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História Rex Meus - Kenny e o reino das fadas


Escrita por: caulaty

Notas do Autor


Essa história é baseada no jogo "South Park - The Stick of Truth". É totalmente AU. (K2 e Style, majoritariamente)

Capítulo 1 - Kenny e o reino das fadas


O céu havia providenciado um azul especial para aquela manhã, vivo como não se via em mais de meio século. Totalmente aberto e infinito, sem sinal de qualquer nuvem, emanando raios de sol por entre as folhas das árvores, formando desenhos de luz sobre a grama. O sol parecia ter deixado a grama igualmente vibrante e saudável, de um verde claro e macio, as pequenas folhinhas sendo esmagadas em conjunto pelas pernas arrastadas do prisioneiro. Era uma pena. Um dia tão belo não combinava com o sangue pingando da testa e do nariz do homem puxado pelos dois braços, cada um sendo segurado por um guarda, o da esquerda mais alto que o da direita. Não eram homens enormes como o prisioneiro esperava. Pensando bem, a expectativa por si só já era falha: elfos nunca tinham um porte muito grande. Simplesmente não era de sua natureza. O prisioneiro apertou seu olho inchado em uma protuberância arroxeada com nuances vermelhas contra a luz, latejando, formando pus por baixo da pálpebra. Sentia o gosto do ferro no fundo da boca, tossindo pesadamente, fazendo com que o sangue grosso escorresse e manchasse o lábio inferior cortado. Para criaturas tão delicadas, ninguém poderia dizer que elfos não sabiam como dar uma surra. Um sorriso malicioso brotou no canto dos lábios feridos do prisioneiro, ao se lembrar que também fez um estrago belíssimo no homenzinho que o capturou. Teria dado conta muito facilmente. Era um elfo esguio, de braços longos e finos, os dedos mais finos ainda. O prisioneiro se perguntava se precisariam amputar o dedo do elfo que ele quase arrancou com os dentes ao morder. A unha do desgraçado era longa o bastante para machucar o interior da boca dele, mas o humano não se importava mais àquela altura. A briga ficou injusta quando mais cinco criaturas de orelhas pontudas foram para cima dele. Oh, bem. Não se pode ganhar todas.

Seus ouvidos se encheram pelos sons dos passarinhos assanhados da manhã. Há tanto tempo que não ouvia a esse canto. Raramente se aproximava da região do arvoredo, onde os pássaros faziam seus ninhos e criavam seus filhotes. Puxou um suspiro profundo, grunhindo baixo da dor nas cavidades das costelas se expandindo conforme os pulmões se enchiam de ar. O prisioneiro não conseguiu afastar o pensamento de que os guardas sádicos de seu reino teriam soltado um riso satisfeito diante de qualquer manifestação de dor de um elfo capturado, mas aqui as coisas eram diferentes. Nenhum dos guardas riu, o mais baixo apenas apertou os dedos entorno do braço do homem e deu um puxão mais forte, sentindo que seu corpo ficava mais pesado. Logo ele iria desmaiar. Enxergava por cima da franja desfiada e sabia que logo iria desmaiar. Mas ainda fez um esforço para levantar o queixo, observando a expressão séria do elfo mais alto, que agora parecia tão alto quanto uma torre.

-Ei, colega. – o prisioneiro chamou com um sorriso sacana.

O elfo não olhou para baixo.

-Psiu. Estou falando com você, grandão. – Ele tentou novamente, assoviando de forma vergonhosa entre os dentes. – Pode me dizer se... – De repente, faltava o ar nos pulmões. - ...Se falta muito para chegarmos à sua terra encantada das fadas?

Nada.

O prisioneiro virou o rosto para o outro lado, pensando em tentar com o segundo guarda, que parecia ter um temperamento mais fácil de estourar. A intenção realmente era abrir a boca e emitir palavras. Mas antes que soubesse como, a cabeça caiu para frente e um acesso de tosse interrompeu os planos. Franziu o nariz em uma expressão enojada pelo gosto de sangue na boca, achando que tinha mordido a própria língua enquanto contorcia o corpo para frente, tossindo alto a ponto de alguns pássaros levantarem vôo rapidamente pelo susto. Perfeito, era só o que faltava. Sentia o sol queimando na parte detrás da cabeça, causando um desconforto ainda maior quando a tontura chegou. A visão do prisioneiro ficou embaçada. Já não sabia mais identificar as formigas e joaninhas na grama, o verde à sua frente começava a tomar conta de tudo. E então, o preto.

Não fazia qualquer ideia de quanto tempo passara inconsciente. Quando seus sentidos começaram a funcionar, o homem sentiu um formigamento nos dedos do pé e de repente seu rosto bateu com força contra o chão. O cheiro de grama úmida era intoxicante. Um pássaro bem acima de sua cabeça emitia um som horrível e desesperado três vezes, e então se calava, dando vez ao canto maravilhoso de um coro de... Que pássaro seria esse? Bom, não importava. Os guardas o haviam soltado. Kenny não precisou erguer os olhos para saber que havia um guerreiro com um arco em mãos, a corda já puxada e uma flecha ameaçadora sobre a cabeça do prisioneiro. A bota suja de terra do guerreiro estava bem posicionada próxima ao rosto dele também, pronta para pisar na cabeça dele se preciso fosse. Ele estava realmente desconfiando da recepção calorosa dos elfos.

Virou o rosto para tentar enxergar alguma coisa, o olho ferido já não abria mais. As pálpebras do outro se fecharam rapidamente por conta da luz do sol banhando entre as folhas das árvores. Não era tão forte, mas queimava o suficiente e Kenny não gostaria de perder os dois olhos. Enxergou, de relance, o soldado da esquerda se curvando diante do guerreiro em uma manifestação de respeito enquanto se afastava, e Kenny presumiu que o da direita estivesse fazendo o mesmo.

-Já vão, tão cedo? – ele resmungou aos seus novos amigos que se retiravam, sob a respiração ofegante, incerto de que seriam capazes de compreendê-lo. Sua voz era áspera e falar era doloroso, a garganta seca arranhando a cada palavra. – Mas a festa só vai... – e uma tomada brusca de fôlego - ...Começar agora.

Sentiu um par de mãos velozes segurando seus pulsos nas costas, bem unidos, e amarrando-os juntos em uma tira de couro apertada, trancando a circulação das mãos do prisioneiro. Uma voz disse ao guerreiro:

-Quais são as ordens? Devemos levá-lo ao rei?

-O rei não sabe que estamos com ele. – O guerreiro, Stanley, respondeu fazendo um sinal com a cabeça para que o corpo mole e doente do prisioneiro fosse erguido. – Não retornaram ainda da viagem. Já enviamos Pip para dar a notícia. Enquanto isso, leve-o para a torre.

-Uma torre, é mesmo? Não puderam pensar em nada mais clichê? – O prisioneiro perguntou com um sorriso, cujos primeiros elfos já haviam desistido de tentar arrancar do rosto dele. Nem mesmo a flecha, que continuava firmemente apontada a poucos centímetros de seu olho, era capaz de fazer com que o loiro parasse de sorrir. Como se extraísse uma grande satisfação de tudo isso.

E mais uma vez, foi ignorado.

 

 

Stanley Marsh era, como o povo élfico - oras, como o povo de qualquer reino – gostava de dizer, o braço direito do rei. Não era seu ajudante, não era seu favorito, não era como um cão de guarda leal. Poderia se dizer que ele era o próprio coração do rei, cada veia que bombeava sangue azul puro pelo corpo do rei, era isso que Stanley Marsh havia se tornado. Em termos técnicos, de escala hierárquica, ele era apenas um guerreiro. Mas não havia um elfo no reino que não conhecesse a ligação entre o guerreiro e a criatura mais importante na existência de cada um deles. Isso tornava Stanley diferente dos demais guerreiros. Especial. Não foi através dessa ligação que ele conquistou o comando do exército, é claro. Foi porque Stan realmente era diferente, e o que o rei viu nele, todos os outros elfos também podiam ver: Um coração de leão que não cabia dentro do peito, um senso de justiça impecável, uma coragem sobrenatural, uma paixão cega pelo campo de batalha e pelo seu povo, que defendia com a ponta da espada a qualquer custo. Estava mais do que disposto a entregar a vida pela sua causa, a qualquer hora, como um guerreiro deve estar.

Estava mais do que disposto a dar sua vida pelo seu rei. Confiava a ele todo o seu mundo, toda a sua existência, tudo que havia de importante. Tudo que seu coração já amou. Porque o rei estava acima de tudo isso.

Era tudo o que se passava pela cabeça do guerreiro ao segurar aquela mão doce e leve, ajoelhando-se à sua frente, a espada abraçada fortemente em seu peito. Stan abaixou a cabeça, manteve os olhos fechados com força, sentindo os músculos estremecendo como se contivesse algo devastador dentro de si mesmo.

-Majestade. – murmurou baixinho.

A mão do rei era tão macia contra a brutalidade dos dedos do guerreiro, que apertava com o máximo de delicadeza possível ao trazê-la até a boca, plantando um beijo longo com os lábios trêmulos sobre as costas da mão do rei, tão branca em contraste com a dele. Toda a pele exposta do guerreiro era bronzeada, devido ao trabalho no sol. Os dedos finos do rei se soltaram dos dele e envolveram seu maxilar, subindo pela bochecha cicatrizada de Stan, puxando suavemente para que ele erguesse o queixo e os olhares se encontrassem.

Os olhos de Kyle eram tão verdes que, a cada vez que Stan olhava diretamente dentro deles, tinha mais e mais certeza de que eram duas jóias. Duas esmeraldas. Eram manchados por dentro de um tom de mel, as pupilas dilatadas ao encarar seu guerreiro de cima, acariciando sua face suavemente, passeando os dedos pelos tufos de cabelo negro que teimavam em sair pelas bordas do capacete. Um sorriso caloroso brotou nos lábios rosados de Kyle, como se tentasse oferecer alguma certeza ao guerreiro, embora não soubesse exatamente de quê. Apenas enxergava muito bem o desespero dentro daqueles olhos negros que o observavam com tanta adoração.

-Você me olha como se visse alguma criatura magnífica da floresta.

-É exatamente isso que vossa majestade é.

-Stanley... – ele sussurrou quase como música. Como o canto dos pássaros. – Você é tão gentil comigo.

Em seu peito, Stanley sabia que isso era verdade. Todos eles eram exatamente isso, criaturas magníficas residentes do bosque do arvoredo. Mas o rei era o único que possuía aqueles cabelos ruivos vibrantes e cacheados descendo pelo pescoço, contrastando com a coroa de madeira no topo de sua cabeça, grande demais porque pertencia ao seu pai antes de pertencer a ele. Kyle era o único que andava como se flutuasse, que tocava a todos como se fossem seus irmãos. Era o único que possuía aquela voz de passarinho. As maçãs do rosto tão altas que faziam parecer que ele sorria o tempo todo. E um fogo... Essa era a grande diferença aos olhos do guerreiro. O rei tinha um fogo que ardia dentro dele, que o tornava tão respeitado, apesar de tão miúdo. Não havia um elfo no reino do arvoredo que duvidasse daquele fogo, daquela capacidade de liderança, da autoridade do rei.

Kyle não era apenas um rei respeitado. Era um rei absolutamente amado pelo seu povo. E por seu servo mais fiel, que estava sempre segurando o cabo da espada em espera ao lado de seu trono.

-Levante-se. – ele ordenou com um gesto simples, dando as costas para caminhar pelo salão principal, sabendo que o guerreiro o seguiria. – E me conte o que houve, sim?

Stanley guardou novamente a espada na bainha e caminhou alguns passos atrás de seu rei, umedecendo os lábios.

-Capturamos o prisioneiro essa manhã. Suspeitamos que seja um ladrão. Estava com um saco cheio de... Maçãs.

O rei parou de andar. Virou o rosto levemente para o lado, o bastante para que Stan pudesse ver seu perfil, a curva fina do nariz de traços hebraicos, a linha delicada do pescoço longo em contraste com a luz do sol que entrava pela janela. E um franzimento leve na testa, demonstrando estar confuso.

-Ele roubou comida?

Houve hesitação na voz do guerreiro.

-Sim, majestade.

-Pip me informou que capturaram um homem do reino de Marjaskst. Não que haviam amarrado e trancafiado um homem morto de fome.

Ele agora se virava de frente para Stan, a coroa pendendo graciosamente para um lado de sua cabeça entre os fios de cabelo que ficavam mais dourados no sol. Sua voz era tranquila, mas genuinamente incomodada.

-Suspeitamos que ele seja as duas coisas, majestade.

A mão que Stan havia beijado agora subia à testa do ruivo, os dedos alisando as rugas sutis que se formavam na pele enquanto ele pensava. Voltou a dar as costas para o seu servo, descendo os dedos pela nuca, enroscados em alguns fios de cabelo, soltando um suspiro profundo.

-Acompanhe-me até a torre, Stanley, por favor. – o rei disse casualmente, estendendo a mão para que o guerreiro caminhasse ao seu lado.

E ele, como sempre, estava mais do que satisfeito em cumprir à ordem disfarçada de pedido.



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