo.

-Mas é uma cafeteira em perfeito bom estado. – Exclamou o humano, se virando para a líder que batia algo marrom num pote. – Porque eu não posso usar? – Questionou, decidindo encarar Siob, que enchia a boca de panquecas.

Depois de engolir um pedaço grande, a morena finalmente o respondeu – Jess usa a cafeteira para preparar algumas poções dela. E como não sabemos qual foi a última, não queremos arriscar que seu café se misture com poção de redução ou de apodrecimento. – Aiden mal entendeu o que a selkie disse, de tão rápido que ela falou apenas para morder outro pedaço da panqueca.

-Mas... É uma cafeteira! Cafeteiras são feitas para fazer cafés, assim como guarda-chuvas para se proteger da chuva e martelos pra bater pregos! – Aiden sabia que deveria se sentir ridículo por discutir algo assim numa casa que nem era sua e ainda por cima com uma camiseta ridícula de formatura que usava como pijama, mas porra, café! Ele se sentia injuriado de ter de fazer todo aquele processo de passar café manualmente porque a cafeteira estava contaminada!

-Porra nenhuma! – Gritou Erin, apontando com o pincel para Aiden e quase acertando um pingo de esmalte rosa-choque nele. – Martelos são para bater pregos, mas eu uso um para esmagar a cabeça de quem me irrita!

Silêncio. Aiden encara Erin, que o encara de volta na mesma força, e Siobhan apenas assiste, a boca empanturrada de panquecas. Um baque forte no balcão quebrou a tensão, e todos encaram Killina, que batia numa forma para espalhar a massa.

-Erin, se cair um respingo de esmalte nesse balcão eu vou limpar com o seu core. Siobhan, chega de panquecas. É o seu terceiro prato e essa massa tem de durar até o fim de semana. E Aiden, essa cafeteira é da Jess porque em troca ela pegou a responsabilidade de louça indefinidamente. Você pode passar café do jeito normal sem problemas, mas duvido que queira raspar sangue e pedaços de carne dos pratos. – E como se estivesse comentando sobre o clima, Killina calmamente colocou a forma no forno, tirou as luvas e o avental e ligou um timer vermelho. – Quando ficar pronto desliguem.

Com a precisão que parecia ser sua regra, Killina saiu da cozinha e se dirigiu para o banheiro, trancando a porta. – O que foi isso? – Perguntou Aiden, levemente chocado.

-Killina solucionando os males do mundo. – Respondeu Erin, guardando os esmaltes e assoprando as unhas. – Ela sempre dá uma dessas, e sempre funciona. Sua água tá fervendo.

-Óbvio. – Retrucou Siobhan, descendo do balcão e colocando o prato na pia. – Ninguém é louco o bastante para discutir com ela.

-Ela tava mais tranquila ontem, não? – O cheiro de café ocupou o ar, dividindo espaço com o questionamento de Aiden que tentava encaixar aquele temperamento com a mulher piadista do dia anterior.

-Ontem teve reunião com os responsáveis de cada área. Aposto cinco pratas que o Sofia encheu o saco dela com o papinho de agente secreto. – A demônia sentou na bancada, estendendo a mão para a selkie, que ainda estava guardando as coisas. Deixando tudo na pia, Siobhan apertou a mão da outra.

-Aposto dez pratas que ele desafiou ela pra lutar de novo e apanhou.

-Quem é Sofia? – As duas se viraram para Aiden, que fechava a garrafa térmica, a sobrancelha levantada em confusão.

-Líder dos Anhangá. – Erin soltou a mão da outra para pegar um pacote de bolachas de morango do armário, enquanto a selkie voltava a guardar as coisas. – Um bruto do cacete, cara ignorante. Flertou comigo duas vezes, apanhou e mesmo assim ele não desiste! – Abriu uma das bolachas, comendo o recheio e depois o biscoito, mordendo ambos com força desnecessária.

-Vocês tem uma tendência estranha de dar nome de homem pra mulher e nome de mulher pra homem. Caralho, como café é bom. – Nem mesmo o olhar de estranheza de Siobhan o impediu de virar a caneca de café em um gole só, rapidamente enchendo-a de novo. – De acordo com vocês eu passei uma semana em coma, uma semana sem café é tortura.

-Bem Aiden, leve em consideração que noventa por cento das criaturas não tem órgãos sexuais. E os peitos são mais pra acessórios irritantes. – A selkie balançou os seios para dar um exemplo, fechando o último armário com o pé e saindo da cozinha. – Vou treinar mais. Os exames estão chegando e eu não vou desistir do meu ranking alto tão cedo.

-Ué, Songie tá ficando perigosa? – O tom zombeteiro da demônia apenas a rendeu um olhar desdenhoso que dizia claramente “eu não vou cair nessa.”. – Ok, ok, injusto, entendi. Também não quero aquele Joshua cheirando meu posto. Bom treinamento.

-Você não vem? – Siobhan parou na porta, roupas e armas em mãos, observando Erin devorar o pacote. – Esqueceu que você tem de treinar todo dia, colega?

-Eu vou sair num encontro com o humaninho. – Aiden foi esmagado num abraço apertado, enquanto a loira fazia barulhos de beijos absurdamente ridículos. –Ele vai me levar pra casinha dele e nós vamos nos divertir.

-Socorro. – O pedido do humano foi prontamente ignorado pela selkie que fazia barulhos de vômito em meio às risadas. – Para de rir e me salva dessa louca, Siobhan. Ela vai me destruir.

A fala de Aiden rendeu ainda mais risadas, a demônia largando ele apenas para cair no chão, rindo descontroladamente. Siobhan abriu a porta, o som do corredor movimentado aumentando a cacofonia da casa, e se despediu dos dois, mas sem antes gritar para Aiden. – Vai que é tua passivona! – O barulho da porta batendo com força foi substituído pelos gritos irritados de Jess, que chutou a porta de seu quarto espumando de raiva.

-SÃO DEZ FODENDAS HORAS DA MADRUGADA, É CEDO DEMAIS PRA ESSE BADEGULHO DO CARALHO, E EU NÃO VOU MAIS DORMIR, OBRIGADA. – A negra esbravejou, quase quebrando o chão de madeira com suas passadas raivosas, completando o combo de ódio com um chute aonde seriam as costelas de Erin, que apenas riu mais um pouco. Com um som que pertenceria à boca de algum bicho absolutamente irritado, Jess apenas pegou a garrafa de café, aquele café fresquinho que Aiden tanto sofrera pra fazer, o café que ele pretendia beber sozinho-

E virou o líquido na sua boca. Tudo. Tudinho. Todo o café caiu na boca de Jess.

O humano apenas encarou a bruxa, que colocou a garrafa na pia e arrotou baixo, se se encostando à bancada para cutucar a bruxa com o pé. – Tá felizona por quê? Deu o cu? – A pergunta dela apenas rendeu mais risadas a loira, que voltou a rolar no chão. – Ela pirou oficialmente. Bom dia. – O olá irônico de Jess não quebrou o olhar de Aiden, que continuou encarando ela. No fundo da sala, a porta do banheiro abriu, e Killina saiu, secando os cabelos com uma toalha. Ela apenas encarou o trio, Jess só de roupa intima, Aiden absolutamente desolado e Erin, ainda no chão, rolando até a sala como uma idiota.

-Ela bebeu meu café. – Como uma criança de maternal, Aiden apontou o dedo para a bruxa, que apenas o observou como se ele fosse algum vegetal mal formado.

-Grandes bostas, Sherlock. Faça mais. – Dando de ombros, a bruxa saiu da cozinha e retornou ao seu quarto, fechando a porta com força desnecessária, que finalmente tirou Aiden de seu transe.

-Peraí fela da puta, aquele era meu café! – Quase tomando um tombo, o humano correu descoordenadamente até a porta do quarto de Jess, mas a porta virou o teto acima dele, pois Killina puxou ele pela parte de trás de sua gola e o jogou no chão, colocando um pé em seu peito.

-Vai se arrumar agora. Tenho pouco tempo livre, então vamos pegar logo suas coisas na sua casa. Erin vai conosco. – A demonia apenas resmungou, abandonando o notebook no sofá e se dirigindo ao seu quarto. – Você tem duas horas pra fazer uma lista do que é importante e se arrumar. Eu vou ir falar com algumas pessoas e quando eu voltar quero você pronto. – Sem delongas, Killina jogou a toalha no cesto de roupas sujas ao lado do banheiro, colocou um par de sapatilhas e saiu, sem sequer desviar o olho da porta.

-Melhor ir logo. – A voz de Erin o tirou do transe, e ele viu a loira dar uma piscadela e fechar a porta, o abandonando estatelado na sala.

As duas horas seguintes passaram rápido, Aiden montando uma lista do que ele precisava pegar (suas plantas, roupas de cama e roupas de vestir), tomando um banho e participando de um torneio de chicotada com toalhas molhadas com Lumi (que ganhou).

Quando o alarme do seu celular apitou, indicando que já era hora, o humano pulou da cama, respirando fundo. Era a ultima vez que voltaria pra lá, mas em algum lugar da sua cabeça ele parecia aliviado e tranquilo sobre isso. Bem, com certeza foi Lili-seis-braços mexendo com sua cabeça, então bastava ignorar tudo e ir com força. Abriu a porta do quarto, saindo rapidamente e deixando a porta aberta para tomar um ar.

Killina, com roupas diferentes das que usava de manhã, cortava a massa da forma, que agora Aiden reconhecia como brownies, e as empilhava em dois pratos diferentes, enquanto Erin comia um dos doces, observando o corte preciso da líder.

-Tô pronto. - Falou, se aproximando das duas, as mãos nervosas enfiadas no bolso do moletom, brincando com o papel dobrado entre elas. As duas se viraram para ele e Killina abandonou o brownie, rapidamente se aproximando da porta.

-Ótimo. Nico já tá lá, pra ter certeza que o lugar não tem pessoas por perto. - A loira explicou, puxando a manga de Aiden para ele a seguir, enquanto Killina inseria uma chave colorida na fechadura, virando ela cinco vezes.

-Uh… Como esse negócio da chave funciona mesmo? - Aiden perguntou, vendo a porta que deveria dar num corredor alaranjado (pelo menos de acordo com o seu sonho) se abrir para uma escadaria cimentada, se lembrando das enfermeiras saindo no dia anterior.

-A organização tem centenas de portas especiais espalhadas pelo planeta. Normalmente são em locais desabitados, prédios abandonados, cidades fantasmas, esses lugares que quase ninguém vai. - Erin explicou, descendo a escada de costas.

-Tipo Chernobyl? - Questionou Aiden, encarando as pichações espalhadas pelas paredes.

-Não há magia em Chernobyl. - Respondeu Killina, esperando os dois no final das escadas. -A radiação afeta a magia de um jeito feio. Um dia eu explico.

-Finalmente, seus lerdos. – Pulando de uma das janelas quebradas, Nico caiu no chão com habilidade e se levantou, mirando um soco em Erin, que desviou com facilidade e começou uma lutinha com o nekrós.

-Vamos logo. – Com a ordem dada, a dupla parou a briga e bateu continência, o que fez Killina apenas suspirar em cansaço, seguindo para o bloco de apartamentos onde Aiden morava.

Não era nada extravagante, sem porteiro, sem interfone, apenas o prédio e vários galpões em volta, a maioria transformada em estacionamento. Um pequeno jardim na frente estava em seus últimos dias de flores, o chão colorido em tons de rosa e branco.

-O lugar mais barato por aqui. – Comentou Aiden, destrancando o portão e dando passagem para os outros entrarem. – Vamos ter de subir até o último andar. Dei azar de pegar uma casa no alto.

-Olhe o lado bom, se houver uma enchente a sua casa fica inteira. – Erin tomou a frente, fazendo piadas ruins. – E tirando as cores horrivelmente depressivas e o piso que pertence em um lixão, até que dá pro gasto!

-Imagina se não desse. – Nico murmurou para Aiden, e os dois deram risada da demônia que seguia andando, usando o salto incrivelmente alto para demonstrar como o piso não aguentava nada.

Quando finalmente chegaram a porta de Aiden, o humano empalideceu levemente, antes de murmurar. – Esqueci as chaves. – Apertou os olhos e se encolheu, já sentindo o tapa que iria levar por ser tão inútil. Mas definitivamente não esperava um estrondo, e muito menos ver a porta reduzida a pedaços em sua frente.

-Nossa Aiden, que casa bagunçada. – O comentário de Erin ecoou até o hall, e Aiden achou melhor entrar antes que a crítica a sua casa começasse. – Poderia ter ao menos lavado o banheiro, né?

-Sabe, se eu soubesse que minha casa teria a porta destruída e uma chifruda com TOC dando piti fosse a responsável, eu com certeza limparia. – O sarcasmo fez Erin arremessar um sabonete em sua cabeça, que felizmente errou e acertou o ombro. – E se acertasse a parede você iria limpar. O proprietário me odeia com todas as forças.

-Meh, duas piscadelas e ele perdoava. – Jogando os cabelos para trás, a demônia se enfiou em algum cômodo, e Aiden apenas a ignorou. Era melhor deixar ela se divertir ou ia sobrar pra ele. Nico mexia em sua coleção de games, ocasionalmente virando o jogo para ler a contra capa. – Quer pra você?

-Temos um lá em casa. - A resposta foi automática, e Nico apontou para uma das pilhas de jogos que ele tinha organizado. -Já temos esses. Pode vender, se quiser, conheço alguns caras que pagam cem em cada.

-O que eu compro com essa quantia? - Nico se ergueu e seguiu o humano para a cozinha, onde ele já bebia um pouco de água. -Servido? - Aiden perguntou, apontando para a torneira.

Quando Nico recusou, os dois foram até a lavanderia para pegar uma das malas do humano. -Com cem você compra uma roupa completa, um tênis de marca ou encomenda uma arma simples.

-Achei que o capitalismo era só no mundo humano. - O resmungo do humano fez Nico dar risada, e ambos entraram no quarto.

Onde Erin dissecava sua gaveta de cuecas, e no momento estava com um sutiã na mão. -Porra Aiden, bege e com alça de silicone? - A demônia mostrou o sutiã para Nico, que ergueu as mãos e saiu do quarto.

-ERIN SUA LOUCA ME DEVOLVE ISSO! - Ambos caíram no chão, Erin gargalhando de um Aiden vermelho, que tentava pegar o item da mão dela. Finalmente, ele conseguiu tomar a peça dela e sem pensar, arremessou-o pela janela.

-Era de uma ex. - Ele tentou explicar, socando as cuecas na mala, ainda muito vermelho. - Sim, ela tinha mau gosto. Terminou comigo e deixou justo o mais feio.

-Me engana que eu gosto, besta. - Ela respondeu, e o humano apenas desistiu e foi arrumar sua mala.

Enquanto Aiden procurava mais meias, Erin continuava xeretando as gavetas atrás de mais coisas vergonhosas. - Pelo amor de Deus, Erin, para de bagunçar minhas coisas!

-Não fala desse cara chato perto de mim, e eu vou continuar sim! Material de chantagem é sempre bem vindo. - A demônia comentou, desistindo da gaveta de cuecas e partindo pra gaveta de calças.

-Deus? Ué, ele é tão filho da puta assim? - Questionou o humano, parando um pouco para se lembrar de todas as referências a Deus que ele já tinha visto em sua vida e fazendo uma careta ao lembrar da tia religiosa.

-Vamos dizer que de cada dez merdas que acontecem no mundinho mágico, nove tem o nome dele no meio e o último foi ele mesmo. - Nico resmungou, entrando no quarto com uma mala vazia na mão, enquanto na outra segurava um quadro. -Sua mãe?

O nekrós mostrou a foto para o humano, que acenou a cabeça em afirmação. -Dona Carla, a mulher com o tapa mais forte da região. - Brincou, fechando a sacola de roupas íntimas e partindo para as camisetas, afastando Erin com um empurrão leve.

-Você apanhava? - O menino perguntou, observando a foto melhor, com Erin olhando por cima de seu ombro.

- Muito. Qualquer besteira e pá! - Bateu na gaveta para exemplificar. - Uma surra atrás da outra. Não adiantou muito, eu só aprendi a esconder e mentir melhor. - Completou, dando um sorriso sem vergonha para a dupla, que o encarava com estranheza.

-Sempre achei que humanos eram seres violentos. Pelo visto eu não errei. - Comentou a demônia num resmungo, se apoiando na janela.

-Nem todos são, Erin. Mas alguns acham que o melhor jeito de ensinar que algo é errado é através da violência. - Aiden continuou a guardar camisetas, tentando explicar uma ideia que ele não apreciava.

-Mas isso não gera mais violência? - O nekrós questionou, ajudando a dobrar as camisetas em rolinhos, enquanto explorava o quarto com os olhos.

-É um negócio meio deturpado que as vezes funciona, às vezes não. Eu não entendo direito e nem apoio. Pelo menos minha mãe era suave. - Aiden deu uma pausa rápida, fazendo uma careta para uma camiseta rabiscada e a jogando no canto, com as meias sem par ou rasgadas. -Eu tinha um colega que o pai batia com um pedaço de pau. Mas o pai dele bebia então não dava muito certo.

-Ok, não sabia que humanos viciados podem ter filhos. E nem que violência familiar é permitida. - Afirmou Nico, ignorando o “shhh” de Erin.

-Depende muito, cara. Alguns usam como último caso, outros vão na primeira chance. E humanos podem ter filhos quando quiserem, poucos países controlam. - Os dois continuaram falando, ignorando a demônia completamente.

-Mas se você pode ter quantos filhos você- O nekrós foi silenciado com um travesseiro que acertou sua cabeça em cheio.

-Calem a boca, porra! - Erin sussurrou, se controlando para não gritar. O silêncio se fez presente, e o quarto tão quieto incomodou Aiden.

-O que houve? - Perguntou, não entendendo o motivo da raiva da menina.

-Tá muito quieto. - Ela respondeu, colocando o torso pra fora da janela e olhando para os lados.

-Grande coisa, capitã óbvia. - Resmungou o acertado, cogitando jogar o travesseiro de volta para Erin. -Aqui é subúrbio, não tem muito trânsito.

-Sua vizinha tem canários, e nenhum deles cantou até agora. Nenhuma TV tá ligada, não ouvi passos, os carros estão com folhas neles, e a caixa de correio de um dos vizinhos tinha jornais demais da mesma marca, então eles estão acumulando. As flores da outra vizinha morreram, e são uma espécie que tem de ser regada todo dia, além de ser cara.

-Os humanos sumiram. - Nico se ergueu, já pronto pra atacar.

-Mas por que? - O humano perguntou, se erguendo tão rápido que quase caiu novamente.

-Porque eles querem você, Aiden. - Killina apareceu, com a foice e a roupa branca coberta de um líquido meio esbranquiçado. Erin rosnou, amaldiçoando em alguma língua estranha.

-O que caralhos tá acontecendo? - O dito-cujo perguntou, se sentindo tonto com o cheiro que o líquido emanava.

-Foi o que eu falei pra você quarta, Aiden. Eles querem você. Vivo, morto, tanto faz. Querem o core dentro de você, e vão fazer de tudo pra pegar ele.

-Mas ele não é um Gappei? - Exclamou Erin, agarrando o parapeito da janela. Nico parecia se aproximar lentamente dela. Killina apenas olhou fixamente para ela, para Nico, e para a janela. Erin hesitou um pouco, mas acenou afirmativamente.

-Aiden, espero que você tenha um pulmão muito bom, porque a gente vai correr. - Killina comentou, fechando as malas de Aiden e jogando para a dupla parada próxima à janela.

-Boa sorte, Aiden. - Nico falou, antes de pular da janela. Erin apenas deu uma piscadela e seguiu o nekrós, deixando os dois sozinhos.

-O que a gente faz agora? - Ele perguntou, se sentindo cada vez mais ansioso a cada segundo.

-Temos só alguns minutos antes que eles cerquem tudo. Vamos descer até o segundo andar, pular da janela e correr. - Killina já saia do quarto, se dirigindo a porta do apartamento pequeno.

-Você vai usar a chave? - Questionou, seguindo a mulher que já estava nas escadas..

-Nico e Erin vão usar a deles pra chegar em casa, e como tem o tempo residual, ninguém pode seguir eles.. Nós vamos despistar os agentes. - Ela respondeu, quebrando uma das portas com a foice, e seguindo diretamente para a janela.

-E você sabe o que tá fazendo? - Killina parou na janela, uma perna já do lado de fora. Aiden sentiu o maior arrependimento de sua vida quando a mulher a sua frente deu a risada mais assustadora que ela já tinha visto.

-Hora de descobrir. - Num borrão, Aiden viu o mundo girar e o asfalto bater na sua cara, ou sua cara bater no asfalto, e uma dor gigante surgir em seu rosto e ombro. - Bem, eu sei, já você não. - A mulher caçoou, puxando Aiden e o forçando a ficar de pé.

-Eu te odeio. - O resmungo foi perdido em meio aos gritos que vieram da esquina, e tudo parou. Uma dúzia de pessoas, ou no caso obviamente agentes inimigos, armados até os dentes, encaravam eles e não pareciam felizes.

-Agora a gente usa a melhor tática de todas. - Killina falou, e os inimigos se prepararam para atacar. - Corre! - Aiden foi empurrado para o outro lado, sendo forçado a correr com a graça de um babuíno, enquanto Killina fugia  com muito mais habilidade.

Quando a primeira lança voou zunindo do seu lado, se alojando num muro, Aiden se arrependeu de ter levantado da cama. Eu devia ter ficado dormindo!

 


Notas Finais


yeeeeey q orro
qualquer coisa cês mandem um oizin pra mim no twitter
amo vocês~


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