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História Rock Bottom - O nome dele não é Chefe


Escrita por: charlier

Notas do Autor


Sabrina.

Capítulo 1 - O nome dele não é Chefe


   Tirei o copo da borda de uma das mesas, colocando-o na frente de um dos seus ocupantes. Continuei, apressada, mas me virei ao ser chamada de novo. Outro pedido, claro.

   — Estamos tão cheios hoje! — Teresa exclamou, logo que passei pela portinha do balcão.

    — Sim, mas não reclame.

    — Não estou! Trabalho aqui desde que essa joça passou a existir, amiga. Você não sabe como era no começo. Ninguém vinha aqui, te juro.

   Dei risada, já sabendo o que vinha em seguida.

   — “Joça” é essa sua carinha de... olha! Não me faz falar besteira, menina! — Ouvimos o Chefe falando da cozinha. Teresa deu uma risadinha enquanto preparava a bandeja do próximo freguês.

   Todos nós sabíamos do amor do Chefe para com seu amado Café del Rei, mas Teresa não perdia uma chance de esculhambar. Brincando, claro, já que o Café era praticamente sua segunda casa, e o Chefe era seu paizão. De consideração, sim, mas a relação deles era linda demais. E o Chefe era um grande amigo do pai dela.

   E o nome dele não é Chefe, aliás, mas nós o chamamos assim porque, bem, ele é nosso chefe.

   Entreguei meu último pedido para o Chefe — que era também o Chef (haha! Vamos rir. Mas, enfim, o carinha da cozinha) — a tempo de ver Miguel passando pela porta, meio que correndo. Passou os olhos pelo local, parando em mim, do outro lado do balcão.

   — Achei que estivesse atrasado.

   — Não está. — Respondi.

   — Aquele idiota com quem eu moro decidiu que seria legal ficar sem água por uns dias e não pagou a porra da conta.

   Desamarrei o avental e passei para ele.

   — Que merda. Espera, então você não tomou banho?

   — Na verdade, eu tomei. — Disse, cerrando os olhos — Só que eu tive que sair da minha própria residência para tal, e isso não tá certo!

   — Nossa! Que dilema... Ah, não. Espera. Eu tenho a solução: troca de colega de quarto. Duh. — Teresa se manifestou, saindo da cozinha.

   — Engraçadinha como sempre. — Ele disse, revirando os olhos — Como se fosse simples assim. E eu estou procurando outro lugar, mas é foda, né.

   Passei para o outro lado da bancada, deixando de ser a garçonete. Chequei as mensagens no meu celular. Tinha combinado de encontrar meus amigos ali assim que meu turno acabasse, e pelo visto, todos estavam vindo. Bom, todos menos o Keven.

   — O que posso lhe servir hoje...? — Miguel começou, mas seu tom bem-humorado morreu assim que seus olhos encontraram algo atrás de mim. Alguém.

   — Jennifer! — Disse, indo até ela.

   — Cara, um ser humano roubou meu lugar no ônibus de novo. Que ódio! Essas pessoas não merecem respeito nem compaixão. — Ela disse, revoltada. Eu ri.

   — Calma, amiga.

   — Calma nada! Bom, eu vou me vingar, então tudo bem. — Ela me abraçou. — Como você tá?

   — Bem. Você?

   — Sim, eu... — segui o olhar dela. Claro.

   — Aham, e aí? Vão ficar nessa até quando? — Sussurrei, gesticulando em direção ao Miguel, que já se ocupava de outra coisa.

   Ok. O caso é: a Jennifer e o Miguel já tiveram uma... coisa. Eu não sei o que é, nenhum deles me contou, mas sim! Existe, e eu quero muito que eles fiquem juntos.

   Enfim, não sei o que aconteceu. A Jennifer e o Miguel se conheceram, ficaram muito a fim um do outro, eu os deixei sozinhos dois segundos, e depois disso todas as vezes em que eles se viram, foi estranho, confuso e... sei lá.

   No momento seguinte, Gabriel e Matheus passaram pela porta do estabelecimento.

   — Meu Deus, Gabriel — o loiro exclamava.

    Gabriel soltou um de seus gritinhos quando nos viu.

   — Oi, gente! — Fui até eles. O Gabriel estava especialmente estiloso de cachecol, mas é claro que ele já sabia disso mesmo.

   Adoro abraçar os meninos porque eles são muito altos e abraçam bem forte, e é inevitável a sensação de segurança que isso transmite. Nos afastamos e me deixei perder em pensamentos. Fazia tanto tempo que éramos amigos, e, mesmo assim, sempre parecia só o começo. “Só temos quinze anos”, dissemos. “Só temos dezessete anos”, dissemos. Agora, com dezenove, ainda podia sentir isso. Toquei o ponto no antebraço onde estava a tatuagem com a qual já havia me acostumado (o que não significa que eu não me apaixonasse mais por ela cada vez que eu me lembrava que ela estava lá). Era nossa.

   Olhei de novo para meus amigos, que conversavam animadamente entre si. Claro que o Gabriel já tinha ido puxar um papo com Miguel, acreditando ter alguma chance. O carinha era muito gato, verdade, mas não era para o bico do Gabriel. Ficou evidente quando a Jennifer olhou para a cena e revirou os olhos.

   — Ele só procura os caras héteros?

   — É a cara do Gabriel mesmo. Eu tinha esperança de que ele ia tomar jeito logo, mas já faz, tipo, cinco anos que estou nessa. — Dei risada. Ninguém me acompanhou.

   — Eu lembro que a gente achava que, quando ele pegasse um menino pela primeira vez, a primeira coisa que ele diria seria, tipo, “Gente, vocês não vão acreditar, mas foi horrível.” — Matheus disse.

   — Isso é bem a cara do Gabriel, nunca ficar satisfeito com as coisas... Mas não foi bem assim que rolou, não é mesmo? — Jennifer disse, levantando as sobrancelhas. Rimos, lembrando, e sabendo que todos compartilhávamos a memória.

   — Bom, — eu comecei, depois de respirar fundo — um dia vai rolar pra ele.

   Olhei para trás, e a Jennifer e o Matheus me acompanharam no movimento a tempo de ver a Giovanna passar pela porta. Ela mexeu no cabelo quando entrou, logo nos avistando e vindo até nós. Gabriel veio para o nosso lado quando percebeu quem havia chegado.

   — Oi, amigos. — Ela sorriu e abraçou cada um de nós.

   — Vamos sentar, gente. — Falei, e fiz um sinal para o Miguel vir anotar nossos pedidos.

   Nos acomodamos em nossa mesa preferida, mais ao fundo. O Matheus foi o primeiro a se lembrar de lavar as mãos, seguido do Gabriel. Depois, eu me levantei e as meninas me acompanharam.

   — O Keven não vai vir mesmo? — Giovanna disse, enquanto analisava o próprio rosto frente ao espelho.

   — Não. Ele mandou mensagem no grupo, você não viu? — Respondi.

   — Não, meus créditos acabaram.

   Comecei a rir.

   — Entendo. Ah, e deixa eu te contar. A Jennifer e o Miguel já começaram com aquela coisa estranha de sempre.

   Olhei para a Jennifer, que revirou os olhos.

   — Que coisa estranha? — Giovanna questionou, lançando um olhar engraçado para a Jennifer, já sabendo exatamente do que eu estava falando.

   — Meu Deus. O que foi? Nem eu sei do que vocês estão falando. Loucas.

   Gargalhei, e a Jennifer coçou o pescoço, nervosa.

   — Amiga. Conta pra gente, vai. Queremos saber! —Giovanna levantou as sobrancelhas.

   — Uééé. Não tem nada para contar, meu Deus. Eu vou, sei lá, pedir um suco. — E saiu do banheiro.

   Olhei para a Gi, que estava com um sorrisinho no rosto.

   — Ela não te contou nadinha de nada mesmo?

   — Nadinha — Respondi. — Para você também... nada?

   — Nada. — Ela parou por um segundo, depois continuou. — Lembra que ela sempre foi assim? Quando éramos mais novas e tudo mais... Ela nunca gostou de conversar sobre isso com a gente.

   — Em compensação, eu não conseguia pensar em outra coisa. Nessa época, tudo o que eu queria era poder entrar na cabeça da Jennifer para ver se eu entendia... E o Miguel é um fofo, ela não tem nada a perder.

   Nos perdemos em pensamentos por um tempo e terminamos de lavar as mãos em silêncio. Foi quando uma outra pessoa entrou no banheiro, e a Giovanna disse:

   — Vamos. Estou morrendo de vontade de tomar uma daquelas vitaminas maravilhosas que o Chefe faz.

 

   Coloquei a bolsa em cima da cama, e troquei de roupa rapidamente por causa do frio, colocando meu pijama quentinho e confortável. Depois, voltei para a sala, onde o Gabriel já estava esparramado no sofá, sem sapatos.

   — Olha, não queria ser grossa nem nada, mas... Eu preciso estudar hoje, Gabs.

   — Nossa, Sabrina! Você não pode estar menosprezando de tal forma minha presença mais que ilustre!

   — Para de ser manhoso. Eu te avisei que nada poderia me atrapalhar hoje. Você insistiu em me dar carona, né?

   — Você não reclamou.

   — Óbvio que não. Você tem carro, e eu tenho cérebro.

   Gabriel me encarou por um segundo. Óbvio que eu entendia as razões de ele não querer voltar para casa... Era foda.

   — As meninas estão naquela biblioteca que íamos quando éramos mais novos... Vai lá pra espairecer.

   Ele me abraçou antes de sair, e assim que o vi entrar no elevador, fechei a porta e respirei fundo. Adorava estes momentos quando o apartamento era só meu, mesmo que tudo o que eu pudesse fazer fosse isso mesmo: estudar.

   Eu cursava Jornalismo e, com o trabalho de garçonete, o tempo que sobrava para estudar e fazer as outras coisas era escasso. Ainda bem que pelo menos uma vez por semana nos encontrávamos no Café para colocar o papo em dia, porque assim eu os via e relaxava, sem ter que ficar pensando nas obrigações. E sempre que eu precisava, ali estavam elas, afinal, eu morava com a Jennifer e com a Giovanna. 

   E o Matheus morava com o Keven. Só o Gabriel continuava na casa dos pais, vivendo sob pressão. Era uma coisa complicada, essa questão da relação do Gabriel com os pais, e com a própria sexualidade.

   Sentei na mesinha onde jantávamos, onde os livros e cadernos estavam já espalhados, e abri meu notebook. Pelo menos era uma matéria que eu gostava.


Notas Finais


Hey, amiguinhos! O que acharam?


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