Running
CAROLINA
Achei que o casamento de Sam e Lou , faria com que Fábio se sentisse inclinado a tocar no assunto sobre o nosso casamento ... Só que não .
Mesmo com os meus comentários entusiasmados sobre a cerimônia , como o brinde de Lucca havia emocionado a todos , ele se manteve impassível. Apenas concordando comigo e ficando a maior parte do caminho para casa em silêncio.
Apreensiva com aquele comportamento pouco usual , perguntei :
- Anjo , está tudo bem ? Você está tão quieto ...
- Hum ?! Ah , tudo bem ...
Soou desinteressado e me perguntei se ele havia escutado metade do que eu havia dito.
- Não parece ... – insisti .
- Eu estou com dor de cabeça , Carolina. Ok ?!
Seu tom rude me pegou de surpresa.
- Desculpe !!! Eu vou ficar quieta.
Ele nem se deu ao trabalho de me olhar .
O que estava acontecendo ?!
Tentei rememorar se havia feito algo que pudesse irrita -lo, mas não consegui encontrar nenhuma atitude que eu tivesse feito para desagrada – lo. Ao contrário de Allie , que havia deixado Lucca a maior parte do tempo sozinho e dançado com outro cara , eu não havia saído do lado dele e do irmão.
No dia anterior , eles haviam saído para a despedida Light de solteiro do Sam , no bar do pai do Dean ( aliás esse era o nome do bar “ Pai do Dean “ , já que ninguém se referia ao local de outra forma ) e eu me prontifiquei a ser a motorista da noite , levando cada um deles para casa. E assim fiz, quando ele me ligou por volta das duas da manhã , fui buscá - los no bar e os entreguei direitinho.
E desde aquela maldita visita , ele havia se retraído. Eu procurava demonstrar de todas as maneiras possíveis o quanto o amava , mas pelo jeito não estava dando muito certo ...
Chegamos em casa e , no elevador o abracei. Ele apenas colocou o braço ao redor da minha cintura e apoiou o queixo em minha cabeça.
Suspirei ... eu teria que correr atrás do prejuízo.
Entramos e ele foi direto para o banho , pensei em me juntar a ele ... mas em meio a minha hesitação, ele terminou o banho. Fui tomar banho sozinha e pensando no que fazer para evitar que a noite terminasse em um completo fiasco.
Porém, quando saí do banho ele já dormia. Deitado de lado , virado para a parede. Me deitei ao seu lado e , essa foi a primeira vez desde que havíamos feito as pazes , que não dormimos abraçados.
E eu que sempre preservei meu espaço, me senti perdida sem seus braços .
FÁBIO
Durante toda a cerimônia e a festa , eu só conseguia pensar se Carol e eu um dia teríamos aquele amor calmo e seguro. Sem a interferência dos pais dela e do babaca do ex namorado. Ou ainda , sem o preconceito dela.
Sim , porque ela ainda nos via como um casal inter-racial . Eu sempre havia nos visto como um casal , nunca pensei na questão racial como um obstáculo para o nosso amor.
Mas eu tive que encarar a dura realidade , de que o que ela havia vivido com o tal Henry , havia deixado cicatrizes profundas e que talvez o meu amor não fosse suficiente para ameniza – las .
Durante o trajeto para casa , ao ouvi – la falar com tanto entusiasmo sobre o casamento , tive que me segurar para não pedir sua mão novamente. Ela precisava de tempo e eu o daria , mesmo que me fizesse sofrer.
Eu a quero por inteiro . Sem dúvidas . Sem medos.
Essa angústia , me rendeu uma dor de cabeça intensa e uma irritação descomunal.
Eu não estava afim de papo. E de verdade , se eu fosse falar alguma coisa , seria para ela escolher de uma vez por todas : os pais dela ou a mim !!!
Porque estava mais do que óbvio , que ela tinha que fazer essa escolha. Os pais dela não iriam me aceitar. E eu, não estava mais suportando essa indecisão.
Mas o que me amargurava era o fato de eles preferirem o babaca , que magoou profundamente a filha deles , à mim .
Que insanidade !!!
O cara havia sido e agido como um perfeito idiota e eles achavam que seria melhor para ela estar com ele ?!
Sério ?! Só podem ser desequilibrados !!!
Como não queria conversar para evitar uma explosão , que traria mais danos a nossa relação , fingi dormir.
Senti quando ela se deitou e eu me controlei para não me virar e pegá - la em meus braços. A falta de toca – la provocava dor física ... mas do jeito que o nosso relacionamento ia , em breve eu teria que me acostumar com a ausência e com essa dor ...
NO DIA SEGUINTE
Acordei e ele não estava mais na cama e o apartamento em completo silêncio.
Levantei , fiz minha higiene e fui para a cozinha. Na geladeira havia um bilhete, sucinto :
“ Bom dia , Carolina .
Fui para a casa dos meus pais , vou almoçar por lá .
Fábio . “
E mais nada . Nem um convite para me juntar à ele , um desejo de bom dia ou um simples beijo. Nada.
Me sentei ao balcão , ainda segurando o bilhete , pensando no que fazer ...
Algo estava muito errado !!! Será que ele ia terminar comigo ?! Havia deixado de me amar ?!
Resoluta , liguei para ele mas caiu direto na caixa postal e toda a minha decisão caiu por terra .
Me senti como se tivesse sete anos novamente , perdida no mercado sem os meus pais .
Então liguei para Allie , precisava conversar , desabafar .
- Allie , sou eu . Carol.
- Tudo bem ? Sua voz está estranha ...
Ela me conhecia. E eu era grata por isso.
- Você pode vir aqui em casa ?! – disse segurando o choro.
- Ok . Em quinze minutos , estarei aí. Calma tá ?
Desligamos.
Me troquei e fiquei enrodilhada no sofá , enquanto as lágrimas escorriam silenciosamente por meu rosto.
Pouco tempo depois o porteiro interfonou , me avisando chegada de Allie.
A aguardei no corredor e assim que ela saiu do elevador , a abracei e chorei.
Voltamos para o apartamento e quando me acalmei , falei :
- Desculpe pelo descontrole ...
- Carol, por favor !!! Você é minha irmã. E também já me apoiou muitas vezes. Eu só quero saber o que está acontecendo e como posso ajudar ... – disse – me suavemente.
- Eu acho que o Fabio não me ama mais e vai terminar comigo .
- Posso saber de onde você tirou essa ideia ?!
- Desde que o Henry apareceu aqui, ele está diferente . Distante... Até o sexo mudou. E ontem , ele me ignorou completamente. Hoje ao acordar , encontrei esse bilhete .
- Carol , ele está magoado e inseguro com todos esses acontecimentos . Hoje ele chegou muito, mal cumprimentou os pais , ele e o Lucca se trancaram no quarto . D. Marina , disse nunca ter visto , ele assim ... Eu acho que vocês têm que conversar abertamente.
- Eu não sei por onde começar ... o que dizer. Tenho medo piorar a situação .
- Carolina , já passou pela sua cabeça que provavelmente ele está se sentindo como você ? Diga sem medo o que está pensando , o que sente. Evite mal entendidos.
- Vou fazer isso hoje . Chega de ficar nessa agonia !!!
-Isso mesmo se resolvam . – disse sorrindo , mas percebi tristeza em seu olhar .
- Mudando de assunto ... o que te deu ontem ? Deixou o Lucca sozinho ...
- Eu mais uma vez agi sem pensar e me comportei como uma idiota ...
Ela me colocou a par de tudo o que aconteceu , do que disse e de como estava se sentindo culpada .
- E foi isso Carol . Eu fiquei tão cega de ciúme e de raiva , que agi irracionalmente .
- Nós duas estamos nos saindo muito bem ...
- Bem ?! – me olhava com espanto .
- Sim . Se a nossa intenção é a de sabotar nossos relacionamentos , estamos de parabéns !!!
Rimos. E acabamos por passar o dia juntas .
No final da tarde a acompanhei até a casa dos pais dele .
Estava calma e decidida a resolver de uma vez por todas essa situação.
Mas aparentemente, ele já havia resolvido do jeito dele.
Assim que Allie estacionou e saímos do carro rindo , a cena que vi fez o riso morrer em meus lábios .
Fabio conversava com uma loira linda , próximos o suficiente , para que ela mantivesse a mão no peito dele com muita intimidade . Ele ria de algo que ela dizia ao ouvido dele , aproveitando para roçar o corpo no dele. Pareciam muito à vontade e demoraram para se dar conta da nossa presença.
Allie me disse :
- Calma . Ela é ex namorada dele . Mas não tem nada a ver ...
- Eu estou calma – a interrompi – Pelo jeito , ela logo vai deixar de ser ex. Allie , me empresta o seu carro , eu tenho que sair daqui .
- Carol ...
Não deixei que ela terminasse.
- Por favor , Allie. Por favor .
Ela me jogou as chaves e o som chamou a atenção dos “ pombinhos “ que se viraram em nossa direção e finalmente nos viram .
Virei as costas e fui correndo para o carro. Ainda ouvi a voz dele me chamando , mas eu acelerei.
Só queria sair de lá o mais rápido possível ... Era desse jeito que ele me amava ?!
Para o inferno com ele e com o “ amor “dele !!!
Eu não conseguia enxergar em meio as lágrimas , meu celular tocou e por uma fração de segundo , desviei minha atenção para ver o nome dele no visor do telefone ...
E depois ouvi um som ensurdecedor , senti uma pancada e o tudo escureceu .
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