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História Rex Meus - Irmandade


Escrita por: caulaty

Capítulo 13 - Irmandade


-Ike, pare de brincar à mesa. – Kyle disse, estendendo-se sobre a mesa para alcançar a colher que seu irmão tentava pendurar no nariz.

-Mas eu quero mostrar pro Kenny! – O rapaz retrucou com um sorriso provocador, tão contagiante que o rei não resistiu a sorrir também, embora lutasse para preservar uma feição irritada que era assustadoramente igual à da mãe deles.

A sacada do quarto do rei era imensa, repleta de vasos de plantas, com uma mesa redonda no centro. Kyle era um apreciador de mesas de café da tarde, acreditava ser a refeição mais bela do dia. E era, de fato: a mesa estava posta com uma toalha branca bordada à mão pela sua avó, com um jogo de porcelana chinesa brancas com detalhes em amarelo mostarda, e as xícaras e os pires combinavam com a leiteira, o bule, o açucareiro e a manteigueira. Havia vários tipos de geléia caseira em potes artesanais de vidro, enfeitando a mesa com cores vivas. O cheiro de café fresco contaminava o ambiente, mesclando-se ao cheiro delicioso dos vários tipos de pães. Bolos e tortas em travessas prateadas eram tão belos que nem pareciam comestíveis, mas Kenny fez questão de experimentar cada um deles para se certificar de que eram. Várias frutas eram dispostas juntas em um contraste saboroso de cores; pedaços de melancias bem vermelhas, maçãs brilhosas, uvas verdes e roxas ridiculamente grandes, rodelas de abacaxi, mamão e algumas outras formas exóticas que Kenny desconhecia, que eram típicas da região élfica.

-Não é lugar, depois você mostra. Coma o seu mamão.

-Credo, você fala igualzinho à mamãe.

-Não falo nada. – Kyle respondeu rapidamente, com as sobrancelhas franzidas.

A cena toda fez com que Kenny, que mastigava uma uva, cobrir a boca para ocultar a risada inevitável, esperando que o rei não reservasse uma bronca para ele também. Não deu muito certo, naturalmente. Kyle passava geléia de amora em uma torrada, então estava com as duas mãos ocupadas, mas isso não o impediu de dar uma cotovelada forte no braço de Kenny.

Kyle batia muito nele. O que foi uma surpresa, no início, porque até então ele nunca tinha conhecido uma pessoa tão graciosa, que parecia mais flutuar do que andar. Olhando de fora, se presumiria que ele seria incapaz de matar uma mosca. E provavelmente era mesmo, mas os tapas continuavam vindo com tanta naturalidade, porque Kyle era completamente passional na intimidade. Ele não era um rei dentro do quarto, e Kenny adorava-o muito mais assim, quando ele se permitia ser natural. Não faziam nem cócegas no tronco e nos membros fortes de Kenny, é claro. Pelo contrário, isso o deixava cheio de vontade de beijá-lo, era difícil resistir à tentação de passar os braços em torno do corpo dele e beijar aquele rostinho irritado. Discrição nunca fora o forte de Kenny.

Ike parecia alheio à troca de olhares e risinhos dos dois, enquanto cutucava seu mamão com a colher, como se não soubesse ao certo o que fazer com aquilo.

-Kyle é igualzinho à nossa mãe. Só que ela era muito maior e mais barulhenta. Você teria gostado dela.

-Mas ela teria odiado você. – O rei complementou, esticando uma mão para alisar a bochecha do loiro, que olhou de relance para Ike e depois sorriu um tanto envergonhado. Kyle riu, tanto pela vergonha dele quanto pela ideia de sua mãe interagindo com Kenny.

Ah, como ela desaprovaria. Mas as coisas com Sheila funcionavam dessa forma. Era uma mulher dificílima, que odiava tudo o que não podia controlar. Ela era a verdadeira rainha. Gerald havia sido um grande rei, sim, mas quem liderou realmente aquele reino durante todos os anos antes de sua morte foi Sheila. Ela era a pessoa mais forte que Kyle já conhecera, mas apesar de ser uma fortaleza autoritária, não havia sido uma pessoa rígida. Ela era muito protetora, muito maternal, e portanto, muito controladora. Kyle lembrava-se dela muito melhor do que Ike, e em algumas noites ele ainda podia sentir o abraço quente de sua mãe, cujo corpo era tão rechonchudo e macio. Sua pele sempre tinha cheiro de creme, e ela espalhava o creme pelo rosto deles sem querer quando os abraçava. Kyle odiava a sensação, porque o deixava gosmento, mas sempre lembrava-se disso com saudade. Era o sentimento que reinava acima de todos os outros, quando pensava em Sheila. Saudade. Ela era uma mulher tão grande e barulhenta que sua ausência deixara um buraco impossível de preencher.

De fato, Kenny teria gostado dela.

-O que houve com ela? – O loiro perguntou, puxando-o bruscamente de volta à realidade.

Kyle soltou a faca suja de geléia e ficou segurando a torrada próximo ao rosto, pensando por um momento antes de responder:

-Tuberculose. Já faz oito anos.

-Você tem seus pais? – Ike perguntou com a boca cheia de mamão.

O olhar de reprovação que Kyle lançou ao irmão mais novo fez Kenny soltar um risinho novamente, embora não soubesse ao certo se a reprovação se devia à pergunta – que o rei podia considerar inapropriada – ou ao fato de que ele estava falando com a boca cheia. As bochechas de Ike eram salientes, como as de um roedor que enche a boca de comida para estocar. Era adorável.

-Não, eu não tenho. – Ele respondeu em um tom gentil, como se aquilo fosse uma espécie de conforto. Afinal de contas, parecia cruel demais que um rapaz tão jovem tivesse perdido pai e mãe tão cedo.

-O que houve com eles?

-Ike. – Kyle repreendeu, mas Kenny levou a mão ao braço dele e alisou, sentindo a textura deliciosa do manto.

-Meu pai era um alcoólatra, ele teve uma doença no fígado. Nós éramos muito pobres, não tínhamos dinheiro para tratá-lo, ele viveu poucos meses. Eu acho que eu tinha a sua idade quando ele morreu. E minha mãe... Pode estar viva, eu não tenho certeza. Depois que minha irmã mais nova morreu, ela fugiu de Kupa Keep. Tínhamos família no norte, mas eu não sei se as coisas estão melhores por lá. Nunca mais tive notícias dela. Minha irmã, a princesa, tentou encontrá-la depois que tomaram o castelo. Porque agora ela é rica. Mas... Acho que isso nunca aconteceu.

Em algum momento em meio à fala de Kenny, Stanley apareceu na porta que dava para a sacada. Kenny estava de costas para a porta, então não percebeu sua presença até que Stan se colocasse ao lado da cadeira do rei e pusesse uma mão carinhosa sobre seu ombro. Kyle acariciou a mão dele, mas não tirou os olhos do loiro. Ike continuava concentrado também, e Stan apenas esperou sem dizer nada.

-Uau. Eu espero que sua mãe esteja bem. – o garoto disse baixinho, demonstrando uma preocupação genuína na voz, não somente aquele tipo de consolação obrigatória. Kenny apenas retribuiu com um sorriso despreocupado, porque aquela realmente já era uma ferida cicatrizada. O garoto então ergueu a cabeça e encarou o guerreiro com um sorriso. – Oi, Stan. Já está na hora?

-Na hora de quê? – O rei perguntou, também virando o rosto para olhar para o homem em pé ao seu lado.

Mas foi seu irmão quem respondeu:

-Nós treinamos toda manhã. Stan está me mostrando como girar a espada.

-Termine de comer, Ike. – Stan disse em um tom gentil, afastando a mão do ombro de Kyle. – Eu não tenho pressa.

Kyle puxou uma cadeira, oferecendo-a para que ele sentasse, mas o guerreiro levou um bom tempo antes de obedecer. Manteve-se de pé com as mãos nas costas durante alguns segundos, observando com um sorriso no canto dos lábios enquanto Ike devorava o mamão, segurando-o entre as mãos agora, desistindo da colher. Kyle balançou a cabeça em desaprovação, mas era difícil não rir do afinco com o qual o garoto comia e se lambuzava.

-Stan vai me levar ao Vidoeiro Branco hoje. Vocês deviam vir também. – Ike disse depois de engolir o mamão, com os lábios úmidos.

-Ah, é maravilhoso no inverno. – Kyle comentou, erguendo a xícara de chá e apontando em direção a Kenny, provavelmente porque ele era o único presente que não fazia ideia do que era o Vidoeiro Branco. O loiro notou como os dedos de Kyle seguravam delicadamente o bracinho minúsculo daquela xícara, enquanto ele precisou segurar pelo corpo da xícara porque seus dedos eram grosseiros demais. – Você vai adorar.

-Stan disse que está frio o suficiente para ver algumas Aethelwines. O que você acha, Kyle?

-Bom, o chão já está coberto de neve. Eu acho bem possível.

-O que diabos é uma Aethelwine? – Kenny perguntou, com dificuldade de pronunciar o nome.

Stan enfim se sentou na cadeira ao lado do rei, apoiando os cotovelos sobre a mesa – algo que Ike receberia uma reprovação caso fizesse, mas Stan podia apoiar os cotovelos na mesa o quanto quisesse.

-Nós as chamamos de Alfies. – O guerreiro explicou. – Significa “amigo élfico”, ou “poder élfico”, dependendo da origem. Elas só aparecem quando neva, na floresta do Vidoeiro Branco. Você pode ir junto se quiser, mas vai ter que ficar quieto. Elas se assustam fácil.

Kenny ergueu as sobrancelhas em surpresa, olhando para o rei de relance, entreabrindo os lábios sem saber o que dizer. Stan nunca tinha dito nada sequer remotamente convidativo com ele antes. Logo em seguida, um sorriso iluminou a face do loiro.

-Eu posso ficar quieto.

. . .

O Vidoeiro Branco era, de longe, o lugar mais magnífico que Kenny McCormick já tinha visto em toda a sua vida. Nunca teve muita oportunidade, ou mesmo interesse, em livros; mas as florestas élficas eram famosas por uma característica primordial: eram mágicas. E não somente por ser o abrigo de diversas criaturas literalmente mágicas, mas especialmente por sua biologia fantástica: as plantas mais exóticas, as cores mais extravagantes, as nuances de iluminação imanada pelas folhagens, que dançavam diante dos olhos como se escondessem algum grande segredo do universo, e tudo que pudesse ser visto a olho nu fosse ilusão. Era isso que aquelas florestas pareciam: ilusão. Mas eram reais. E o Vidoeiro Branco não era como as florestas das quais ele ouvira falar antes. Era exatamente o oposto das outras florestas, que perdiam sua folhagem e morriam durante o inverno: aquela floresta morria durante o verão. Ela era seca, feia e sem vida enquanto fizesse calor; mas assim que o inverno chegasse, transformava-se em uma fantástica estrutura que parecia ser feita de cristal. As árvores eram imensas, e vistas debaixo, com seus galhos cobertos pelo manto branco, pareciam formar desenhos de verdadeiros flocos de neve. Por entre as árvores, cortava um rio completamente congelado, que brilhava como se fosse cravado por milhares diamantes e refletia como um espelho. O branco todo contrastava fortemente com o preto dos troncos, que eram finos, e suas folhas escuras. A floresta parecia pulsar, como se tivesse luz própria, mesmo no breu da noite.

E o céu, de lá debaixo, parecia um oceano. Eles estavam tão afastados das luzes da cidade e do castelo que as estrelas acendiam a noite, e era como se pudessem ver a via láctea a olho nu. A lua estava tão gigantesca que parecia ser possível tocá-la se você escalasse uma das árvores.

O rio era cortado por uma ponte que também estava coberta por uma fina camada de neve, assim como o chão, criando vários pequenos morros sobre o solo. Nos galhos das árvores, Kenny podia ver pássaros negros. Ele não acreditava que esses eram os chamados “Alfies”, mas Kyle não quis explicar como as criaturas eram visualmente, com o argumento de que era algo que precisava ser visto. Muitas vezes, Kyle ria das perguntas dele e apontava-as como infantis, achando graça da cultura curiosa da qual ele tinha vindo. Kenny não sabia se deveria se ofender com isso, mas escolheu não, porque o sorriso de Kyle era bonito demais para ser contestado. De qualquer forma, os pássaros pretos os observavam atentamente enquanto os quatro rapazes atravessavam a ponte silenciosamente, como se fossem guardiões e a ponte fosse uma espécie de entrada. Kenny não sabia que tipo de pássaro eram. Os únicos pássaros escuros assim que ele conhecia eram corvos (e estava muito familiarizado com eles, porque tinham muitos em volta da casa onde cresceu), mas aqueles definitivamente não eram corvos. Embaixo das asas, era possível ver uma mistura de cor que dependia da luz para ser definida; algo entre azul marinho e verde escuro, com a pena de um pavão. O mais estranho eram seus olhos: horrivelmente amarelos.

Ike estava andando mais à frente, ansioso. Stan o levava todos os anos, já havia se tornado uma tradição entre eles porque às vezes era preciso ser muito persistente para conseguir ver os Alfies, e não era uma tarefa fácil naquele frio. Kenny vinha do sul de Zaron, onde o tempo é muito mais ameno e a neve raramente é vista, então sofria mais do que os outros. Batia os dentes, mas não parecia se dar conta do frio diante da visão maravilhosa daquela floresta. Ike o espiava de vez em quando, olhando para trás e sorrindo. Não enxergando onde pisava, esmagou um galho fino com o pé, emitindo um barulho desagradável que fez com que Kyle sussurrasse ao seu ouvido:

-Cuidado.

Mais adiante, do outro lado do rio, a floresta parecia ficar mais densa. Havia mais árvores, e elas eram mais tortas, dando a impressão de que eles tinham menos espaço para andar. Stan andava logo atrás de Ike, guiando o caminho com o dedo indicador, pois conhecia aquela floresta como a palma da mão. Quando o caminho era muito estreito, por conta dos galhos, Stan abria passagem com a lâmina da espada, de forma silenciosa e rápida. Era impressionante. Até que eles chegaram a uma clareira. A luz da lua decaia sobre aquele espaço aberto entre as árvores como se o próprio Deus estivesse lhes enviando uma mensagem. Agora, podiam ver aquela lua imensa, tão próxima que parecia prestes a colidir com a terra. Como uma pintura. Kenny podia ver a fumaça da própria respiração quando o ar quente se misturava ao ar gelado daquela noite.

O loiro estreitou os olhos, um pouco atrás dos três, interrompendo o passo com um dos pés sobre uma raiz alta de uma árvore, coberta de neve. Parou porque ouviu algo. Os três continuaram caminhando para o centro da clareira, como se não ouvissem nada, mas talvez fosse porque já soubessem que o som chegaria. Parecia com o canto de uma cigarra, ou dezenas de cigarras, porém muito mais sutil, quase agradável aos ouvidos. Kenny olhou para cima, em volta, mas não podia ver nada. As árvores continuavam balançando suavemente ao sopro do vento, mas não havia nenhum animal. Os pássaros também não os vigiavam mais, exceto pela silhueta pequena de alguns que voavam no céu, muito acima das cabeças deles. Ike parou de andar também. Virou para trás, e Kenny enxergou seu sorriso iluminado, carregado de deslumbramento. Podia ver o brilho nos olhos escuros do garoto, como se Ike enxergasse algo que ele não estivesse vendo. Em poucos segundos, Kyle também se virou para trás, chamando o loiro para mais perto com a mão. Kenny obedeceu prontamente, acelerando o passo para se aproximar do rei, que levou as mãos aos braços do humano e se colocou por trás do corpo dele, como se tentasse posicioná-lo no lugar certo.

Estavam os quatro iluminados pela luz da lua, que servia como um holofote. Alguns pequenos flocos de neve logo começaram a descer lentamente do céu, que agora estava aberto sobre suas cabeças, imenso e infinito. Ike sorria como uma criança, abrindo os braços para receber os flocos que brilhavam sob o aconchego da luz do luar, e as nuances de brilho faziam com que eles parecessem pequenos pontinhos de luz.

-Puta merda. – Kenny sussurrou com toda honestidade do mundo, e Kyle riu baixinho.

Talvez porque “puta merda” fosse realmente a única descrição possível do que eles enxergavam.

Porque eram pontinhos de luz.

E não se moviam conforme o vento, não. Eles tinham vontade própria. Kenny franziu a testa quando um dos flocos de neve rapidamente desviou para o lado e flutuou apressadamente por entre as árvores, desaparecendo da visão. Foi somente quando um floco de neve caiu bem próximo do seu rosto que Kenny conseguiu enxergar um par de olhinhos pretos piscando dentro daquele pontinho branco. Por instinto, deu um passo assustado para trás, mas as mãos de Kyle continuavam em seus braços e o seguraram com certa firmeza, enquanto o rei soltava um riso baixo próximo ao ouvido dele. Kyle era consideravelmente mais baixo, então tinha que se colocar na ponta dos pés para que seu queixo alcançasse o ombro de Kenny.

-Calma. – Disse em um tom tranquilo, um pouco mais alto do que um sussurro, acariciando-o pelas laterais.

-O que é isso? – Perguntou silenciosamente, virando o rosto para ele.

-São Alfies.

Ike já estava com dois pousados no nariz, rindo pela cócega leve, deixando que outros descansassem sobre os dedos, mantendo as mãos próximas ao rosto para olhá-los. Agora Kenny podia ver que eles eram relativamente maiores do que flocos de neve, e não eram aquela obra fantástica da natureza que são os flocos de neve: mas sim, pequenas bolinhas flutuantes. Tinham luz própria. E piscavam com seus pequenos olhinhos que não eram muito maiores do que a cabecinha de um alfinete. Alguns orbitavam timidamente em torno de Stan, que também tinha em sua face um sorriso de menino, e o guerreiro erguia a mão para tocá-los com as pontas dos dedos rudes, porém delicados no toque. Era realmente difícil não sorrir diante daquela visão. Como a neve que cai, começaram a aparecer mais deles, alguns mais tímidos e assustados que se escondiam imediatamente ao perceber a presença de pessoas. Outros eram mais oferecidos.

As criaturinhas lembraram Kenny de insetos, embora não fossem barulhentos ou irritantes. Muitíssimo pelo contrário. Afinal, como pode algo feito de luz ser irritante? Eram geladinhos, Kenny podia sentir assim que eles se aproximavam. Kyle se colocou ao lado dele, e Kenny imediatamente passou o braço por cima dos ombros do rei, enquanto o observava erguer a palma para que os Alfies se aproximassem. Como se já tivesse intimidade com aquela mão, quatro ou cinco correram para a palma, enquanto pareciam brincar entre si. Kyle sorria com os olhos iluminados, olhando Kenny de relance algumas vezes antes de aproximá-los dos lábios, assoprando suavemente sobre os bichinhos. Os olhinhos deles se fecharam, e eles se sacudiram, liberando o que parecia ser um pólen dourado que era levado pelo vento como um dente de leão. Era isso que eles se pareciam. Kyle sorriu para o loiro e ofereceu a mão com os Alfies para ele, que sacudiu a cabeça timidamente. Mas isso não impediu os pequenos de flutuarem da mão do rei para o rosto de Kenny, que riu franzindo o nariz e abaixando a cabeça. Outros Alfies curiosos caíram sobre seu cabelo, como se quisessem sentir a energia diferente de um humano, e de fato, faziam cócegas.

-Eles gostam de você. – Kyle disse com um sorriso largo, como se aquilo fosse algum tipo de teste pelo qual ele tivesse que passar.

Ele estava aliviado.

* * *

No caminho de volta para o castelo, Ike passou dez minutos falando empolgadamente sobre a história dos Aethelwines na mitologia élfica, contando a Kenny sobre cada detalhe do que havia lido. Assim como seu irmão, tinha uma sede pelos livros. Aquilo não podia ser genético, visto que Ike havia sido adotado pelo rei e pela rainha quando ainda era um bebê. Ele nem mesmo era nascido em Zaron: vinha de um país do norte. Mas os dois, Ike e Kyle, eram extremamente semelhantes em muita coisa. Kyle caminhava com Stan um pouco à frente, e os dois conversavam baixinho enquanto Ike ria contando da primeira vez em que levaram Christophe para ver os Alfies e ele afastou com a mão o primeiro que tentou chegar perto, lançando-o para o outro lado da floresta. Desde então, os Alfies tinham muito medo dele. E por algum motivo, Ike achava isso engraçado. Parecia satisfeito que com Kenny havia sido diferente.

Quando se aproximaram do castelo, Kyle e Stan viraram de frente um para o outro e deram um abraço apertado. Stan lhe beijou a face carinhosamente, alisando as mãos pelas costas de Kyle, sussurrando algo e seu ouvido que fez o rei sorrir. Estavam se despedindo. Kyle virou em direção ao irmão mais novo, esticando a mão para que Ike se aproximasse.

-Venha, eu te levarei ao seu quarto.

-Não precisa, eu posso ir sozinho.

-Não discuta.

Com um grunhido frustrado de adolescente, Ike se despediu de Kenny e de Stan. Kyle lançou um olhar ao loiro, com um sorriso no canto da boca, esticou uma mão e acariciou sua face sem dizer nada. Logo se encontrariam novamente. Stan continuava de pé no mesmo lugar, com os braços cruzados para se proteger do frio, mas estava escuro demais para que eles pudessem ver a expressão de seu rosto, qualquer que fosse essa. Eles estavam afastados do castelo, próximos às enormes árvores que guardavam a entrada para o jardim imenso, pois tomariam caminhos diferentes a partir dali: Stan seguiria pelo caminho de pedra até sua casa, que ficava na morada do exército, uma pequena vila construída no mesmo terreno imenso do castelo com espaço próprio para o treinamento dos soldados. Gregory, que era general do exército, era seu vizinho. Ele teria que acordar seus homens às cinco da manhã. Ike e Kyle dormiriam no castelo, então atravessavam o jardim com os braços encaixados, discutindo sobre algum conflito desimportante que poderia envolvê-los por mais quarenta minutos, porque todos os Broflovski gostavam de discutir, segundo a lenda. E para Kenny, havia sido arranjado um barraco nos fundos do castelo (o que era bastante conveniente para os passeios noturnos, e o rei não queria de forma alguma que ele se mudasse para a vila), pretendia ir tomar um banho e depois seguir sorrateiramente para o quarto do rei, que era longe demais para o gosto dele. Kyle até chegou a fazer-lhe uma visita noturna de surpresa uma noite, o que foi bastante agradável, mas depois daquilo ele jurou que jamais transaria num colchão de molas novamente.

Enquanto pensava sobre isso, não notou que Stan continuava parado, com as mãos por dentro do poncho de lã que vestia, tentando aquecer as mãos revestidas por luvas marrons de couro. E o guerreiro o observava com um sentimento que, mais tarde, Kenny identificaria como “curiosidade”. Limpou a garganta ao perceber que era observado, umedecendo os lábios sem jeito.

-Obrigado por me convidar.

-Eu não te convidei. Ike te convidou. – Stan respondeu em uma voz séria, mas logo abriu um sorriso despretensioso.

-Eu sei, mas você foi... Legal. Eu sei que você não é parte do meu fã-clube nem nada.

Stan tirou a mão do poncho para coçar a cabeça, bagunçando os cabelos negros que ele precisava lavar urgentemente. Ofereceu a Kenny um sorriso de criança, sob a luz vigorosa da lua gigante.

-É, bem. – O guerreiro disse, encolhendo os ombros. – Kyle ama você. O quão ruim você pode ser, não é?

Kenny precisou rir.

* * *

Todas as noites, o caminho que ele fazia era o mesmo. Ele atravessava o imenso pátio dos fundos, pulava o muro baixo, passava o pequeno jardim de petúnias, subia uma pequena escada e chegava a um corredor estreito por fora do castelo, separado do jardim por uma pequena muretinha, que contornava a imensa parede de pedra e dava em uma pequena porta dos fundos, uma entrada para a cozinha, que os elfos que trabalhavam no castelo usavam durante o dia para carregar alimentos. Por vezes, encontrava Christophe vagando pelos fundos do castelo durante a madrugada. Ele morava perto do barraco de Kenny, em uma casinha muito menor e mais aprofundada na floresta, apesar do rei já ter tentado oferecer condições melhores de vida para o francês várias vezes. Kenny e Christophe trocavam um olhar, mas nunca diziam nada. Naquela noite, não o viu no jardim. De qualquer forma, aquela porta era esquecida pelo mundo: não era guardada por nenhum elfo, apenas era trancada pelos cozinheiros à noite. Era a porta que Kenny usava durante o dia também, pois era tratado como um trabalhador, e frequentemente encontrava Pip descascando batatas ali na varanda. Kenny se tornara amigo de todos os funcionários daquela cozinha, e de boa parte dos trabalhadores do castelo em geral. Kyle lhe deu a chave daquela porta, e pronto, ele tinha acesso total.

Era o mesmo caminho que pretendia fazer naquela noite. Já havia tomado banho, estava cheiroso, com roupas limpas, tremendo de frio e pronto para mergulhar naquela cama gigantesca e devorar o rei todinho. Era a única coisa em que conseguia pensar desde aquela tarde, na mesa do café, em que Kyle ficou brincando com o pé em sua virilha por baixo da mesa. Kenny esfregou o nariz e subiu a escadinha, esfregando os braços para se aquecer. Abaixo da mureta, só havia moitas. Moitas altas e grossas. Kenny achou ter ouvido algo se mexendo entre aquelas plantas, mas parou somente um segundo, franzindo a testa. Logo em seguida, já começou a procurar em seu bolso para alcançar a chave enferrujada. Era uma porta de madeira dividida, em que a parte de cima e a de baixo abriam separadamente. Kenny sempre abria somente a parte de baixo e se agachava para entrar no castelo.

Mas não chegou a colocar a chave na fechadura. Assim que parou em frente à porta, ainda buscando pela chave no bolso fundo, ouviu novamente um barulho. E dessa vez, virou o rosto para olhar em volta. Um par de mãos surgiu de trás da mureta, e dedos imundos agarraram a borda. Kenny arregalou os olhos e franziu a testa ao mesmo tempo, encostando as costas na porta sem saber o que sentir daquilo; se era assustador ou simplesmente bizarro. Em pouco tempo, o rosto de Kevin McCormick apareceu, e Kenny entrou em pânico.

Seu irmão mais velho subiu na mureta sem muita dificuldade (era treinado para esse tipo de coisa, afinal), sentando-se sobre a beirada, colocando os pés no chão. Estava um pouco ofegante e completamente coberto de terra, com partes da roupa rasgadas pelos galhos das moitas. Sua respiração pesada produzia uma fumaça ao colidir com o ar gélido, e ele sentia muito frio, era evidente. Kenny ficou completamente parado, em choque, enquanto o outro McCormick se endireitava e esfregava a testa (suava frio), colocando-se de pé com um sorriso quase grotesco nos lábios.

-Olá, irmãozinho.

Foi como se as palavras o tirassem do transe: Kenny correu até ele (embora a distância fosse muito curta entre os dois), olhando apavorado para os lados enquanto agarrava seu irmão pelo tecido da camisa fina, puxando-o sem saber ao certo para onde, empurrando-o contra a parede como se isso fosse escondê-lo.

-Caralho, Kevin! – Sussurrou em histeria. – Que merda você tá fazendo aqui???

Kevin McCormick não era um homem feio. Assim como Kenny, era muito parecido com o pai deles (nenhum dos filhos saiu a cara da mãe, nem mesmo Karen), mas algo que ele tinha de Carol McCormick eram os olhos. Era muito mais torto do que Kenny, e isso era um ressentimento que carregava desde a infância. Kevin tinha os ossos do rosto bem saltados era muito dentuço quando jovem, e embora suas feições tenham se desenvolvido em um homem relativamente belo, ele não tinha o rosto simétrico e os olhos maravilhosamente azuis de Kenny. A situação precária de pobreza resultou nos dentes de Kevin, que já não eram retos, ficando muito amarelados. Ele tinha uma cicatriz grande na testa, que ia até a sobrancelha, de um tombo de uma árvore em uma de suas missões. E Kenny nunca parou para observar isso em seu irmão antes, mas algo naquele sorriso largo, nos dentes amarelos e tortos, na cicatriz, na pele imunda de terra e especialmente no ar cínico de Kevin o deixava extremamente feio.

-Eu vim te ajudar, oras.

-Não! Caralho, Kevin. – Kenny disse, esforçando-se muito para manter a voz sob controle, soltando as vestes sujas do irmão para cobrir o rosto com as duas mãos, dando um passo para trás. – Não, você vai estragar tudo.

-Calma, moleque. – O mais velho disse, dando um tapa camarada nas costas dele. – Você ia procurar o cetro agora, não ia? Você vasculha o castelo toda noite. Cartman tá de saco cheio de te esperar, cheio das teorias conspiratórias. – O braço sujo de Kevin envolveu os ombros do irmão, que estava virado de lado, e puxou-o contra seu corpo com certa força, bagunçando os cabelos loiros dele com a mão livre. Kenny não reagiu. – Mas eu disse: não. Impossível. Meu garoto só é um pouco devagar, está aprendendo algumas coisas, ainda, não é, Kenny? Você não consegue fazer nada sem mim.

-Fala baixo, cacete. Puta merda, Kevin. Isso é... – E a voz morreu em sua garganta, deixando apenas um gesto perdido. Kenny esfregou os olhos e tentou se livrar do braço de Kevin, agoniado, com a respiração pesada. – Você tem que ir embora.

-Ei. O que é isso? Isso é jeito de receber teu irmão mais velho? Eu atravessei uma floresta gelada pra caralho, cheirando merda de cavalo, sem poder acender uma porra de uma fogueira e é assim que você me agradece?

-Você não tinha que ter vindo! Eu tô... Eu tô trabalhando nisso, ok? Vai embora.

-Kenny. O rei já tá de saco cheio de você “trabalhando nisso”, ele quer o cetro. Você sabe o que ele tá dizendo? Que você desistiu. Que os elfos foderam com a sua cabeça. – Ele fez uma arma com a mão e apontou para a própria cabeça em demonstração. – Que eles te fizeram lavagem cerebral.

Kenny não respondeu imediatamente a isso. A boca se manteve uma linha reta, que Kevin enxergou parcialmente pela iluminação fraca de uma tocha na parede e a lua que brilhava intensa sobre eles. Pode ver como ele engoliu seco, e imediatamente agarrou a gola da camisa para puxá-lo contra o seu corpo, com as sobrancelhas franzidas, fazendo com que seu rosto se parecesse com o de um neandertal. Kenny pressionou as mãos contra o peito dele, tentando se livrar do aperto violento da mão de Kevin, mas não foi muito útil e ele preferiu não lutar contra para não irritá-lo mais.

-Que merda é essa, Kenny? – Perguntou em um tom mais alto do que deveria, esquecendo-se da discrição. – Você ficou doido?! Não vai me dizer que o gordo estava certo.

-Não, não! Porra, Kevin, não é nada disso. Ninguém fez lavagem cerebral em mim. Só que... É complicado.

-Não tem nada de complicado. Ou você tá com a gente, ou não tá. Você esqueceu o que ele pode fazer com a Marjorine? Vai ficar aqui brincando de casinha com essas bichas até quando?! Você quer que a tua família inteira morra de fome, é isso?

-Kevin, eu não...

Antes que ele pudesse prosseguir, Kevin o empurrou com força contra a parede de tijolos, fazendo com que ele batesse a cabeça contra a pedra e emitisse um grunhido agoniado enquanto o irmão o pressionava com força. Kevin tinha uns braços de ferro, era famoso por eles. Kenny tinha as mãos livres, e poderia muito bem desnorteá-lo com um soco, mas algo no tom ferido da voz de seu irmão mais velho o deixou sem reação.

-Eu não vou permitir que você se torne um bostinha traidor. Nem sobre o meu cadáver. Onde é que eles escondem o cetro?! Você sabe, não sabe?! – ele gritou contra o rosto de Kenny, que pode sentir o bafo fedido da respiração dele. Kevin não escovava os dentes há dias.

Depois disso, tudo aconteceu muito depressa. Kenny tentou dizer que não sabia, fechando os olhos bem apertado com o desconforto e o fedor, mas em questão de cinco segundos, Kevin não estava mais agarrando seu colarinho e a respiração fétida dele não estava mais batendo contra sua face. E Kenny abriu os olhos em tempo de ver Christophe – que saiu do nada absoluto, até onde ele tinha visto – avançando em seu irmão como um tigre, derrubando-o em frente à porta, desnorteando-o com um murro forte na face que o fez soltar um gemido de dor, pressionando o joelho no abdômen dele com força. Recuperando os sentidos rapidamente, Kevin ergueu o tronco e soltou um palavrão ao qual Christophe não deu importância, e antes que o humano pudesse reagir, o francês agarrou pelo pulso e apertou a mão dele firmemente contra a porta, sacando habilidosamente uma faca em seu cinto para fincá-la com toda a força diretamente na palma aberta de Kevin McCormick.

E o grito esganiçado de Kevin ecoou a céu aberto, um grito que ele jamais dera em sua vida, do fundo dos pulmões, em desespero enquanto a lâmina afiada perfurava sua carne, rasgando entre os ossos, dilacerando os nervos e as veias, até que a ponta da faca fosse fincada na madeira da porta bem fundo, prendendo sua mão. Os olhos de Kevin estavam arregalados em horror com a realização, gritando continuamente enquanto olhava a própria palma ensangüentada, tentando mexê-la, o que só serviu para causar uma dor excruciante. Kenny continuava encostado na parede, agora com as pernas completamente bambas e uma mão pressionada contra a testa, assistindo à cena com os lábios abertos e os olhos arregalados em completo choque, sentindo os gritos de seu irmão estourando dentro dos tímpanos. E só quis que aquilo parasse. Que não fosse real.

Kevin segurava o próprio braço com força, dando com a cabeça contra a porta repetidas vezes, chorando sem perceber em meio aos gritos. Christophe ergueu o tronco, virando o rosto para cuspir no chão, limpando o suor da testa enquanto se virava para encarar Kenny com uma expressão séria, indiferente à agonia do homem no chão.

-Ele te machucou? – Perguntou ao loiro que o observava atordoado.

Aquela voz calma foi como um estalo no cérebro de Kenny, como se ele acordasse de um transe. E levou as duas mãos aos cabelos, alisando-os para trás antes de apontar para Kevin no chão, beirando o desespero.

-Puta merda, Christophe! Isso era mesmo necessário?!

O francês fiscalizou brevemente o corpo de Kenny, não encontrando nenhum ferimento visível, então se agachou ao lado do homem agonizando e o segurou com força pelos cabelos, puxando-os para trás com força, sem reagir ao choro esganiçado enquanto Kevin se contorcia no chão, gritando “minha mão” repetidamente.

-Vá chamar os guardas.

-O quê?! – Kenny respondeu, começando a tremer pela adrenalina, continuando a passar as mãos pelos cabelos molhados compulsivamente, sem conseguir fechar a boca. – O quê? Puta merda, o que você fez?

Christophe deu um suspiro pesado, explicando calmamente sob os gemidos desesperados de Kevin, que iam perdendo a força.

-Eu mobilizei o intruso. Vá chamar os guardas, Kenny.

-Filho da puta... – Kevin murmurou sem voz, com os olhos cheios de lágrimas que escorriam pelo seu rosto sujo, sacudindo a cabeça que estava puxada com força para trás, enfraquecendo. – Eu vou te matar, seu filho da puta... Me ajude, caralho! Por favor...

E Kenny McCormick foi apresentado com uma escolha.

Christophe, por algum motivo, parecia querer ajudá-lo. Não deveria ter ouvido muito da conversa, pois acreditava que Kevin estivesse lhe fazendo mal. Estava com as mãos ocupadas, segurando seu irmão que se contorcia de dor com a mão presa à porta, ambos à total mercê da decisão dele. Não seria difícil puxar aquela faca da mão de Kevin e enfiá-la no crânio de Christophe agora que ele estava totalmente desprevenido. Vingar o sangue do seu sangue, a carne da sua carne, unir-se à sua família e retomar a missão da qual ele jamais deveria ter se desviado. Pensou em sua irmã, a princesa, na vida maravilhosa e luxuosa que ela tinha no castelo, no quanto ela era feliz, amada e respeitada pelo povo. Pensou no povo também, em como o retorno do cetro poderia beneficiar seu reino. Mas ele não sabia disso. Não sabia do que o poder do cetro faria com a mente desestabilizada de Eric Cartman, que era um opressor, que traíra tudo no qual eles acreditavam quando lutavam lado a lado. Cartman sempre discursava sobre como o cetro era do povo humano e que seria usado pelo bem de seu reino, mas Kenny não acreditava nele. Não sabia mais no que acreditar. Não acreditava nem mesmo em seu irmão, que estava prestes a vomitar de dor.

Mas Kenny acreditava em Kyle.

Enquanto ficou ali parado, em pé, letárgico, pôde ouvir o grito distante com um sotaque francês pesado (que ficava ainda mais pesado quando ele ficava nervoso):

-Vamos, seu imbecil, mexa-se!

E aquele foi o empurrão que faltava para que o loiro desse as costas a eles e corresse. Corresse o mais rápido que suas pernas pudessem carregá-lo, contra o vento frio, escorregando na camada fina de neve, rezando para que aquele francês completamente insano não torcesse o pescoço de seu irmão enquanto ele estivesse longe, gritando no meio da noite escura:

-Guardas!

E a poucos metros dali, sobre os galhos grossos das árvores altas que contornavam o jardim dos elfos, escondido entre a densa folhagem, o par de olhos atordoados de Craig Tucker assistia à cena toda, com o coração disparado no peito e os lábios entreabertos, com milhares de pensamentos terríveis explodindo em seu cérebro. Em meio ao caos, Craig pensou em pular da árvore e ajudar Kevin. Mas algo o manteve imóvel. E quando viu Kenny correndo gritando pelos guardas que levariam seu irmão à torre, Craig soube exatamente porque seu instinto o imobilizou: precisaria de reforços. Porque Kenny McCormick era um homem perdido.



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