Clever – esperto
Vovô Benjamim
Eu nunca tive nada contra os meninos Landucci , até um deles começar a namorar minha princesa.
E justo Lucca , por quem sempre senti certo estranhamento. Sem nenhuma razão aparente , mas eu sempre me sentia ameaçado em sua presença , como se corresse perigo ...
Cellie e eu somos espíritas , conhecemos essa filosofia em uma viagem que fizemos ao Brasil , país considerado a maior Pátria espírita do mundo. Lemos as obras bases da doutrina , nos encantado com a lógica dos ensinamentos e quando de volta aos EUA , procuramos um local que professasse essa doutrina. E há mais de trinta anos a seguiamos.
E eu achei que após tanto tempo , eu fosse capaz de exercitar a caridade e a tolerância . Em relação à maioria das pessoas , eu conseguia . Mas quando se tratava de Lucca Landucci , não !!!
Quando os meninos sofreram o acidente na noite de formatura , me preocupei e me senti penalizado por todos . Porém , quando soube da situação do Landucci , me senti como se depois de muito tempo , houvesse sido vingado de algo que eu não sabia.
Fiquei tão envergonhado e culpado por me sentir assim que não comentei nem mesmo com Cellie , minha companheira e confidente há tantos anos .
E vi nessa situação , a oportunidade para tentar convencer Allie a terminar com aquele relacionamento.
Flash back on
Estávamos sentados na sala de estar depois do jantar e Cellie havia perguntado a Allie sobre o Landucci. Eu estava lendo o jornal e fingi não prestar atenção à conversa das duas.
- Ah , vovó... ele não quis me ver de novo. D. Marina , tenta contornar a situação , mas eu sei que há algo errado .
Filho da mãe , estava fazendo minha princesa sofrer . Continuei ouvindo , fingindo indiferença.
- Vovó , Fábio me disse que ele só consegue dormir à base de sedativos fortíssimos , vê que sofre dores atrozes. Eu queria poder fazer alguma coisa ... – disse começando a chorar.
- Meu amor não fique assim !!! Ore por ele.
- Eu tenho orado por ele e por todos nós . Mas sinto medo , muito medo ...
- Do que Allie ?
- Do que o futuro nos reserva ... de não ser capaz de ...
- Capaz de ?
- Ficar com ele assim , sabe ?
- Em uma cadeira de rodas , foi isso o que você quis dizer ?
- Eu ...
- Allie se você o ama , vai ficar com ele de qualquer jeito .
- Mas é que ele era tão perfeito ...
- Alicia , essa sua obsessão com a aparência física das pessoas ainda vai te fazer sofrer muito.
- Não é isso ... eu só acho que vai ser difícil ... vamos ter que abrir mão de muitas coisas.
- Alicia , amor implica em renúncia. A não ser que você só goste do que ele representava , perfeição fisica , status por estar com o garoto desejado por boa parte das garodas da Universidade ...
- Vovó , a senhora acha que sou tão fútil ?! Assim a senhora me magoa .
- Eu não disse que você é fútil . Quem sou eu , para julgar ?! So você sabe o que sente .
Flash back off
Eu achava que Allie era muito nova para atrelar sua vida à um rapaz que teria tantas limitações. Ela tinha toda a vida pela frente , oportunidades ... E ia ficar presa à um aleijado ?!
Assim que ela foi para o quarto e Cellie também se recolheu, subi e bati a porta do quarto de Allie.
- Entre .
- Allie, preciso falar com você ...
- Pode falar vovô . Aconteceu alguma coisa ?
- É sobre Lucca .
Vi quando ela se enrijeceu e sua expressão se tornou apreensiva.
- Alicia, eu sei que você acha que eu não gosto dele. Mas isso não é verdade. Eu só acho que voces são diferentes e que você pode sofrer ...
- Vovô os tempos são outros .
- Allie as pessoas continuam as mesmas , com suas mentalidades medíocres. Mas o que vim falar , é que acho você muito jovem para se prender a esse rapaz. Abrir mão da sua vida , do que gosta ... Você sabe que haverão muitas limitações . E se ele não puder ter filhos , por exemplo ? Você já perdeu seis anos da sua vida, nesse namoro ...
- Vovô , eu o amo !!!
- Paixonite de adolescência . Primeiro namorado ... vai passar. Aproveite agora , esse comportamento dele e termine . Antes que ele te faça sofrer mais. Me escute , eu tenho experiência de vida . E só quero o seu bem , minha querida.
Saí do quarto , satisfeito por ter plantado uma semente de dúvida. Agora era regar e esperar florescer .
Contudo , minha satisfação durou pouco e eles fizeram as pazes.
Depois , ele terminou com ela e apesar de ver seu sofrimento, dei graças a Deus. E comecei contatar as pessoas que me deviam favores , para agilizar a viagem que ela tanto desejava fazer para Londres.
Mas a burocracia , atrapalhou os meus planos e mais uma vez eles se reconciliaram.
Decidi tentar aceitar esse relacionamento , que apesar das adversidades , parecia se fortalecer cada vez mais . Allie praticamente , passou a morar na casa dos Landucci e Cellie parecia não se importar com isso, mas eu demonstrei minha contrariedade .
Passei a ignorar a minha princesa, e isso me feria profundamente . Tudo culpa do Landucci !!! Eu sentia minha raiva aumentar.
Cellie percebeu minha mudança de comportamento . Eu havia me tornado mal humorado, taciturno ... Então , ela sugeriu que eu procurasse orientação espiritual. E eu concordei , mas algo dominava minha vontade e só conseguia imaginar um jeito de separar Allie do Lucca.
Quando eu soube do que havia ocorrido na reabilitação , me senti exultante !!! Era a deixa que eu precisava ... Usei mais uma vez, de toda a minha influência e dessa vez os ventos sopraram à meu favor e finalmente a permissão foi obtida . Londres , era o próximo destino de Allie.
E agora que o Landucci estava fragilizado , essa viagem seria o golpe de misericórdia no relacionamento deles.
Mas para garantir, eu orientei o filho de um amigo que também iria à Londres, a se aproximar de Allie , com o pretexto de tomar conta dela para mim , por estar em um país estranho e longe de casa. Tive um certo trabalho para coloca – lo no mesmo grupo de Allie , mas nada que o dinheiro e a persuasão , não conseguissem.
Estava tudo dando certo . E ao ouvir a coversa de Cellie e Marina ,enquanto tomavam café , tive certeza da vitória.
- Cellie eu não sei mais o que fazer ... estou desesperada . Ele mal se alimenta, dorme pouco. Se não são os pesadelos , é a dor ... ele chora como uma criança , me pedindo mais analgésicos, porém eu tenho que recusar . Ele está se tornando dependente deles e isso parte meu coração.
- Calma Marina. Às provações vêm para nos fortalecer ...
- Mas eu tenho medo que ele não aguente . Depois dessa consulta , em que procuramos uma segunda opinião, ao ouvir o diagnóstico , foi como se uma luz se apagasse definitivamente. Ele não reage , não demonstra o que está sentindo e está se isolando cada vez mais. Eu sei que o sofrimento dele é mais que fisico ... E por isso , eu queria pedir a Allie , que não desista do meu menino.
- A Allie o ama. E posso afirmar que isso vem de outros tempos ... Marina , eu sei que você professa outra fé , mas vocês poderiam ir ao centro que frequento , para receber ajuda .
- Ajuda ?
-Sim . Passes de cura ...
Perdi o interesse pela conversa e fui para o meu escritório.
Eu queria que ele urrasse de dor !!! Que ele sentisse na pele , o que fez aos outros.
Ao ter esses pesamentos , me senti por alguns momentos feliz. Principalmente ao pensar no sofrimento dele.
No jantar , quando Cellie comentou sobre a visita de Marina e o sofrimento dele , não me contive :
- Eu acho pouco por tudo o que ele fez . Eu quero que ele sofra !!! Se eu pudesse , quebraria cada osso do pé dele com minhas próprias mãos. E repetiria mil vezes ...
Só parei de falar , porque Cellie havia derrubado a taça que segurava e me olhava aterrorizada. Nesse momento , senti uma vertigem e um mal estar, sem explicação.
- Meu Deus !!! Como eu não percebi ...
- Cellie o que está acontecendo comigo ?! Eu ...
- Calma, nós vamos resolver meu amor. Eu estou aqui .
Me abraçou e me senti em paz, como há muito não sentia . As vozes em minha mente silenciaram ...
DIAS DEPOIS
Assim que Allie embarcou , me senti aliviado e ao mesmo tempo culpado.
Eu havia voltado a frequentar o centro e obtive esclarecimentos ,sobre o porquê das minhas atitudes. E apesar de seguiar a doutrina, em um primeiro momento , reagi com incredulidade à explicação , dada pelo dirigente :
- Bem, nós nos conhecemos há muitos anos e eu sei que posso se honesto com você ... A sua antipatia, na verdade ódio por esse rapaz se originou em uma encarnação em que você foi escravo dele, tentou fugir e teve seu pé cortado por ele. E apesar do tempo decorrido, você não o perdoou. Ele escolheu passar por uma prova semelhante e Allie decidiu acompanhá - lo por amor e também para vencer a si mesma. Nesta encarnação como escravo , você era apaixonado por Allie que era sua senhora e revoltava com os maus tratos sofridos por ela. Com as muitas encarnações que tiveram juntos , ora como pai e filha,ora como mãe e filho, vocês sublimaram esse amor. E Ben , você pediu para vir e apoia -lo nessa prova , por acreditar que já o havia perdoado. Contudo ,o ressentimento falou mais alto .
- Isso não é possível !!!
- É Ben . E você sabe disso , como estudioso que é. Agora cabe a você , decidir o que vai fazer com essa informação. Só tenha em mente que você está amparado e não está sendo julgado. E que recebemos de volta , o que damos ...
Durante toda a nossa conversa, Cellie estava ao meu lado , segurando minha mão e me transmitindo força.
E agora, o que fazer ? Tentar superar essa aversão ou me manter distante ?
Eu serei capaz de perdoar ? E acabar com esse ressentimento , que até então achava sem sentido ?
Errar por ignorância merece perdão, mas errar com conhecimento de causa , não !!!
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