Jonathan P.O.V.
Quando ficamos cansados e entediados, voltamos ao estacionamento para buscar o carro, e de lá, a levei para casa. Chegando em minha residência, corri para o quarto e logo liguei para Morgan. Chamei três vez e ele só atendeu na última.
- Que?! - Atendeu, em tom grosso.
- Morgan, precisamos conversar - Desesperado, fui direto ao ponto - Aquilo que aconteceu na mercearia foi ridículo, me deixe explicar!
- Eu não quero que você me explique nada, Jonathan! - Exclamou, logo depois, bufou.
- Morgan, por favor! - Implorei e pude escuta-lo murmurar algo do outro lado da linha - Desculpa!
- Que saco! - Gritou - Tá, tá!
- Obrigado! - Agradeci, um tanto aliviado - Podemos nos encontrar, então?
- Podemos...
- Posso ir até sua casa! - Dei uma sugestão - Fica bom assim?
- É, tanto faz... - Concordou, sem se importar muito - Você sabe onde é, tchau! - Desligou, me impedindo de falar qualquer outra coisa.
Ele realmente está irritado comigo, isso é muito claro. Fiquei com medo que ele nem sequer atendesse minhas ligações, porém, ele respondeu às minhas chamadas e me deu a chance de explicar a burrada que fiz. Ótimo, não vou desperdiçar isso!
Voltei para o carro e fui rápido ao encontro com ele. Cheguei em menos de quinze minutos, desci do veículo quase caindo, entrei na recepção e fui para o elevador até o décimo quinto andar. Saindo para o corredor, procurei o seu apartamento, que possuía uma porta branca enorme.
Toquei a campainha e quem atendeu foi uma mulher de cabelos bem escuros e olhos azuis; a mãe de Morgan provavelmente.
- Oi, Jonathan! - Saudou ela com um sorriso.
- Olá... como sabe o meu nome? - Perguntei surpreso.
Mesmo que eu estivesse ficando com o filho dela, nunca havia visto os pais dele pessoalmente. A vez que o busquei e depois o trouxe de novo para casa, eu o deixei na portaria.
- Morgan me contou sobre um menino bonito de cabelos castanhos e olhos castanhos - Ela riu - Entre!
- Ah sim! - Sorri e entrei com passos leves, mostrando educação - Obrigado.
- Ele está tomando banho - Avisou, sentando no sofá - Eu estava assistindo TV, quer se juntar a mim enquanto ele não termina?
- Pode ser - Dei de ombros uma vez e sentei no sofá não tão próximo a ela - O que ele falou de mim?
- Muitas coisas, não me lembro de todas elas - Ela olhou para o teto cheio de luzes aconchegantes - Disse que era muito bonito e engraçado, mas...
- Mas? - Arqueei a sobrancelha.
- Hoje depois do almoço, ele voltou batendo os pés, jogou os pacotes de doces que comprou no chão e disse que te odiava - Sorriu nervosa.
- Ah... eu fiz uma besteira, sabe? Vim aqui justamente para resolver isso - Expliquei, fitando a TV - A propósito, qual é o seu nome?
- Belle Desiré - Respondeu olhando bem para mim - Se quer saber meu nome completo é Belle Desiré Roux Moore. Estranho, não?
- Achei bem legal na verdade. Você é francesa? E como posso te chamar?
- Sim, eu sou. Pode me chamar de Desiré, acho. Você não é de Los Angeles, certo?
- Não mesmo, dá pra perceber, é?
- Um pouco - Senhora Desiré balançou a cabeça de um lado para o outro e depois olhou para a porta do corredor - Olha só quem saiu do banho!
Era Morgan, que estava encostado na batente da porta com uma toalha branca enrolada na cabeça como as mulheres fazem quando lavam o cabelo. Ele usava um pijama preto de manga comprida e uma calça longa de barra justa. Adoro perceber os detalhes de suas vestimentas, mesmo que seja um simples pijama. Ele tem o poder de ficar extremamente sexy em qualquer roupa, incrível.
Que tesão!
- Vai lá - Ela olhou para mim e indicou com a cabeça que eu deveria ir.
- Foi muito legal conversar com a Senhora - Sorri de olhos fechados - Com licença!
Fui depressa até ele, que me encarou sério e andou para o seu quarto. Entramos e disparei a falar.
- Morgan, me desculpe pelo o que aconteceu... - Ele fechou a porta com força, causando um estrondo que me impediu de continuar a falar.
- Tá... - Se virou pra mim - Pode continuar!
- Eu fui um idiota... - Abaixei a cabeça.
- Eu sei que você foi, não precisa falar isso - Ele revirou os olhos e sentou na cama, deixando seus pés juntos e um tanto encolhidos.
Foi então que percebi, que sua meia era preta com estampa de vários dinossauros verdes. Não consegui segurar o riso. Isso é muito fofo. Amo os pés dele, são tão pequenos e delicados. Já falei que tenho vontade de morder esses dedinhos?
- Tá rindo do que? - Morgan cerrou os olhos.
- Sua meia - Apontei - São muito fofas, combina com você.
- Está me chamando de fofo?
- Estou...
- EU ESTOU BRAVO! - Ele saltou da cama - Você não pode me chamar de fofo em uma situação dessas!
- Desculpa, mas eu não resisti! - Fiz um gesto com as mãos para que ele se acalma-se.
- Não me manda ficar calmo! - Ele bateu nas minhas mãos com força. Tipo um gato raivoso.
Pensem num tapa doido... pensaram? É, doeu pra caralho!
- Morgan! - Massageei as mãos - Para de drama!
- Jonathan! - Ele colocou as mãos na cintura - Para de ser idiota!
Esse menino é muito espertinho. Ele sabe provocar as pessoas.
- Doeu, sabia?! Doeu muito! Eu não vim aqui pra te bater, cara!
- E você acha que não doeu quando eu fui humilhado por aquela loira enquanto você só olhava? - Rebateu.
- Morgan, eu vim aqui justamente pra explicar isso, então vamos conversar direito.
- Tá... - Ele coçou a nuca - Pode falar.
- Ok, obrigada - Olhei para a cama - Senta que tem muita história.
Ele caminhou vagarosamente e sentou.
- Eu queria o seu número e perguntei pra ela. Falei isso pra você, lembra? Você até estranhou como diabos eu tinha conseguido seu número.
- É verdade, lembro sim!
- Mas disse que só daria se eu saísse com ela. Então, aceitei, porque eu queria muito sair com você. Ela me fez prometer!
- Ah, entendi... e?
- Ela te humilhou porque te acha esquisito. Eu não queria que me achassem esquisito também, por isso não fiz nada, para não acharem que estávamos juntos. Só que me arrependi... - Sorri triste - Me perdoe, fui um baita de um idiota e ainda por cima um covarde.
Morgan suspirou e fitou o chão.
- Eu vou ser trouxa e vou te desculpar... - Olhou para mim - Está perdoado!
- Mesmo?! - Segurei um grande sorriso.
Ele fez que "sim" com a cabeça.
- E por que disse que vai ser trouxa? - Franzi o cenho lembrando de sua frase.
- Porque eu sempre sou trouxa e dou várias chances para os outros. Dai sabe o que acontece? - Entortou os lábios.
- ...o que? - Perguntei receoso.
- Eu me fodo! - Morgan sorriu simplesmente.
Já deu pra perceber que ele ainda não confia em mim nem um pouco. E vai demorar muito para que ele se intime de verdade comigo. Morgan não deve confiar em uma pessoa sequer. Nem em seus próprios pais. Ele deve ter "quebrado a cara" inúmeras vezes confiando em pessoas que não se deve fiar, e agora, não consegue confiar em pessoas boas. Todos erram, por isso "confiar" é um tanto relativo. Ninguém pode se doar completamente, mesmo que conheça a pessoa. Somos seres humanos e temos essa natureza sacana. Nem sei como ele se deixou me beijar. É de se ver que ele tem medo das pessoas. Morgan está tão carente de carinho e amor, que está "chutando o pau da barraca" e aceitando qualquer coisa, mesmo que ele se prejudique no final. É por isso que ele se aproximou. Morrendo de medo, mas se aproximou.
Fico pensando se os pais dele sabem pelo que ele está passando. Morgan tentou se matar e deve estar fingindo que está tudo bem para não preocupar seus familiares. Ele é o tipo de pessoa que esconde o que realmente sente.
Sem dúvidas, ele precisa de ajuda psicológica!
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