Cry Baby
Pov Lucca
Nunca pensei que seria possível passar por tantos constrangimentos ... a hora do banho no leito e ter que usar fraldas, me fizeram pensar em quão frágeis nos seres humanos somos.
Quando pensei que não poderia piorar , minha mae veio me avisar que a Allie queria me ver e estava na sala de espera. Senti muito medo, não queria que ela me visse nesse estado , não queria ver no seu olhar piedade onde antes existiam amor e desejo. Mas não tive como recusar a sua visita, falar “não “ , não estava em minhas opções.
Quando ela entrou no quarto senti meu coroação se aquecer, como sempre acontecia quando a via e sorri meio encabulado pela situação. Mas ao olhar em seus olhos e ver o misto de horror e pena , o sorriso morreu em meus lábios.
Minha princesa estava com pena de mim ? Percebi seu constrangimento, seu nervosismo, mas mesmo assim sentia meu coração bater descompassado em um misto de amor e medo.
Allie se aproximou da cama e segurou minha mão. As mãos dela estavam geladas e tremiam :
- Oi bebê ...
- Oi princesa - parecia que não sabíamos o que falar, estranhei esse silêncio que vinha carregado de palavras não ditas.
Allie pigarreou e tentou novamente :
- Que estrago hein !!! – percebi seu esforço em sorrir, ela olhava para todas as direções, parecendo estar muito interessada na decoração do quarto , que por sinal era todo branco.
- Pois é. Pode dizer eu avisei ... – tentei dar meu melhor sorriso.
- Mas eu não avisei ... se eu tivesse insistido para você ficar, tivesse implorado ...
- Não Allie !!! Não se culpe , a escolha foi minha amor e a consequência é está.
- Eu não sei o que dizer, o que fazer... há algo que eu possa fazer ?
- Sim ... me dar um beijo !!!
Pela primeira vez senti que poderia realmente perder a Allie. Ela me deu um selinho e parecia desconfortável quando tentei aprofundar o beijo. Nós separamos e eu não me contive :
- Alicia não se sinta presa a mim ou ao nosso relacionamento ... eu sei que namorar um aleijado não é seu sonho de consumo !!! – Eu queria mágoa – la por estar tão distante.
Ela recuou um passo como se tivesse levado um choque e quando me olhou , seus olhos estavam nublados pelas lágrimas.
- Lucca !!! Como ... o que você está dizendo ?! – sua voz saiu trêmula e rouca.
- Ora nós dois sabemos ...
Flash Black on
Estávamos sentados em nossa lanchonete preferida e enquanto aguardávamos os nossos pedidos , brincávamos de criar histórias com as pessoas que entravam. Até que entrou um casal jovem, ele cadeirante. Allie imediatamente parou de sorrir e disse uma coisa que me chocou :
- Ela é tão jovem e bonita e vai estragar a vida ,namorando uma pessoa assim ...
- Allie !!! Como assim, as pessoas com deficiência também amam , sabia ? Se fosse comigo , você iria me abandonar ?! – devo ter sido um tanto rude, porque ela abaixou a cabeça e pareceu estar envergonhada do comentário preconceituoso.
- Claro que não bebê !!! Até porque nos estamos juntos ... o que eu quis dizer é que eu não sei se teria coragem para namorar uma pessoa nessas condições , enfrentar as limitações , o preconceito....
- Muito me admira você falar que não teria coragem para enfrentar o preconceito ... nós enfrentamos isso constantemente e não é de nenhum estranho, não é ? - mais uma vez Allie abaixou a cabeça.
- Bom isso não é problema nosso. Você é perfeito , lindo e eu te amo. Não vamos discutir por isso – falou tocando minha coxa e eu imediatamente perdi o ardor em defender qualquer causa.
Flash Black off
Allie parecia querer desaparecer no ar como se fosse fumaça.
- Lucca você sabe que foi um comentário infeliz e que eu não sou preconceituosa. É a nossa situação é outra ...
- Outra ?! Não , não é !!! Você não entendeu que eu estou ALEIJADO ?! – percebi que estava gritando ao terminar a frase porque ela se afastou em choque com a minha reacao.
- Alicia vai embora !!!
- Lucca ...eu
-SAI DAQUI !!! EU NÃO PRECISO DA SUA PIEDADE !!! SAI !!!
Minha mãe entrou no quarto apavorada com os meus gritos e se surpreendeu ao ver Allie chorando copiosamente e o meu estado de descontrole.
- Eu não sei o que ele tem d. Marina ... eu não - Não conseguiu terminar a frase, tomada por soluços.
- SAÍAM !!! ME DEIXEM SOZINHO !!!
Minha mãe a pegou pela mão e saíram do quarto. Não consegui conter o choro que parecia me sufocar. Que decepção ... Allie não me amava. Não um aleijado ...
POV Alicia
Quando o vi naquela cama de hospital, só pensei que gostaria de poder voltar no tempo ... tira – lo daquele sofrimento. Eu queria falar algo engraçado, sei lá qualquer coisa que acabasse com aquele silêncio que nos sufocava. Mas minha voz não saía.
Quando consegui falar , minha voz saiu trêmula :
- Oi bebê ... – Eu queria passar força e transmitir todo o meu amor, mas não sabia como.
É quando ele me fez lembrar do comentário infeliz que fiz uma vez, senti o chão fugir sob meus pés. E acho que o que falei em seguida, só piorou a situação.
Ele reagiu gritando e nunca havia gritado comigo. Eu ainda tentei contornar a situação , mas fui expulsa do quarto aos berros e se não fosse pela mãe dele , eu acho que teria desabado ali mesmo.
D. Marina falou hesitante , quando me acalmei da crise de choro :
- Allie , meu amor , o que aconteceu ?
- Eu não sei ... estávamos conversando e ele começou a falar que não queria minha piedade, que era um aleijado e que eu não precisava ficar com ele... Eu – comecei a chorar novamente .
- Ele está nervoso ... tente relevar. Nós não temos ainda um diagnostico definitivo e o que eu sei é que recuperação vai ser lenta. Ele está tendo dores terríveis e só dorme a base de sedativos. Meu menino está sofrendo e eu não posso fazer nada ... – falou começando a chorar também.
Me senti péssima , ao inves de consolar , eu estava sendo consolada. A abracei e choramos juntas , impotentes frente ao sofrimento do nosso amor.
Ainda fiquei por lá , uma meia hora. E no caminho de volta para casa , a expressão de raiva que vi no rosto do Lucca não saía da minha mente, era só fechar os olhos e eu via aquela cena horrível.
O que eu vou fazer para provar para ele que não importa a situação , ele é o amor da minha vida ?!
POV Marina
Ao ouvir os gritos do meu filho , me desesperei ... o que estava acontecendo ?! Eu achei que a visita da namorada faria bem a ele e o tiraria daquele estado de apatia. Mas parece que minhas esperanças foram infundadas ...
Eu e Allie conversamos, ela tão pouco soube explicar aquela explosão e parecia perdida e desolada. Dividimos nossa dor.E eu preciso saber o que deixou meu filho tão transtornado.
Decidida entrei no quarto e o encontrei olhando pela janela , chorando silenciosamente.
- Filho está com dor ? Precisa de alguma coisa ?
- Não mamãe. Está tudo bem ...
- Lucca conversa comigo .... Filho ?
Meu menino estava sofrendo e eu me sentia inútil por não poder ajuda -lo. Só conseguia pensar “ Deus porque ? “.
Mas eu não podia me abater , ele precisava de mim e haviam questões práticas a serem resolvidas, como a reforma e as adaptações necessarias para quando ele voltasse para casa. Respirei fundo, dei um beijo em seu rosto e fui resolver o que estava ao meu alcance.
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