SAD BLUE EYES
POV LUCCA
Se é possível morrer e continuar respirando , foi isso o que aconteceu comigo. Quando vi a Allie naquela pista de dança, eu simplesmente morri. Nem mesmo quando Dr. Edward deu o meu diagnóstico eu me senti assim.
Tudo ficou claro , eu compreendi o porquê das suas atitudes, do seu afastamento ... Eu também não posso exigir que ela fique comigo , fique com o que restou de mim . Mas acho que ela devia ter sido honesta. Nossa história, tudo o que vivemos, merecia um final mais digno. Ela costumava me dizer que eu era o seu Sol , parece que me desintegrei e perdi a capacidade de manter o seu mundo aquecido e iluminado.
Eu me perguntava , como o amor dela pôde ter acabado?! Será que realmente existiu ?! Ou era só por estar com o cara popular, com o atleta ?! Não é possível que ela tenha fingido por tanto tempo ...
Se era por conta da minha atual condição , eu estava dando tudo de mim nas sessões de fisioterapia, mesmo quando eu sentia que não ia aguentar. Suportava as noites em claro por conta da dor e quando nos falávamos, sempre tentava ser positivo e não sobrecarrega – la com o que eu estava sentindo, com meus problemas . Onde eu errei ?! Sei que estávamos sem uma vida social e até entendo que ela sentisse falta, afinal antes do acidente, a mesma era intensa ... mas será que era só isso que sustentava nossa relação ?! E a amizade, a sintonia que tínhamos, o sexo que era maravilhoso , como tudo isso se perdeu ? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta.
Eu rememorava o nosso último encontro e cada vez que o fazia , sentia que a dor aumentava, era como se me faltasse o ar .
No dia seguinte ao nosso término , me recusei a sair do quarto , não queria ver ninguém e comecei a sentir um mal estar, calafrios e muita dor no pé esquerdo. Já havia vomitado e a dor que era minha parceira constante, havia ultrapassado todos os limites .Não achava posição para ficar e quando não consegui mais aguentar , chamei meus pais. Minha mãe mediu minha temperatura e ficou apavorada, percebi por sua expressão. Depois disso , tudo começou a ficar nebuloso e acho que desmaiei.
Acordei no hospital, com um acesso no braço por onde corria a medicação. Minha mãe cochilava sentada em uma poltrona. A chamei suavemente, me sentia confuso.
- Mãe , mãe o que aconteceu ?! – minha garganta também doía.
Ela levantou em um pulo.
- Meu amor, graças a Deus você acordou !!! Nós tivemos que trazê - lo para o hospital . Os pontos internos da cirurgia do seu pé esquerdo infeccionaram e você estava correndo o risco de ter uma infecção generalizada ... Dr. Edward falou na possibilidade de amputação, caso você não reagisse aos antibióticos. Mas , graças a Deus o quadro regrediu ...
- Há quanto tempo estou aqui ?
- Quatro dias.
- Hum ... e foi necessário amputar ? – perguntei tentando manter a voz firme e prendendo a respiração.
- Não filho. Graças a Deus você é muito forte. E vai sair dessa também. Mas se nós tivéssemos esperado mais um pouco para vir ao hospital ... Não quero nem pensar. Mas você já devia estar com dor há algum tempo, o Dr. Edward disse que o quadro de infecção já estava adiantado , porque você não disse nada ?
- Eu não queria dar mais trabalho para vocês e achei que conseguiria suportar ... – disse sem jeito , ao me dar conta da burrada que havia cometido.
- Filho você não nos dá trabalho !!! Nós poderíamos ter te perdido ... Por favor nunca mais faça isso ... – minha mãe começou a chorar e eu me senti péssimo.
- Mãe , vem cá me dá um abraço. – assim que ela me abraçou , eu disse – Me perdoa !!! Eu prometo nunca mais esconder nada de vocês !!! Eu te amo muito. Eu amo vocês !!!
Depois de mais sete dias de internação, recebi alta com a recomendação de repouso absoluto , a qual eu pretendia seguir à risca. Mas posso dizer que já estava cansado de tantos altos e baixos, na verdade somente baixos !!! Eu sabia que a minha rotina agora seria ainda mais dolorosa, a Allie não fazia mais parte da minha vida, mas ainda estava em mim.
Os dias se passaram e pedi ao meu pai que me desse algo em que trabalhar, já que a minha fisioterapia estava suspensa ate segunda ordem ,e eu precisava ocuparNiminha mente com algo saudável e não ficar remoendo pensamentos em relação a Allie e suas atitudes. Assim quem sabe o tempo passasse mais rápido e de forma produtiva. Ele me deu um projeto para desenvolver de moradias populares para portadores de deficiência física. Mergulhei de cabeça no projeto e descobri que a questão de acessibilidade era de suma importância. Eu passava de oito a dez horas trabalhando e me sentia bem assim. Até comecei a dormir um pouco melhor , isso quando não sonhava com a Allie e acordava de madrugada com o coração disparado e a garganta seca... Não tenho vergonha de admitir que chorava nesses momentos como um garotinho. Era como se faltasse um pedaço de mim... e eu tinha certeza que sem ela, eu nunca mais me sentiria inteiro.
Eu estava contente, meu irmão estava voltando de viagem e eu teria com quem desabafar. E eu também queria saber como havia sido a viagem, afinal , ele havia ido com a Carolina para um simpósio de arquitetura e designer em Nova Iorque e aqueles dois juntos soltavam faíscas. Nunca vi o Fabio reagir assim a uma mulher .
De repente meu celular vibrou , me tirando dos meus devaneios, o peguei e quando olhei a tela , me senti congelar ... Allie havia me mandado uma mensagem.
O que será que ela queria ? Justo agora que eu estava quase conseguindo não sentir dor ao respirar ...
Após alguns minutos de indecisão, decidi ler a mensagem ...
“ Lucca sei que você me pediu para nunca mais entrar em contato, mas precisamos conversar. Eu preciso ... Por favor, por tudo que você disse sentir por mim um dia. Posso ir te buscar para irmos a algum lugar calmo e conversar ?
Allie “
Digitei rapidamente, antes que me arrependesse :
“ Ok. Te aguardo às 17 h.” e enviei. Agora não havia mais volta.
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