Sacrifice
POV LUCCA
Meu primeiro dia de fisioterapia, Allie virá passar a manhã comigo ( espero que possamos ficar bem, eu sei que nada será como antes , mas ainda assim tenho esperança em nosso relacionamento ) Meu dia promete ser bem cheio ...
Após a minha higiene matinal e o café da manhã, fiquei esperando minha princesa lendo um livro sobre paisagismo , mas não conseguia me concentrar no que lia ... Allie chegou e me deu um beijo , foi logo se sentando no meu colo.
- Oi amor , como foi sua primeira noite de sono em casa?
- Boa . – respondi suavemente, enquanto a olhava como se pudesse decorar seus traços gravar seu sorriso e seu olhar, eternizando – os em minha memória.
- Muito bom !!! Imagino que voce esteja de bom humor ...Tenho uma proposta para te fazer ... – falou toda dengosa.
- Qual ?
- Que tal irmos à cafeteria ? Assim voce se distrai um pouco ...
- Não .
- Não ?! Por que não ?
- Eu não quero sair !!! – respondi ríspido - Não quero que me vejam assim .
- Ora , Lucca você só pode estar brincando comigo ...
- Você acha que tudo isso é uma brincadeira ?! – eu estava tentando me controlar para não gritar.
- Você tem que enfrentar a sua realidade !!! Ou pretende ficar sem sair de casa nunca mais ? E depois diz que eu é que sou preconceituosa ... Você não se aceita, como quer que os outros o aceitem ?
- Cala a boca !!! O que você sabe sobre o que eu estou passando ou sentindo ?! Você não tem o direito de me julgar ... Fácil para você falar ...
- Você me mandou calar a boca ?! Eu não sei mesmo, nunca fui aleijada !!! E ficar com pena de si mesmo, não vai ajudar em nada, assim como se esconder do mundo, também não !!!
- Alicia sai daqui !!!
- As coisas se resolvem assim ? Você grita , me expulsa e eu tenho que entender e relevar ?!
- Você não tem que fazer nada !!! Nem estar aqui, e nem relevar nada. Eu só quero que você saia daqui !!! – disse isso , sentindo meus olhos ficando marejados e tentando segurar as lagrimas. – O aleijado aqui, não vai atrapalhar a sua vida . Sinta – se livre ...
- Como assim ?! Você está terminando comigo ?! Eu não acredito !!!
- Eu estou facilitando para você .
- Tudo isso porque eu quis ir à uma cafeteria com você ?!
- Não. Porque eu acredito que você merece mais do que um cara preso a uma cadeira de rodas, que não se aceita e que quer se esconder do mundo . Como você disse , nunca foi aleijada , então não tem como entender o que sinto .
Ficamos em silêncio por um momento que pareceu uma eternidade, até que ela disse :
- Desculpe ... Me perdoe !!! Eu não sei o que me deu !!! Não sei porque te disse essas coisas horriveis ... eu só queria te ajudar, que você se distraisse ... – falou com uma voz trêmula , começando a chorar em seguida.
- Alicia é melhor você ir embora ...
- Não sem antes você dizer que me perdoa - disse , tentando me abraçar.
- Tudo bem. Mas é melhor você ir ... estou cansado. – só queria ficar sozinho. Mais uma vez senti que eu Allie , estávamos nos distanciando.
- Ok ... mais tarde eu te ligo para saber como foi a fisioterapia. – me deu um beijo na bochecha e saiu sem olhar para trás.
Eu me sentia esgotado, magoado e decepcionado. Será que ela não conseguia entender ? Não percebia como eu estava me sentindo ?
Durante todo o nosso relacionamento , nós sempre nos entendemos muito bem e ate terminavamos as frases um do outro , tamanha era a nossa sintonia. Passei as mãos pelos cabelos me sentindo completamente frustrado e só me perguntava o que estava acontecendo conosco , com a minha vida ?!
Mais tarde , naquele mesmo dia.
Minha mãe entrou no meu quarto , para me avisar que o meu fisioterapeuta havia chegado. Me ajudou a me preparar e fomos para a academia que tínhamos em casa e que agora serviria também para as minhas sessões que seriam diárias.
O meu fisio , era um homem alto , por volta de quarenta anos, simpático chamado Marcus e me explicou o objetivo inicial do meu plano de fisioterapia e foi bem sincero ao me dizer que muitas vezes eu iria querer desistir e até mesmo esmurra – lo.
-Sério Sr. LANDUCCI, já tive pacientes que tentaram ... – falou sorrindo.
- Marcus por favor me chame de Lucca e não consigo imaginar o que você possa ter feito para receber essa reação . _ falei perplexo.
Ele sorriu enigmático.
Começamos a sessão e na metade , eu já conseguia imaginar o porquê dos pacientes quererem bater nele ... eu sentia como se estivesse tendo minhas costas e pernas moídas com alguma técnica de tortura. E quando pensei que não poderia piorar, ele começou a se concentrar no meu pé esquerdo ...Puta Que Pariu !!! Que dor lancinante !!! Engoli as lágrimas que me vieram aos olhos e tentei controlar a ânsia de vômito.
- Por hoje é só, Lucca. Amanhã eu volto no mesmo horário. – me disse com um sorriso , como se soubesse que eu estava imaginando mil maneiras de tortura – lo.
Tomei fôlego e perguntei:
- Cara , isso é algum tipo de tortura ? Eu pensei que a fisioterapia fosse para eu me sentir melhor e voltar a andar, mas desse jeito ...
- Lucca , dependendo do tipo de lesão, as sessões iniciais serão bem dolorosas. Principalmente o seu pé esquerdo , que foi o mais afetado no acidente. Eu percebi que você praticamente recuperou a sensibilidade completa das pernas e na anamnese e exame físico, o controle de esfíncter é quase total. Vamos nos concentrar em fortalecer essa musculatura e para isso nos teremos que nos dedicar aos exercícios e fazer o repouso necessário, inclusive mantendo o uso da cadeira de rodas. Agora você entende o porquê da reação dos outros pacientes ? – perguntou , sorrindo largamente.
- Ah , sim. Como entendo !!!
Ele me colocou na cadeira e me levou até a sala de estar onde minha mãe e o Fábio me esperavam . Trocamos mais algumas palavras e nos despedimos. Quando ficamos só nós três, minha mãe perguntou :
- E aí filho como foi ?
- Doloroso. – respondi, fazendo uma careta.
- Ah , meu amor ele disse que seria assim ... mas você não pode desistir.
- Não pode mesmo cara !!! – Meu irmão disse apressado.
- Calma gente !!! Eu disse que foi doloroso e não que queria desistir. Eu sei que preciso continuar .
Eles pareceram aliviados com a minha resposta. Então continuei :
- Eu sei que nada será como antes, mas quero poder me ver livre dessa cadeira .
- Com essa determinação você vai conseguir mano e pode contar comigo.
- Mãe será que você pode me ajudar a tomar banho ? – perguntei cansado e com bastante dor no meu bendito pé esquerdo.
- Claro meu amor. Eu vou arrumar as coisas ...
- Mãe deixa que eu faço isso !!! Vamos voltar aos velhos tempos, eu dando banho no meu irmãozinho , enquanto a senhora arruma o nosso jantar.
Nós três rimos , mas minha mae parecia preocupada.
- Mãe pode deixar. – insistiu meu irmão.
- Então , Tome cuidado ao transferi – lo para a cadeira de banho e depois o seque bem ...
- Oi , pessoal. É só um banho e eu ainda consigo falar mãe , se ele fizer qualquer coisa errada , eu te chamo . – falei tentando manter um sorriso no rosto , mas me sentia um fardo para a minha família.
Minha mãe me beijou , indo para a cozinha e nós fomos para o meu quarto. Eu e o Fábio sempre fomos próximos, lembro que estávamos sempre juntos , um cuidando do outro. Portanto, me sentia à vontade com ele.
Enquanto conversávamos sobre a sua nova conquista amorosa e riamos, ao tirar minhas calças, percebi que meu irmão empalideceu ao ver as cicatrizes que recobriam minhas pernas , quadril e pés. Ele tentou disfarçar, mas eu o conhecia como ninguém ...
- Fábio está tudo bem ... melhor você chamar a mamãe.
- Não !!! Eu só não estava preparado ... Ah , Mano eu queria poder tirar a sua dor , eu ...- falou me abraçando e chorando.
O abracei também e ficamos assim por um momento. Tossi para quebrar o clima e disse :
- Se alguém entra nesse banheiro agora , ia pensar besteira ... dois caras se abraçando e um está sem calça ...
- Otário !!! – falou rindo e me soltando. - Vamos logo com esse banho, bebê da mamãe.
E apesar do dia estressante e cansativo, estava grato por aquele momento, meu irmão , meu parceiro.
Na mesma noite ...
Já estava deitado , tentando suportar a dor e dormir, quando meu celular começou a vibrar. Olhei e vi a foto da Allie sorridente, fiquei segurando o celular e ... deixei cair na caixa postal
Gente
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