Grooms
FÁBIO
Eu literalmente estava contando os dias que faltavam para o nosso casamento.
Eu tinha a sensação que o tempo se arrastava , fazendo de propósito para testar minha paciência !!!
Ao menos a questão do vestido estava resolvida . Faltava apenas os últimos ajustes do meu terno , que foi feito sob medida .
Os demais preparativos já haviam sido concluídos. E até mesmo a lua de Mel , eu já havia organizado.
Carol não teria motivos para adiar o casamento .
De verdade , esse era o meu maior medo .
E se de repente os pais dela tentassem mais uma artimanha , algum golpe sujo e tivessem êxito ?
Apesar de vê – la determinada , eu me sentia inseguro .
Não conseguia esquecer daquele babaca do ex namorado , aparecendo na porta de casa com a maior cara de pau !!!
Mas não adiantava nada ficar me martirizado , eu tinha que me convencer disso e concentrar no meu casamento. E para ajudar , eu ainda tinha que comprar os presentes de Natal , que claro deixei para a última hora .
Precisava de companhia para aquela tarefa enfadonha. Liguei para o meu irmão :
- E aí ? Lucca preciso de um favor ...
- Oi ,manda .
- Preciso que você vá comigo ao shopping , eu ainda não comprei os presentes. – disse já prevendo o esporro que ouviria.
Dito e feito.
- Caramba Fábio !!! Antevéspera do Natal e agora você decide fazer compras !!! Você não tem jeito .
- Eu sei ... mas com essa correria do casamento ...
- Ah , por favor não venha com essa desculpa esfarrapada . Você não fez nada , além de tirar as medidas para o seu terno e conseguiu chegar atrasado ao alfaiate .
Pelo seu tom de voz, eu sabia que ele estava segurando o riso.
- Tudo bem , eu vou mudar . Você está se sentindo melhor depois dessa bronca ? Vai comigo ou não ?
- Primeiro você não vai mudar , escuto isso desde que éramos crianças. Segundo , estou me sentindo ótimo e terceiro , vou né !!!
- Por um momento , cheguei a pensar que você me abandonaria, me deixando sozinho para enfrentar essa batalha ...
- Idiota !!! A que horas você passa aqui ?
- Já estou a caminho.
- Ok. Você paga o jantar . Até daqui a pouco.
- Ok. Até .
Desliguei com um sorriso no rosto.
Eu e meu irmão sempre fomos parceiros. E tenho certeza que isso nunca irá mudar .
Passei para pegá -lo e fomos conversando amenidades .
Já no shopping , enquanto eu me decidia entre um anel ou uma pulseira para minha mãe , fazendo a vendedora da joalheria ficar impaciente com a minha indecisão , perguntei :
- Lucca , você já comprou o presente da Allie ?
- Sim .
- E qual é ?
- Surpresa . Não posso falar .
- Por que ?!
- Porque você é linguarudo e ela sabe como tirar as coisas de você .
- Linguarudo ?! Eu ?! Quando foi que deixei escapar algum segredo par Allie ?!
Eu estava indignado com aquela acusação.
- Me deixe refrescar a sua memória seletiva ...
O interrompi para concluir a compra e me livrar do olhar da vendedora, que era capaz de congelar o fogo do inferno. Me decidi pela pulseira de esmeraldas , minha mãe adorava jóias e como Lucca daria brincos da mesma pedra, formaria um conjunto.
Saímos da joalheria e fomos ao Outback . Depois que nos acomodados e fizemos nossos pedidos , retomei o assunto :
- Vamos refresque minha memória . Eu te dei bastante tempo para inventar algo criativo ...
- Pois muito bem ... Você se lembra de quando te contei da viagem que tinha programado para o chalé , para comemorar o primeiro ano de namoro com a Allie e te pedi segredo ?! -disse sorrindo com ar de vitória e continuou - Lembra da festa surpresa para o Sam ? Quer que eu continue ? Posso fazer isso o dia todo ...
- Ok . Você me convenceu . Mas em minha defesa digo que eles me manipularam abusando da minha inocência .
Gargalhamos até perder o fôlego. E o restante da refeição transcorreu nesse clima bem humorado .
Apesar do shopping estar lotado conseguimos nos locomover com certa tranquilidade e evitamos filas , graças à preferência a que Lucca tinha direito.
Mas eu ainda tinha um problema , não sabia o que dar para Carol.
Lucca fez uma sugestão que acatei , sapatos . Não havia como errar !!!
Mas não qualquer sapato como ele disse com ar grave . Sapatos Jimmy Choo . E falou o nome da marca com a reverência que tínhamos ao falar de uma Ferrari.
Na loja ele me ajudou a escolher . Estava familiarizado , já que frequentemente presenteava Allie.
Escolhemos scarpins pretos e uma bolsa para combinar.
Estavamos indo para o caixa , quando me deparei com o par de sandálias mais sexy que eu já havia visto !!!
Imediatamente , imaginei Carol as usando com aqueles pés lindos e delicados , sem mais nada. Meu corpo reagiu de forma intensa .
- Lucca olha esse par de sandálias !!! Que maravilha !!!
- Linda mesmo !!! Vai levar também ? – perguntou sorrindo maliciosamente.
- Sim . Com certeza .
Demos risada. Ele sabia do meu fetiche por pés.
E por incrível que pareça , era uma coisa que eu e Allie tínhamos em comum e motivo de piada , quando íamos à praia ou piscina e ficávamos reparando e dando notas para os pés das pessoas.
Peguei o par de sandálias , depois que a vendedora nos atendeu novamente com um sorriso alegre .
- São bem simpáticas as vendedoras dessa loja . – comentei .
- E têm motivos de sobra para serem assim ... com essas gordas comissões . – disse sorrindo sarcástico.
Não entendi seu tom , mas não prolonguei o assunto . Ele também havia pegado um par de sapatos belíssimos para Alli , que conforme ele disse era inspirado na Cinderela e tinha um brilho muito delicado.
Finalmente , fomos para o caixa e o valor da compra me surpreendeu ... os sapatos eram tão ou mais caros que jóias !!!
Agora eu entendia seu tom de reverência ao falar o nome da marca e o sarcasmo em relação às vendedoras.
Quando saímos da loja , não me contive :
- Cara vou largar a engenharia e virei trabalhar nessa loja !!!
Ele riu e respondeu :
- Eu já pensei nisso ... mas nosso perfil não preenche os requisitos que são exigidos pela loja . – disse fazendo um sinal com a mão que indicava homossexualidade .
Caí na risada. E seguimos com as compras até que conclui minha lista.
Notei seu cansaço e fomos para a casa dos meus pais. Fiquei um pouco lá , conversando com eles e depois fui para casa satisfeito.
LUCCA
Sair com meu irmão , era garantia de diversão .
Relembrei de sua expressão ,quando viu o par de sandálias e caí na risada.
Ele e Allie eram loucos !!!
Tanta coisa para olhar e eles ficavam reparando em pés ...
Por sorte , os meus eram bonitos , segundo Allie .Ou eram , agora com as cicatrizes ...Ela sempre tecia elogios para o formato dos meus dedos , ao fato de não ter pêlos . O que sempre me fazia rir , deixando – a brava. As únicas coisas que me agradavam era quando ela massageava meus pés ou se excitada com eles .
Mas cada louco com a sua loucura .
Eu estava cansado da verdadeira maratona de compras e para variar com dor , o que não era novidade. Eu estava tentando diminuir a ingestão de analgésicos , mas hoje seria impossível não tomar a dose máxima.
E o pior é que ainda tinha que fazer a última prova dos ternos que usaria no casamento do Fábio e no meu.
Pensei em cancelar , mas acabei desistindo .
No caminho até a alfaiataria , me peguei pensando em como seria a cerimônia do meu casamento ... Eu teria que usar a cadeira de rodas . Por mais que eu pedisse ao padre Patrick para ser conciso , eu não ficaria menos de quarenta minutos em pé . O que sobrecarregaria meu tornozelo direito que a doendo constantemente . E as temperaturas abaixo de zero , também não ajudavam.
Eu não havia comentado nada com a Allie , mas já tinha passado algumas noites em claro , por conta da dor. Eu ficava velando seu sono. Ela ficava tão linda dormindo ...
Tive que interromper o fluxo dos meus pensamentos para procurar uma vaga e estacionar.
Algum espertinho tinha estacionado na vaga reservada à deficientes. Consegui uma vaga no final da rua , ao sair do carro e me apoiar nas muletas , trinquei os dentes para não gritar . E para ajudar a alfaiataria ficava à uns 250 metros de onde eu havia deixado o carro , o que me fez andar um bom pedaço, praguejando contra a dor e o bendito que havia parado na vaga reservada.
Por sorte , seu Giovanni me atendeu rapidamente , fazendo os últimos ajustes mais rápido ainda . Enquanto aguardava sentado na sala de espera , tentei desviar o foco da dor .
Comecei a pensar na lua de mel , nós iríamos para Toscana . Será a primeira vez de Allie e minha segunda . Mas dessa vez, teria uma emoção diferente ... Eu estaria com a minha princesa . Minha esposa.
Fui tirado do meu devaneio, por Francesco assistente do senhor Giovanni .
- Senhor Landucci , está pronto . Eu vou acompanha – lo até o carro .
Giovanni se despediu com um aceno , enquanto falava ao telefone.
Saímos da loja e na caminhada até o carro , Francesco perdeu o fôlego por duas vezes . Ele estava acima do peso e carregando dois trajes completos. Tive pena .
- As pessoas não tem educação . Aposto que quem estacionou na vaga reservada , não tem nenhuma necessidade especial . O carro não tem o adesivo para identificação . – ele estava indignado .
- Provavelmente você está certo .
Disse querendo chegar em casa o mais rápido possível. Agradeci sua gentileza e praticamente e joguei no banco do carro.
Dirigi até em casa , rezando para não pegar nenhum farol fechado . E minhas preces foram atendidas.
Ao chegar, fui direto para o quarto . Tomei outro analgésico mais potente , tirei os sapatos e me deixei cair na cama .
Eu queria esquecer que pés ...
Acordei com Allie me chamando , sentada ao meu lado .
- Dormindo à essa hora bebê ? Assim vai ter insônia ...
Mal sabia ela .
- Oi . – minha voz saiu rouca, eu estava meio desorientado . – Que horas são ?
- Quase sete ... – ela me olhava atentamente.
E eu havia dormido por uma hora e meia . Ao menos a dor havia se tornado suportável .
- Como foi seu dia ? -perguntei para tentar fazer com que ela parasse de olhar , como quem estuda um espécime raro .
- Foi bem . E o seu ? – ela continuava me olhando.
Sentei na cama e consegui evitar uma careta .
- Ótimo . Fui com o Fábio ao shopping e depois buscar os meus ternos , que aliás estão no carro .
- E está tudo bem ?
- Como assim ? O que você quer dizer ? – me fiz de desentendido .
- Nada. Deixa pra lá . A Jane me telefonou , nos convidando para jantar. O Fábio e a Carol também vão . Você quer ir ?
- Claro . – justo hoje . Obrigado universo .
- Eles vão viajar amanhã e só voltam depois do ano novo . – ela disse indo em direção ao banheiro .
Levantei cuidadosamente , sentindo a dor voltar com toda força . Tomei mais dois comprimidos e fui para o closet separar uma roupa.
Eu não queria que Allie percebesse que eu não estava bem.
Justamente agora que ela estava bem , eu não queria preocupa – la.
Ela saiu do banheiro envolta na toalha de banho , os cabelos cacheados presos em um coque alto .
Como era linda !!! E como eu a amava.
Se ela queria ir jantar na casa de Robert e Jane , nós iríamos.
Fui tomar banho , rezando para que o remédio fizesse logo efeito. Saí do banho e Allie me esperava já arrumada , sentada na cama que tinha arrumado e , mexendo no celular .
Me troquei rapidamente , colocando a órtese no meu pé esquerdo e o tensor no direito . Senti um alivio momentâneo. Calcei a bota no pé direito e lembrei que com a órtese era impossível calçar qualquer tipo de sapato .
- Droga !!! - resmunguei . Havia começado a nevar e estava fora de cogitação não usar algo para manter os pés aquecidos .
- Amor , tudo bem ?
- Sim . Eu não estava achando meu suéter azul . – improvisei .
- Nossa você está parecendo uma noiva para se arrumar . É só um jantar . – ela estava impaciente .
- Já estou pronto .
Quando será que o bendito remédio vai fazer efeito ? E esse frio ...
Quem diria, que eu passaria a detestar o inverno .
Sugeri que Allie fosse dirigindo , já que havia gostado tanto do câmbio automático.
Cada solavanco , era uma tortura. Enfim , chegamos ao apartamento e eu apesar do frio , estava suando e não via a hora de me sentar.
Fábio e Carol já estavam lá e Robert logo brincou :
- Nossa o que aconteceu ? Pensei em mandar a Swat atrás de vocês ...
- Robert você esqueceu que eles são como coelhos , não se desgrudam . – disse Fábio com um sorriso malicioso – Podemos imaginar o motivo da demora ...
- Idiota !!! – eu e Allie falamos juntos , provocando o riso dos outros .
Carol não perdeu a deixa :
- Isso sim é sintonia , aprendam !!!
Caímos no riso e por alguns instantes , esqueci da dor .
O jantar foi agradável e apesar do incômodo constante , me diverti.
Nos despedimos ,deseja do uma boa viagem.
- E não se esqueçam dos nossos presentes !!! – Allie disse e nós rimos .
Já no carro eu não encontrava posição e Allie percebeu .
- Agora chega !!! Quando você ia me falar que está morrendo de dor ?! Por que está tentando esconder ?
- Eu não queria te chatear , preocupar ...
- E ia ficar sofrendo até quando ?! – ela me interrompeu exasperada.
Eu não consegui responder ao tentar me ajeitar , bati o calcanhar esquerdo no extintor embaixo do banco e pensei que fosse desmaiar .
Esse sofrimento não acabaria nunca ... Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e não tentei disfarçar.
Quando dei por mim , estávamos no pronto socorro do Mercy. Por sorte , dr. Edwards estava de plantão e me atendeu rapidamente .
Depois dos exames de praxe , o diagnóstico.
Ele pediu que Allie entrasse no quarto e sem meias palavras disse :
- Lucca você tem uma fratura no calcaneo esquerdo , deriçado de uma das microfissuras das quais já havíamos falado . E seu tornozelo direito está trincado . Você vai ter os dois pés imobilizados e o prognóstico de recuperação é 45 dias no mínimo .
- Qual a causa doutor ? - Allie perguntou friamente , virando - se para mim , enquanto ele ele respondia .
- Provável déficit de cálcio e movimentos repetitivos , pressão nos membros. Eu aconselhei o uso da cadeira de rodas , mas agora é uma ordem . Depois que fizerem imobilização , você está liberado .
Ele se aproximou de mim , tocou meu ombro e falou :
- Cuide – se . Você não quer ficar de vez preso à uma cadeira , sem poder se levantar. Não jogue fora o que conquistou . Boas festas .
Percebi em seu olhar que ele estava penalizado com a minha situação .
Allie simplesmente sentou na poltrona que havia no quarto e se manteve em silêncio .
Mas eu podia sentir a raiva que ela emanava .
Fechei os olhos , tentando ignorar a dor física e moral.
Que belo final de ano !!!
Voltar à rotina de cadeira de banho , cama , cadeira de rodas .
Muito , mas muito obrigado universo !!!
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