Durante toda a minha vida eu nunca namorei. Pra dizer a verdade, nunca me fez falta. Sempre tive medo de as pessoas descobrirem que eu gostava de meninos, nunca deixei brecha para nenhum garoto se aproximar em nível mais pessoal do que a amizade. Para as meninas que deixavam claro que queriam um relacionamento comigo, eu tinha uma biblioteca inteira de desculpas para não me envolver, desde estar apaixonado por outra e até o clássico 'eu gosto de você como amiga'. Sempre funcionou. Ah, mas eu sempre preferi o 'não é você, sou eu' ou o 'não é a melhor hora'. Na minha antiga cidade, de tanto eu rejeitar meninas acabei criando uma imagem de arrogante, de alguém que se achava superior e que ninguém me merecia. Isso tudo era mentira, claro, e meus verdadeiros amigos e amigas me conheciam, sabiam que eu simplesmente não queria um relacionamento, mas não pelo motivo que eles achavam.
O ponto disso tudo é que eu não estou muito acostumado com pessoas que se aproximam tão espontaneamente, que eu não conheço, e querem saber de mim, começar uma nova amizade. O sentimento é de estranhamento e não consigo evitar o pensamento de que existe uma intenção escondida, talvez um favor ou algo do tipo. Lisa foi diferente, o jeito desapegado dela, o conforto e segurança que ela proporciona são muito convidativos para uma amizade, e isso porque eu a conheço há menos de duas horas.
Eu queria muito que Lisa estivesse do meu lado agora, enquanto eu estou sentado, olhando para o garoto loiro que acaba de sentar do meu lado de maneira desleixada. Ele vira o rosto para minha direção, olhando nos meus olhos. Seu sorriso discreto nunca se desfaz.
– Ei, é Guilherme, né? – pergunta o garoto, me apontando o dedo indicador.
– É sim.
– Beleza, Guilherme? Meu nome é Ariel – me estende sua mão para um aperto. Ariel parece esperar alguma coisa além do aperto de mão, seus olhos claros fitam os meus atrás de algo. Eu apenas aperto sua mão e ele desvia o olhar. – Se não se importar de eu perguntar, por que você tá sentando aqui?
– Ah, como assim aqui? – pergunto de forma boba, como se não entendesse seu idioma. – Desculpe, não sabia que não podia sentar.
– Ah, não, não é isso, – seu rosto é tão claro que suas bochechas rapidamente enrubescem – tipo, quero dizer aqui nesses bancos, – ele bate levemente na parte acolchoada – ninguém fica sentado aqui nesses bancos na hora do recreio, a não ser que queira ficar sozinho – diz-me apontando para as pessoas em volta.
Eu realmente não havia prestado atenção, mas as pessoas que estão sentadas nos bancos estão mexendo em computadores, lendo livros ou dormindo enquanto escutam música. As outras pessoas que estavam sentadas estavam em duplas ou grupos conversando animadamente, mas logo se levantavam e iam embora pelas escadas, para o andar de baixo. Não consigo segurar um sorriso envergonhado. Eu devo parecer a pessoa mais depressiva do mundo, sentado no banco, sozinho, sem nada pra fazer a não ser olhar pro nada.
– Nossa, eu devo dar muito na cara que sou novato.
Ele ri e concorda comigo, para e observa o ambiente por alguns segundos junto comigo e se levanta.
– Ei, você já pegou suas coisas na secretaria? – ele me pergunta, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta.
Um lampejo passa pela minha cabeça ao ouvir sua pergunta. Eu esqueci completamente de pegar minha agenda. Era o que eu ia fazer quando o Nathan me impediu e depois Lisa me puxou pelas escadas como uma louca para encontrar a minha sala.
– Droga, ainda não – digo me levantando do banco e dando um leve tapa em minha cabeça.
– Quer ajuda pra encontrar?
– Claro! Valeu – não consigo esconder minha animação. Ter tanta gente amigável querendo me ajudar é muito bom, mesmo que eu saiba onde fica a secretaria.
– Vamos subir as escadas, ela fica no terceiro andar, e agora que é recreio ela fica quase vazia.
Ele puxa um pacote de Halls extra forte do bolso de sua jaqueta verde e coloca um na boca, me oferecendo outro, eu aceito. Ariel me explica que durante o recreio quase toda a escola fica no refeitório ou na área próxima ao estacionamento, onde ficam conversando, andando e comendo, então os andares dois e três ficam quase desertos durante esse período. Me explica ainda outras coisas da escola, assim como Lisa fizera, só que a maneira como Ariel fala é incrivelmente cômica, com expressões exageradas e muitos gestos com as mãos, como um bom contador de histórias. Ele possui um jeito solto e livre de ser. Ah, eu mal o conheço e já o invejo. Começamos uma lenta caminhada até o andar superior. Conversa comigo como se nos conhecêssemos há anos, sobre temas variados e de meu interesse. De primeira vista, nunca adivinharia que ele gosta de filmes de terror, costuma jogar RPG online... eu diria que ele se parece com o tipo de cara que gosta de falar de carros, viagens e sobre pegar garotas. Mas ele curiosamente não é assim, mal sabe a diferença entre marca e modelo de carros, fez poucas viagens nacionais e não o ouvi falar um único nome feminino. Por melhor que esteja sendo nossa animada conversa, não consigo deixar de ter aquela estranha sensação de que as coisas estão saindo bem demais para mim. É muita sorte ter alguém como Ariel para conversar tão animadamente com um completo estranho... afinal ele é um dos mais populares da escola, o que significa que tem vários outros amigos, deve ter dezenas de pessoas atrás dele.
– É... Ariel – digo um pouco baixo.
– Hum? O que foi, Guilherme? – me pergunta, virando o rosto para me encarar com o mesmo olhar curioso que vi na sala.
– Não me leve a mal, mas por que você está sendo tão legal comigo? Quer dizer, você poderia estar com seus amigos, mas está me levando até a secretaria e... – tento fazer a pergunta parecer da maneira menos ofensiva que posso, e não consigo formular direito o resto.
Ariel dá uma risada rápida, expondo seus dentes perfeitamente alinhados e brancos, e logo depois me olha com seus olhos claros de maneira infantil. Fico um pouco constrangido.
– Sabe, meus amigos não vieram hoje, eles chegam semana que vem já que estão viajando em grupo para o sul do país. E entre ficar nessa guerra de ego para ver quem viajou ou gastou mais e ajudar você, eu prefiro ajudar você.
Droga, só de sentir meu rosto ficando quente eu sei que estou vermelho. Também sinto um frio na espinha pela maneira simples com que ele falou isso. Será que todos nessa escola têm como objetivo principal me matar de vergonha ou simplesmente todos os garotos daqui curtem me fazer criar expectativas?
– Sabe, ano passado eu era calouro e não tinha ninguém muito interessado em me ajudar, muitos ficaram com medo de eu ser um daqueles caras que menosprezam os outros. Depois eu descobri isso por alguns amigos, que disseram que eu tinha cara de esnobe ou alguma coisa assim. Além disso, é meio que minha obrigação ajudar meu novo vizinho.
– Espera, você sabe que somos vizinhos? – pergunto, completamente incrédulo.
Ele dá uma nova risada e abre a porta de vidro da secretaria para que eu entre. Que cavalheiro. Eu nem sei como chegamos aqui, a conversa pegou toda a minha atenção. Pelo menos fico feliz por ter minha mente ocupada com outra coisa que não seja o beijo. Entramos na ampla sala, que tem uma pequena bancada, várias prateleiras e armários metálicos abarrotados de documentos, alguns bancos e muitas caixas de papelão. Da parte de trás da bancada, três mulheres e um homem bem vestidos sentados e digitando em computadores de primeira linha não percebem nossa entrada. Talvez se tivesse uma cama por aqui eu poderia achar que entrei no meu quarto no primeiro dia de mudança.
– Bom, eu vi quando vocês chegaram na sexta e percebi que você gasta muito tempo olhando para o nada da sua janela, parece que está em transe. É até bonitinho – diz, exibindo novamente seu sorriso.
– Não é não – digo rindo também e dando um soco de brincadeira em seu ombro.
Bom, já sei que devo evitar ficar olhando pro nada pela janela. Mas será que ele percebeu que em algumas das vezes que eu ficava na janela eram para vê-lo? Não que eu tenha segundas intenções, mas a curiosidade de ter um vizinho da mesma idade é algo que eu tenho que desvendar, ainda mais que mal conheço alguém aqui.
Falo com a mulher que fica mais próxima da bancada, ela pede alguns dados, como meu nome completo e número do cartão de identificação do colégio. Agora é oficial, isso não é uma escola. Ela gentilmente me entrega uma agenda, outros documentos e me dá alguns rápidos avisos sobre como funciona a escola, sobre os horários, o sistema de notas da escola, o que podia e o que não podia fazer. A escola no geral funciona como qualquer outra, mas Ariel desmente essa ideia dizendo que aqui é repleto de malucos. Depois de passarmos um tempo conversando e brincando, saímos da secretaria. Tento arrumar os documentos na pequena pasta azul que a atendente me deu. Milhares de documentos presos em grampos mal cabiam em minhas mãos e tentam escapar por entre os dedos.
– Ei, Guilherme – chama Ariel do meu lado, dessa vez sem virar seu rosto para mim.
– Pode me chamar de Gui – digo ainda tentando encaixar todos os milhares de papéis na pasta, sem poder olhar em seus olhos.
Vejo de relance suas bochechas brancas ficarem levemente rosadas e Ariel desviar ainda mais o olhar. Chamou minha atenção, já que pela pele clara de Ariel, qualquer tipo de emoção que tiver será facilmente identificada pela coloração de seu rosto.
– Gui... o que foi aquele beijo no primeiro tempo?
Estremeço brevemente. Esse assunto nasce completamente do nada e eu não estava esperando este tipo de pergunta, ainda mais dele. O que Ariel iria querer saber sobre o ocorrido? Nem eu mesmo sei o que foi.
– A-Aquilo? E-Eu também não sei – respondo gaguejando, sem conseguir esconder meu desconforto.
– Hum, é que... achei que vocês eram namorados. Não sei, ele é meio que um bad boy da escola, e você parece ser muito tranquilo, não parece que combinam.
– Como assim? Claro que não, eu nem o conheço... e por que seríamos namorados? Eu...
Droga, droga, droga, fica quieto Guilherme, vai complicar ainda mais a situação. Ficou tão na cara assim que eu poderia gostar de um menino?
– O Nathaniel é um cara quieto, e se ele te beijou é porque se interessou por você, mas os interesses dele nunca duram mais que uma semana – Ariel explica, ainda tentando evitar um contato visual, que tanto fazia antes. – Pensei que significasse alguma coisa... afinal não teria problema nenhum você... gostar dele...
Eu não entendo mais nada dessa escola doida, nem dos alunos malucos. Primeiro o garoto deixa claro que me odeia, ficamos bem perto de uma briga, depois temos um pequeno jogo psicológico. Isso apenas no começo do meu primeiro dia de aula. Agora o segundo vem e me diz o contrário, e eu nem entendo o por quê dele estar comentando isso comigo. Não, essa possibilidade simplesmente não existe.
Descemos as escadas em direção ao primeiro andar em silêncio para comermos algo. Chegamos no segundo andar, e antes que possamos descer o último lance de escadas, Ariel para abruptamente, e eu paro também. O rosto de Ariel está um pouco rosado, e ele encara o chão, estático, mas seus olhos estão inquietos.
– Gui – ele sussurra.
– O quê? – meu coração palpita rapidamente. Ele está sério demais para o Ariel de antes.
Ariel continua encarando fixamente o chão, engole em seco e dá um suspiro profundo. Começo a ficar mais e mais apreensivo. Sei que essas ações antecedem algo sério, já me acostumei com isso. Mas normalmente quem faz isso sou eu, que consigo ser extremamente dramático, e pela primeira vez percebo que quem espera essa notícia fica talvez mais nervoso do que quem vai dizer. Ele levanta a cabeça e seus olhos se fixam nos meus. Estão diferentes... estão profundos. Mas subitamente ele me entrega um de seus radiantes sorrisos.
– Estou feliz que podemos conversar assim, sem ressentimentos. Sabe eu fiquei muito...
– Espera, como assim? – o interrompo. – Ressentimentos?
Ele parece espantado e seu sorriso desaparece.
– Gui, eu estou falando do... Espera... Você se lembra de mim, não é?
Fico desnorteado com a pergunta. Mal pude me recuperar de uma e logo sou atropelado com outra. Paro por um segundo para repassar a pergunta na minha cabeça. Consigo entendê-la, mas não consigo colocá-la no contexto. Deus, o que está acontecendo?
– Como assim?
– Você realmente não lembra? – pergunta com os olhos mais profundos. Qualquer resquício do Ariel animado desapareceu.
Luto para ainda tentar entender o que acontece. De onde nasceu essa história do nada de 'lembra de mim'? Eu começo a pesquisar mentalmente todos os garotos que eu tinha visto nos últimos dias, desde a minha chegada ao aeroporto, a ida ao shopping no final de semana e as raras vezes em que andei no conjunto no final de semana, mas nenhum passava sequer perto da aparência do Ariel, até porque eu teria me lembrado de alguém como ele. Eu não o vi. E por que eu deveria lembrar dele?
– Ariel, eu só te vi na sua casa esses dias – respondo, escolhendo as palavras com muito cuidado.
Ele parece chateado e frustrado. Seus olhos voltam a fitar o chão por um momento e sua boca parece se contrair. Ele avança em minha direção, completamente em silêncio, e eu recuo, desesperadamente tentando não tropeçar nos meus próprios pés. Ariel, em uma velocidade sobre-humana, tira suas mãos dos bolsos da jaqueta e segura meus dois pulsos com força, levantando-os acima da minha cabeça. Com uma pressão forte, sinto que meus pulsos são colocados contra a parede, criando um tremor que segue pelo resto do meu corpo. Sinto minhas costas tocarem a parede de uma forma não tão suave e tento evitar que minha cabeça encontre a parede com a mesma força. Que droga está acontecendo?! Meus sentidos são adormecidos por um segundo enquanto eu tento entender esses quatro segundos. Meu corpo foi colocado de forma que ficasse completamente de costas para a parede de concreto próxima da escada. Por um segundo olho em volta e percebo que alguns rostos estão olhando fixamente o que está acontecendo e eles parecem tão confusos quanto eu. Maldito déjà vu. Suas mãos não machucam meus pulsos, pelo contrário, parecem fazer da forma mais gentil possível. Ele me encara com uma expressão que eu não consigo decifrar. As únicas coisas que eu consigo ver são seu rosto ligeiramente corado e seus olhos pensativos. Sinto o calor do seu rosto passar para o meu rosto e seguir pelo meu corpo. Sua respiração está acelerada. Estou começando a recuperar os sentidos após alguns segundos parado nessa estranha posição.
– Guilherme, olha pra mim – eu consigo sentir seu hálito refrescante tão bem que poderia até dizer o sabor do Halls que ele tem na boca. – Você realmente não lembra de mim?
Tento novamente vasculhar em minha memória alguém que se pareça minimamente com ele, mas é em vão. Além de pesquisar em minha mente quem ele seria, uma outra dúvida se forma e eu não consigo achar uma resposta para ela: isso é bom ou ruim? Será que Ariel estava me perguntando isso porque eu fiz algum mal a ele e não me lembro? Será que é porque ele queria que eu me lembrasse dele por uma boa razão? Ele é amigo de um amigo? É filho de um amigo do meu pai? Será que meu pai chegou a prender alguém da família dele ou ele? Não pode ser, nós acabamos de nos mudar. O que eu faço? O que eu faço? Estou contra a parede sendo segurado por um garoto me fazendo uma pergunto para qual não tenho resposta.
– Tudo bem – diz enquanto solta meus punhos lentamente. – Desculpa. É claro que não se lembraria. Dá pra te ler com uma página de livro.
Abaixo minhas mãos, que estavam na altura da minha cabeça, e me recomponho. Puxo um pouco de ar e descubro que meu coração continua acelerado.
– Página de livro? – gaguejo.
– Você não está mentindo, suas orelhas não ficaram vermelhas.
Um novo e sombrio calafrio percorre minha espinha com a velocidade de um raio. Meus pais sempre me dizem que quando minto minhas orelhas ficam ligeiramente avermelhadas, algo que eu não consigo controlar. Mas o que me deixa abismado é o fato de ele saber disso. Apenas meus pais e dois amigos meus sabem disso, eu nunca comentei nada disso com ninguém dessa cidade. Como ele saberia disso?
– O que foi isso? – pergunto em voz baixa.
– Desculpa, eu fiquei um pouco exaltado – diz, pousando a mão direita em seus cabelos ondulados.
A raiva começa a borbulhar em mim.
– Você tem dupla personalidade ou o quê? – começo a me alterar. Quero dizer, ele me segura contra a parede, me pergunta se eu o conheço e depois age como se nada tivesse acontecido.
– Não, não, eu só fiquei um pouco chateado que você não se lembra de mim – diz, dando de ombros.
Eu estou começando a ficar de cabeça quente sobre essa história de eu ter que lembrar dele. Pior do que ficar repetindo isso é o fato de ele não se explicar que está me deixando chateado.
– E de onde eu deveria te conhecer?
Ariel coloca os braços por trás da cabeça, olha um pouco para o teto com um olhar pensativo. Depois de alguns segundos assim, olhou pra mim e dá mais um sorriso.
– Não posso te contar.
– O quê? Por quê? – atropelo uma pergunta com a outra, tamanho foi o meu choque.
Ariel mantinha seu sorriso. Posso sentir que ele está ansioso para me dizer alguma coisa, que guarda um segredo. Depois de algum tempo pensando no que fazer ou falar, Ariel se decide.
– Eu... gosto de você, Guilherme Arceu. Mesmo que você não se lembre, eu gosto muito de você... Eu... – ele está hipnotizado com as próprias palavras e finalmente parece acordar. – Apenas esqueça.
Agora sim eu não estou entendendo nada. Oficialmente preciso de um guia para entender o que está acontecendo.
– Espera aí, espera aí.
– O que foi? – pergunta, ainda com seu jeito descontraído.
– Que negócio é esse? E o que isso significa?
– Nada, nada. Vamos esperar, por enquanto vamos ser amigos, pelo menos até eu te fazer mudar de ideia – ele continua na sua mesma estranha normalidade de sempre.
– O quê? – pergunto, incrédulo. – Eu nunca disse que aceitei alguma coisa dessas. E você acha que depois de fazer e dizer isso tudo eu vou simplesmente esquecer? Você não faz sentido nenhum!
– Espera, eu pedi pra você esquecer aquilo. Ou você não vai esquecer? Você não quer que eu seja sequer seu amigo? – ele muda sua expressão de animação para um leve semblante de tristeza.
Eu não posso dizer isso. Ariel de alguma forma me conhece e não posso negar que minha curiosidade em saber de onde ele me conhece me consome. Talvez se eu passar mais tempo com ele possa me lembrar quem ele é e o que quer comigo. Tenho que me lembrar que ele, assim como Lisa, se importou comigo mesmo sem nem me conhecer direito... no caso dele nem tanto. Esse primeiro dia está começando a me dar um pouco de dor de cabeça. Espera. E se tudo isso não passar de algo momentâneo? Talvez ele apenas queira competir com Nathan em me irritar, como estava fazendo antes. Essa é a única explicação plausível.
– Tudo bem. Amigos – digo, tentando amenizar essa confusão. – Mas amigos, apenas.
– Você promete que vai esquecer o que acabou de acontecer? Eu realmente não sei o que deu em mim... acho que...
– Tudo bem, apenas... esqueça.
Ariel dá mais um de seus sorrisos de orelha a orelha e em um movimento rápido lança seus braços em minha direção, passando por cima de meus ombros. Ele se aproxima até fechar o abraço. Aconchegante e quente, é a única maneira que posso descrever o contato. Timidamente movo meus braços pelas suas costas, de forma que se tocam e retribuem o abraço. Ele me aperta e sinto um suspiro em minha nuca. Depois de tudo que aconteceu hoje acho que era disso que eu precisava. Por algum motivo, parece que era disso que ele precisava também. Nos momentos em que eu não sei o que pensar ou como agir, me lembro dos conselhos de minha amiga que ficou em minha última cidade. Eu devo clarear minha mente, deixar todas as preocupações e confusões irem embora e agir normalmente, assim fica mais fácil de se pensar em uma resolução depois, por mais complicado que seja o problema. Sigo suas instruções e deixo essas preocupações irem embora... o garoto do beijo, meu amigo que não conheço. Todas as coisas que me deixam confuso devem partir.
– Obrigado – diz em um sussurro antes de se soltar de mim.
Eu sinceramente não quero estender essa conversa por muito tempo. Vou deixar para pensar melhor nisso quando estiver em casa... Droga! Por um segundo esqueci que ele é meu vizinho da frente, não tem como fugir disso.
– Quer ir comer alguma coisa? – pergunta como se nada tivesse acontecido. A cada segundo que se passa minha teoria de dupla personalidade vai se intensificando.
– Pode ser.
O máximo que posso fazer por enquanto é esquecer que aquilo aconteceu. Infelizmente percebo que tinham pessoas sentadas totalmente focadas em mim e Ariel, até algumas pessoas que deveriam estar apenas de passagem estavam em pé, com olhos vidrados como se estivessem assistindo a um filme de terror pela primeira vez. Desço as escadas com Ariel ao meu lado.
Chegamos até o primeiro andar e viramos à direita para seguir até o refeitório. Eu realmente não sei o que esperar dos alunos dessa escola, então nunca estou preparado pra nada. O corredor que leva até a cantina não está movimentado, e deslizamos pelos poucos estudantes que andam na direção contrária.
O refeitório é enorme. É realmente gigantesco e o mar de alunos andando de um lado para o outro o faz parecer revolto. Passos, cadeiras sendo arrastadas, conversas altas e estridentes fazem o lugar parecer mais barulhento que as poucas casas de festa que já frequentei. No entanto, quando eu e Ariel nos aproximamos da área das mesas, as conversas vão parando. Todos os olhares se viram e param em mim, em especial. Todas as mais de trinta mesas redondas repletas de estudantes e os que andavam de um lado para o outro parecem subitamente ficarem mudas. Engulo em seco e controlo a respiração. É esse tipo de situação que me deixa nervoso. Alguns que ainda estavam confusos com o súbito silêncio tentam entender o que acontece, mas quando viram suas cabeças para a mesma posição das dos outros e me veem, ficam da mesma maneira: bocas abertas, olhos arregalados, e um misto de expressões. Mas que... até mesmo as tias da cantina estão me olhando assim. Tem alguma coisa no meu rosto? Até todos do refeitório estarem com os olhos pousados em mim devem ter se passado cinco segundos, que foram mais do que o suficiente para eu ficar vermelho como um tomate. Um ou outro cochicho podem ser escutados no meio do mar de estudantes que me olham.
Do meio da multidão, o som de aplausos, alto como a batida de tambor, rompe o silêncio absoluto que reinava e é seguido de outra pessoa, que o acompanha fervorosamente. Logo se inicia uma estranha ovação, um barulho ensurdecedor de palmas eclode por todo o refeitório, até mesmo as moças da limpeza batem palmas com sorrisos curiosos e um pouco perdidos. Alguns alunos chegam do corredor apressados para verem o que havia motivado tamanha ovação e mesmo sem saber o motivo, entram na onda e começam a bater palmas. Vejo sorrisos e cabeças balançando positivamente. Entre os que aplaudem, há poucos alunos espalhados entre as mesas me fitando com olhos sérios, parados e não muito convencidos das palmas. Outros poucos alunos esbanjam um olhar de reprovação, tanto para mim quanto para os que aplaudiam.
No meio daquela multidão colorida de alunos batendo palmas, surge uma pequena silhueta em pé, balançando os braços de um lado pro outro como se estivesse fazendo uma dança de acasalamento animal bizarra. Não demora muito para perceber que a silhueta que se mexia como em uma convulsão é de Lisa... Não fosse o rabo de cavalo dourado, nunca teria percebido. Ela me chama para participar de sua mesa, onde mais dois alunos estão sentados, ambos aplaudindo, como o resto dos alunos.
– Rapaz, esse novato é perigoso mesmo – comenta um aluno no meio da barulhenta ovação.
– E é rápido não é? – diz uma menina de outra mesa. – Sério, preciso de umas dicas.
Apesar de não ter muita certeza do que devo fazer, sigo até a mesa de Lisa, me esquivando de todas as mesas com Ariel logo atrás de mim. Faço um esforço fora do comum para não tropeçar nos meus próprios pés, enquanto Ariel ostenta seu casual olhar divertido, como se achasse toda a situação hilária. Ainda ouço a ensurdecedora ovação e elogios aleatórios. O máximo que posso fazer é retribuir com um sorriso tímido até chegar na mesa de Lisa e as ovações diminuírem até parar. Sento-me em um espaço livre em um dos dois bancos em formato de meia lua que rodeiam a mesa circular. Ariel se senta ao meu lado, próximo demais.
– Lisa! Você não devia estar fazendo seu exercício de química? – comento como se fosse realmente importante saber, mas a verdade é que quero me sentar em seu colo, reclamar de todo mundo e dizer que quero ir para casa.
– Devia, mas você deixou seu caderno todo respondido na sua mesa, não aguentei e acabei colando todas as respostas, espero que não se importe – responde com um sorriso ingênuo. – Ah Gui, ainda não te apresentei meus amigos. Essa daqui é a Yuki, você deve ter visto ela na sala, – Lisa aponta para uma menina de aparência oriental, cabelos negros e perfeitamente lisos com uma franja que terminava em suas sobrancelhas... é a menina do celular que Lisa beijou na bochecha ao entrar na sala – e esse é o Leandro – ela aponta para um garoto alto e moreno como eu, com cabelos negros curtos.
– Pode me chamar de Kiki, qualquer amigo da Lizzie pode me chamar assim – diz a garota oriental com um sorriso que, ouso dizer, poderia competir com o de Ariel.
– Prazer – fala Leandro, apenas levantando um pouco a mão e dando um curto aceno.
– Olá, vocês dois – cumprimento rapidamente, me direcionando ao recém-conhecidos estudantes e logo em seguida para Lisa. – Lisa, o que foi esse pessoal aplaudindo? O que aconteceu?
– O quê?! Você ainda não sabe? – argumenta Lisa, levantando-se com um olhar completamente incrédulo, como se eu tivesse perguntado quanto é um mais um. Lisa puxa seu celular do jeans e começa a mexer nele alucinadamente. Quase não posso ver seus dedos, tão rápido eles se mexem. – Aqui! Dá uma olhada! – manda em tom alto, segurando seu celular a poucos centímetros do meu rosto, quase deitada sobre a mesa.
O WhatsApp está aberto em um grupo de conversas entitulado 'terceirão três', obviamente entendo que é o grupo da minha sala, mas ao descer um pouco mais meus olhos pela tela do celular de Lisa eu percebo algo que faz minhas orelhas arderem e o coração parar. Uma foto minha encarando de perto Nathan, quando estávamos no terceiro andar. Meu queixo cai quando vejo a foto e fico paralisado. Quando alguém tirou uma foto que eu sequer percebi?! Ariel está sentado do meu lado, bem próximo de mim, vendo a foto também.
– Ah, mas não é só isso – continua Lisa, com a voz cheia de excitação. Com seu dedo, puxa a conversa para baixo.
Outra foto tinha sido enviada no grupo, dessa vez era uma foto tirada em um ângulo perfeito, com uma resolução perfeita e encaixe perfeito do beijo que Nathan me roubou. Eu estava vendo aquela foto cheia de qualidade e sentia meu espírito e meu orgulho próprio escapando pela boca aberta, sendo levados pelo anjo da vergonha... e eu acho que não vou sentir falta deles. Na foto aparecem eu e Nathan em frente à lousa, ele com as mãos nos bolsos da calça, levemente inclinado, lábios colados nos meus, e eu, estático, com um olhar de susto. O pior de tudo é a professora olhando para o momento com uma expressão de uma adolescente cujo passatempo é ver pornô gay.
Pior do que a foto é o texto gigantesco que a acompanha. Corro os olhos pelas três primeiras linhas e já sei que não vai ser nada bom. Com mais calma, leio o texto, que parece extremamente jornalístico, com atenção.
"Hoje, no primeiro dia de aula, o aluno novato Guilherme Arceu do terceiro ano número três deu o que falar! Guilherme, ou Gui para os íntimos, começou o ano letivo roubando o coração do bad boy local, Nathaniel Medina, conhecido por não manter relacionamentos por muito tempo. A cena acima ocorreu no primeiro tempo, da amável professora de português e fã de romances masculinos, Calil, onde os alunos novatos tinham que fazer uma breve encenação para uma melhor relação com os veteranos. No entanto, parece que Nathaniel não conseguiu se conter perante o belo Gui e beijou o aluno novo na frente da sala e da professora (observação: a redação ainda está tentando descobrir se havia língua no meio, mas esperamos que sim), deixando o novato sem reação nenhuma. Testemunhas nos reportaram que Guilherme e Nathaniel já haviam tido um encontro não muito agradável antes das aulas começarem, ainda hoje. Problemas no paraíso? Não se sabe ainda o que está rolando entre esses dois alunos, mas a redação está simplesmente apaixonada pelo possível casal!"
Meu cérebro desliga. Olho para Lisa, que retribui sorrindo, apoiando a cabeça em suas duas mão abertas. Yuki e Leonardo apenas me olham, distantes, parecem ansiosos para descobrir minha reação. Ariel encara o texto com uma expressão de óbvio descontentamento, e as bochechas vermelhas. Ciúmes?
– Lisa, o que é esse texto e essa foto? – pergunto ainda estático.
– É o que você está vendo! Gui, seu danadinho, por que não me contou que curtia? Podíamos ter aproveitado e julgado um bom namorado pra mim – comenta, sonhadora. – Essas coisas a gente tem que saber!
Mesmo olhando fixamente para Lisa, percebo uma singela e rápida mudança em Leandro ao ouvir a frase. Ainda em estado de choque posso perceber esses pequenos detalhes. Sou puxado de volta para a realidade ao voltar a encarar o texto.
– Lisa, o que eu quero sab...
– Vê o resto da conversa! Ainda não acabou!
Meu receio volta em dobro, mas tomo coragem e desço a conversa, vendo comentários positivos e negativos, alguns achando a situação engraçada, outros a achavam romântica, mas meu dedo para de movimentar a conversa quando vejo outra imagem, dessa vez em um lugar diferente. É o segundo andar do colégio, no momento em que eu estava sendo segurado contra a parede por Ariel. Mas pelo ângulo da foto, que mostra majoritariamente as costas de Ariel e um pouco do meu rosto e corpo, parece que ele está me beijando. Eu não sei qual pode ser mais vergonhoso, ser beijado ou sobrepujado. Desço um pouco mais a conversa para ver os comentários daquilo e vejo outra foto, dessa vez do abraço que Ariel me deu e, para meu desgosto, mais uma 'matéria' sobre o ocorrido.
"Nosso pequeno Romeu não parou com o ocorrido do beijo com o bad boy local e resolveu jogar seus irresistíveis charmes para um dos meninos mais lindos e disputados do terceiro ano inteiro! O gatão e irresistível Ariel, jovem de cabelos dourados e muito bem ondulados, pele delicada e olhos claros, foi visto com o novato arrasador de corações. Depois de serem vistos subindo para o terceiro andar em uma animada conversa, ao voltarem para o segundo andar, inadvertidamente o gato empurrou o jovem e indefeso Guilherme contra a parede (com delicadeza, porque com força machuca, se é que você me entende), aparentemente roubando um beijo do moreno, que ficou sem reação. Alguém chame a polícia estudantil, pois esse aluno novo está tendo seus beijos assaltados sem piedade! Mas em contrapartida, parece estar roubando todos os corações masculinos da escola! Após o suposto beijo, Ariel envolveu Guilherme em seus braços em um tenro e lindo abraço, que durou poucos segundos, mas que pode ser visto na foto enviada. Assim como no caso anterior, não se sabe se há algum relacionamento sério ou como fica o aluno Nathaniel nesta história, mas pelo que parece, toda a escola curte todos os lados! Logo mais iniciaremos uma enquete para saber qual par você acha que fica mais fofo. Beijos e cuidado para não ser fisgado pelo aluno apaixonante!"
– Ah, agora sim eu gostei da notícia. Bem mais fiel, mas um pouco exagerada, não acha? Eu não sou tão bonito assim – diz Ariel para Yuki.
Depois de digerir mentalmente o que tinha acabado de ler, abaixo o celular de Lisa, que volta a se sentar no seu lugar. Encaro Yuki. Ela e Lisa me observam com sorrisos largos e cheias de brilho no olhar.
– Você que escreveu isso? – pergunto à Yuki, enquanto aponto para o celular.
– Sim! Não é uma matéria perfeita? Tem romance, drama e dois jovens lutando por seu amor, isso é roteiro de filme, sério! – diz Yuki, fazendo parecer a coisa mais linda do mundo.
– Não mesmo! Eu pareço um tipo de, sei lá, vadia – talvez eu tenha me exaltado um pouco, mas essa era a ideia que passava.
– Ai Gui, não exagera! Fatos são fatos, e olha que boa repercussão que teve! Minha notícia está em todos os grupos do colégio, desde os grupos da nona série até no grupo dos professores e dos outros funcionários da escola! Graças a você e meus fotógrafos que estão por toda parte! – exclama Yuki. Às vezes parece que unicórnios vão sair em uma trilha de arco-íris de sua boca toda vez que ela fala animada desse jeito. – Você devia estar feliz!
– Bom, não estou.
Me encolho um pouco mais no banco e puxo uma maçã que deveria pertencer a Lisa, mas eu não me importo. Por que isso tinha que acontecer comigo? Dou uma boa mordida na maçã e mastigo tentando esquecer toda essa maluquice que aconteceu até agora. A escola toda já me conhece logo no primeiro dia. Tento até mesmo não pensar muito nos próximos tempos e no que pode acontecer ainda, com todos me vendo como o novato que já pegou dois alunos da escola. Como eu vou aguentar agora é mais um problema a resolver. Mastigo a maçã com violência, tentando redirecionar todo meu estresse na pobre fruta. Pior, eu não tive sequer a oportunidade de dizer que não queria relacionamento, nem se eu tivesse se seria com um homem. Eu fui arrancado do armário com pé-de-cabra, na força!
– Ah Gui, qual é? Devia estar curtindo toda essa situação – ouço Ariel tentando me consolar. – Você vai ser a estrela da semana.
Eu mal pude lançar um olhar frio para Ariel, quando de maneira incrivelmente rápida Lisa se joga na mesa, se apoiando em um braço e estendendo seu outro, apontando diretamente para Ariel, agora ostentando uma cara de espanto. Lisa muda seu semblante para o que me parece uma tentativa de seriedade, que não combina nada com ela.
– Ariel! Quero saber por que você está dando em cima do meu amigo Gui! – ordena, quase deitada na mesa.
Eu já devo estar acostumado com o fato de que as pessoas nessa escola têm uma agilidade incrivelmente boa, que todos aqui têm um sério problema com dupla personalidade e a questão dos assuntos sendo criados do nada... já estou tão acostumado com o fato que até Lisa ir de menina alegre a investigadora civil em menos de dois segundos não me surpreende. Apenas continuo comendo minha maçã e observo a discussão. Não adianta Guilherme, você nunca vai compreender essas pessoas.
Ariel mantém seu olhar confuso. Bom, fico feliz que não sou só eu que pareço ter essa emoção. Lisa contrai os lábios e aperta os olhos quando ele não lhe responde de imediato.
– E eu preciso de motivo? – responde Ariel, com a mesma expressão de confusão.
– Claro que sim! Você é um dos maiores partidos dessa escola, está sempre alegre, é educado... por que você iria querer o Gui? – retruca Lisa.
– Ei! – disparo enquanto mordo outro pedaço de maçã. – Isso me parece um insulto.
– Sem querer ofender, Gui, mas tem alguma coisa muito estranha aqui. O Ariel nunca ficou com ninguém, que eu saiba, e do nada você chega e ele faz toda aquela encenação dramática e te dá um beijo?! Tem coisa aí – raciocina Lisa, com um ar de detetive.
– Lisa, primeiramente, eu infelizmente não beijei o Guilherme, apesar de querer muito. Segundo, os motivos de eu querer me aproximar dele não são maldosos. Por último, se eu quiser beijar um cavalo amanhã, eu posso – Ariel rosna.
– Ei! – reclamo novamente.
– Sem querer ofender.
Termino de comer minha maçã no exato momento em que o sinal que marca o fim do recreio toca, e logo os estudantes se levantam e começam a subir as escadas ou simplesmente entrar nas salas do primeiro andar. O pessoal da nossa mesa se mantém sentado por mais um tempo, por dica da Yuki, que disse que os corredores costumam ficar congestionados logo após o toque do sinal, e que ainda podíamos esperar mais cinco minutos até voltar para as salas. Após dois minutos nos levantamos e seguimos para a escadaria e subimos até o segundo andar. Sinto uma vontade de ir ao banheiro.
– Pessoal, podem ir na frente, eu vou ao banheiro rapidinho – aviso enquanto me viro para ir até o banheiro masculino do segundo andar.
– Espera aí Gui, eu vou com você – diz Ariel, pronto para me seguir.
Eu já posso sentir que meus dias não serão muito privados, principalmente com ele tentando me acompanhar para todos os cantos. Por sorte, Ariel não esperava que Lisa fosse segurá-lo pela orelha, com uma cara parecida com a que meu pai faz quando prende um criminoso.
– Ai, ai, Elisabeth, o que você tá fazendo? Me solta, tá doendo – esperneia Ariel, fazendo caras e bocas.
– Não mesmo, é muito perigoso você ir ao banheiro com o Guilherme! Até que eu saiba direitinho que tipo de relacionamento você quer com ele, não vou deixar você se aproveitar dele enquanto está desacompanhado! – ela puxa-o até a sala de aula. – Não se preocupe Gui, seu corpo está seguro.
Levanto uma sobrancelha e sorrio, sem entender.
– Droga, o que está acontecendo com a minha vida?
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