Doubt ( dúvidas )
POV LUCCA
Pode parecer estranho, mas eu já estava me acostumando com a rotina do hospital : banho pela manhã , café da manhã , visita do médico , fisioterapia , almoço. Em seguida descanso até o início do horário de visitas. Eu procurava me distrair assistindo TV , mas nada relacionado a esportes, e lendo.
Porém hoje , após sessenta e cinco dias de internação , recebi alta e pasmem ... fiquei com muito medo de sair da segurança do hospital , onde eu não precisava enfrentar os olhares cheios de piedade e nem a minha nova realidade. Mas a realidade não tem como ser evitada , então fui para casa. Meu pai veio me buscar em uma Doblo adaptada e percebi que ele havia comprado para tornar a minha locomoção mais fácil.
Me senti péssimo por dar mais esse gasto para os meus pais. Chegando em casa , fui surpreendido com uma recepção de boas vindas, estavam lá a gangue completa, meu irmão, vovó Celie ( o que me causou surpresa, mesmo sabendo que ela gostava de mim ) e ela, Allie. Linda , fazendo meu coração disparar dentro do meu peito.
Todos me abraçaram , minha mãe chorava e meu pai estava bem emocionado. Quando o entusiasmo de todos deu uma amainada, Allie se aproximou de mim. Parecia sem jeito e eu percebi que estava muito nervosa. E eu senti como se houvesse areia em minha garganta, ela se sentou próxima a mim para que nossos olhos ficassem no mesmo nível , e eu a agradeci mentalmente por isso.
E então ela falou com sua voz rouca que sempre me provocava arrepios .
- Oi bebê. Quanto tempo ... estou feliz por você estar de volta . – me olhava com aqueles lindos olhos castanhos que pareciam poços de chocolate e sorria.
- Oi. É bom estar em casa ... – minha vontade era de agarra – la e nunca mais soltar , dizer o quanto eu sentia sua falta e pedir desculpas por ser um idiota. Mas não fiz nada disso. Sabia que seria egoísmo da minha parte querer mantê – la comigo, então fui frio. Me sentia morrer por dentro ao perceber sua decepcao. Porém , eu fazia isso pelo bem dela.
- Lucca nós precisamos conversar ... Eu não sei o que está acontecendo , mas eu não suporto mais ficar longe de você . Eu te amo. E você querendo ou não, vou ficar do seu lado.
Nesse momento me passaram milhares de coisas pela mente , mas ela segurou as minhas mãos e colou seus lábios aos meus, toda a minha determinação caiu por terra e correspondi ao beijo sofregamente. Nossas línguas bailavam , uma dança única e sem necessidade de ensaio. Como eu poderia deixar que ela partisse ? Como eu poderia viver se ela ? Não pude resistir ...
Quando nós separarmos percebi que os olhos dela estavam cheios de lágrimas e me dei conta que eu também chorava.
- Allie eu te amo muito !!! Princesa me perdoa !!!
- Eu estava com tanto medo de ter perder ... nunca mais tente me afastar de você !!!
Só nós demos conta do silêncio que nos rodeava , depois de outro longo beijo , parecia que tentávamos acabar com a saudade e toda angústia naquele beijo. Todos tinham ido para a varanda , certamente para nós proporcionar privacidade .
- Acho que devemos nós juntar aos outros . – ela disse.
- Sim devemos ... – Mas a beijei de novo com toda a intensidade que pude .
- Hum hum , desculpe interromper , mas sua avó quer ir embora Allie. – falou meu irmão , com um sorriso ironico no rosto.
- Ah , claro ... sim. Eu já estou indo. Mas amanhã eu volto , bebê. Te amo muito !!!
- Eu te amo mais !!! Super mais – sei que eu devia estar sorrindo como um tolo apaixonado , mas é o que eu sou.
Ouvimos uma risada e vimos meu irmão voltando para a varanda e se juntando aos demais.
Vovó Celie se despediu de mim , pedindo que eu não magoasse mais sua menina. Assenti e ela me deu mais um abraço.
Ainda conversei um pouco , mas me sentia cansado e as dores estavam voltando a me incomodar. Todos foram se despedindo e quando ficamos somente meus pais e o Fábio, fui conhecer meu novo quarto. Meu pai havia transformado seu escritório que ficava no térreo em um quarto espaçoso com um banheiro todo adaptado , percebi o cuidado e carinho em cada detalhe e não contive o choro novamente.
- Cara você está parecendo um bebé chorão !!! – falou meu irmão para tentar amenizar o clima de emoção.
- Seu besta !!! – acabei rindo e meus pais também.
Meu pai me colocou na cama e minha mãe fez a minha higiene. Fiquei envergonhado , mas ela brincou dizendo :
- Filho , eu conheço melhor do que ninguém esse equipamento !!! – rindo abertamente.
- Mãe !!! – mas também ri , como há muito não fazia.
Meu pai e meu irmão voltaram para me desejar uma boa noite , logo me deixando sozinho.
Eu me sentia grato por todo amor e cuidado que eles estavam tendo comigo. Mas também sentia culpa por todo trabalho e gastos que eles estavam tendo. Nós tínhamos uma situação financeira confortável , mas eu sabia que aquilo tudo, inclusive a cadeira motorizada havia sido caro.
Comecei a pensar no que eu teria que enfrentar dali para frente ... Dr. Edward havia sido bem claro quanto ao meu prognóstico : a minha paralisia era reversível e eu tinha setenta por cento de chances de voltar a andar com a fisioterapia. Afinal eu praticamente havia recuperado o controle de esfíncter e só ia usar fraldas para dormir e até me adaptar ao espaço e conseguir me transferir para a cadeira de banho. Já era um grande avanço.
Contudo, ele foi incisivo ao deixar claro que eu não voltaria a andar normalmente, pois meu pé esquerdo havia sido esmagado , assim como meu tornozelo e mesmo tendo sido reconstruído cirurgicamente, eu sofreria dores crônicas e provavelmente mancaria. Mas eu encarei isso como o menor dos males. Sabia que seriam horas intermináveis de fisioterapia e de dor , mas eu estava decidido a ficar de pé e iria fazer o que fosse necessário. Minha princesa estava comigo , minha família e amigos também, Eu tinha que retribuir toda essa confiança e apoio.
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