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História Rex Meus - Beije o sapo


Escrita por: caulaty

Capítulo 5 - Beije o sapo


Kenny levou um tapa.

Ele não podia acreditar durante os primeiros segundos. Bem, ele era um homem bonito. Sempre teve consciência disso, sempre usou isso a seu favor, então ele tinha certeza absoluta de que era atraente. Nunca precisou lidar com um tapa depois de um beijo, por mais inconveniente que ele fosse nas suas conquistas, porque tinha aparência e tinha charme. Cabelos dourados, dentes retos, olhos incrivelmente azuis, rosto simétrico, maxilar definido, era alto e forte como um homem deve ser. As mulheres podiam até não gostar muito dele, mas não sabiam resistir. Talvez o problema fosse esse: homens podiam ser muito mais complicados que mulheres, contrariando o senso comum. Pelo menos os homens pelos quais Kenny se interessava. Eles tinham todas aquelas características femininas insuportáveis somadas a um orgulho masculino incomparável.

Ele piscou seus olhos azuis de forma confusa, desorientada. Não pela dor, apesar de sua bochecha estar vermelha e ardendo um pouco, mas a confusão de Kenny era conceitual. Ele estava muito certo de que era isso que Kyle queria. Aparentemente, não era.

. . .

48 horas antes do tapa, Kyle atravessava o pátio com pressa de chegar ao outro lado, arrastando o sobretudo longo pelo chão de pedra. Apertava o cetro prateado em seu punho e pisava com força no chão, mantendo o cenho franzido ao olhar para frente, não se focando em nada específico. Estava tão concentrado no debate que acontecia na sala de conferência para a qual ele caminhava, que sequer percebeu a presença de Christophe observando-o desde que ele desceu a escadaria do castelo. Estava particularmente frio aquela manhã, mas o francês continuava vestindo uma regata marrom com seus braços musculosos de fora, como se não sentisse frio algum.

Kyle passou por ele sem percebê-lo, mas Christopher esticou o braço para envolver o tronco do rei, impedindo-o de prosseguir em frente, puxando-o contra o seu corpo de surpresa. Kyle se virou irritado, até perceber que era ele. Então colocou a mão em seu peito e sorriu timidamente, dando um passo para trás, mas a mão de Christophe continuava em torno da sua cintura.

-Posso perguntar aonde vossa majestade vai com tanta pressa?

O céu estava tão bonito aquela manhã. A maior parte do castelo dos elfos era de área externa, então Christophe havia tirado o dia para limpar suas armas ao sol, embora continuasse se escondendo na sombra das árvores. Não gostava de sol. Havia uma quantidade extraordinária de facas dispostas sobre o banco de pedra, secando ao sol enquanto ele fumava. Mas havia apagado o cigarro pouco antes de Kyle passar por ele. Sabia que o rei não gostava da fumaça.

Enfim, retirou a mão da cintura dele. Kyle cruzou os braços, deitando a cabeça um pouco de lado para observar a expressão do homem.

-Você viu meu irmão?

-Não, senhor. – ele respondeu sem nem pensar a respeito.

-Pois é. Ninguém sabe onde ele está. Eu preciso ir a uma reunião do conselho, mas se você puder ficar de olhos abertos, eu agradeço muito. O Ike vive desaparecendo ultimamente. Eu não tenho tempo pra isso. Eu fico tão furioso quando ele faz essas coisas, parece que ele não entende que nós estamos em guerra, eu...

-Kyle. – as mãos sujas de Christophe cuidadosamente envolveram os braços do ruivo, abaixando a cabeça para colocar seus olhos na altura dos dele, umedecendo os lábios antes de continuar. – Relaxe. Tenho certeza de que ele está bem. Logo ele aparece.

Após um suspiro profundo, o rei assentiu com a cabeça, levando a mão ao antebraço de Christophe e acariciando em um gesto de agradecimento.

-Eu preciso ir. Estão esperando por mim.

. . .

A vista da sala era de tirar o fôlego. Era localizada no andar mais alto do palácio, cercada por janelas imensas em todas as paredes, então era possível ver todo o bosque, que parecia um manto verde, e a catarata de água que brilhava à luz do sol daquela manhã. A vista era bela o bastante para acalmar os nervos de todos os indivíduos tensos dentro da sala. Estavam todos sentados a uma mesa longa de pedra, Kyle sentado na ponta, com o queixo apoiado na mão e o olhar focado no centro de mesa, a coroa pendendo para o lado na sua cabeça, pensativo.

-Majestade. – Wendy chamou, timidamente.

Kyle levantou apenas os olhos para ela. Manteve o resto do corpo imóvel. Não respondeu, mas encarou Wendy com uma atenção inquebrável para que ela soubesse que ele estava ouvindo. Encarou-a de tal forma que ela chegou a se sentir intimidada, o que pouquíssimo acontecia, então ela limpou a garganta e olhou para Token do outro lado da mesa em busca de ajuda.

-O rei de Kupa Keep não parece interessado em negociações de nenhuma natureza. – Token disse em uma voz firme, calma como sempre. – Ele está bastante disposto a derramar sangue.

-É claro que está. – O rei murmurou baixinho, olhando para baixo.

Após mais alguns segundos de silêncio, ele bateu as duas mãos na mesa e se levantou da cadeira, empurrando-a para trás com a perna. Inclinou o tronco sobre a mesa de pedra, com as duas mãos espalmadas, observando os rostos dos membros do conselho com atenção. Confiava em cada um desses elfos cegamente e não podia deixar de notar o olhar de preocupação em seus semblantes.

-Se Cartman quer sangue, ele terá sangue. Entregar o centro para ele não é uma opção. Ninguém que o chame de “o cetro da verdade” merece tê-lo. Ele é um garoto grande e rebelde com poder demais nas mãos. – Ele apontou o dedo indicador e bateu com ele contra a mesa de forma inconsciente enquanto falava. – Alguém discorda disso?

-De forma alguma, majestade, mas temos uma questão... Um tanto pendente. – o loiro ao fim da mesa disse em voz alta, erguendo o queixo, roçando os dedos pelo maxilar de forma pensativa.

-Sim, Gregory?

-O que vamos fazer com o humano capturado? Ele é de alguma utilidade? O rei de Kupa Keep daria algo para tê-lo de volta, talvez. Se é o irmão da princesa realmente.

O homem que perguntava vestia uma bata alaranjada e tinha o cabelo impecavelmente arrumado, nenhum fio fora do lugar. Falava sempre mais alto e mais eloqüente, gesticulando com uma das mãos e erguendo uma das sobrancelhas para fazer seus argumentos, mantendo um tom de arrogância na fala.

Antes que Kyle pudesse abrir a boca para responder, Wendy se inclinou sobre a mesa para enxergar melhor Gregory, interrompendo qualquer tentativa de resposta do rei. Wendy era a mulher mais inteligente que qualquer elfo já conhecera, o que compensava tremendamente o seu gênio explosivo. Ela e Gregory frequentemente discutiam nas reuniões.

-Queremos realmente que Cartman saiba que ele está aqui? Isso pode ser insensato se a história do prisioneiro for verdadeira. Porque é um homem que poderíamos usar a nosso favor, que acompanhou o lado do reino de Kupa Keep até certo ponto. Como Christophe. Ele pode ter informações valiosas se não o entregarmos.

-Está sugerindo que ele passaria para o nosso lado? – Gregory perguntou com um sorriso de divertimento, beirando o sarcasmo, com o cotovelo dobrado sobre a mesa. – Isso não faz sentido algum. Primeiramente, porque ele não está dizendo a verdade. E as informações que ele tem jamais seriam passadas por vontade própria.

-Eu não teria tanta certeza disso. – Token interveio. – Tivemos uma conversa muito semelhante sobre Christophe um dia, você se lembra, Gregory. E eu concordei com você que deveríamos cortar a cabeça dele e acabar logo com isso. Veja como tudo aconteceu. Todos sabemos que Cartman se trata de um rei opressor. É possível que esse rapaz... Kenneth? É possível que ele seja tão contrário aos métodos do rei de Kupa Keep quanto nós. Só os deuses podem imaginar o que aconteceria se Cartman colocasse as mãos no cetro. Se fizermos esse rapaz compreender isso...

Gregory sacudiu a cabeça negativamente, massageando as têmporas. Henrietta se sentava bem à frente dele, e os dois trocaram um olhar silencioso de desaprovação, embora a expressão no rosto da mulher não fosse decifrável. Nunca era. Henrietta era a que menos se manifestava durante as reuniões, pois não gastava seu tempo especulando. Quando dizia algo, já estava absolutamente certa de sua opinião. Kyle admirava muito isso nela.

Após uma longa pausa, o próprio rei endireitou o tronco e ajeitou a coroa na cabeça, coçando a ponta do nariz de forma pensativa, cruzando os braços em seguida.

-O que eu quero que vocês ponderem é o seguinte. – ele finalmente disse. – Este é só um homem. Ele não é importante o suficiente para que Cartman mande um exército atrás, não corremos risco mantendo-o aqui, sendo ou não irmão da princesa. Mas talvez Lady McCormick o queira de volta. Só saberemos das intenções do reino de Kupa Keep se enviarmos uma mensagem informando ao palácio que o capturamos, aí saberemos se ele tem valor ou não como moeda de troca. Meu palpite é de que Cartman dirá que podemos matá-lo se quisermos, de uma forma ou de outra. Talvez isso nos ajude a convencê-lo sobre a índole do rei dele e as informações comecem a aparecer, caso ele esteja se mantendo fiel.

-E se ele não souber nada, realmente? E se for apenas um andarilho, se nem tiver relação sanguínea com a princesa? – Wendy perguntou.

-Ele tem. Coloquem um vestido nele e não conseguirão distingui-lo da Lady McCormick, acreditem. Quanto a isso, ele não está mentindo. Eu tenho certeza.

E tinha, realmente. Kyle já havia estado na presença da realeza dos humanos em algumas ocasiões. Não havia um pingo de dúvida de que aquele homem era um McCormick, e sabia que em breve todos os membros se convenceriam disso. Agora, até onde isso queria dizer que Kenny tinha informações sobre o castelo e sobre a guerra, Kyle não sabia.

-Stanley tem me apresentado as estratégias de ataque para o confronto na colina de Loveypie. Gregory tem acompanhado comigo. E Stan treina nosso exército diariamente, nossos homens são fortes. Preparados. Estamos confiantes de que isso será suficiente para que Cartman perceba que não é capaz de lidar com uma invasão às nossas propriedades sem perder todo o seu exército. – o rei prosseguiu, soando seguro em suas palavras, lançando um olhar a Gregory, que assentiu com a cabeça em afirmação.

-Eu lamento lembrá-lo, majestade. – Wendy disse em um tom baixo. – Mas não estamos lidando com um homem justo. Cartman é traiçoeiro. Deve estar contando com outras formas além de uma invasão ou da nossa colaboração.

-Esse prisioneiro é um exemplo disso. – Gregory disse, apontando na direção da mulher de longos cabelos negros. – Ele foi enviado em busca do cetro. Não tenho dúvida acerca disso, majestade.

-Eu tenho. – Token disse diretamente ao loiro. – Ele foi capturado à luz do dia. Ninguém que não quer ser encontrado sai em uma missão em território inimigo à luz do dia.

-Você confia nele, majestade? – Henrietta perguntou do outro lado da mesa, manifestando-se pela primeira vez. Ela estava recostada confortavelmente na cadeira, observando uma de suas unhas lascadas enquanto falava, como se não desse qualquer importância à resposta. Como se sequer tivesse sido ela a fazer a pergunta. Mas Kyle não tinha dúvidas do quanto ela estava atenta.

Naturalmente, ele precisou pensar a respeito, não desejando se precipitar na resposta. Aquela era uma questão que o rei ponderava há dias, já. “Confiança” era um termo muito forte para se usar com qualquer desconhecido, especialmente um desconhecido que se mantém trancafiado em uma jaula por sua presença no lugar errado, na hora errada, fazendo algo extremamente suspeito. Não, Kyle não confiava nele. Mas não era o tipo de pergunta que ele gostaria de responder somente com um “não”, porque uma parte muita grande do rei acreditava naquele homem.

Então ele limpou a garganta novamente, umedecendo os lábios.

-Eu acredito nele. – Fez uma pausa. – Mas não vou recomendar a nenhum de vocês que se precipitem.

. . .

24 horas antes de Kenny levar o tapa, ele estava sentado no chão da mesma cela, próximo às grades, com as costas apoiadas na parede, mastigando a maçã que o jovem de cabelos negros havia acabado de lhe entregar. O rapaz havia se ajoelhado próximo ao prisioneiro, embora estivessem separados pelas grades, ouvindo atentamente ao que o homem dizia.

-Eu já fui um príncipe como você, sabia, Ike? – Kenny perguntou antes mesmo de engolir, ainda mastigando.

Os olhos do garoto se abriram em curiosidade. Há quase uma semana, todas as manhãs (assim que o sol nascia, quando boa parte do reino ainda dormia profundamente), o infante vestia suas botas e corria para o topo da torre sorrateiramente, levando algum alimento para o prisioneiro. Ouvia os guardas conversando sobre o homem preso no topo da torre, como ele estava passando fome e ficando assustadoramente magro. Ike não queria que um homem morresse de fome, não importava quem fosse. No começo, apenas passava a comida (frutas, em geral) entre as barras e saía correndo, até o dia em que Kenny acordou com a chegada dele. Ike nunca tinha visto um prisioneiro de verdade.

Agora, ansiava para que o sol nascesse logo e ele pudesse ir escondido até a torre conversar com ele. Nunca havia conhecido alguém como Kenny. O único humano com quem tivera contato durante a vida era Christophe, de quem gostava muito, mas que podia ser muito esquisito e cuspia no chão com frequência. Kenny era diferente. Era mais sorridente – apesar de não ter todos os dentes, chegou a contar a história de como arrancara o próprio dente mole com a mão depois que foi preso – e mais bem humorado, mais simpático com ele. E não cuspia no chão. Pelo menos nunca o fez na frente de Ike.

-Isso é mentira. Você é todo sujo, não pode ser um príncipe.

Já fazia alguns dias desde seu último banho, dado por Pip, e ele realmente voltou a acumular sujeira na pele. Nada comparado a antes, é claro. Por isso soltou uma gargalhada.

-Bom, você também ficaria imundo se não te deixassem tomar banho. Seu irmão tem alguma regra esquisita sobre a minha higiene. Mas houve uma época em que eu morava num castelo como você.

Era difícil acreditar que aquele adolescente fascinado sentado à sua frente era irmão de Kyle. Os dois não tinham absolutamente nenhum traço físico em comum, embora houvesse uma semelhança na energia dos dois. Não era exatamente o jeito de falar que era parecido, mas sim o entusiasmo, a luz que eles emanavam. Kenny deu mais uma mordida na maçã, rindo da cara de surpresa do garoto.

-Quantos anos você tem, Ike?

-16. Eu comecei a treinar esse ano. Eu sempre fui muito bom com o arco e flecha, mas meu irmão só me colocou em treinamento esse ano, oficialmente. Eu quero ser guerreiro. Como o Stan.

-Você é tão jovem. Seu irmão também, ele é tão jovem pra ser um rei.

O brilho nos olhos do garoto diminuiu um pouco, e por alguns instantes, Kenny não entendeu porque parecia que tinha dito algo inapropriado. Mordeu a maçã enquanto observava atentamente o sorriso triste que brotou nos lábios de Ike.

-Cartman matou nosso pai. – foi tudo o que ele disse.

Kenny passou alguns segundos sem mudar de expressão enquanto mastigava, apenas piscou. Ao engolir, passou a língua pelos dentes e quebrou o contato visual com Ike, suspirando profundamente.

-Cara, ele é um filho da puta.

-Nem me fale.

A porta se escancarou de repente, fazendo com que os dois pulassem de susto. Ike se virou com o coração acelerado para ver Christophe com uma mão em cada lado da porta e um olhar furioso no rosto, observando os dois com o cenho franzido antes de perguntar:

-Que merda você está fazendo aqui?! Como você passou pelos guardas, seu ratinho?

Ike separou os lábios para argumentar, mas nada saiu. Christophe podia ser profundamente intimidador quando queria, mesmo com ele, para quem jamais faria mal algum. Em algum nível, Ike sabia disso, mas isso não o impediu de gaguejar, sem conseguir encontrar uma explicação coerente para o homem que marchava em sua direção. Christophe o agarrou pela gola da camisa para que o garoto se colocasse de pé, com os olhos fixos em Kenny o tempo inteiro.

O prisioneiro não tinha certeza do que fazer com a maçã em sua mão. Christophe já tinha visto, era tarde demais para esconder, mas não queria que o garoto se encrencasse por isso. Esticou o braço em protesto quando o homem puxou Ike pela camisa.

-Cara, deixa o garoto em paz, ele não fez nada de errado.

-Você cala a boca. – Ele respondeu cuspindo, apontando o dedo em direção a Kenny. Depois, voltando a olhar para Ike, com um olhar mais sutil. – Seu irmão está preocupado, Petit. – Deu dois tapinhas no ombro do garoto, mandando-o em direção à porta. – Você não deveria estar subindo aqui. Não é seguro.

Sem protestar mais, e sem olhar para Kenny, o garoto assentiu com a cabeça e correu em direção à porta. Kenny se sentiu mal por ele. Mordeu a maçã uma última vez, enchendo mais a boca porque se preparava para que o homem arrancasse a fruta de suas mãos, mas Christophe não o fez. Deu uma última olhada no loiro sentado no chão, apertando o maxilar antes de lhe dar as costas e seguir atrás de Ike.

. . .

 

No mesmo horário do dia seguinte, logo depois do nascer do sol, o outro irmão Broflovski apareceu – parecendo extremamente furioso – na porta de sua cela. Kyle abria o cadeado de forma barulhenta, empurrando a porta com força e adentrando a cela de Kenny em passos pesados, segurando o loiro pela camisa com as duas mãos, puxando-o com força para levantá-lo do chão. Kenny nunca dormia na cama. Ainda estava desorientado, sacudindo a cabeça de forma confusa para tentar recuperar os sentidos, mas Kyle já o chacoalhava e gritava próximo ao seu rosto:

-Você estava aceitando comida do meu irmãozinho?!

-O quê? – Kenny perguntou pouco antes de ser atirado contra o chão novamente.

Kyle deu as costas para ele e passou a mão entre os cabelos, bufando irritado. Kenny piscou algumas vezes para se localizar, com dificuldade de separar as pálpebras, cobrindo com a mão o raio de sol que entrava pela janela e incomodava suas pupilas. Pôde enxergar o ruivo furioso, que não usava a coroa e parecia recém-saído da cama, apontando um dedo em sua direção.

-Faltou alguma coisa pra você? Porque eu juro que eu faço o possível, eu te dou comida por conta própria, te limpo, te dou roupas novas, faço tudo que eu posso para que não cortem a sua cabeça, mas mesmo assim você se aproveita de um garotinho que não tem nada a ver com isso, para que ele te traga comida? Você o impressiona? Eu não vim torcer o seu pescoço ontem porque eu tenho mais com o que me preocupar agora, mas-

-Ei, ei, ei, pera lá. – Kenny respondeu no mesmo tom alto, erguendo a mão em processo. Apoiou uma das mãos no chão para tentar erguer o corpo, ainda cambaleando de sono, com os sentidos alterados. – Eu não fiz nada. Ele trazia comida enquanto eu dormia, eu nem sabia que era seu irmão, que era um moleque. Não o convenci a fazer nada. Ele nem é uma criança, se você quer saber, não é fácil assim de tapear.

Kyle franziu a testa e se aproximou dele em uma velocidade que, para ser perfeitamente honesto, o assustou um pouco. Não era exatamente medo de apanhar, porque isso Kenny nunca sentiu. Tinha uma tolerância alta à dor e já levou surras infinitamente piores do que qualquer uma que Kyle fosse capaz de dar. Mas o ruivo estava tão furioso e se aproximou dele tão rápido, como um felino selvagem, e o instinto de Kenny foi andar para trás.

O dedo do ruivo logo estava apontado bem próximo do rosto dele.

-Não faça com que eu me arrependa de te defender, Kenny. – ele sussurrou mais baixo, mas com a mesma entonação raivosa.

-E por que caralhos você defende?! – O loiro retrucou, não mais intimidado, inclinando o tronco para colocar o rosto na altura do dele como se quisesse mostrar que era maior. – Eu nunca te pedi merda nenhuma!

Houve alguns segundos de silêncio, os dois respirando pesado, os rostos próximos, os olhos vidrados um no outro. Sem pensar em mais nada, assim que Kyle repartiu os lábios para responder alguma coisa, Kenny passou os dois braços em torno da cintura dele e o abraçou contra o próprio corpo bruscamente, mantendo a mesma expressão séria enquanto observava os olhos confusos de Kyle, mas já era muito tarde pra recuar. Deslizou as mãos pelas costas do rei, sentindo as curvas finas do seu corpo em seus braços, seu coração acelerado batendo junto ao de Kenny. Uma das mãos rudes do prisioneiro subiu aos cabelos ruivos, tão macios e cheirando a orquídea. Estava perto o suficiente para inalar e era intoxicante. O aperto da mão segurando aqueles cachos trouxe o rosto de Kyle para mais perto, e o rei se mantinha sem reação, observando-o com os olhos entreabertos, respirando forte contra o seu rosto.

Os lábios de Kenny se partiram, roçando de leve a boca macia de Kyle. Podia sentir o toque da pele branquinha do rei, suas mãos subindo pelo peito do loiro, segurando o tecido da camisa como fez ao acordá-lo, com mais vontade e menos raiva dessa vez.

O beijo não foi lento. Não foi cuidadoso, não foi romântico. Os lábios de Kenny repartiram os de Kyle à força, sua língua buscou espaço ao invadir a boca do ruivo, apertando-o mais entre os braços, gemendo abafado pela respiração ao provar o gosto da saliva dele, roçando sua barba grosseira contra aquela pele sensível. Usou a mão nos cabelos dele para deitar sua cabeça de lado levemente, enroscando sua língua à de Kyle com os olhos fechados, ganhando mais espaço conforme o rei correspondia ao que acontecia rapidamente, alisando seu peito de forma quase instintiva com as duas mãos. Kenny deitou a cabeça para o lado oposto, roçando e encaixando os lábios nos do ruivo, espalmando a mão em suas costas e pressionando o tronco dele contra o seu, enquanto soltava seus cabelos e descia a outra mão pela lateral do seu pescoço, explorando sua boca de forma agressiva.

Tão rápido quanto aconteceu, terminou.

Antes que o loiro se desse conta do que estava acontecendo, Kyle o empurrou com as duas mãos no peito e bateu com a mão aberta bem forte contra sua bochecha.

De alguma forma, Kyle parecia mais furioso do que antes.



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