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História Rex Meus - O fiel, o insano


Escrita por: caulaty

Capítulo 12 - O fiel, o insano


A mão de Kenny ia e voltava na curva sinuosa da cintura com o quadril de Kyle, uma das partes daquele corpo que ele mais amava. Ele tentava escolher, realmente tentava, e enquanto sua palma escorregava pela cintura dele, jurou para si mesmo que aquela curva era, sem dúvida nenhuma, sua parte preferida do corpo de Kyle. Isso durou precisamente sete segundos, até que o rei se virasse de bruços, então Kenny teve uma visão perfeita das coxas separadas dele, aproximando seu rosto para enxergar de pertinho a dobrinha entre as nádegas e a parte detrás das coxas. Não desperdiçou mais um segundo sequer antes de abocanhar aquela carne branquinha e deliciosa, roçando o rosto entre as nádegas dele. Havia descoberto recentemente que era um dos lugares que ele mais amava nesse mundo: estar com o rosto enterrado na bunda de Kyle era uma experiência extasiante.

Sua língua circulava pelo músculo da entrada dele, que se contraía com a provocação, e Kenny sorria o sorriso mais sacana, abocanhando-o, chupando em torno do cuzinho rosado enquanto suas mãos apertavam a carne firme das nádegas dele, cravando as pontas dos dedos sem medir a força. Kyle sempre se contorcia quando ele chupava seu cu, e isso era suficiente para deixar o pau de Kenny completamente rígido novamente, mesmo que eles tivessem acabado de trepar. Kenny era apaixonado por aquela bunda, por cada pedaço dela; pela pele lisinha tão próxima de uma cor de pêssego, que ficava mais rosada quando era iluminada pelos raios de sol de manhã, e era irresistível não roçar o rosto pela linha delicada que separava as nádegas dele, tão durinhas e macias ao mesmo tempo.

Kyle ainda dormia quando ele começou a brincar com a língua, usando as mãos para abrir a bundinha dele e ter espaço, pressionando o próprio rosto para chupar com mais intensidade, espalhando a saliva para deixá-lo bem molhado. Kyle amava ser acordado assim, ele já sabia de cor. Assim como sabia de cor que os dedinhos do pé dele iriam se encolher, e as pernas dele se separariam instintivamente, e ele começaria a puxar o lençol com a mão porque ele simplesmente precisava se agarrar a alguma coisa. Ele amava percorrer a língua pela coluna do rei devagarzinho, apaixonando-se por cada ossinho que compunha a espinha dele, sentindo o gosto de sua pele na ponta da língua apenas como uma entrada para quando ele chegasse onde queria, para saboreá-lo de verdade. Eles faziam essa dança quase que diariamente. Já criaram manias, como acontece toda vez que duas pessoas descobrem o corpo uma da outra e se unem da forma mais íntima: Kenny gostava de morder o pé dele, Kyle soltava uma risadinha quando era chupado no pescoço, Kenny o percorria com a ponta do nariz antes de beijá-lo em qualquer parte do corpo, Kyle amava sentir os fios dourados do cabelo dele entre os dedos.

Kenny já estava acostumado com aquele quarto. Não era exatamente o que ele esperava do quarto de um rei; a cama era imensa, simplesmente imensa, maior do que todas as camas que ele já tinha visto, mas era feita de madeira, como boa parte das coisas no castelo dos elfos. Talhada ricamente, revestida por uma colcha de uma cor que dançava entre verde e dourado, dependendo da luz, com desenhos em dourado (dourado bem amarelo, dessa vez) que lembrava muito o movimento dos galhos de uma árvore. A cama também tinha quatro colunas altas que sustentavam uma cortina de veludo, mas Kyle jamais fechava essas cortinas, e Kenny imaginava que fossem meramente decorativas. As paredes eram de um verde muito escuro, um papel de parede em damasco extremamente discreto, quase aconchegante. Nunca vira alguém com tamanho gosto por almofadas, de várias texturas diferentes, em patchwork com cores combinando com os componentes do quarto. Quase tudo era em marrom e verde: cores da floresta. Ele tinha uma lareira imensa, de pedra, e logo ao lado, uma estátua assustadoramente alta de uma criatura – poderia ser um homem ou uma mulher – coberta por um manto, segurando uma vela. Exceto que a vela era real. Deveria ser algum tipo de divindade. Havia muitas velas naquele quarto também, pelas paredes e demais superfícies, deixando um aroma delicioso.

E plantas. Deus, como Kyle gostava de plantas. Tapeçaria trabalhada a mão, importada de outros reinos, ele havia contado uma vez, era pendurada na parede, indo do teto até o chão. Valia muito ouro, mas Kenny não conseguia entender o motivo. Ele tinha muitos livros em uma estante, e outros espalhados sobre uma mesa com vidros de várias cores, contendo poções, possivelmente. Uma das paredes, a oposta à parede em que o tapete era pendurado, continha um quadro imenso pintado à mão: uma cena pitoresca de uma floresta cheia de animais mitológicos, que haviam desaparecido há séculos, segundo as lendas. Alguns eram humanóides, com chifres de cabras, ou asas como as de pássaros, mas todos pareciam seres de luz, escondidos entre as folhagens, observando uma grande cascata. Era magnífico. A parte preferida daquele quarto, para Kenny, era a bancada, em que se podia ter uma visão real da cascata, que logo congelaria. Talvez se devesse ao fato de que elfos não eram criaturas muito grandes, ou fosse apenas a exigência do meio geográfico em que eles viviam, mas tudo no castelo deles era muito alto, erguido por longas colunas. Kyle também gostava de colunas, tinha várias em seu quarto, envoltas por plantas trepadeiras.

Era naquele quarto que os dois se amavam, escondidos do resto do mundo. Ninguém sabia o que ocorria dentro daquelas paredes; Kenny o visitava sempre depois da meia noite, tomava-o apaixonadamente e, quando possível, amanhecia com ele. Adorava quando isso acontecia, porque a luz entrando pela janela e brilhando na pele de Kyle, iluminando seus fios de cabelo vermelhos como Kenny sabia que nenhum humano poderia ter, era a visão mais bela do mundo. Capaz de levar um homem são à demência, e era contra isso que ele lutava todos os dias.

Acreditava que eles estivessem seguros.

E enquanto acreditava nisso, deliciando-se do corpo proibido do rei, chupando entre suas nádegas como um homem faminto, algo acontecia no Hall da cidade, do outro lado do jardim do castelo, logo ao lado da Torre Mãe. As paredes protegiam uma sala pouco utilizada, em que elfos importantes somente se reuniam em situações emergenciais secretas, impertinentes ao chanceler. O sol não havia nascido ainda, e ninguém deveria estar acordado. Gregory de Yardale, com seu topete perfeitamente ajeitado, o que era tão estranho para aquela hora da manhã, andava impacientemente de um canto ao outro, com os primeiros botões da blusa caracteristicamente abertos e a espada bem presa na bainha, embora seus dedos alisassem o cabo por vez ou outra, ameaçando tirá-la somente para mostrar que podia. Contudo, não dizia uma palavra. Stan Marsh, que havia sido bruscamente acordado há cerca de vinte minutos, estava sentado com as pernas abertas e os braços apoiados nas coxas, batendo o pé ansiosamente no chão. Vestia um manto acinzentado que cobria uma bata branca, e a calça de algodão não era apropriada para uma reunião importante, mas ele não se importava. Assim como não se importava que seu cabelo estivesse tão bagunçado. Não olhava para nenhum dos outros. Token Black, naturalmente, com seus trajes em tom violeta sempre sem um amassado sequer, como se ele acordasse já composto, usava um colete com botões dourados e uma camisa de mangas compridas por baixo, com um lenço envolto no pescoço para se proteger do frio matinal. Estava de braços cruzados, próximo à janela, pensando seriamente. Christophe DeLorne vestia exatamente o que ele usava para dormir, e o que ele usava diariamente à sombra do castelo; uma camisa verde musgo que parecia não ser lavada há dias, e fumava incessantemente em pé no sofá ao lado de Stan, carregando uma pá presa em suas costas. As olheiras em seus olhos eram profundas e uma de suas mãos estava enfaixada.

-Eu não gosto disso. – Stan foi o primeiro a falar. – Não gosto nada disso.

Ele unia as mãos em frente ao rosto e tocava os lábios com os indicadores, em um gesto visivelmente ansioso, respirando fundo quando a mão tensa de Christophe segurou seu ombro e deu-lhe um apertão. O francês usou a outra mão, a enfaixada, para afastar o cigarro dos lábios, e um pouco de cinza caiu no chão, mas ninguém pareceu notar.

-Eu sinto que estamos nos unindo contra ele. – Stan prosseguiu.

-Não é nada disso. – Token explicou imediatamente, mantendo um braço cruzado em frente ao peito, mas erguendo a outra palma como se pedisse calma. Embora nem mesmo ele tivesse certeza de que não era, de fato, nada disso.

-A menos que você acredite que tenhamos algum motivo para nos unir contra ele. – Gregory disse com um sorriso, enfim parando de andar.

-Por que estamos aqui afinal? – Enfim, Christophe se pronunciou, e o debate estava finalmente inicializado. Sua mão deixou o ombro de Stan. – Nós não temos nada a ver com essa merda toda de decisões políticas, seja lá para que vocês nos trouxeram. O que querem conosco?

-Stanley. – Token chamou. – Não consigo pensar em alguém que conheça nosso rei melhor do que você. Não há nada que ele não te conte, não há nada que você não saiba, mesmo sem que ele tenha dito. E Christophe. – Ele se voltou ao outro homem, que o encarou de volta com uma sobrancelha erguida. – Não consigo pensar em um homem cuja opinião que o rei respeite mais do que a sua. É por isso que estão aqui.

-E por que ele não está aqui?

Gregory soltou uma gargalhada para a pergunta de Christophe, uma gargalhada obviamente forçada e sarcástica que fez o humano estreitar os olhos para ele. Não gostava de Gregory. Mas poucas pessoas gostavam. E Christophe não gostava de quase ninguém, para ser justo. Então as chances eram pequenas de que houvesse qualquer simpatia entre eles. Christophe bufou como um bicho selvagem, tragando do cigarro e dando as costas para eles, caminhando em direção à porta. Esmagou seu cigarro contra um pires de prata que estava colocado sobre a mesa, junto a um jogo de xícaras que combinavam, pois aquele era um salão de chá. O cigarro apagado ficou ali, e o homem seguiu seu caminho, observado pelos olhos atentos de Stan que acompanhou a iniciativa para se levantar.

-Eu não vou fazer parte dessa porra. – O francês disse, virando o rosto para olhá-los por cima do ombro, sem parar de andar.

Token lançou um olhar repreensivo a Gregory antes de se aproximar de Stan, que agora olhava os dois conselheiros com pesar e raiva.

-Toupeira, por favor. Eu juro, ninguém aqui está contra o rei. Eu jamais me colocaria nessa posição, você sabe disso. Não confia na minha integridade?

Ainda que seu respeito por Token tenha interrompido o passo de Christophe, fazendo com que ele se virasse para ouvir o que o elfo tinha a dizer, foi Stanley quem ergueu o dedo indicador próximo à face de Token e disse em um tom ríspido:

-Você está fazendo isso com ele. – Apontando com a cabeça em direção a Gregory. – Não venha nos falar de integridade. Se achasse isso certo realmente, não precisaria fazê-lo às escondidas, antes do nascer do sol para que ninguém saiba o que está havendo.

-Ei. – Gregory interrompeu, aproximando-se dos dois, e sua capa se ergueu sobre o ar com o movimento. – Parem de tratar a questão como se eu e Token fossemos rebeldes unidos contra um poder supremo. Não me digam que vocês dois não se preocupam com esse forasteiro andando entre nós, com a maneira com que ele e nosso rei se olham. Se estão despreocupados com isso, se aceitam, então podem ir. Mas pensamos que gostariam de opinar, sendo próximos da Majestade como são.

Houve um momento de silêncio. Apenas um momento, de fato, em que os olhos da sala se voltaram para o loiro e todos, até mesmo Token, precisaram considerar. Stanley entregou a hesitação nos músculos da face, ainda que estivesse bem encoberta por uma expressão rígida de desgosto com todo aquele cenário. Os punhos do guerreiro estavam cerrados. Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Gregory, com a testa enrugada e desconfiança no olhar. Odiaria admitir qualquer verdade no que aquele homem dizia, porque assim como Christophe, também não gostava de Gregory. E não costumava ser um problema manter isso silenciado dentro dele, porque Stan simplesmente não era o tipo de pessoa que impõe os próprios pensamentos para o mundo inteiro, mas era muito difícil se conter quando se tratava desse instinto que corria em seu sangue: o de proteger Kyle a qualquer custo.

-O que vocês estão insinuando aqui? – perguntou.

Token tomou partido com uma mão quase carinhosa alisando o braço do guerreiro, e uma voz calma falando próxima ao ouvido dele:

-Sente-se, por favor.

Pelo canto dos olhos, ele se certificava de que Christophe continuava exatamente no mesmo lugar, com o maxilar um pouco levantado e a mão para trás, segurando firmemente o cabo de sua pá. Não fazia ideia do que ele pretendia com aquilo, para onde ele iria ou de onde ele estava voltando com aquela pá, mas não era jardinagem, isso Token sabia. Uniu as mãos em uma palma tola, como um professor que tenta retomar o foco depois de um alvoroço com os alunos. Gregory rangeu os dentes e voltou a andar de um lado ao outro, circulando as enormes janelas do salão. Stan obedeceu, sentando-se novamente no sofá, respirando fundo pela tensão. Não queria que Christophe estivesse tão longe.

-Estamos todos do mesmo lado aqui. – Token prosseguiu. – Eu e Gregory também temos nossas discordâncias, mas... Talvez a natureza da relação do rei com esse homem seja, de fato, motivo de preocupação. Você sabe o que se passa entre eles. Não sabe, Stan?

As pupilas do guerreiro se dilataram no azul escuro de seus olhos. Quase como os olhos de um leão que avista a presa. Stan passou a língua pelo lábio superior, e o restante do corpo continuou imóvel, estudando a pergunta. Era desconfortável, Token sabia. Podia ver além das técnicas de centralização que todo guerreiro aprende, que Stan dominava com maestria, e era muito claro que qualquer resposta em voz alta lhe seria dolorosa de proferir.

-Naturalmente. – foi tudo o que disse.

-E qual é? – Gregory interveio imediatamente.

Stan o fuzilou com os olhos, ou o teria feito, se tal coisa fosse possível. Token sentia tanto por ele. Admirava tanto Stanley. As mãos dele apertaram o tecido da calça nas coxas discretamente, enquanto as órbitas rolavam de um lado ao outro, entre Token, Gregory e o teto, tentando pensar em uma resposta adequada e não prejudicial.

-Eles são amantes? – Gregory forçou.

Stan se manteve em silêncio.

Assim que Gregory separou os lábios, preparando outra pergunta impertinente, Christophe se aproximou um pouco dos outros três e sua voz rouca e irritada ecoou no ar:

-Um rei pode trepar com quem quiser e não deve satisfação a lordes de baratas. Ele não tem que te responder nada.

-Estou certo de que isso não vale para prisioneiros de guerra. Então me diga você, Christophe: o que pensa do seu companheiro de raça? Não vê qualquer problema no fato do nosso rei, que deveria estar liderando uma guerra contra esses ratos, ocupado demais chupando um deles?

Nenhum deles chegou a ver exatamente quando Christophe puxou a pá das costas e bateu com o cabo dela no chão, mas o som foi estrondoso o bastante para acelerar os corações dos três homens presentes, tanto pelo susto quanto pela possibilidade de ocorrer um homicídio.

-Não me obrigue a te machucar, Gregory. – o francês disse entre dentes. – Porque eu vou.

O sol agora se erguia no horizonte e seus raios começavam a banhar o reino com sua luz, eles podiam ver muito bem lá de cima. A sala já era melhor iluminada, embora ainda timidamente, mas o tecido rico da roupa de Token brilhava sob o facho de luz que invadia pela janela. Stan esfregou os olhos com uma mão e suspirou fundo, sentindo falta das horas de sono que lhe foram tiradas para viver aquela discussão.

-Rapazes. – Token disse. – Por favor. Não desviemos o foco aqui. Ele não é mais um prisioneiro de guerra, Gregory, não se precipite. Nós o liberamos por falta de provas. Mas o que realmente importa é: o quanto confiamos verdadeiramente nesse estranho?

-Bem. – Stan disse, esfregando as mãos. – Eu não acreditava que ele pudesse trazer nada de bom. Mas...

Gregory ergueu as sobrancelhas, mas Token sorriu enquanto aguardava.

-Mas? – O loiro perguntou, impaciente.

-Eu comecei a ver... Certeza gentileza nele. Genuína. E parte de mim acredita que ele se importa de verdade com nosso rei. Pode ser pela misericórdia que lhe foi mostrada, ou algo mais íntimo... Realmente não importa. Acredito que ele seja fiel. Ao nosso rei, pelo menos.

-E se importa com os outros. – Token acrescentou baixinho.

Gregory pressionou os lábios juntos, soltando o ar pelo nariz. Lembrou-se das palavras de Kenny McCormick, que iam e voltavam em seus pensamentos como o mar faz com a areia. O que é preciso entender sobre Gregory de Yardale era que ele nem sempre projetara essa necessidade de ser maior. Ele não necessariamente discordava das palavras que ouvira, mas discordava imensamente de que isso saísse da boca de homens como Token e Stan, que deveriam ser devotos à proteção do reino. Gregory temia por aquelas pessoas. Por todas elas.

-E ele compartilha o uísque dele. – Foi tudo o que Christophe disse, e os olhos azuis de Gregory se voltaram para ele, quase arregalados em surpresa.

Porque de todas as pessoas do reino, Gregory sabia o quanto Stan e Christophe desprezavam aquele intruso por motivos extremamente pessoais. Seus olhos de falcão percebiam coisas que passariam batidas para o observador comum: Stan era completamente apaixonado por seu rei, e sempre o tivera para si, então um homem como Kenny desestruturando o bom senso de Kyle, levando-o a cometer insanidades, isso mataria Stan por dentro. Gregory enxergava isso. Era um guerreiro viril, forte, de peito estufado, tinha em um fio de cabelo mais coragem do que um exército inteiro. E no entanto, Gregory podia ver, Stan era sensível como uma criança quando se tratava do rei. Não importava o quão altruísta, o quão amoroso, o quão gentil ele fosse: Stanley era um homem. E todo homem se doía e se revoltava diante de um amor perdido.

E as coisas com Christophe não eram tão diferentes assim. Gregory sabia que a relação dele com o rei tinha algo de carnal, e Christophe funcionava como um animal selvagem. Era possessivo, violento, agressivo, e não havia qualquer dúvida para Gregory, ele amava Kyle como jamais poderia amar ninguém nesse mundo. Era a única pessoa que despertava gentileza nele, que trazia à tona o que Christophe tinha de suave dentro de si. Não era muita coisa, mas existia.

A reação que Gregory esperava desses dois homens, diante da ideia de que Kyle havia se apaixonado por um forasteiro imprestável, envolvia no mínimo alguns objetos quebrados, gritos e murros na parede. Não pelo sexo, não. Sexo seria aceitável, pois a carne é só a carne. Mas porque eles estavam discutindo algo maior, algo que influenciaria o bom juízo do rei com relação à guerra, algo que deixa as pessoas estúpidas e imprudentes. Kyle estava apaixonado, Gregory podia ver. Havia observado-os por tempo suficiente. E Token sabia de algo.

-Vocês ficaram completamente loucos? Entendem o que estamos arriscando aqui, ao consentir isso? E se esse homem corta a garganta do rei enquanto ele dorme?! Vocês não entendem isso?

Stan esfregava o rosto, com dificuldade para respirar. A expressão no rosto de Token era piedosa enquanto ele alisava as costas do guerreiro em um gesto de apoio.

-Gregory... Você não acha que, se ele tivesse essa intenção, já o teria feito? Ele sabe que é um homem morto se fizer qualquer coisa com o rei.

-Eu estou cansado disso. – Stan proferiu sob a respiração pesada, balançando a cabeça. Levantou-se agoniado e relaxou os ombros ao dizer – Eu sirvo ao meu rei. Se ele escolheu esse homem, se acredita na bondade dele, eu também acredito. E eu tenho vergonha por você, Gregory, por questionar o comprometimento dele nessa guerra.

Token umedeceu os lábios, assistindo enquanto Stan dava as costas aos dois para se retirar do salão de chá, passando por Christophe como um furacão. O francês virou a cabeça para olhá-lo de relance, depois deitou a cabeça de um lado ao outro, estralando o pescoço, mantendo uma expressão séria no rosto. Segurava a pá firmemente na mão. O som das portas se fechando ecoou pelo salão.

-Gregory. – Token disse, virando-se para ele. – Eu compartilho de suas preocupações. Mas você não pode, por favor, deixar as coisas acontecerem? Você ouviu o que eles têm a dizer. Eles confiam no rei.

Confiança não era seu forte. Piscando um tanto desnorteado, Gregory lançou um olhar breve a Christophe, que estava imóvel, e depois encarou a tranqüilidade nas feições de Token. Essa calma, essa serenidade inabalável que sempre estava presente e tanto o irritava, em situações comuns. Mas essa não era uma situação comum. As palavras de Kenny voltaram à sua mente, perturbando-o, e ele não pôde disfarçar isso em sua expressão facial: contorceu os músculos da face e apertou os olhos, levando a mão à testa por um momento. Precisava pensar. Não conseguia compreender porque Stanley tinha essa fé insuportavelmente cega, mesmo tendo tantos motivos para declarar um motim. Não fazia sentido para ele. Assim como não fazia sentido que a pessoa mais incrédula desse mundo, Christophe, tivesse tentado se retirar daquela discussão em vez de se oferecer para cortar a cabeça de Kenny pessoalmente.

A ótica pela qual Gregory enxergava o mundo era diferente. Era por isso que ele discordava tanto dos demais e viver em sociedade era uma tarefa cansativa para ele. E ser o vilão era difícil. Era tão difícil.

Ele havia aprendido a sempre dizer o que pensava porque a lábia era sua melhor arma nesse mundo. Mas naquele momento, Gregory de Yardale fez algo que nunca fizera antes em sua vida; ele não discutiu.

-Tudo bem. Façamos do seu jeito.

Satisfeito com a situação apaziguada, Token deixou a sala. Precisava voltar antes que o sol nascesse e a vida no reino começasse. Cumprimentou os dois homens com a cabeça e se retirou com o queixo erguido, disposto a lidar com sua própria consciência.

Sobraram Gregory e Christophe.

Não demorou muito tempo até que o francês saísse também. Mas durante aqueles poucos segundos em que os dois estiveram a sós, eles trocaram um olhar. Um olhar demorado, que pareceu durar muito mais do que aqueles poucos segundos, porque foram emergidos em uma certeza não-verbalizada de que os dois compartilhavam da mesma ideia. E Gregory franziu a testa.

-Você enxerga também, não enxerga?

Christophe não desviou o olhar. Sequer piscou. Voltou a guardar sua pá nas costas e disse:

-Eu não vou te ajudar.

E saiu.

Enquanto a pequena reunião no salão de chá era finalizada, Kenny liberava seu gozo dentro do corpo do rei, puxando seu cabelo para trás com força, com os fios ruivos enroscados em seus dedos grossos, sorrindo com a boca colada ao ouvido dele. Kyle estava completamente suado, deitado de bruços, com a respiração ofegante. Resmungou baixinho quando Kenny retirou o pau de dentro dele, como sempre fazia, e era um dos sons que o loiro mais amava nesse mundo.

Deitou seu corpo exausto para cobrir o dele. Não tinham muito tempo, não faltava muito para os raios começarem cair sobre o reino e entrar pelas janelas do quarto. Mas ele se deu ao luxo de tirar alguns segundos para descansar, sentindo sua pele colada à do rei, o suor misturado, o coração acelerado de Kyle batendo no mesmo ritmo do dele. Era perfeito.

-Kyle. – Chamou baixinho.

-Sim. – Ele respondeu com a cara amassada no travesseiro, sem forças para erguer o pescoço, e sua voz saiu em um murmúrio abafado.

-Eu acho que te amo.

. . .

 

O rei estava sentado em seu trono, como todos os reis devem estar. Sua coroa lustrosa reluzia contra a luz do sol que penetrava as janelas altas do salão principal, e o facho dourado iluminava parte do seu rosto delicado, fazendo com que ele estreitasse os olhos e se endireitasse para desviar da luz. Uma de suas mãos brincava pelo seu rosto, alisando o queixo e o lábio inferior com os dedos suavemente, como quem pensa com muito afinco, e sua expressão fortalecia a ideia: havia uma pequena ruga de preocupação formada pelo franzimento da testa, seu lábio inferior estava levemente ressaltado e os olhos eram compenetrados no chão decorado por um longo tapete amarelo, mas Kyle não prestava atenção no tapete, pois sua mente estava em outro lugar.

Token fez uma reverência respeitosa, levando a mão graciosamente ao peito para falar.

-Sua Graça.

Os olhos terrivelmente verdes do rei focalizaram no homem à sua frente, enfim. O trono era colocado em um nível elevado do chão, então ele precisava olhar para baixo para enxergar o homem. Kyle não sorriu para ele, apenas afastou a mão do rosto e se segurou nos braços de seu trono.

-Fez o que lhe pedi?

-Naturalmente.

-Muito bem. – Kyle disse antes de limpar a garganta, usando uma das mãos para apoiar a bochecha, como se estivesse entediado, e a posição de sua cabeça fez com que sua coroa entortasse. Mas Kyle não estava entediado. Token dominava toda a sua atenção. – E como foi?

-Como esperado.

Os olhos do rei fiscalizaram em volta, observando os quatro guardas do salão. Um em cada lado de seu trono, e mais um em cada lado da gigantesca porta de entrada. Umedeceu os lábios antes de esticar o braço para o guarda à sua direita, sem tocá-lo, apenas chamando a sua atenção. O homem segurava uma lança mais alta do que seu corpo.

-Por favor, deixe-nos a sós. – Pediu em um tom gentil, olhando para somente um deles, mas os outros três compreenderam perfeitamente o comando.

Um a um, bateram com suas lanças no chão e relaxaram a posição, seguindo em fila para guardar o lado de fora da porta, garantindo privacidade ao rei e seu conselheiro. Assim que as portas duplas se fecharam, Kyle relaxou no trono grande e confortável, suspirando profundamente.

-Como Stanley reagiu?

-Foi difícil para ele. Mas descartou todas as insinuações de Gregory, você sabe, manteve-se completamente ao seu lado o tempo todo.

-E Christophe?

-Christophe queria fazer um buraco nele. – Respondeu com um sorriso no canto dos lábios, que logo desapareceu.

Kyle não hesitou em soltar uma risada, cobrindo a boca com a mão.

-Majestade, eu realmente não quero ser impertinente. – O homem prosseguiu. - Perdoe-me se parecer. Mas se importa de me explicar o propósito desse teatro? Primeiro me pediu para manter silêncio. Por que quis que eu convocasse a reunião?

Kyle sorriu para ele.

-Token, meu amigo. Homens como Gregory precisam ter certeza de que sua opinião é levada em conta. O estrago seria muito maior se o deixássemos pensar o que quisesse e especular com sabe-se lá quem a respeito da minha intimidade.

-Sim, eu entendi, Majestade. Mas pensei que quisesse discrição a respeito. Por que espalhar?

-Entenda uma coisa, Token. – Kyle disse enquanto unia as pontas dos dedos próximas ao rosto. – Gregory é um homem bom. Mas sua mente vai para lugares obscuros. Ele espera o pior das pessoas. É extremamente egocentrado, e enxergamos nos outros aquilo que reflete em nós. O que ele esperava de Stan e Christophe era que o ego deles falasse mais alto e eles tomassem partido das preocupações de Gregory por razões pessoais.

-Porque amam você. – Token complementou em uma voz baixa, pensativa.

-Exato. O que os tornava pessoas ideais para a pequena conspiração dele. Gregory vive pelo seu serviço ao castelo, Token, ele só quer proteger o povo contra os males da guerra e teme que eu fique cego por luxúria. Ele se esqueceu de que... O amor não é pecaminoso. Que Stanley e Christophe jamais se voltariam contra mim porque o amor está muito acima do ego. Gregory não entende isso. E eu lamento muito por ele.

-Como poderia saber que eles não se voltariam contra o senhor? Foi muito arriscado. Se tivesse lhes explicado antes, pedido que compreendessem...

-Suas reações não valeriam de nada se não fossem verdadeiras.

A boca do homem se tornou uma linha reta, e ele apenas assentiu em compreensão, abaixando um pouco a cabeça. Nesse momento, o rei se levantou de seu tronco e desceu os dois degraus que o separavam de seu conselheiro, erguendo as mãos para tocar o rosto de Token com gentileza. Seus dedos alisaram a pele escura, contrastando belissimamente com a sua pele clara, e o conselheiro ergueu um pouco a face para encontrar com o olhar sereno do rei, abrindo um sorriso fraco de consolação.

-Muito obrigado. Eu sou imensamente grato pela sua fidelidade. – O rei sussurrou próximo ao rosto dele. – Sei que está com medo por todos nós.

-Mas eu vi, Majestade.

As sobrancelhas de Kyle se ergueram. Ele escorregou suas mãos para as laterais do pescoço de Token, acariciando seu maxilar com os polegares.

-Viu o quê?

-Eu vi a bondade nele. E eu vejo em seus olhos quando fala desse homem, você sabe que ele é bom. Então me responda, por favor, Kyle. Você o ama?

O rei afastou as mãos dele, mas continuou igualmente próximo dele. Esticou o pescoço para que seus lábios encontrassem a face de Token, a bochecha macia de barba perfeitamente raspada, e beijou-o com o carinho de um irmão. Ao se afastar, com os olhos brilhando e a coroa torta, Token viu nele o mesmo garotinho miúdo com quem passava horas estudando, aquele que era um príncipe e não fazia ideia do quão cedo precisaria se tornar um rei. Token não resistiu à tentação de endireitar aquela coroa no topo da cabecinha ruiva, sorrindo para ele.

-Eu o amo. – Kyle respondeu, sem retribuir ao sorriso, com os olhos perturbados.

Token rolou os lábios para dentro da boca e segurou a respiração durante alguns instantes. E assentiu com a cabeça, relaxando os ombros.

-Então você tem meu apoio, Majestade.



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