História Rising Star - Ben

POV Lívia.

O vidro que nos separava estava a mais ou menos dois metros de mim. Eu não conseguia chegar mais perto, apesar das tentativas de Shawn de nos aproximar dele.

Eu não me programei pra isso, não queria um bebê, não queria um filho. Mas parece que está tudo tão mais fácil pro Shawn, tão simples. Pra ele é só levar o “Benjamin” conosco e dar amor, carinho e comida.

Mas não é bem assim, mal sei cuidar de mim mesma vou conseguir cuidar de um bebê? E quando ele tiver cólica, ficar doente, vomitar, quem vai saber cuidar dele? Eu que não.

Estávamos apenas nós dois no corredor do berçário, a outra pessoa era uma enfermeira do outro lado do vidro. Ele, que estava quase se encostando ao vidro, veio até mim e pegou na minha mão; a levou até a boca, deixou um beijo de leve nela – como quando a gente se conheceu – e depois entrelaçou os nossos dedos. E então voltou ao seu lugar.

Nossas mãos, ainda juntas, faziam com que nossos braços fechassem o corredor. Me olhou, só me olhou, o castanho no azul e vice e versa. E é incrível esse poder que ele tem sobre mim, que fez com que só aquele olhar me puxasse pra mais perto deles.

Estávamos parados na frente do único menino dali, então supus que era o nosso filho. Apesar de estar todo enrolado em um cobertor azul, deu pra perceber o quão pequeno ele era. Os cabelos eram castanhos, o rostinho bem redondinho e por incrível que pareça ele não tinha aquela habitual carinha de joelho. Ele era bonitinho, um recém-nascido bem bonitinho. 

– Eu não quero me gabar, mas ele é a cara do pai – Shawn disse. Ele sorria feito bobo e eu não pude deixar de rir junto.

– Shawn, ele a recém nasceu, não da pra saber com quem ele é parecido ainda – o respondi.

Ele desgrudou os olhos de Ben por um instante só pra me mostrar a sua cara de indignação.

– Sabe o que é isso? Recalque. Garanto que a minha mãe vai concordar comigo – e eu só ri novamente. Apesar de todo o passado recente, ele me fazia bem.

– A Dona Karen não vale, as mães sempre concordam com os filhos, não com as... – noras. Eu ia falar nora, mas eu não sou a nora dela. – Com as mães do filho do filho.

Ele chegou a abrir a boca pra falar, mas ficou quieto. Só depois de alguns segundos ele disse:

– Você vai ser uma boa mãe, Lívia. Só preciso destruir essa barreira que tem entre vocês dois.

Ele olhava pra frente, mas seu olhar era vago. Sua mão já não segurava mais a minha; só estava jogada ali entre meus dedos. Ele estava magoado e isso me partia o coração.

– Eu juro que eu até pensei em ficar com ele, mas meu visto está acabando, eu tenho que voltar pra casa até o próximo mês. Eu não sei nem se meu pai vai querer me ver quiçá se eu estiver com um filho nos braços.

Falar sobre o meu pai era difícil. Ele me odiava, mas eu não conseguia corresponder esse sentimento. Eu o amo tanto, afinal, ele é meu pai. Ele deu a vida dele por mim. Sempre fomos só eu e ele e agora ele não quer me ver nem pintada de ouro.

Shawn se virou pra mim e colocou suas duas mãos uma de cada lado do meu rosto; respirou fundo e disse:

– Então fica, casa comigo.

QUÊ?!

– Shawn, isso não adianta. Tu é canadense e nós estamos nos Estados Unidos – ele é tão inteligente, mas fala cada bobagem.

– Canadense mas cidadão americano. – Eu não sabia o que responder. Ele enlouqueceu de vez. Ele me olhava no fundo dos olhos esperando uma resposta.

– Não é bem assim, tu não pode me pedir em casamento simples assim, isso é coisa séria.

– Oh, me desculpe. – Então ele fez a coisa mais improvável na minha cabeça, mas a mais romântica também. Colocou minhas mãos entre as suas e, de joelhos, disse: – Lívia Oliva Grier, aceita se casar comigo?

É Oliveira. Panaca.

Isso foi a coisa mais linda que alguém já fez pra mim. Ele me pediu em casamento pra eu poder ficar aqui. Com eles. Mas eu não podia dizer sim

– Shawn, eu não posso fazer isso contigo, é muito egoísta da minha parte. – Eu sentia que estava prestes a chorar e me por incrível que pareça eu não me culpava por isso. – Tu tem toda a vida pela frente, toda uma carreira de sucesso que eu não posso simplesmente destruir por capricho meu!

– Que se dane a minha carreira! – ele estava em pé novamente com as mãos de volta ao meu pescoço como se fosse me agarrar, ou me estrangular. No momento acho que a segunda opção seria mais válida. – Tu não entende. Eu já tomei essa decisão uma vez e me arrependi amargamente. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes.

Eu não sabia o que dizer, o que sentir. Na verdade eu sentia tanta coisa ao mesmo tempo que eu só não conseguia distinguir mais o que era o que. Era uma felicidade e uma gratidão misturadas com medo e uma pontada de orgulho.

Então nós fomos interrompidos por um barulhinho de choro. Bem baixinho e doce. Era um dos sons mais lindos que eu já ouvi.

Ben chorava com sua boca banguela aberta como se não estivesse aprovando a discussão dos pais. A cabecinha com seus poucos fios se mexia de vagar de um lado ou outro.

E foi naqueles poucos movimentos que me fizeram me apaixonar pela criança mais linda que eu já vi. Modéstia a parte, meu filho.

POV Shawn.

A enfermeira deixou a gente entrar – afinal nós somos os pais, ela tinha que deixar – pra vê-lo mais de perto. E ele era ainda mais encantador sem um vidro na frente.

– Eu posso pegar ele? – perguntei pra senhora que segurava meu filho o acalmando. Ela só assentiu e me entregou Ben, logo deixando-nos a sós.

Eu não sabia como o pegar direito. Ele era tão pequeno e frágil, que parecia que qualquer movimento errado que eu fizesse o quebraria. Sua cabeça cabia dentro da minha mão e seu corpo era do tamanho do meu antebraço.

E ele abriu os olhos e foi simplesmente mágico. Os olhos dele eram um de cada cor.

Azul no direito e castanho no esquerdo. Simplesmente magnífico.