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História Rex Meus - O terceiro McCormick


Escrita por: caulaty

Capítulo 10 - O terceiro McCormick


O que você precisa entender sobre Kenny McCormick, acima de todos os detalhes importantíssimos que compõe a sua astuta personalidade, é que para ele, o prazer carnal muito pouco tinha a ver com amor. E o sexo que o satisfazia verdadeiramente era o mais imundo, mais imoral, mais depravado possível. Era isso que o levava ao nirvana: não somente o ato em si, mas o fato de que ele não deveria estar fazendo aquilo. Isso o levou a ter casos tórridos com esposas de padeiros, soldados, donos de bares. Com empregadas e enfermeiras do castelo de Kupa Keep. Com irmãs de amigos. Com primas. E nada disso sequer se comparava ao pecado que ele descobriu ao se deitar com um homem pela primeira vez. Não importava qual homem: sempre era proibido. Podia não ser publicamente condenável ou julgado, mas era um pecado e todos os humanos sabiam disso. Os elfos pareciam pensar diferente. De qualquer forma, o êxtase de cometer um pecado como entrar em um corpo masculino era simplesmente inigualável.

Após alguns anos de experiências sexuais dos mais variados tipos, o loiro chegou a uma conclusão bastante simples: era impossível fazer esse sexo sujo com alguém com quem ele se importava. Ele precisava escolher entre a santidade do casamento, o amor, a troca significativa de compartilhar a vida com alguém, ou a perversidade do sexo proibido, intenso, suado e sujo em lugares inapropriados com pessoas inapropriadas. Ele jamais conseguiria ter os dois com a mesma pessoa.

Era nisso que ele acreditava fielmente até a noite em que Kyle Broflovski, a pessoa mais inapropriada do universo para ele, pediu para que Kenny o fodesse com força escondido no salão do castelo dos elfos.

Kenny atirou todas as suas certezas pela janela enquanto agarrava o ruivo pela nuca e o puxava para o beijo mais esfomeado de sua vida. Kyle era um homem. Era de outra raça. Era rei e líder soberano da raça com a qual o reino de Kenny estava em guerra. Era soberbo. E Kenny mentia descaradamente para ele. Então nada jamais poderia dar certo entre eles, essa era uma certeza consciente que o loiro carregava consigo, que também atirou pela janela quando derrubou o rei no chão e cobriu o corpo dele com o seu quase que desesperadamente, arrancando suas roupas com as mãos embriagadas que não se moviam com muita sagacidade. Porque toda a desapropriação entre eles não importava: Kenny queria pedi-lo em casamento em meio aos beijos, sugerir que eles fugissem juntos, vislumbrava um futuro impossível, quis dar tudo o que tinha e o que não tinha para aquele elfo.

É claro, Kenny estava bêbado e excitado. Essas coisas precisam ser levadas em consideração.

Então, em vez de apelar ao romantismo barato, ele sussurrava contra os lábios de Kyle que o comeria como ninguém jamais fez antes. Os botões da camisa de seda do rei foram arrancados e dançavam no chão, espalhando-se para todos os lados, mas tudo o que Kenny percebia era o peito alvo subindo e descendo, o abdômen macio, o umbigo pequeno que implorava para ser beijado.

-Você já fez isso antes? – foi tudo o que o loiro conseguiu perguntar, quase sem ar, usando seus braços trêmulos para erguer um pouco de seu peso enquanto olhava o elfo embaixo dele.

Kyle envolveu seu rosto com as duas mãos e deu uma de suas risadas que insinuava que Kenny era apenas uma criança inocente pelas perguntas que fazia. As pernas do rei enroscaram-se na cintura dele, apertando-o contra o seu corpo, erguendo o quadril para tentar sentir a virilha de Kenny se roçar pela dele enquanto um gemido sutil escapava de seus lindos lábios. Kenny levou uma das mãos à bochecha dele e roçou o lábio inferior de Kyle com seu polegar, deslizando-o por dentro da boca, fazendo com que o rei chupasse seu dedo quase que instintivamente. E ele o fez. Não apenas chupou, como encarou o loiro com seus olhos verdes famintos e uma expressão em seu rosto... Uma expressão que entregava perfeitamente a vadiazinha que ele era. E Kenny sorriu.

Não houve nada de romântico no que aconteceu naquela noite.

Se alguém pedisse a Kenny para que explicasse o que houve naquele salão na noite do fim da colheita, ele não saberia colocar em palavras. Não por estar bêbado, não. O que o intoxicava, o confundia, o entorpecia todos os sentidos de forma que ele mal conseguisse se controlar, o que lhe dava a sensação de estar flutuando e ao mesmo tempo o fazia se sentir tão humano, tão inserido na própria carne, como se ele pudesse sentir cada célula viva... Era Kyle.

Houve um momento em que absolutamente tudo em volta desapareceu. A mão trêmula de Kenny percorreu as costas macias do rei, enquanto observava aquele corpo nu de bruços para ele, as pernas de Kyle dobradas erguendo o quadril, o belo rosto próximo ao chão, as coxas separadas, as nádegas maravilhosamente abertas para expor aquele cuzinho rosado. Kenny poderia ter gozado três vezes só por essa visão. Enquanto sua mão percorria a pele deliciosa dele e parava na parte debaixo de suas costas, bem próxima da bunda, Kenny McCormick respirava em êxtase e se sentia uma espécie de deus. Sem exageros. O suor começava a se formar pela sua pele, pequenas gotas já escorriam pelo seu peitoral largo e seu pescoço, enquanto ele levantava o queixo e umedecia os lábios, estremecendo por inteiro. Era inacreditável. Ver Kyle de quatro no chão, empinando aquela bundinha para ele, implorando com o movimento sutil do quadril para trás, um rei tão poderoso de cara no chão pedindo para ser empalado pelo pau grosso dele.

A mão de Kenny subiu àqueles cachos de escarlate, agarrando uma mecha com muito mais força do que ele pretendia, por puro descontrole, e empurrou o rosto dele contra o chão. Isso só fez com que o rei gemesse mais alto e empurrasse o quadril para trás com mais força, soltando um riso baixo antes de pedir em uma voz fina e excitada:

-Por favor, Kenny, eu não agüento mais...

-Eu sabia que você era uma putinha embaixo dessa pose toda. – o loiro sussurrou, inclinado sobre o corpo dele, com os lábios bem próximos do seu ouvido.

Seu membro rígido roçava entre as nádegas de Kyle, fazendo com que ele se contorcesse em agonia pela provocação, xingando o loiro por baixo da respiração pesada. Kenny também não agüentaria muito tempo, mesmo que quisesse, então cuspiu na própria mão para umedecer a entrada do rei com a ponta de dois dedos, espalhando a saliva em torno, deslizando o dedo médio lentamente pela entrada dele, sentindo os músculos apertados em volta. Um arrepio percorreu a coluna vertebral do ruivo, que estremeceu por inteiro e deixou escapar o ar dos pulmões, gemendo baixo pela sensação. Quando Kenny dobrou o dedo por dentro do corpo dele, Kyle separou bem os lábios e perdeu o fôlego, não conseguindo emitir som algum. Isso arrancou um sorriso deliciosamente malicioso de Kenny.

Ele já havia fantasiado com aquilo milhares de vezes. Mas nada o havia preparado realmente para estar dentro de Kyle. Parte dele (a parte bêbada) não acreditava que ele tivesse estrutura para aquilo, mas era tarde demais para duvidar de si mesmo. Kenny estava mais duro do que qualquer sonho ou fantasia já havia lhe deixado, dolorosamente rígido, latejante, estremecendo em necessidade. Então, ele calmamente endireitou seu tronco e cuspiu no próprio membro, massageando-o com os dedos de leve para espalhar, depois segurou bem firme pela base e o encaixou entre as nádegas de Kyle, que gemeu alto pelo toque.

E o penetrou o mais lentamente possível, todo de uma vez.

Ele não sabia se Kyle estava tentando brincar com a mente dele quando deu aquela risadinha diante da pergunta – genuinamente preocupada – sobre sua experiência no assunto. Mas quando a glande do membro pesado de Kenny começou a forçar por dentro do corpo dele, o rei com certeza parecia virgem em vários sentidos. Era apertado demais. Doía demais. Ardia como nada que ele já tivesse sentido antes. E ele parecia amar cada segundo, cada centímetro, impulsionando o quadril contra o movimento.

O pau de Kenny McCormick era nada menos que majestoso. Kyle havia conseguido dar uma boa olhada nele antes de ser virado de bruços; pôde até mesmo segurá-lo entre seus dedos finos e sentir o sangue pulsando ali, as veias saltadas, a pele fina deliciosamente avermelhada pelo enrijecimento. Tão duro... E tão grosso. E tão longo. No começo, ardia enquanto aos poucos ia abrindo a entrada do corpo de Kyle, e passou de um ponto em que estava tão fundo dentro dele que a pressão era quase insuportável. Isso o enlouquecia completamente. As mãos grandes de Kenny o seguravam pela cintura e o puxavam com força contra o próprio movimento enquanto ele começava a deslizar o pau para fora, retirando quase nada, depois chocando o próprio quadril com força contra a bunda do ruivo, gemendo abafado, franzindo o rosto. Kenny o tocava com as mãos como um homem que sabia o que estava fazendo, como se já conhecesse as curvas do corpo dele de cor.

O loiro repetiu o mesmo movimento firme, lento e intenso algumas vezes, sentindo como os músculos de Kyle apertavam em torno dele, tentando expulsá-lo e ao mesmo tempo implorando por mais. Quando o membro inteiro estava dentro dele e o saco de Kenny roçava de leve contra as nádegas, ele respirou fundo e ficou imóvel durante alguns segundos. Aquilo pareceu uma tortura proposital, fazendo com que Kyle se contorcesse agoniado embaixo dele, perdendo o sustento dos braços, encostando o peito no chão. Deus, como ele ficava lindo quando levava. Kenny espalmou a mão nas costas suadas dele e escorregou-a lentamente pela pele úmida, umedecendo os lábios, voltando a meter em estocadas curtas e certeiras por dentro dele, sorrindo ao observar como Kyle mordia a mão para conter os gritos.

Os movimentos curtos fizeram com que ambos se acostumassem com a invasão, e Kyle relaxou, aliviando a tensão em torno do pau grosso de Kenny. Os gemidos do ruivo eram finos, quase esganiçados, sem força. Ele amansava aos poucos enquanto era massageado por dentro, e Kenny mordia o lábio inferior só de observar as reações dele: Kyle estava completamente submisso. Concentrava toda a sua força em movimentar o quadril circularmente, rebolando toda vez que sentia Kenny forçar por inteiro dentro de seu corpo, recebendo-o com a fome de uma vadia, separando ainda mais as coxas para se abrir por inteiro. Seus olhos reviravam-se nas cavidades quando Kenny acelerava o ritmo sem avisar, tomando-o por completo, apertando uma de suas nádegas entre os dedos com vontade. A outra mão do loiro foi aos cabelos vermelhos do rei, cuja coroa estava caída no chão, e puxou-os com força para que a cabeça dele pendesse para trás.

Kyle era só dele. Sempre seria. Ele tinha que se certificar disso.

Foda-se o cetro. Foda-se a guerra. Era só disso que ele precisava para viver de agora em diante. Da pele macia de Kyle tocando na dele, do suor dos dois se misturando, do cheiro de orquídeas, do cheiro de sexo, daquele corpo profano que o engolia e sempre pedia por mais.

. . .

Os dois haviam passado do chão para o divã que era apertado demais para duas pessoas, mas que os acomodava muito bem. Kyle estava deitado por cima de Kenny, entre as pernas dele, com a cabeça aninhada em seu peito suado, podendo ouvir seu coração batendo nas costelas, ainda um tanto acelerado. O rei piscava devagar, entorpecido, tonto pelo licor e pela foda. O sono começava a dominá-lo. A lareira continuava estalando acesa, iluminando-os com seu brilho alaranjado, e tudo o mais em volta era silêncio e escuridão. A mão carinhosa de Kenny tocou a testa do ruivo e depois subiu para afastar os cachos que caíam sobre seus olhos, alisando os fios para trás, beijando o topo da cabeça dele preguiçosamente.

O elfo respirou fundo, acariciando a lateral do tronco de Kenny enquanto se remexia um pouco para se acomodar nos braços fortes que o envolviam. Não fazia ideia e quanto tempo havia passado, mas não era tempo o suficiente para que o suor e a porra deles já tivessem secado.

Haviam transado mais uma vez no divã, com Kyle sentado no colo dele, um beijando a boca do outro no mesmo ritmo lento em que seus corpos se tornavam um só. E Kenny o havia tocado como ninguém.

Isso não queria somente dizer que ele o havia tocado melhor, mas o havia tocado de uma forma que Kyle desconhecia. A forma humana de se fazer amor, talvez. Ou tinha apenas a ver com o fato de que Kenny não o via como um rei. Todas as pessoas que já tinham tocado Kyle na vida sempre o olhavam como realeza ou divindade, algo acima, de um plano superior. Kenny não. Kenny o tocava sem qualquer medo de que ele quebrasse ou se desfizesse. O tocava apertando sua carne entre os dedos, manifestando o tesão em cada aperto, cada carícia, cada mordida e chupão. Kyle precisava disso para se sentir real.

Deitado sobre o peito daquele humano, o rei teve uma espécie de flashback de sua conversa com Token Black poucas horas antes.

-Você está apaixonado por ele? – Token perguntou a alguns metros de distância, surpreendendo o rei que observava o homem loiro que bebia e gargalhava com Pip, completamente alheio ao par de olhos negros que o estudavam.

Kyle se virou para encarar o conselheiro com uma expressão séria e ilegível, cuidadosamente formada para não entregar qualquer detalhe inadequado.

-O quê? – ele retrucou em uma voz sem emoção.

O sorriso condescendente nos lábios de Token não lhe agradou em nada. A resposta veio em forma de um aceno com a cabeça, em direção a Kenny McCormick, que não percebia que estava sendo olhado de longe. Token se aproximou de seu rei com as mãos nas costas, parando bem ao seu lado para sussurrar perto do seu ouvido:

-Eu ouvi vocês dois conversando no dia em que ele foi solto. Eu e Bradley escutamos tudo. – Ele informou com uma voz tranqüila de quem faz um comunicado sobre o tempo. Então, afastando um pouco o rosto para encarar o rei, a expressão de Token se tornou mais severa. – Com todo o respeito, vossa majestade, eu espero que não planeje fazer nada inconseqüente.

-Por favor, Token. Se ouviu mesmo, então sabe qual é a minha posição a esse respeito. Nada vai acontecer. E não há necessidade de você discutir isso com mais ninguém.

-Gregory está desconfiado.

-Deixe que fique. Eu me preocuparei com Gregory quando for necessário.

Os dois conversavam baixinho devido ao fluxo de gente passando ali por perto; ainda que estivessem mais para dentro da floresta, afastados, mesmo assim muitos adolescentes costumavam ir para aqueles cantos com o intuito de namorar às escondidas. Discrição era primordial. Apesar de seu coração ter apertado dentro do peito diante da possibilidade de alguém ficar sabendo do seu envolvimento com um prisioneiro, Kyle não chegou a suar de nervosismo. Token era a pessoa ideal para descobrir sobre aquilo sem que houvesse qualquer escandalização.

-Eu realmente gostaria de uma resposta.

-Resposta?

-Sim, Majestade. Depois de alguns dias pensando a respeito... Porque realmente foi muito confuso a princípio, imaginá-lo em uma condição como essa. É perigoso. Especialmente com a guerra prestes a eclodir, com todas as coisas que ainda não sabemos sobre esse homem. Eu não conseguia entender, conhecendo-o a vida inteira, como um homem tão sensato acabaria se colocando numa posição dessas por um prisioneiro. Então... A única explicação que pude encontrar, Majestade, é que você esteja apaixonado. Está?

E Kyle havia feito a única coisa sensata a se fazer em uma situação como essa: mentiu com uma risada de desdém que deixou muito claro para Token que ele estava, sim, no mínimo encobrindo sentimentos muito inapropriados pelo ex-prisioneiro. Enquanto estava ali, deitado nos braços do loiro que estava prestes a pegar no sono, Kyle abriu um sorriso por imaginar o que Token teria a dizer caso os visse daquela forma.

-Sabe... – Kenny sussurrou contra os cabelos do ruivo, sonolentamente. – Eu acho que eu já tô sóbrio agora, mas ainda devo ter uma meia horinha aí em que eu posso culpar a bebida, então eu vou falar... – ele limpou a garganta e começou a escorregar as mãos pelas costas nuas do rei, acariciando-o lentamente. – Você me deixa doido.

O rei sorriu pela sensação do nariz do loiro inalando o cheiro do seu cabelo e o toque suave de suas mãos, piscando devagar ao escutá-lo.

-Eu... Realmente gostaria de não sair daqui nunca e ficar ouvindo mais sobre isso. – Ele disse com uma voz rouca, erguendo a cabeça para encarar o homem. – Mas você precisa voltar pro seu quarto. Não pode adormecer aqui.

Ele tentava desenroscar o corpo do de Kenny, mas os braços do loiro o apertaram mais forte contra o peito dele e uma risada fraca ecoou no ar da sala, tão quente e aconchegante próximo ao calor da lareira. Kyle não conseguiu evitar o sorriso quando seus olhos encontraram os oceanos que eram as pupilas de Kenny.

-Por favor. – o rei disse baixinho. – A festa já deve ter terminado, todo mundo já deve estar voltando.

-Ninguém vai entrar aqui.

-Você não sabe disso.

-Tá, mas mesmo que descubram... Eles me adoram agora, não vai acontecer nada. Eu conquistei os coraçõezinhos deles, não era isso que você queria?

Kyle finalmente conseguiu retirar as mãos de Kenny dele, engatinhando para fora do sofá como um felino cuidadoso enquanto o loiro continuava com o corpo pesado sobre o divã, os olhos entreabertos. O rei colocou um pé de cada vez graciosamente no chão e se endireitou, dando a Kenny uma visão muito generosa do seu corpo nu para apreciação.

O sorriso sacana não deixava os lábios do loiro.

-Eu sou um rei, Kenny. Não funciona assim.

-Então... O quê? Só porque você é um rei, você tem que ser celibatário? Ou o problema é fornicar com humanos? Ou... Só pode se os humanos forem franceses?

-Qual é o seu problema com o Christophe afinal? – o rei esbravejou enquanto se inclinava para alcançar a camisa de tecido delicado, cujos botões foram arrancados há mais de duas horas. Ele usou o polegar para alisar a textura da roupa, umedecendo os lábios, mantendo a camisa próxima ao rosto para sentir o aroma de Kenny impregnado nela.

Enquanto isso, o loiro se endireitava no divã e começava a olhar em volta para procurar as próprias roupas, mas não se levantava ou mostrava qualquer intenção de se vestir. Alisou as coxas nuas, ponderando sobre a pergunta, distraído ao observar Kyle vestindo a camisa aberta, sem botões, sorrindo pelo estrago feito. Em seguida, o rei começou a vestir as roupas íntimas, cobrindo as nádegas, acabando com boa parte da diversão que Kenny tirava daquela cena toda.

-Eu não tenho problema nenhum com ele. – Respondeu afinal, esfregando a própria nuca. – Mas Stan deu a entender que tinha alguma coisa acontecendo entre vocês.

Foi difícil para ele resistir à tentação de se referir a Stan como “seu cachorrinho” ou coisa do gênero, mas o clima estava delicioso demais entre eles para que ele estragasse com algum comentário ofensivo.

Kyle virou o rosto para enxergá-lo de relance, sacudindo a cabeça em reprovação, mas não se propondo a esclarecer nada. Aquilo foi bastante incômodo. Kenny começou a esfregar uma mão na outra, sentindo o calor começar a deixar seu corpo e o suor secar em sua pele, voltando a se incomodar pelo ar frio daquela sala. Então disse:

-Qual é a de vocês, afinal? Você e Stan.

-Kenny. – O rei disse mais bruscamente do que intencionava, vestindo a calça. – Você não entende nada sobre devoção.

-Não entendo mesmo. – O loiro disse enquanto se levantava, ainda completamente nu, caminhando vagarosamente em direção ao rei, que vestia seu casaco pesado com certa pressa. Antes que pudesse tentar se afastar, o braço forte de Kenny envolveu seu tronco por trás e o puxou contra o peito, levando o nariz pelos cabelos ruivos selvagens, inalando o cheiro delicioso de flores mesclado ao aroma de sexo. Kyle fechou os olhos instintivamente, umedecendo os lábios, encolhendo o ombro com um pouco de desconforto até se acostumar com aquele abraço quente. – Eu não me contentaria em ficar te adorando como um cachorrinho apaixonado... Só de longe, sem poder te tocar. – O loiro sussurrou ao pé do ouvido dele, deitando o queixo em seu ombro e levando os dedos úmidos para afastar alguns fios de cabelo dos olhos verdes de Kyle, sorrindo ao senti-lo estremecer. Hesitantemente, os dedos de Kenny se separaram e ele espalmou sua mão pelo abdômen do rei, passando-a por dentro do casaco e da camisa aberta, encontrando a pele dele, tocando-a com prazer. – Eu não tenho devoção por você. Não vou me ajoelhar para vossa alteza... Não vou tratá-lo como um Deus. Você é de carne e osso, igualzinho a mim. É sujo como eu. E eu fico louco com isso. Eu quero você inteiro.

Um gemido abafado escapou dos lábios do rei, enquanto ele se virava para beijá-lo com tesão.

. . .

Cartman levou o punho à boca e tossiu. Depois voltou a escrever em seu pergaminho, mantendo um dos cotovelos apoiados na mesa para sustentar sua cabeça, concentrado. O som da porta se abrindo não foi suficiente para tirá-lo de seu transe: continuou fazendo seus garranchos como se não percebesse a entrada de um de seus melhores ladrões no recinto. Craig Tucker caminhou para se colocar em frente à mesa de pedra e levou os braços às suas costas, em posição de guarda, esperando que o rei reconhecesse sua presença.

-Queria falar comigo?

-Craig. – Ele respondeu em um tom de surpresa, sem tirar os olhos do papel. Gastou mais dez segundos terminando uma frase, antes de colocar a pena de lado, levantar a cabeça e unir as mãos em frente ao rosto. – Quantos dedos seus eu precisarei cortar para ensinar-lhe a me chamar de majestade?

-Não tenho dedos suficientes para isso.

-Você tem sorte que suas mãos ainda se fazem bastante úteis para mim.

O rei ergueu seu corpo pesado, apoiando as duas mãos na mesa e soltando um suspiro cansado. Estava prestes a lidar com uma situação bastante desagradável, decepcionante. Encarou o homem de cabelos negros, vestido em preto, azul e cinza, com um manto envolto em seu tronco com o brasão da guarda real de Kupa Keep. A expressão no rosto de Craig era severa, quase irritada, como de costume. Cartman gostava de Craig, do seu jeito. Era um homem com o ego mais inflado do que deveria, porque era muito bom no que se propunha fazer: escalava prédios com a facilidade de uma aranha, subia em árvores com a facilidade de um macaco. Era flexível, silencioso, forte. Treinado. Exatamente o homem de que Cartman precisava agora.

-Você conhece a história do cetro da verdade?

Craig estreitou os olhos em desconfiança, mantendo sua boca em uma linha reta enquanto ponderava a respeito. Não sabia que tipo de resposta o rei esperava. Um encolher de ombros e uma balançada muito sutil de cabeça foram as únicas maneiras que encontrou de corresponder às expectativas de Cartman, sem dizer que sim ou que não, ciente de que ouviria a história de uma maneira ou de outra. Havia muitas versões para aquela história, de fato. O cetro era um objeto legendário, e todos os registros sobre sua origem eram incertos: a teoria mais consistente era sobre um mago que construíra sua toca em uma cavidade no solo; o mago mais poderoso do universo, que já havia sido reconhecido por todos os seus feitos, buscado por humanos do mundo inteiro como referência. Porém, o poder enlouqueceu o mago, então o mago concentrou todo o seu conhecimento e energia vital na criação de um único objeto que concederia todos os desejos de quem o possuísse. A criação do cetro, segundo as lendas, teria matado o mago. Esse teria sido seu plano: perpetuar a existência de seus poderes em um objeto para que as pessoas que ele ajudava não ficassem desamparadas, pois ele não suportava mais viver.

Todos no reino de Kupa Keep – talvez todo humano da terra – conhecia essa história. Craig sabia que a pergunta de Cartman não se delimitava a isso.

-Ele pertencia aos humanos. Por direito. Foi criado em solo humano, perpetuado por séculos em nosso castelo, cobiçado pelos elfos desde o início. E muitas outras raças, naturalmente. – A mão gorda de Cartman escorregava pela superfície gelada do mármore de forma quase erótica enquanto ele contornava a mesa, Craig observou, e a maneira como ele falava fazia parecer que sequer reconhecia a presença do ladrão dentro do salão: olhava para o nada, com a cabeça um tanto deitada para o lado, umedecendo os lábios como quem saboreia uma fruta deliciosa. Falava mais sozinho do que para Craig. – Muitas guerras foram travadas ao longo dos séculos. Elfos negros invadiram nossos portões. Mas... Não conseguiram tomar o cetro. O único rei que conseguiu foi um Elfo da Luz. Você acreditaria que os Elfos Negros são mais trapaceiros, odiosos, mais perigosos, não? Está errado. Você conhece a história de como o rei dos Elfos conquistou o cetro?

O ladrão balançou a cabeça negativamente. Tudo o que conhecia sobre essa parte da história – que era o que os livros relatavam, embora Craig nunca tenha sentido muito interesse pelas lendas registradas na biblioteca – era que há sete anos o falecido rei dos Elfos descobrira a localização exata do esconderijo em que mantinham o cetro em Kupa Keep, organizando uma invasão inesperada no meio da noite.

Craig podia se lembrar da invasão. Era apenas um rapaz, como Cartman também era, mas todos os humanos se lembrariam do terror nas ruas, dos gritos, do sangue escorrendo entre o paralelepípedo, soldados elfos percorrendo ruelas em cavalos enquanto buscavam por guardas reais para colocar suas flechas pelos corações deles, criando uma distração enquanto a outra parte da guarda real chegava ao cetro. Craig se lembrava muito bem de seu pai armado na janela enquanto sua mãe tentava acalmar os choros da irmã mais nova. Mas os elfos não invadiram nenhuma casa e não tocaram em nenhum cidadão.

-Eu era um soldado na época, você sabe. Muito antes de me tornar um rebelde. Eu tinha apenas dezesseis anos, mas já tinha a estrutura física de um homem feito. Sempre fui maior, mais forte, treinei desde garoto porque eu sabia que me tornaria um guerreiro real um dia. E eu era bom nisso. Era um bom soldado. Impiedoso, insensível, porém leal ao que me propunha, sabia obedecer ordens contanto que acreditasse nelas. Algo em que eu sempre acreditei foi que os elfos não valiam merda nenhuma. Mas... Eu nunca tive muitos amigos, você deve se lembrar. Nunca me trataram como alguém de valor. A primeira vez que experimentei isso na vida foi com um elfo. Um rapaz da minha idade, ruivo, bonito, gentil. Essas coisas não mexeram comigo. Entretanto, ele fez algo por mim... Algo importante, algo que realmente me fez sentir grato. Eu fui descuidado, idiota, deixei que ele se aproximasse. Nós dois carregávamos fardos inacreditavelmente pesados. Aproximamo-nos muito. Muito mesmo. Muito mais do que eu já me aproximei de qualquer ser humano. Sabe a que isso me levou, Craig?

-À imprudência. – Disse em uma voz firme.

Os olhos do ladrão eram de um cinza azulado, mas a sala mal iluminada tirava o brilho azul de suas íris, deixando as órbitas mais escuras e tenebrosas. As pupilas estavam dilatadas e seu peito subia e descia mais intensamente do que o normal, envolvido pelo rumo que aquela história tomava, ainda que mantendo sua expressão facial muito indiferente aos relatos do rei. Mas Cartman sabia que ele absorvia cada palavra, porque prestava muita atenção naqueles olhos: as pálpebras dele nem piscavam.

O rei entreabriu os lábios como se fosse prosseguir, mas sugou o ar pela boca e assentiu com a cabeça, piscando lentamente. Estava agora do outro lado da mesa, apoiado contra ela, com as duas mãos na beirada. Poucos passos o separavam de Craig.

Ambos corpos estavam tensos ao longo do silêncio que prosseguiu. Craig mantinha as pernas bem unidas e a coluna ereta, o queixo levemente erguido, como de costume. Gostava de olhar o mundo de cima, como se pudesse esmagar todos ao redor como se fossem formigas indefesas. Cartman admirava isso nele.

-Está certo. – enfim confirmou. – Fui imprudente. Confiei em um garoto que, por ser quem era, obviamente iria me trair. Fui idiota. Contei a ele sobre os horrores do castelo, sobre as tiranias do rei, sobre as coisas que precisei fazer e que me deformaram. Contei onde o cetro era guardado. E aquela vadiazinha traidora fingiu o tempo inteiro, para poder contar tudo ao papai. Elfos negros pelo menos te apunhalam de frente. Mas Elfos da Luz... Eles são muito mais perigosos. Fazem você acreditar em bondade para te fragilizar, te enganam, te iludem, te levam para o mundinho iluminado deles e depois te cospem fora. – Cartman deu às costas a Craig para alcançar uma garrafa de conhaque sobre sua mesa, servindo-se em um copo de cristal já sujo. – Agora me diga, Craig... Você acha isso justo? É correto que tenham... Tomado o cetro dos seus donos de direito, através de dissimulações? Invadindo nossos lares no meio da noite, aterrorizando nosso povo, tomando algo que não lhes pertencia? Traindo a confiança de um soldado humano que era oprimido pelo seu rei?

A mesa possuía um centro de mesa trabalhado em ouro, cheio de frutas, com uma travessa de bebidas e queijos. Cartman ofereceu o copo de conhaque para o ladrão, que apenas negou com a cabeça, jamais alterando sua expressão ou posição corporal. O rei passou a língua pelo lábio superior saborosamente antes de entornar a bebida em um único gole, grunhindo ao afastar o copo na boca, deliciando-se com o sabor.

Então, virou seu rosto ao homem, aguardando uma resposta.

-Não, senhor. Eu não acho justo.

-Pois bem, eu também não acho justo. E acreditei que meu único verdadeiro amigo de infância também não achasse. Mas ele foi enviado para resgatar o cetro há 60 dias e até hoje não houve qualquer resultado. Primeiro, pensei que ele estava querendo fazer as coisas lentamente... Ganhar a confiança dos elfos primeiro, como combinamos. Extrair algumas informações, não agir apressadamente. Mas agora, Sir Tucker, eu estou começando a acreditar que talvez McCormick não tenha intenção de retornar a Kupa Keep. Não seria terrível? Se aquele que traiu minha confiança uma vez convencesse meu amigo e fiel servente a me apunhalar pelas costas?

-O que você quer que eu faça, Cartman?

Algo mudou nos olhos do rei, como se por trás deles tivesse havido um estalo que Craig não fosse capaz de escutar. E um sorriso, nada mais, nada menos do que diabólico se formou nos lábios do Eric. Enfim, a conversa progredia para a parte mais importante. Algo sobre o qual ele havia ponderado durante a última semana inteira, enquanto aguardava a chegada de Kenny sobre um cavalo roubado dos elfos, com o cetro precioso envolto em um manto e o sorriso orgulhoso por ter tomado a decisão certa. Mas Kenny nunca chegou. E Cartman estava começando a perder a paciência.

Alguém precisava pagar. Não bastava a dança de sua espada ecoando com a de Gerald Broflovski na guerra das florestas, três anos antes. Não bastava o sangue derramado no cais do Porto Real, na grama que revestia o bosque, nos rostos apavorados dos sobreviventes das batalhas. Não bastavam todos os mortos que já foram velados e enterrados, nem mesmo bastavam as famílias que rezavam para que um dia os corpos de seus filhos retornassem para um funeral decente. Não bastava a violação dos cadáveres, os elfos seqüestrados e torturados, o ouro investido na guerra, a dor de cabeça, a veia saltada no pescoço daqueles que especulavam noite afora sobre táticas e planos para vencer, temendo a morte. Não. Alguém precisava pagar.

O rei dos elfos precisava pagar pelo que foi tirado do rei dos humanos.

E Cartman tinha isso certo como a noite é escura e o dia é claro. Algumas gotas de suor lhe escorriam pela testa, mas ele rapidamente às secou com um pano escondido no bolso por dentro de sua túnica vermelho-sangue. O pano era de seda negra, um tecido que pouco absorvia, mas que acariciava sua pele grossa nos momentos necessários.

Limpando a garganta, o rei disse:

-Preciso que vá atrás dele. Partirão antes do amanhecer, amanhã mesmo. Serão cinco dias de viagem a cavalo, mas preciso que amarrem os cavalos antes de adentrarem a parte densa da floresta, ou senão os elfos perceberão. Vocês vão encontrar Kenny escondidos. Observem durante o dia, percebam onde ele anda, onde ele dorme. Escalem na janela dele à noite, se for necessário. Mas encontrem uma forma de conversar com ele e deixar claro que eu não estou mais disposto a esperar. Descubram quais são as intenções dele, o que ele descobriu até então. Não voltem sem o cetro. Escute com atenção, Craig: você é o ladrão mais silencioso, e provavelmente o mais veloz. Mantenha-se por cima das árvores, saia somente à noite, nunca seja visto por ninguém. Caso seja visto, torça o pescoço do infeliz e suma com o corpo. Não podemos arriscar que saibam que têm ladrões infiltrados.

-Ladrões? Eu não vou sozinho?

-É claro que não. Precisa levar alguém por quem Kenny tenha um coração mole. McCormick vai com você.

Craig franziu as sobrancelhas, ligeiramente confuso.

-A princesa?

Cartman soltou uma gargalhada, balançando o copo na mão enquanto se virava para agarrar a garrafa novamente, servindo-se de mais conhaque.

-Uau, eles são como uma praga, não são? Existem tantos que nunca se sabe de qual você está falando. Não. Eu estou falando do terceiro McCormick.



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