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História Ripped Away - So this is christmas (Gerard)


Escrita por: monr0e

Notas do Autor


Ho ho ho, terráquixs! *Every snowflake is different just like you playing in the background*
É, só isso mesmo. Boa leitura e até lá embaixo :^)

Capítulo 21 - So this is christmas (Gerard)


New York, 2015

Se tinha uma coisa que eu estava, essa coisa era cansado. Sair para fazer compras em uma época tão próxima do Natal com certeza não tinha sido a ideia mais inteligente do mundo, principalmente quando se vive em uma cidade grande como Nova Iorque, que tem umas oito milhões de pessoas. Nossa, como eu sentia falta das ruas desertas de Jersey. Eu não gostava muito de multidões, me sentia sufocado no meio de tantas pessoas. Até conseguia fazer um esforço quando se tratava de shows. Mas quando se atinge a idade adulta, tem que enfrentar essas situações que falando, parecem tão bobas e simples. Hoje foi um desses casos.

Fui a uma loja especializada em objetos para artesanato que estava com cinquenta por cento de desconto. Cinquenta. Por. Cento! Meu objetivo inicial era só comprar algumas canetas e lápis de cor novos, já que os meus estavam velhos demais. Mas eu acabei me empolgando e levando algumas tintas, telas, e argila. Eu nem sabia o que fazer com a maldita argila, mal sabia como esculpir ou moldar alguma coisa, mas como eu disse, cinquenta por cento de desconto. Ah, o doce espírito capitalista. Okay, não era para tanto, eu sempre quis fazer uma escultura, agora era a hora perfeita de começar a praticar, eu precisaria expandir meus dotes artísticos para o que eu estava planejando.

Sorri só de pensar nos meus planos para o ano seguinte, era uma das raras vezes que eu não me encontrava pessimista. Eu sentia que as coisas iriam melhorar muito, e uma parte disso é culpa de Frank Iero, que a propósito, havia mandado uma mensagem. Isso não era bem uma novidade, mas dessa vez era diferente. Ele me convidou para sair. Eu esperava por isso desde quando nos encontramos pela primeira vez. Todas as vezes que nos esbarramos, foi por acaso. Ele não me ligava ou puxava assunto como eu imaginei que faria. Para ser sincero, eu estava começando a pensar que talvez Mikey estivesse certo quando me disse que Frank talvez não quisesse mais falar comigo. Bom, depois dessa mensagem eu posso alegremente dizer que ele estava errado, e eu agradecia a todos os deuses de todas as religiões existentes por isso. 

Ainda faltavam algumas horas para nosso encontro. Agradeci por ele ter escolhido um horário mais tarde. Claro, eu estava ansioso e queria que o relógio marcasse nove horas da noite logo, mas eu tinha algumas tarefas para terminar, então voltei a organizar meus recém comprados materiais, era tanta coisa que não teria espaço para tudo na minha mesinha, e como eu ainda não tinha uma estante decente, improvisei uma usando meus livros da faculdade e alguns longos pedaços de madeira que quase foram jogados no lixo! Não entendia como as pessoas daqui jogavam tantas coisas boas e úteis assim fora.

Como isso iria demorar um pouco, peguei meu celular a fim de por alguma música, afinal, toda atividade doméstica é melhor com música, uh? Enquanto eu escolhia algum álbum do Morrissey, recebi uma mensagem de Mikey, não era nada de importante. Tive vontade de ligar para ele e jogar na sua cara que estava errado, assim como fazíamos de maneira infantil quando éramos crianças tentando prever o que aconteceria no próximo episódio de Caverna do Dragão. Isso sempre rendia discussões e apostas, e por incrível que pareça, Mikey quase sempre estava certo. Como eu sentia saudades dele. Eu ainda estava decidindo se deveria visitar minha família no natal ou não, presentes não seriam o problema, já que eu tinha tinta, muita argila e criatividade.

New Jersey, 2009

Finalmente havia chegado o Natal, e com ele, veio a decoração verde e vermelha, os inúmeros pisca-pisca, as músicas bregas, os milhares de filmes repetidos na televisão e claro, muita falsidade das pessoas, em especial, dos meus parentes, que todo ano faziam questão de sair de suas respectivas casas para passar o feriado conosco. Meus pais nunca se incomodaram, eles adoravam dar grandes festas. Felizmente, não havia tantas pessoas assim como nos Natais posteriores, e eu agradecia muito por isso. Dessa vez, nossos convidados eram apenas minhas duas tias maternas, uma delas veio com a companhia do marido, seus irritantes filhos, e a única pessoa que eu não me importava de receber, minha avó Elena. Na verdade, por mim ela poderia até morar aqui, é uma das minhas pessoas favoritas. A presença da minha avó era uma das vantagens do natal, as outras eram apenas assistir O Estranho Mundo de Jack e a neve. Nossa, como eu amava a neve.

Eu sentia que o natal esse ano não seria ruim, Frank havia marcado de ir a minha casa mais tarde, depois de toda essa baboseira de ceia. Eu o chamei para participar da festa, mas ele tinha que ficar um pouco com sua família também. Eu estava olhando fixamente pela janela o quintal todo tomado pelas grossas camadas brancas de neve, era tão bonito. O vidro estava um pouco embaçado por conta do frio, mas ainda sim eu podia ter uma boa visão do belo trabalho da natureza. Queria que nevasse o ano inteiro.

-Gerard, vá se arrumar! –Minha mãe pediu, interrompendo meu breve momento de paz.

-Eu já estou arrumado. –Falei como se fosse óbvio.

-Em que planeta isso é “arrumado”? –Antes que eu pudesse dar uma resposta sarcástica, ela voltou a falar. –Você já olhou seu cabelo? Eu sei que você gosta dele comprido, mas pelo menos penteie. E essa blusa que você usa quase todo dia? Ah, e eu nem vou comentar sobre essa calça. –Eu ainda não conseguia ver o problema com minha roupa. A calça havia sido obra de Frank, eu havia comprado a peça jeans e a usei para uma apresentação da nossa banda, péssima ideia. Na mesma noite eu havia conseguido desgastar a calça, e antes que eu pudesse me livrar da roupa, Frank deu uma sugestão, ele fez como as calças dele e rasgou a minha na região dos joelhos. Eu havia adorado. –Suba para o seu quarto e vista algo decente já. –Bufei e fui até as escadas, não sem antes dar uma boa olhada para os meus primos e Mikey, assim eu teria uma ideia melhor do que vestir. Fui até meu closet e peguei um suéter cinza, com listras de uma tonalidade mais escura. A peça ainda estava com etiqueta. Eu não entendia o propósito de ter que se arrumar todo para ficar em casa comendo, mas já foi pior. Tinha uma época que minha mãe nos obrigava a usar ternos e passar gel no cabelo.

Terminei de me trocar e desci novamente. O cheiro de comida circulava por toda parte da casa, assim como a música instrumental do rádio. Fui até a sala e me sentei com Mikey e meus primos, perto da lareira, que também não saiu impune da decoração da minha mãe. Minha prima mais nova estava brincando com alguns enfeiteis pendurados na árvore de natal recheada de presentes, enquanto meu irmão estava conversando animadamente com James e Adam, os dois tinham mais ou menos a nossa idade. Enquanto James parecia não parar de tagarelar, Adam estava mais entretido com seu vídeo game portátil. Estiquei um pouco a cabeça para tentar ver o que ele estava jogando e segurei o riso ao ver que jogava no modo fácil. Amador.

Mikey conseguia socializar facilmente, diferente de mim. Eu nunca me entrosei com meus primos. Com exceção de Colin. Depois de sua morte, meus parentes paternos não nos visitavam muito, eu só esperava que eles não nos culpassem de alguma forma pelo ocorrido, ou melhor, me culpassem. Eu já havia passado um bom tempo fazendo isso. Bem, meus outros primos sempre tiravam sarro de mim, então comecei a preferir minha própria companhia. Lembro que eu pedia para morrer quando meu pai me fazia dividir meus brinquedos e gibis com eles, tudo bem que eram crianças, mas não tinham o mínimo cuidado! Por isso preferia brincar sozinho.

-Você está bonito, querido. –Vovó apareceu na minha frente sorrindo.

-Você também. –Falei com sinceridade. Assim como minha mãe e minhas tias, ela também usava um vestido sofisticado e algumas jóias penduradas nas orelhas e no pescoço. Seu cabelo grisalho estava preso em um penteado bem rebuscado. Minha avó era realmente bonita, quando mais nova, parecia uma daquelas atrizes dos anos 50, o tempo passou e sua aparência ainda dava a mesma impressão.

-Estou morrendo de fome e a sua mãe cisma em enrolar para começar essa ceia. –Deu um suspiro e sentou-se do meu lado. Na minha casa nós fazíamos diferente das outras famílias, tínhamos o hábito de abrir os presentes antes de comer. Ri da sua frustração, todo ano ela reclamava disso. –Já roubei uns três biscoitos de gengibre daquela mesa, mas não conte a ninguém. –Deu uma piscadinha.

-Jamais. –Respondi fielmente.

-E como está a minha banda favorita? –Perguntou se referindo ao My Chemical Romance.

-Muito bem! Eu queria tanto que você nos visse tocar algum dia.

-Eu também, querido. Mas ainda temos tempo. –Sorriu de forma doce. –Gostei daquela foto que você me mandou, aposto que foi o responsável pela maquiagem, estou certa? –Assenti alegremente. Na nossa última apresentação, eu achei que seria legal se nos vestíssemos de uma forma mais a caráter, que combinasse com o ar um pouco sombrio da banda, já que tínhamos uma lista com várias músicas novas nesse estilo. Os garotos adoraram a ideia, e como eu era o único com uma maleta de maquiagem e mãos habilidosas para isso, foi minha responsabilidade transformar os rostos dos meus amigos. –Estava ótima.

-Aprendi com a melhor. –Fechei meu punho e a convidei para um “soquinho”, que já era a nossa versão do clássico high-five. Elena sempre me apoiava em tudo, principalmente quando o assunto era arte. Ela me incentivava a desenhar, me ensinou a tocar piano, cantar, e também a atuar. Quando eu era criança, tive que me apresentar em uma peça escolar, mais especificamente, Peter Pan. Mesmo morando em outro estado, ela veio até aqui para me ajudar a ensaiar, e claro, assistir a peça. Lembro do jeito que ela ficou orgulhosa e contente, como se eu tivesse acabado de ganhar um Oscar na categoria melhor ator. Sempre foi assim.

Logos os outros integrantes da família, igualmente bem elegantes, se aproximaram. Meu pai trazia consigo uma garrafa de vinho, que aparentava ser bem caro, diferente do suco de uva com açúcar e álcool que eu estava acostumado a beber com meus amigos.

-Stambolovo Merlot, 1992. –Meu pai anunciou lendo o rótulo da garrafa. –Elena, não precisava. –Agradeceu e minha mãe começou a distribuir algumas taças de vidro, que ela só usava em ocasiões como essa.

-Quase tão velho quanto eu. –Brincou. –Não há de que, querido. –Sorriu pegando uma taça das mãos da minha mãe. –Eu havia comprado duas garrafas, mas tive que beber uma para aturar essas crianças durante a viagem. –Sussurrou no meu ouvido e eu ri. –Obrigada. –Sorriu para o meu pai após o mesmo ter despejado o líquido roxo em sua taça.

-Vamos começar logo a abrir esses presentes? –Minha tia Margery sugeriu.

-Antes disso, você podia tocar alguma coisa para a gente, Gerard. –O marido da minha tia, Roger, apontou para o pequeno piano da sala.

-É mesmo, sua mãe nos falou da sua banda. –Minha outra tia completou. Senti meu rosto ruborizar, todos estavam olhando para mim. Eu odiava ser o centro das atenções.

-Eu não sei se é uma boa ideia. –Falei um pouco envergonhado. Minha mãe ignorou e desligou o aparelho de som.

 -Por que não seria? Você é tão talentoso. –Minha avó sorriu amistosamente. Eu já estava acostumado a cantar para várias pessoas, mas a maioria era desconhecida, então eu não me importava muito. Fora isso, eu também tinha o auxilio do ácool, que inibia qualquer sinal de timidez.

-É verdade, para de palhaçada, Gee! –Mikey incentivou. Dei-me por vencido e caminhei lentamente até o velho piano marrom. Fiquei um pouco receoso na hora de escolher alguma música para tocar, não sabia se deveria tocar algo da minha autoria. Por mais clichê que fosse, o melhor seria tocar alguma música natalina, afinal, combinaria bastante com o cenário. Pensei em tocar aquela clássica do John Lennon, mas não me lembrava das notas, e ficava difícil sem partitura. Então passei os dedos pelas teclas tocando All I Want For Christmas Is You. Essa era tão conhecida quanto a outra, muitos artistas a regravavam em versões diferentes. Como o piano ficava no fundo da sala e eu estava de costas para o pequeno público, me senti mais confortável para cantar.

Eu não sabia se eles estavam gostando ou não, já que não podia ver suas expressões. Ao terminar a canção, levantei-me para encarar meus parentes e fiquei surpreso ao receber aplausos e sorrisos, especialmente da Elena, que tinha o mesmo brilho nos olhos quando me viu na atuando na escola ou em qualquer outra coisa que eu fazia. Ainda meio envergonhado, devolvi o sorriso e voltei para o meu lugar inicial.

-Mandou bem. –Mikey deu um tapinha no meu ombro.

-Muito bom, meu filho. –Minha mãe repetiu o gesto. Todos pareciam ter realmente gostado. Bem, nem todos. Meus primos pareciam só ter aplaudido por educação, e meu pai estava com a mesma cara de sempre.

Começaram a entrega de presentes, que pode ser um tanto sem graça quando você não acredita mais em papai Noel, para falar a verdade, eu nunca acreditei. Isso era um pouco deprimente. Mikey acreditou até os 11 anos, só parou depois de ter passado uma noite inteira acordado vigiando a lareira com um copo de leite e alguns biscoitos, nem é preciso dizer que Mikey comeu tudo e o velhinho com vestimenta vermelha nunca apareceu.

Eu já estava ficando entediado, isso estava demorando demais e eu não aguentava mais sorrir e dizer falsos agradecimentos. Fiquei fazendo um pequeno jogo em que eu tentava adivinhar mentalmente o que tinha nas caixas bem embrulhadas antes de serem abertas cuidadosamente da forma mais lenta do mundo pelos meus familiares. Meu placar era de 8 a 2, os presentes eram bem previsíveis. Outra tradição daqui era que você tinha que entregar os presentes que comprou para as pessoas. Isso era tão desnecessário, afinal, por que uma pessoa só não podia fazer isso?

-É, parece que é sua vez, Gerard. –Minha mãe disse ansiosa. Eu queria que isso terminasse logo, assim iríamos comer logo, e eu veria Frank logo. Fui apressadamente até a árvore quase vazia e distribui meus presentes na mesma velocidade. Esse ano tinha algo de diferente, eu havia feito todos os presentes à mão. Nunca tive a chance de fazer isso quando era menor, já que meus pais sempre compravam os presentes e botavam meu nome, como se eu fosse o responsável por eles. Esse ano meu pai me deu uma boa quantia em dinheiro para as compras natalinas, mas eu acabei investindo em outras coisas, como algumas Figure Action e novas edições dos meus quadrinhos favoritos. Foi um pouco egoísta da minha parte, mas qual é? Eles já tinham tudo que queriam e precisavam, mais uma blusa de marca como algumas que ganhei fariam mesmo diferença na vida dos meus primos?

Elena foi a primeira a abrir o embrulho e comemorar empolgadamente. Eu havia dado para ela uma blusa preta personalizada com um logo do My Chemical Romance, que eu mesmo havia feito com tinta de tecido. Era a primeira camisa da banda, e eu queria que fosse da minha avó. Acho que eu nem precisava explicar o porquê.

-Eu adorei! –Segurou a roupa na frente do seu corpo, a fim de medir. Como eu imaginei, o tamanho era perfeito. –Ficou muito bonita, Gee.

-Que bom que gostou. –A Abracei. Minha avó havia me presenteado com uma máquina fotográfica estilo Polaroid. Ela pediu que eu tirasse muitas fotos, especialmente da banda e mandasse para ela. Foi de longe o melhor presente que eu havia ganhado essa noite. Desfiz o abraço para ver a reação dos outros com seus presentes. Minhas tias sorriam com os porta jóias feitos de caixa de sapato e de ovos que haviam acabado de ganhar. Eu as pintei com spray, um prateado e outro dourado. Também colei algumas conchas e miçangas similares a pérolas. Havia dado trabalho e havia ficado bonito. Se elas realmente gostaram ou não, eu não saberia dizer, mas me agradeceram sem tirar o sorriso do rosto.

Para minha mãe, eu havia personalizado um antigo conjunto de xícaras de um jogo de chá que achei no porão. Ainda estava intacto na caixa quando encontrei, minha mãe provavelmente nem se lembrava da existência daquilo, e se lembrasse, agora estava irreconhecível, e na minha opinião, bem melhor. Os outros presentes que eu dei eram similares a esses, peguei coisas do porão e transformei em algo bonito. Meu pai não parecia estar aprovando a situação, lançou um olhar sério e me chamou para conversar em um canto mais privado. Fomos até a sala de jantar, onde a mesa, igualmente bem decorada, estava cheia de pratos de todos os tipos, para todos os paladares.

-Gerard, o que é isso? –O olhei confuso. –O que houve com o dinheiro que eu te dei para comprar os presentes?

-Uh, eu achei que seria legal dar algo diferente. –Isso não era cem por cento mentira.

-E você não podia ter comprado algo diferente em algum shopping? –Levei isso como uma pergunta retórica. –Que ideia, sair dando lixo para as pessoas. –Balançou a cabeça, reprovando meus artesanatos. –Que vergonha, só quero ver o que vão falar depois. Suas tias gastaram uma nota comprando algo legal para você. –Eu pensei em argumentar, dizendo que haviam gostado, Elena gostou da camisa, Mikey adorou a máscara de papel machê do Donnie Darko. –Nunca mais faça isso. Quando não quiser ter o trabalho de agradar sua família, me avise antes que eu mesmo cuido disso. –Não falei uma palavra sequer. Apenas assenti e vi meu pai sair, provavelmente para chamar todos para a refeição. Fiquei um pouco triste, não era lixo, eu havia me emprenhado para fazer aqueles presentes. Bom, tendo isso em vista, era melhor nem entregar o que eu havia feito para ele.

Rapidamente todos apareceram na sala de jantar e acomodaram-se em uma cadeira. Sentei-me perto de Mikey e apenas ouvi todos conversarem empolgadamente, enquanto se serviam de comida. Eu tinha perdido o apetite, então peguei apenas um pequeno pedaço de peru assado, quando na verdade, tudo que eu queria era um pedaço de torta de framboesa, a especialidade da minha avó, mas eu tinha que esperar até a hora da sobremesa, caso contrário, receberia outra bronca.

A conversa havia chegado em uma parte mais chata ainda, eu nem sabia que isso era possível. Estavam falando do histórico escolar impecável de James e Adam, meu pai sempre olhava para eles de forma orgulhosa quando um dos dois abria a boca para falar qualquer bobagem. Eu sentia que ele desejava que eu fosse como eles. Minhas notas não eram tão ruins, e eu era o melhor da sala em literatura, mas isso não era considerado tão importante assim, não tanto quanto ser convocado para participar de uma competição estadual de química, como Adam havia sido.

-E as garotas? –Roger olhou para Mikey. –Está conquistando muitos corações?

-Por enquanto não. –Meu irmão respondeu enchendo seu prato pela segunda vez. –Não quero ser injusto com as outras garotas do mundo. –Disse arrancando risadas de todos.

-E você, Gerard? –Novamente eu era o centro das atenções. Pensei em falar de Frank, mas infelizmente, eu não podia. Não pude deixar de rir minimamente ao imaginar a cara de todos se eu revelasse que na verdade tenho um namorado, que se tornaria viúvo em um piscar de olhos caso tais palavras saíssem da minha boca e chegassem aos ouvidos de Donald Way.

-Não. –Respondi tentando não soar tão ríspido.

-Difícil de acreditar, querido. –Minha vó sorriu para mim. Eu não entendi o que ela via de tão belo em mim, eu era esquisito e um tanto fora do padrão de beleza, mas talvez isso fosse coisa de avó, elas sempre vão te tratar como a pessoa mais bonita do mundo. Eu queria contar para ela sobre Frank, queria que ela o conhecesse. Mas agora não era o momento ideal para falar disso.

-Esse aqui já está no quinto namoro. –Minha tia bagunçou de forma brincalhona os cabelos de James. Ela falava como se isso fosse uma conquista tão importante quanto sei lá, ganhar o prêmio Nobel. –Já o Adam só quer se concentrar nos estudos, pretende ir para Harvard. –Fiquei com medo de começarem a falar de faculdade e futuras profissões, eu realmente não queria ser interrogado sobre isso, teria que mentir para não receber mais uma desaprovação do meu pai. A verdade era que eu ainda não fazia ideia do que queria fazer. Felizmente, o tópico da conversa mudou subitamente para questões financeiras. Esse era o assunto que eu nem fazia questão de tentar prestar atenção.

Finalmente era a hora da sobremesa. Peguei um grande pedaço de torta, e Mikey um grande pedaço de tudo que estava ali, eu nunca entenderia como esse garoto conseguia continuar tão magro, seu metabolismo era como um guepardo. Elena foi outra que não se limitou na hora dos doces.

-Mãe, você não acha que tem muito açúcar nesse prato? –Minha tia advertiu preocupada. Pelo que eu sabia, minha avó não tinha nenhum problema com diabetes, mas por já ter certa idade, realmente precisava tomar um pouco de cuidado.

-Por deus, Susan! –Exclamou frustrada. –Você implica com meu vinho, minha comida, se quer me matar, faça isso enquanto eu estiver dormindo. –Todos levaram suas palavras na brincadeira e riram. –Agora deixe-me provar esse delicioso pudim que meu netinho fez. –Sorriu de forma meiga para Mikey, que havia herdado os dons culinários da nossa mãe. Ele realmente sabia cozinhar bem, mas era preguiçoso demais para isso. Com certeza o pudim de leite havia sido resultado de muita insistência de Donna.

Senti meu celular vibrar dentro do bolso da minha calça. Eu já sabia o que era, uma mensagem de Frank avisando que já estava indo para a minha casa. Também pediu que eu deixasse a janela do meu quarto aberta. Já estava na hora! Agora eu  precisava dar um jeito de sair daquela mesa. Forcei um falso e barulhento bocejo, atrapalhando o bate-papo da minha família.

-Nossa, agora me bateu um sono. Não deveria ter comido tanto. –Coloquei a mão sob minha barriga. –Acho que vou dormir.

-Já? –Minha mãe indagou. –Não são nem dez horas.

-Nem eu estou com sono. –Minha prima de seis anos disse. –Você não vai esperar o papai Noel? –Fiquei surpreso com essa repentina interação. Desde quando Megan havia chegado, ela não tinha me dirigido uma palavra sequer. Talvez ela tivesse gostado do arco de cabelo feito de flores sintéticas que confeccionei para ela.

-Oh, você não sabia? –Por um segundo pensei em falar a verdade, que o bom velhinho não existia, mas não seria justo acabar com as esperanças de uma criança assim. –O papai Noel só aparece se todos estiverem dormindo.

-É sério? –Perguntou de forma incrédula.

-Então é por isso que ele não apareceu há quatro anos atrás. –Mikey parecia ter acabado de ter um momento de clareza. Eu não sabia se ele estava brincando, mas esperava que sim.

-É verdade, por isso que você vai para a cama daqui a pouco, mocinha. –Sua mãe disse autoritária. Pelo menos minha mentira tinha ajudado em alguma coisa.

-Então, boa noite. –Voltei o foco da conversa para minha despedida.

-Tem certeza? Nós estávamos indo assistir O Grinch agora. –Mikey disse empolgado, dificultando minha saída.

-Vocês deixaram todos cansados com esse papo de economia. –Elena reclamou, mais uma vez, sendo minha cúmplice. –Até eu quase caí no sono pelo menos umas quatro vezes. Agora deixem as crianças assistirem o filme e o Gerard dormir. –Ordenou. –Boa noite, meu querido. –Me convidou para mais um aconchegante abraço.

-Te devo essa. –Sussurrei disfarçadamente no seu ouvido ao retribuir o abraço.

Antes de subir para o meu quarto, passei na sala para recolher os presentes que eu havia ganhado e o ainda embrulhado presente do meu pai. Carreguei tudo atrapalhadamente até o andar de cima, tomando cuidado para não deixa nenhum cair. Coloquei os objetos em cima da cadeira da minha escrivaninha, que geralmente servia de cabideiro para meus moletons.

Não demorou muito para eu ouvir alguém batendo no vidro da minha janela. Deus, eu havia esquecido de abrir! Fui correndo em direção da mesma e ajudei Frank a entrar. Ele estava muito engraçado, vestia um casaco grosso com um capuz cheio de pelinhos felpudos, que tinham alguns vestígios de gelo nas pontas, parecia um Eskimo. Como Frank conseguia escalar até a janela do meu quarto ainda prevalecia um mistério para mim.

-Está frio para caralho lá fora. –Tirou o casaco, que poderia muito bem ser usado como cobertor, ficando apenas com um suéter natalino vermelho, provavelmente de tricô. Tinha a estampa de algumas renas e flocos de neve, era adorável. –E aí, como foi com sua família? –Se aproximou e me deu um breve selinho. Eu ainda não tinha me acostumado com esses nossos novos comprimentos, mas estava gostando.

-Poderia ter sido pior. –Se outra pessoa perguntasse, eu poderia fazer uma lista de todos os momentos que me imaginei dando um tiro na minha própria cabeça só para parar de ouvi-los falar, mas Frank estava comigo agora, e isso parecia fazer toda aquela situação de algumas horas atrás ter, de uma certa forma, valido a pena. –E você?

-Nossa, eu comi tanto, parece que vou explodir a qualquer momento. –Foi até minha cadeira para analisar os objetos. –O que você ganhou?

-Roupa e perfume, como sempre. –Disse sem ânimo. Mas eu não me importei muito, o que eu realmente queria eu já tinha comprado com o dinheiro do meu pai.

-Acho que se você vender isso já fica mais rico do que eu algum dia vou ser. –Segurou o frasco francês e eu ri. –Eu ganhei mais alguns discos do meu avô e uma vitrola portátil. –Disse contente.

-Sério? Que ótimo, Frankie! –Fiquei feliz também, eu sabia como ele sempre quis uma para ouvir sua infinidade de vinis. Eu já imaginava que Frank fosse ganhar algo do tipo, seu avô morava na Inglaterra, e sempre enviava coisas legais para ele. A relação deles era quase como a minha e de Elena, com a exceção de que Frank raramente via seu avô, justamente por ele viver em outro país. Eles se falavam apenas por telefone e cartas, mas isso não parecia ser um obstáculo pelo carinho que um sentia pelo outro.

-O que é isso? –Apontou para o grande embrulho apoiado no chão.

-É o presente do meu pai, ou era. –Expliquei sem emoção. –Ele não gostou muito da minha ideia de presentes estilo DIY, então achei melhor nem entregar esse, poderia deixá-lo mais irritado. –Frank me olhou com um pouco de pena, ele sabia como meu pai era um pouco... Difícil de agradar. Mas eu não queria levantar esse assunto triste. Ele estava feliz, e eu estava feliz pelo simples fato dele estar ali. –Só que não tem problema.

-Eu posso abrir?

-Pode. –Dei os ombros e sentei-me na cama. Diferente dos meus parentes, Frank rasgou o embrulho rapidamente e sem nenhuma cerimônia. Amassou o papel de embrulho e segurou o objeto com as duas mãos. Logo uma expressão surpresa se formou no seu rosto.

-Isso é muito, mas muito legal! –Disse encantado.

-Sério? –Ergui uma das sobrancelhas. Um dos músicos favoritos do meu pai era o Frank Sinatra, ele tinha vários discos do mesmo. Então, como presente, eu decidi pintar um quadro do cantor, mas um pouco diferente. Eu não queria fazer uma coisa realista que ele conseguiria em qualquer outro lugar, eu fiz uma caricatura única e um pouco engraçada. Aparentemente, meu pai preferiria algo comum e superficial.

-Eu adoro o Sinatra. –Por essa eu não esperava, Jazz parecia ser muito o estilo de Frank. –Eu posso ficar com o quadro? –Pediu de uma forma manhosa, seus olhos cuja cor parecia indecifrável estavam mais radiantes que o normal.

-Claro que pode. –Frank sorriu como se tivesse acabado de ganhar na loteria, aquele sorriso contagiante que poderia me alegrar até nos meus piores dias.

-Obrigado, Gee. –Colocou o quadro apoiado na mesma posição inicial e sentou-se na cama também, me dando outro selinho como complemento do agradecimento. –Eu não entendo como seu pai não quis esse belezinha. Vai fica ótimo no meu quarto, pertinho da minha vitrola. –Eu contaria para Frank sobre como meu pai chamou todo o meu trabalho de lixo, mas como eu disse, esse momento não precisava ser estragado.

-Você gostou mesmo? –Ele falava de uma forma tão exagerada, vendo bem, nem estava lá essas coisas.

-Só um louco não gostaria. –Sorriu de lado. –Ah, quase me esqueci. –Retirou um envelope que parecia estar debaixo do seu suéter e me entregou. –Feliz natal.

-Obrigado. –Agradeci antes mesmo de abrir o envelope, pois era um presente de Frank. Eu ficaria feliz até mesmo se ele desse uma tampinha de garrafa. Não precisei rasgar nem nada, pois o envelope não estava colado, então apenas abri e retirei dois pequenos papéis com uma textura diferente. Ao analisá-los melhor, meus olhos arregalaram. –Frankie...

-De nada. –Passou o braço pelo meu pescoço, enquanto eu ainda estava imóvel e desacreditado. Eu havia acabado de ganhar dois ingressos para o show do David Bowie, que aconteceria no mês seguinte.

-Eu não acredito! –Abracei Frank com todas as minhas forças. –Isso deve ter custado uma fortuna!

-Eu garanto que não foi mais caro que o seu perfume importado. –Brincou.

-Mas Frank, esse show nem é aqui, vai ser na Filadélfia. –Franzi o cenho ao ler as informações escritas minusculamente no papel.

-Qual é? São só algumas horas de viagem, eu posso pegar o carro do meu pai. –Eu ainda estava perplexo, com os olhos fixados nas preciosidades que estavam em minhas mãos. –É o Bowie, Gee. Você idolatra o cara. –Esfregou uma das suas mãos no meu ombro. –Você topa ir?

-Com certeza! –O abracei novamente. –Muito obrigado. –Mudança de planos, esse havia sido o melhor presente de todos! Mesmo não sabendo muito bem o que eu teria que inventar para sair da cidade em um dia no meio da semana, não me preocupei, nós daríamos um jeito. –Agora estou me sentindo mal. –Esse presente era tão incrível que o que eu fiz para Frank pareceria lixo mesmo, como meu pai havia dito.

-Eu acabei de te dar dois ingressos para ver seu musicista favorito e você está se sentindo mal? –Riu. –Você é mesmo difícil de agradar, Gerard Way. –Disse de forma irônica.

-É que o seu presente não é tão bom quanto esse. –Estendi os ingressos.

-Ta brincando? Eu amei esse quadro! –Disse com sinceridade.

-Não, o outro.

-Outro? Tem mais? –Me perguntou empolgado, soando como uma criança.

-Tem. –Engatinhei até meu criado mudo e abri a gaveta, retirando uma embalagem de plástico. Eu nem tive tempo de embrulhar, porque eu não sabia se deveria entregar ou não. Parecia meio bobo, mas ao mesmo tempo, era significativo. Eu não queria dar um presente para Frank comum, como por exemplo, uma roupa. Eu gostava de dar coisas marcantes, coisas que ele sorriria ao lembrar de mim, coisas que nunca havia ganhado.

Entreguei o objeto para Frank e ele parecia confuso, mas rapidamente pareceu identificar que era um CD. Não era um do Smashing Pumpkins, do Anthrax, The Cure, ou qualquer outra banda que Frank gostasse, quer dizer, tinham algumas músicas dessas bandas, mas de uma maneira diferente. O CD continha dez músicas, seis eram covers, e quatro eram de minha autoria. Eu havia feito tudo, a gravação, a arte da capa, fiz até aquele parte de trás dos CDs que indicam os nomes e a duração as faixas.

-Eu não toco tão bem quanto você, mas algumas eu tentei tocar no violão, outras no piano. –O violão foi outra das milhares de coisas que achei no porão. Eu aprendi a tocar quando era menor, mas nunca dei continuidade. –Algumas dessas músicas eu já tinha escrito, hm, pensando em você, antes da gente começar a... Você sabe. –Eu estava me esforçando ao máximo para não parecer patético, mas era impossível.

-Gerard, isso é incrível. –Sorriu com as bochechas levemente coradas. –Sério, meu deus. Eu mal vejo a hora de ouvir. –Fiquei muito aliviado ao escutar isso.

-O violão não estava nas melhores condições, então se o som estiver um pouco...

-Gerard! –Segurou meus ombros. –Pare de ser tão modesto. –Riu do meu mini desespero. –Você nem percebe o quão extraordinário é, não é mesmo? –Não importava quanto tempo passava, eu nunca saberia como lidar com os elogios de Frank. Que se foda a minha classificação anterior, o melhor presente de todos não era algo material, algo que pudesse ser comprado. O melhor presente que eu poderia ter era o meu melhor amigo, ops, namorado. Eu definitivamente ainda não havia me acostumado com isso, mas era maravilhoso repetir.

Frank Iero, meu namorado.

 

 

 


Notas Finais


Minha glicose foi lá nas alturas com tanta melosidade, mas Frerard é assim, não é mesmo?
Isso ta fora de controle, esse capítulos só vão ficando maiores! Eu realmente espero que não seja um problema para vocês e que dê para sobreviver :^)
Beijos e até o próximo.


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