História Resto do Mundo - Matheus

15 de fevereiro
 Esse foi o dia em que eu a vi pela primeira vez. Novo ano escolar, turma nova, pessoas novas, e eu sozinho mais uma vez. Estava sentado no fundo da sala, esperando a aula começar, quando ela chegou. Meio desajeitada, o cabelo castanho, liso e brilhoso como eu nunca tinha visto antes caindo pelos ombros, em harmonia com olhos ainda mais castanhos, profundos e, de certa forma, nervosos. Não tirava meus olhos dela, percebia todos os detalhes, seu sorriso para um, talvez, conhecido, mostrado por lábios delicados em um rosto fino e angelical. Ela era, com certeza, a garota mais bonita que já tinha visto. Só desviei meu olhar quando percebi ela estava vindo em direção à carteira ao lado da minha e me olhou rapidamente com seus lindos olhos castanhos.
 Não me importava com a aula de Matemática, minhas notas não iriam mudar mesmo, e, durante ela, rabisquei em meu caderno alguns traços tentando capturar pelo menos um pouco da beleza que sentava agora ao meu lado. Não importa o quanto eu pratique ou aprenda sobre desenho, não consigo ver meus trabalhos melhorando, nem ficando decentes, mesmo que quem opine sobre eles pense, geralmente, o contrário. Durante as outras aulas dormi, só acordei com o sinal avisando o final das aulas do dia. Não é como se os professores se importassem com isso, eles não ligam se vamos aprender ou não os conteúdos, para eles o importante é receber o salário miserável do governo no final do mês para conseguir sobreviver. Levantei da carteira e saí da sala com minha mochila nas costas, foi aí que vi aquilo. Um cara acabava de empurrar a garota, fazendo ela quase cair. Não me controlei, fui para cima dele com tudo e o empurrei com força o bastante pra ele cair e me olhar em um misto de raiva e confusão. Antes dele conseguir falar qualquer coisa, gritei com toda minha raiva:
 -Quem você pensa que é pra tratar uma garota assim?!
 Ele tentou justificar dizendo que ela derramou suco na roupa dele. Foi aí que não aguentei. Antes que ele conseguisse terminar a frase já estava socando o seu rosto. Soquei com vontade, senti o prazer de ouvir seu nariz quebrando, nem me importei com a dor que sentia também em meus dedos. Estava prestes a bater mais no babaca quando a menina veio me afastar dele. Cuspi no chão ao seu lado e saí da escola. Quando estava indo pra casa, ouvi a garota me chamando:
-Ei, você! Obrigado por hoje, sabe. O meu nome é Helena, qual é o seu?
Respondi, olhando com o lado do rosto:
-Matheus.