Patience
POV ALLIE
Depois daquela sessão reveladora , fizemos mais duas em que vi reencarnações posteriores a aquela. Nelas eu e Lucca também éramos um casal, mas ele já não era agressivo, muito pelo contrário.
Na primeira ele reencarnou no Brasil ,como cativo que sonhava com a liberdade e disposto a arriscar tudo para obtê - la , último país a listra da pecha da escravidão, e morreu nas mãos de um feitor de escravos enquanto tentava fugir. Eu fui sua esposa e com medo , me recusei a acompanhá - lo na fuga .
Quando soube da morte dele, acabei morrendo pouco tempo depois de tristeza e culpa .
Na segunda, vivíamos na Itália de Mussolini e ele era um militar de alta patente . Capitão, mas que não concordava com os ideais nazistas e ajudou muitos judeus a fugirem da Itália , já que Mussolini havia se tornado aliado de Hitler.
E em uma dessas fugas, enquanto conduzia um grupo de mulheres e crianças para a fronteira , caiu em uma emboscada, sendo assassinado. Mais uma vez, fiquei sozinha . Mas dessa vez, não sucumbi à tristeza. Não podia me dar a esse luxo, eu comecei a receber órfãos de guerra em casa e acabei abrindo um orfanato, que custeava com a herança que Lucca havia me deixado e doaçõe.
Nessa encarnação conheci Carolina e nos tornamos grandes amigas. Ela me ajudava a tomar conta das crianças e foi como uma irmã para mim.
Daí a familiaridade, o nosso entrosamento. E afeição que sentíamos uma pela outra.
Realmente as almas afins se reconhecem.
Quanto ao Lucca depois dessas duas encarnações de resgate, em que reparou erros do passado, pediu à espiritualidade maior para expiar o ato abominável cometido contra os escravos fugitivos , sentindo na própria pele toda dor e sofrimento E eu me propus a acompanha – lo para realmente perdoar , me livrar da mágoa que impedia a minha evolução.
No início eu questionei tudo isso. Parecia – me incrível demais , produto de uma imaginação muito fértil . Contudo , havia um fato irrefutável, quem tinha as recordações era eu.
Não havia como Anne ou qualquer pessoa me induzir a nada. E a riqueza de detalhes era surpreendente. Essas sessões me ajudaram a lidar com a raiva que senti após a primeira sessão, em que Lucca havia sido um monstro.
Mas a raiva e mágoa , ainda não havia sido totalmente extintas. Porém a semente da compaixão já havia sido plantada em meu coração , do só precisava rega-la.
O nosso relacionamento ia bem. Estávamos unidos E enfrentando as dificuldades juntos.
Nos tornamos um grude só com o Fábio E a Carol, além do Sam e da Lou. Saíamos juntos e agora que o inverno se aproximava, estávamos planejando uma viagem ao chalé de inverno.
Porém , haviam alguns inconvenientes ... as escadas da entrada, os quartos no andar superior. Estávamos tentando resolver ,sem envolve – lo nessas questões. Do contrário tínhamos certeza que ele se recusaria a ir.
Não havia tempo para uma reforma , porque era necessario mexer na fundação da casa. O que levaria muito tempo. Então , Sam deu a ideia de ele e Fábio carregarem - no.
A sugestão era pertinente , mas eu o conhecia muito bem , para saber que ele não se sentiria confortável com essa situação . Ficamos em dilema ... quem falaria sobre isso com ele ?
Adivinha ? Eu teria que falar com a fera. E tinha que ser logo, porque Sam ia pedir Lou em casamento e chamá - lo para ser padrinho ( Best man ) como costumamos dizer.
Sam já havia se comprometido a planejar o casamento em um lugar que atendesse as necessidades de Lucca quanto a acessibilidade e fazia questão dele como padrinho.
Havíamos pensado em chamar Robert e Jane, para tentar dar um empurrãozinho ao casal. Na verdade , para que eles se tornassem um casal de uma vez por todas, porque Robert era muito complicado parecia ter medo do amor. Mas para isso , eu precisava convencer o Lucca sobre a solução que encontramos.
Alguns dias depois ...
Vim direto do trabalho para a casa dele. Ia dormir lá, o que já havia se tornado uma rotina e que desagradava por demais meu avô que nos últimos meses falava somente o estritamente necessário comigo. Isso me deixava muito triste .
Cheguei e os pais dele não estavam , haviam ido jantar fora e ao teatro, programa perfeito para a noite de sexta – feira. Fábio tambem não estava , alias era muito difícil encontra -lo em casa ultimamente. Ele e Carolina não se desgrudavam. Me dirigi ao quarto ao quarto dele e a porta estava entreaberta , ele estava ao computador trabalhando .
Ficava tão lindo de óculos, tao concentrado que não me ouviu chegar .
- Oi bebê. – disse suavemente para não assusta – lo .
- Oi princesa !!! Que bom que chegou , eu estava morrendo de saudades - falou me dando um sorriso radiante.
- Eu também. – respondi , sentando em seu colo e o beijando sofregamente.
Quando nós separamos, eu fiquei olhando para ele com um sorriso.
- O que foi ?
- Nada. É que eu te amo muito !!!
- Eu te amo super mais !!! - disse me dando um selinho. – Como foi seu dia ?
- Tudo bem. O projeto de poesia foi um sucesso !!!- respondi , tomada pelo entusiasmo – a apresentação das turmas , os pais emocionados . Graças a Deus, deu tudo certo !!!
- A Deus e ao seu empenho !!! – me abraçou apertado.
- E o seu , meu príncipe ? – perguntei , pensando em como iniciar o assunto da viagem e como falar sobre a solução que havíamos encontrado.
- Proveitoso. Consegui concluir dois mais dois projetos. E estou desenvolvendo um projeto de reforma para o Sam.
- Hum ... você está trabalhando muito . Não devia ficar tanto tempo sentado. Com o pé para baixo. Por isso que você sente tanta dor ...
- Você pode me fazer um favor ? –perguntou em um tom de ironia.
- Claro. – falei já me levantando da cama , onde havia me sentado.
- Por favor , chame a minha namorada.
- Como assim ?! – perguntei atônita.
- A enfermeira tomou o lugar dela !!! – seu sorriso de canto, me lembrou imediatamente o de Luke e senti um arrepio desagradável. Dei um passo para trás E meus olhos se encheram de lágrimas.
- Desculpe. – falei com a voz embargada pelo choro que tentava conter – Eu só queria ajudar ...
Ele passou a mão pelo cabelo , caindo em si, sobre a grosseria desnecessária. Conduziu a cadeira para perto de mim , segurou minhas mãos e em seu olhar havia arrependimento.
- Desculpe , meu amor. Eu não sei o que me deu ... Eu sei que você só quer me ajudar, eu sou um idiota . Me perdoa !!! – seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Tudo bem . – soltei minhas mãos das suas e mudei de assunto - Bom vou fazer alguma coisa para comermos ... ou você prefere pedir alguma coisa ?
- Minha mãe deixou preparada uma lasanha. Está no forno , só precisa ser aquecida.
- Ok. Então , eu vou ligar o forno e colocar a mesa.
- Allie, você me perdoa ?! Por favor, princesa ... não vamos ficar assim.
- Está tudo bem . – virei as costas e praticamente corri para a cozinha, onde dei vazão às lágrimas que havia segurado corajosamente.
Acendi o forno. Coloquei a mesa lentamente. E quando ,voltei para o quarto o encontrei com a cabeça apoiada na bancada de trabalho, chorando.
- Lucca , está tudo bem. – Eu acariciava seus cabelos e suas costas. Puxei a cadeira e o abracei – shiiii ... vai ficar tudo bem.
Após algum tempo , em que os soluços , haviam cedido lugar apenas às lágrimas , ele disse :
- Eu estou tão cansado ... de ter dor o tempo todo. De depender das pessoas. De ser olhado com pena , dó ...
Parou recomeçando a soluçar ...
- Por que eu não morri nesse maldito acidente ?! Para dar trabalho aos meus pais, para o meu irmão . Para magoar você , justo você , que eu amo tanto ...
- Por favor , nunca mais diga isso. Eu não sei o que faria se tivesse perdido você !!!
- Talvez fosse melhor para todos ...
- Eu auto – Piedade não vai resolver nada . Só vai tornar tudo mais difícil. Você não está sozinho. E todos nós te amamos.
- Eu não quero que vocês se sacrifique por mim .
- Tudo o que nós fazemos é por amor. Não há sacrifício, quando se ama alguém. E nós te amamos demais. Por favor , nunca se esqueça disso.
Começamos a sentir um cheiro de queimado, corri para a cozinha , mas já era tarde . O nosso jantar havia queimado.
Uma pizza depois e de banho tomado nos deitamos para assistir um filme. Pensei em tocar no assunto da viagem , mas já havíamos tido emoções demais para uma única noite. Acabei adormecendo.
No dia seguinte.
Acordei e estava sozinha, me sentindo cansada. Havia tido sonhos confusos e a única coisa da qual conseguia recordar era de alguem me pedindo para ter paciência . Me espreguicei e ouvi a voz do meu sogro que cantava uma canção em sua língua natal .
Onde será que o Lucca estava ?
Tomei banho e me troquei rapidamente. Me agasalhei , o inverno prometia ser rigoroso. Só estávamos no final do outono e as tempera6 haviam caído muito. Pensei no Lucca e no quanto ele sofreria com o frio.
Fui pegar o meu relógio que havia deixado em sua bancada de trabalho e encontrei um bilhete dele :
“ Princesa esqueci de te avisar ontem, que tinha uma consulta de avaliação marcada com o dr. Edward. Não quis te acordar . Acredito que estarei de volta, até umas 11 h.
Eu super te amo, Lucca . “
Tudo nele era bonito, inclusive a letra. Olhei as horas , eram 10hr45. Então , ele já devia estar chegando. Fui tomar café e cumprimentar os meus sogros.
Só encontrei o Sr, Gian Carlo , que continuava cantando , cozinhando algo que cheirava maravilhosamente bem. Quando me viu sorriu e interrompeu a cantoria :
- Bon giorno , Allie . – eu adorava seu sotaque e sorri ao ouvi - lo – Marina foi com o Lucca ao médIco . E hoje eu sou o responsável pelo almoço . O Fabio ainda não voltou para casa, mas ligou avisando que vem almoçar. Ah , Marina deixou a mesa do arrumada , sinta – se à vontade
Falou sem ao menos uma pausa e sorriu. Ele gesticulava enquanto falava rápido e quando nervoso ou emocionado, costumava misturar inglês e italiano. E nós sempre riamos do Lucca imitando o pai, inclusive o próprio.
- Obrigada. Mas não estou com muita fome.
- Você precisa se alimentar melhor. O café da manhã é a refeição mais importante do dia. É que vocês vivem de regime , eu não sei pra quê ...
- Eu não faço regime, deveria, mas não faço. – disse rindo e ele também riu – É que acordei tarde e se comer muito agora, não vou ter apetite para saborear essa maravilha quer o Sr. Está preparando ...
- Capisco. Hoje teremos raviolli aos quatro queijos com molho ao sugo e vitela assada no vinho tinto. – disse orgulhoso.
- Hum ... já estou salvando.
Ouvimos um barulho na porta ed. Marina apareceu. Logo atras vinha o meu principe . Estava lindo com um suéter cinza e black jeans. Ele sorriu ao me ver e meu dia se iluminou.
- Hum , amore mio , dá para sentir o cheiro lá de fora- disse d.Marina enquanto me dava um beijo de bom dia, indo beijar o marido.
Lucca se aproximou e eu abaixei para beija- lo. Um selinho, eu sempre ficava encabulada na frente dos pais dele, por mais que dormissemos juntos na casa deles.
- Já tomou café ? – ele me perguntou.
- Acordei agora há pouco e fiquei conversando com seu pai. Mas não estou com muita fome ...
- Mas você tem que se alimentar ...
- Já sei ,já sei , Sr. Gian Carlo Jr .. – o interrompi , rindo.
- Então vamos , que eu te acompanho. Estou faminto ...
- E quando você não está ? Nunca vi alguém para gostar tanto de comer .
Irmos e fomos para a copa, onde fora arrumada a mesa para o café. Me servi de iogurte com Grândola e Lucca pegou um pão de batata e suco de laranja, dando logo uma mordida.
- E então como foi a consulta ?
- Mais do mesmo ...- respondeu não prolongando o assunto.
Mas eu insisti.
- Como assim ? Dá para ser mais específico ?
- Por onde começar ? – fez uma pausa tomando um gole de suco - A notícia Boa é que recuperei completamente a sensibilidade da minha perna direita e as fraturas se consolidaram a contento ...
- Mas ?
- Sempre tem um mas ... Dr. Edward , me desenganos quanto ao meu pé esquerdo, eu perdi quase 10 cm da minha tíbia, mesmo com a reconstrução e o meu tornozelo é frágil como um cristal. Segundo ele , posso a qualquer momento sofrer uma fratura de impacto...
- Fratura de impacto ? – perguntei sem entender, o que isso significa .
- É uma fratura causada por uma batida ou até se eu , por exemplo , pular da cama. Dependendo da intensidade do impacto , meus ossos podem se partir e a correção nesse caso é cirúrgica. Resumidamente, eu nunca mais vou andar sem o auxílio de muletas ou andador. E ele recomendou que eu mantivesse o uso da cadeira o máximo possível E sempre que fosse possível, meu priorizasse seu uso. Ah , e devo continuar com a fisioterapia com um programa de fortalecimento para não perder mais massa muscular. E claro, me conformar com as dores crônicas e constantes .
Eu estava arrasada. Tinha tanta esperança em uma recuperação total, apesar de todas as probabilidades contra. E eu imagino como ele deveria estar se sentindo, vinte seis anos e condenado a uma vida de deficiente . Nesse momento, me veio flash , dele segurando o machado e rindo . Pisquei para afastar a lembrança indesejável e perguntei :
- Como você está se sentindo ?!
- Não sei ... minha ficha ainda não caiu . Eu tenho vinte seis anos, e estou condenado a uma vida de limitações. Dar preferência ao uso de cadeira de rodas ?! Bom, eu estava pensando em esquis ou ainda, um skate. Ah , é verdade , eu não posso fazer mais nada disso.
Eu não sabia o que dizer ... então segurei em suas mãos, olhando – o tentando transmitir todo meu amor.
Mas acho que fui mal interpretada ...
- Por favor , disfarce esse olhar de pena, comiseração ... – disse friamente.
- Pena ? – repeti perplexa.
- Se você pudesse ver sua expressão agora, Alicia ... – saiu conduzindo à cadeira em direção ao quarto.
Permaneci sentada ,refletindo por alguns instantes. E me recordei da voz ,que me pefia para ter paciência. Depois alguns minutos fui para o quarto e o encontrei deitado , olhando para o teto com uma expressão vazia. Tirei os meus tênis, o moletom que vestia e me deitei ao seu lado em silêncio.
Silêncio esse, em que permanecemos, não sei por quanto tempo. Até que ele o rompeu.
- Alicia , eu acho melhor terminarmos. – sua voz estava fria e ele permanecia olhando para o teto.
- O que você disse ?! – perguntei incrédula.
- Isso mesmo que você ouviu. O deficiente aqui sou eu. Eu quero que você vá embora.
- Eu não estou te entendo ... você não está bem ...
- Eu tenho problemas no pé esquerdo é não problemas mentais. Eu fui bem claro : acabou e eu quero que você vá embora. Depois eu peco a alguém para levar as suas coisas.
- Eu não acredito que você está fazendo isso comigo !!!
- Pois pode acreditar. Eu não preciso da sua pena. Eu queria seu amor .
- Queria ?!
- Sim. No passado. Eu estou cansado.
- Cansado de mim ?! Até agora pouco você me amava ...
- Eu amava a ideia de tudo o que você representa e que está fora do meu alcance para sempre. Ficar perto de você me faz mal.
Saí do quarto sem responder e sem olhar para trás, trombei com Fábio e Carolina na porta de entrada e eles se assustaram com o meu estado . Eu estava sem sapatos e de camiseta .
Fábio me segurou , perguntando o que havia acontecido.
- Seu irmão me mandou embora. Terminou comigo. Disse se sente mal ao ficar perto de mim.- disse isso e não me lembro de mais nada.
Acordei com quatro pares de olhos cravados em meu rosto e imediatamente lembrei do que havia acontecido , recomeçando a chorar .
- Allie , nos explique o que aconteceu. Você não vai sair daqui assim. – d.Marina me pressionou.
Contei tudo minuciosamente, chorando. Percebi a perplexidade em suas expressões.
- Allie , ele está chateado , nervoso. Tente relevar. – disse – me o pai dele- Ele te ama, mas esta de cabeça quente. Você não pode sair daqui, nervosa desse jeito.
- Alicia, se acalme. Vá para o quarto de hóspedes , deixe ele esfriar a cabeça e depois mais tarde vocês conversam racionalmente. – insistiu Fábio.
Minha cabeça latejava, prenunciando a crise de enxaqueca que se aproximava. Eu não conseguia me manter em minhas pernas, tudo estava rodando.
Fabio me pegou no colo, como se eu fosse uma boneca e me carregou até o quarto de hospedes me colocando na cama. Eu vomitei e me senti pior ainda. E lembro vagamente de d. Marina me despindo e de Carolina me dando dois comprimidos.
Eu só queria fechar os olhos e sumir.
O problema era minha mente que não silenciava ,repetindo o mesmo pensamentos :
“ Ficar perto de você me faz mal “
Apaguei, caindo em um sono sem sonhos .... E sem esperança.
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