Too Late
POV ALICIA
Depois de alguns dias em que me senti a mais infeliz das criaturas, criei coragem e mandei uma mensagem para o Lucca. Não era possível, que nos perdessemos assim ... tudo o que vivemos ...
Flash Black on
Eu estava sentada na varanda de casa , triste , pensando na morte do meu cachorro. Floquinho era um shit- zu, alegre e bagunceiro, ficamos juntos por quatorze anos. E um dia quando cheguei em casa, ele não veio me fazer festa. O chamei e nada. Senti um mal pressentimento , que se confirmou ao olhar para minha avó e ver seu rosto inchado de tanto chorar.
Ela me abraçou e disse :
- Allie , ele se foi .
Comecei a chorar, pensando que a vida era cruel , já havia levado meus pais e agora levava meu companheiro. Fui para o meu quarto. E chorei até dormir.
O barulho de um carro parando me tirou das minhas reminiscências ... Era meu namorado, que havia estacionado sua caminhonete e retirava uma caixa de papelão grande e veio andando em minha direção. Se aproximou com um lindo sorriso e um olhar maroto.
- Oi , princesa ... tenho uma coisa para você .
- Hum , e onde está ? - perguntei sem muito interesse. Eu não conseguia sentir entusiasmo com nada, desde a morte do Floquinho há três meses .
Ele colocou a caixa no chão e pediu que eu me aproximasse.
- Abra Allie.
Me baixei e abri a caixa . E quando vi o que havia dentro , não sabia se ria ou chorava. Era um filhotinho de shit-zu Preto , com as patinhas dianteiras e o peito brancos!!!
O peguei no colo e senti meu coração voltando a bater , e a camada de gelo que o envolvia derreteu por completo. Olhei para o Lucca que estava com os olhos marejados e segurando o filhote, pulei em seus braços. Ali definitivamente era o meu lugar.
- Bebê , eu não sei o que dizer ... Ele é lindo !!! Eu te amo muito. Obrigada. – falei enquanto o enchia de beijos.
- Princesa, eu te amo super mais !!! – me presenteou com aquele sorriso que eu amava.
Flash Back off
Ele sempre foi o meu Sol, mantinha meu mundo aquecido e iluminado, não importava a situação pela qual eu estivesse passando , eu sempre podia contar com ele. E agora que estávamos longe, eu me sentia perdida no escuro e sem esperanças.
Eu sei que errei, me comportei de maneira egoísta e imatura, mas eu o amava com todas as minhas forças , qualidades e defeitos ( que admito são muitos ). E eu estava disposta a fazer o que fosse necessário para voltarmos. Minha avó tinha sugerido , que eu fizesse terapia. E eu aceitei a sugestão, Ela me indicou uma terapeuta espiritualista , que buscava as razões de alguns comportamentos atuais através da regressão à vidas passadas.
Apesar da fé dos meus avós ( eram espíritas ) , eu sempre fui cética. Mas estava tão desesperada e não tinha mais nada a perder, então fui à primeira sessão. Confesso que estava temerosa, mas tudo correu de forma tão natural e me senti imediatamente à vontade com a Anne ( parecia que eu estava encontrando uma velha amiga que há tempos não via ).
Inicialmente, ela me pediu que falasse porque eu havia decidido fazer terapia, se havia algum motivo específico. Respirei fundo e decidi ser completamente honesta e não prender a certo ou errado.
-Anne , eu preciso aprender a controlar essa ojeriza que sinto a cadeirantes/ deficiência física. Meu namorado sofreu um grave acidente e está em uma cadeira de rodas. Ele tem a grande possibilidade de voltar a andar, nas não será como antes. Eu o amo, mas não consigo estar ao lado dele, eu me sinto envergonhada, com raiva...- a encarei esperando encontrar um olhar de reprovação, mas ao contrário . Ela parecia atenta às minhas palavras e compreender o meu desabafo.
Continuei falando e contando tudo o que havia acontecido desde o acidente. Quando terminei, me sentia mais leve. Anne havia feito anotações, enquanto eu falava e me disse o seguinte :
- Primeiro , você tem todo o direito de se sentir assim. Não existe certo ou errado , com relação aos sentimentos. Mas se ele é importante para você, então há necessidade de superar essa aversão. Como ? Se colocar no lugar dele é o primeiro passo ... pense em como você se sentiria Allie . Em seguida eu acho que você tem que ser franca com ele , dizer que precisa de ajuda para lidar com essa nova situação. E principalmente, encarar que nada será como antes, mas que vocês podem sim ter uma vida ativa e prazerosa Allie. Diferente do que era. Com algumas limitações. Mas que pode ser muito feliz. Mas você tem que estar disposta a fazer concessões, claro que respeitando os seus limites, sem se violentar para agradar aos outros
Fez um breve pausa e continuou :
- Esse relacionamento vale a pena ? Você o ama ?São perguntas que só você tem as respostas ...
Saí do consultório, com outra sessão agendada e com uma certeza : eu o amava e nosso relacionamento era muito importante para mim. Eu ia lutar por nós ... só espero que não seja tarde demais.
A resposta
“ Ok. Te espero às 17 h. “
Sucinto. Mas eu não podia reclamar , eu achei que ele não responderia, simplesmente fosse me ignorar.
Agora eu tinha que pensar no que dizer e em como dizer ...
Ser franca, pedir ajuda e fazer concessões. Eu rememorava as recomendações de Anne , me sentindo ansiosa. Fui tomar banho, eu sempre pensava melhor no chuveiro. Liguei meu iPod conectando - o a caixa de som e selecionei uma das playlist feita pelo Lucca. Fui para o banheiro, enquanto a voz de Adele preenchia o ambiente “ Hello is me ... “
Depois de algumas músicas e lágrimas dei o banho por encerrado e comecei a me trocar. Estava indecisa e acabei optando por uma calça preta de sarja, uma camisa jeans escura e sapatilhas pretas. Deixei meus cachos soltos ( Ele adorava que eu deixasse os cabelos soltos ), passei um batom e perfume. Me olhei no espelho e tentei reconhecer aquela mulher que me olhava de volta ...
Olhei no celular com medo que houvesse alguma mensagem do Lucca, cancelando o encontro. Mas graças a Deus não havia nada. Olhei as horas e vi que faltava uma hora ainda . Ah , #AllieAnsiosa ...acabei rindo.
Como tinha tempo decidi ir à nossa padaria preferida e levar profiteroles como uma oferta de paz . Na padaria tive que aguardar um pouco , o que foi bom, se não eu acabaria chegando muito adiantada. Fui dirigindo bem devagar, nossas casas eram próximas. Estacionei em frente a casa dele, exatamente às 17 h e comecei a tremer.
Ele desceu pela rampa, pilotando a cadeira com habilidade. Estava lindo, com uma sombra de barba , vestindo calças jeans , uma camiseta preta que ficava justa nos seus musculos percebi que ele havia perdido peso. Mas continuava um príncipe. Meu príncipe. Quando olhei para seus pés, me surpreendi : no pé direito ele usava um tênis e no esquerdo uma espécie de bota . O que será que havia acontecido ?
Ele se aproximou sério e eu me abaixei e dei um beijo em seu rosto. Aproveitei para inalar o cheiro tão familiar dele. Percebi que ele se sentiu desconfortável com o meu gesto e me afastei um pouco , encabulada.
- Oi. Você quer ir à algum lugar em especial ? - perguntei para iniciar a conversa
- Acho melhor não. Nós podemos ir para a churrasqueira , ninguém vai nos incomodar. – respondeu friamente.
Respirei fundo, tentando conter o nervosismo e o tremor das minhas mãos. Ele não parecia nada satisfeito em me ver, enquanto eu só queria beija- lo e abraçar e nunca mais soltar.
- Ok . Vamos ...
Ele virou a cadeira e seguiu por um caminho recém pavimentado que dava na área da piscina. Eu segui logo atrás, ele parecia bem desenvolto ao manejar a cadeira. Me indicou uma espreguiçadeira e eu me sentei .
- Então o que você tinha de tão importante para me dizer ? - ele perguntou , secamente.
Isso não estava saindo como eu pensei . Tomei coragem e tentei falar a que vim , mas me vi dando voltas ...
- Por que você está usando isso ? – falei apontando para seu pé esquerdo.
Ele me respondeu com certo desdém .
- “Isso “ é uma órtese. – foi mais uma vez bem sucinto e continuou – Acredito que você não tenha vindo aqui para saber sobre aparelhos ortopédicos, até porque eles não fazem parte da sua realidade , mas sim da minha. O que acha de ir direto ao ponto ?
- Eu ... hum ...- me vi gaguejando e sem saber o que dizer e por onde comecar. Ele permanecia me olhando com as sobrancelhas erguidas. Tentei novamente:
- Eu só peço que escute tudo o que eu tenho para dizer . – Ele assentiu e eu continuei - Eu sei que desde o acidente nós nos afastamos e por minha culpa. Reconheco que não dei o apoio que você precisava e merecia , e eu quero te explicar o porque ... você sabe que eu sempre tive dificuldade para lidar com mudanças e com o diferente, e quando percebi a nossa nova situação ...
- Minha .
- Certo. Sua nova situação, Eu me apavorei e só conseguia pensar no que nós, quer dizer você não poderia mais fazer . E aquele dia no seu quarto ,quando nós quase transamos, eu me senti tão inadequada por não saber como agir. O que eu menos queria, era te magoar, te fazer sofrer. E nós só discutíamos, eu não conseguia acertar uma , então achei melhor dar um tempo para esfriarmos os ânimos, e acabei sendo sugado pela rotina do trabalho ...- eu falava sem desviar os olhos dos dele , mas não conseguia ler como antes o que se passava na mente dele - Aquele dia no bar, eu estava dançando, nada além disso. Eu jamais , nunca te trairia e você ter pensado que eu fosse capaz de um ato baixo como esse, me feriu profundamente. Mas eu me coloquei em seu lugar e sei que você foi muito mais machucado do que eu. Eu sei que você está muito magoado comigo, passando por tudo isso e Eu só quero te pedir uma chance para estar ao seu lado ... segurar a sua mão. Eu preciso da sua ajuda para aprender a lidar com tudo isso.
Dei uma breve pausa e continuei :
- Eu amo você !!! Sem você eu não tenho nada !!! Por favor , não se afaste de mim. Nós podemos ser felizes. Você sempre foi o melhor de nós dois , capaz de perdoar , por favor me deixa cuidar de voce , te amar. Não jogue o nosso amor fora, nossa história ? Volta para mim ?!
Continuei encarando – o , com medo da resposta , pois sua expressão havia permanecido inalterada durante todo o tempo em que falei.
Será que é muito tarde para nós ?
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