1. Spirit Fanfics >
  2. Rock Bottom >
  3. Viral

História Rock Bottom - Viral


Escrita por: loudestecho

Notas do Autor


Oiiii povo! Tudo bem com vocês? Eu estava doente nesses últimos dias, tipo pra caralho, mas fui no hospital e tals então agora tá tudo certo tomando o remédio certinho. Capítulo cheio de tretas e meio amorzinho também, espero que gostem!!

Capítulo 14 - Viral


Desde que eu era pequena, minha mãe sempre dizia que meu irmão e eu deveríamos tomar cuidado com a forma que tratávamos um ao outro. Matt e eu sempre brigamos muito, fosse por algo pequeno como escolher um filme ou algo sério, como interferir em coisas pessoais um do outro. Ela sempre dizia que não deveríamos perder tempo passando horas ou dias sem nos falar, pois no final do dia, o único que sempre estaria ali seria ele para mim e eu por ele. Para ser sincera, eu não levava a sério nada que ela dizia. Pensava "Ah! Ela vai dizer qualquer coisa para tentar fazer com que a gente pare de brigar" e agora eu entendo o que ela quer dizer. Já conheci diversos relacionamento diferentes de irmãos, inclusive aqueles que simplesmente não se falam mais por coisas insignificantes. Conheço o da minha mãe com o meu tio, que sempre foi incrível. Eles tem uma ligação muito forte; lembro que uma vez eles já me disseram que quando eram mais novos e viajavam para algum lugar sozinhos, sentiam mais falta um do outro do que dos meus avós - certamente porque eles brigavam demais. E eles acabaram se tornando o porto-seguro um do outro. Também conheço o tipo de relacionamento de irmãos que o meu pai tem. Ele não tem irmãos de sangue; a vó Ana apenas o teve e já ouvi algumas histórias de que o pai dele teve outro filho, mas meu pai não tem contato com o pai dele e se recusa a saber mais sobre esse meio irmão. Mas ele tem a tia Brooke e o tio Henry. Ele fez um intercâmbio no ensino médio para a Inglaterra e passou um ano inteiro na casa de uma família que se tornaram realmente parte da família. Meu pai os considera como se fossem de sangue e, de certa forma, são. 

E, caramba, Matt e eu brigávamos o tempo inteiro, mas eu preferia ficar brigando do que ficar sem interação nenhuma. Não sei o que deu nele. Não sei se está com problemas, não sei se está deprimido, não sei se está chateado ou puto, não sei se está apaixonado. Ele costumava me contar tudo, desde apenas uma briga insignificante no colégio até a primeira vez que dormiu com uma garota. Tínhamos intimidade de conversar sobre tudo, mesmo em meio a todas as brigas de quem convive todos os dias juntos. Agora eu não me sinto mais a vontade de sentar ao seu lado no sofá e perguntar como foi seu dia, porque sei que ele não vai me dizer nem metade do que aconteceu nele. Estava diferente até mesmo com Sophie. Não sei se ele fica um pouco bravo quando os nossos pais vão viajar ao mesmo tempo e nos deixam sozinhos - principalmente pela Sophie -, porque ele já me disse uma vez que acha que a família deveria ser colocada em primeiro lugar. 

— É a sua vez, Alicia! — Sophie estralou os dedos na frente do meu rosto. — Eu vou roubar todas as suas propriedades e você nem vai perceber. Eu já enjoei, na verdade. 

Soltei uma risada enquanto jogava os dados. 

— Você não enjoou. Você só está brava porque eu comprei Hollywood, Nova York e Las Vegas. Você é muito lerdinha, pequena mulher. 

— Eu vou roubar isso aí. Você ainda vai comer na minha mão e vai implorar para que eu te empreste dinheiro. 

— Sonha, gata! 

Sophie e eu estávamos jogando Monopoly desde ás oito e meia da manhã. Ela teve um pesadelo e pediu para ir dormir comigo, mas não conseguiu mais pegar no sono. E sempre que está entediada, tem mania de ficar cantarolando ou fazendo barulhos com a língua, então o meu sono também se foi. Não dormi quase nada levando em conta o horário que cheguei ontem. Pensei que Matt e Sophie iriam dormir na casa dos gêmeos, mas eles chegaram alguns minutos depois que eu. Sophie já estava desmaiada, obviamente, mas parece que eles tinham um compromisso hoje de manhã. 

— Matt! A Alicia disse que você vai cozinhar hoje. O que você vai fazer? — Sophie perguntou quando viu Matt descendo as escadas. 

— Eu vou cozinhar hoje? 

— Vai. Eu já cozinhei nos últimos dias e hoje é a sua vez. Só se vocês quiserem comer macarrão de novo, porque não sei e não quero fazer outra coisa. — Levanto do tapete. - Não mais querer jogar mesmo? 

— Esse jogo não acaba nunca. Cansei já. — Sophie disse e pegou as minhas propriedades que ela queria. — Se eu parasse ali eu iria falir. O saldo do meu cartão era uma merreca e eu teria que te entregar São Francisco. 

— Ia mesmo. — pisquei para ela, rindo. — O que vai cozinhar para gente hoje, Matt? 

— Não sei. Pelo menos não vai ser macarrão. 

O encarei indignada. Ele ia mesmo zoar o meu macarrão feito com amor, carinho e muito sal? 

— Eu vou fazer sobremesa! — Sophie bateu palmas enquanto ia até a cozinha. — O que vocês preferem? Brigadeiro ou... brigadeiro? 

— Ah, isso é muito fácil! Faz torta de morango. — Matt pediu. 

— Eu já estou pesquisando como faz. — Sophie disse, mexendo no meu notebook. — Ao invés de fazer gelatina na cobertura, não pode ser chocolate derretido? Todo mundo aqui detesta gelatina. 

— Boa, Masterchef. — Matt deu risada, certamente achando engraçadinho a Sophie toda animada por saber que iria cozinhar. 

— Eu vou comprar as coisas que faltam. Matt, fica de olho nela pelo amor de Deus. E não coloque no forno sozinha, Sophie. O Matt coloca pra você, tá? 

— Pode deixar. 

— Vou fazer strogonoff. Tem todos os ingredientes, menos creme de leite. Precisa de dois. 

— Ok. Deixa eu ver o que falta para a torta, Sophie. 

Após ver o que faltava para o almoço e a sobremesa, desci para ir ao mercado aqui perto. Ainda bem que fica aberto até nos domingos, senão teríamos que acabar comendo macarrão mesmo. Meu pai ligou no caminho de volta para perguntar se estava tudo bem e avisar que chegaria amanhã também, antes de voltarmos da escola. Eu sabia que minha mãe e ele ficavam se sentindo culpados de ficarem longe desse jeito, ao mesmo tempo e por dias. E o que complica ainda mais é a Sophie porque, querendo ou não, ela ainda é pequena para se virar sozinha. É independente para uma criança de oito anos, claro, mas ela ainda sente falta deles a ponto de não conseguir dormir ás vezes. Tem pesadelos, chora e não consegue se acalmar até que os dois atendam o celular. É complicado. 

— Voltei! Tudo certo? — Deixei as compras em cima da bancada. — Já se sujou de farinha, Sophie? 

— Um pouquinho só. Você vai me ajudar, né? Acho que vou ser meio ruim na cozinha. 

— Vou te ajudar. — falei, rindo. — Só desce daí, tá? A perna dessa cadeira está meio bamba. 

— Como eu vou alcançar, então? 

— Deixa ela subir na cadeira mesmo. Se cair faz parte. Sem choros, né? — Matt disse, limpando a bochecha suja da Sophie. 

— É, eu não choro! 

— Então tá bom. 

***

— Bom dia! Adivinha quem vai pegar carona com vocês hoje. — Bailey se jogou em cima de mim no banco de trás do carro de Camille. Dei risada enquanto o empurrava. — Está de ressaca do final de semana ainda, gata? 

— Não, estou ótima! E você? Nossa, você está barbudo! Seus bofes gostam de você assim?

— Eles ficam pirados, mas nem saí nesse final de semana. A minha irmã tirou o dente do siso e eu tive que aguentar aquela merda. Ela só reclamava o final de semana inteiro. Em gemidos. 

— Cruzes! Ela está melhor agora? 

— Aham, graças a Deus. 

— E você, Camille? Por que não foi na casa da Ariel? 

— Alguns problemas com o meu irmão. Nada demais. — ela deu de ombros. — Ah, é! Bailey, você precisa conhecer o Chase. Não é, Alicia? 

Eita, logo de manhã. 

— Ele vai se apaixonar. Bailey adora um bad boy, né? — sorri maliciosa e Bailey se abanou, fazendo-me rir. 

— Mas espera aí. Quem é esse cara? Está pegando, Camille?

— Ainda não. Mas eu meio que estou querendo chamá-lo para sair. O que você acha, Alicia?

— Ótimo. Quando?

— Não sei. Provavelmente na sexta. Eu ia fazer isso no sábado, mas eu fiquei um pouco nervosa... sei lá. Ele não parece mais tão interessado quanto antes. 

— Ele está interessado, ele só não quer namorar. Você não quer namorar, quer?  

— Sei lá. Vai que um encontro se transforme em dois e por aí vai. 

— Cami, sério, tire isso da cabeça. Ele não quer mesmo namorar. Saiu de um relacionamento conturbado há pouco tempo e eu não que você se magoe por besteira. 

— Espera aí. Você é amiga dele? — Bailey perguntou com as sobrancelhas franzidas. Dei de ombros. — Mas vocês se conheceram nessa história de reformar o salão? 

— Eu, sim. — Cami respondeu. — A Alicia já o conhecia antes, mas ela nunca conta como foi. 

— Eu não o conhecia. Só já tinha visto antes. 

— Ah, Alicia! Quer mentir pra quem? Claro que vocês se conheciam! Deu pra ver pela cara dos dois. — Camille disse. — Vocês se conheciam antes sim. E não só de vista. 

— Mas conhecerem no modo sexual, sua safada? — Bailey deu um tapinha na minha perna. Quase me engasguei. 

— Não! — menti. — Foi só uma coincidência. 

— Eu também quero ir ajudar a reformar esse salão. Ele tem amigos? 

— Sim! E eles são todos bonitos, Bailey. Você iria ficar doido. — Cami falou. 

— E eles trabalham sem camisa, cara. — me abanei. 

— Seu gaydar captou algum, gata? — Bailey perguntou, esperançoso. 

— Foi mal, mas acho que não. Você pode verificar por si mesmo no sábado. 

— Vou mesmo! 

A primeira aula de Bailey e Camille eram para o lado oposto da minha, então segui sozinha pelo corredor antes de entrar na sala. Ainda tinham alguns alunos quando abri meu armário para pegar um caderno e vi que duas garotas ao lado estavam falando sobre mim. E ao olhar em volta notei que elas não eram as únicas. Todos os olhares estavam sobre mim, o que não parecia ser nada bom. Avistei Chase no final do corredor e ele coçou a ponta do nariz com o dedo do meio completamente sério. Ignorei todos os olhares e cochichos, então segui para onde o Chase estava. Ele me puxou para um dos armários de limpeza. 

— O que aconteceu?! Por que estão todos me olhando e cochichando? 

Chase desbloqueou o celular e meu queixo caiu quando ele me mostrou um vídeo. Um vídeo meu e do Josh na jacuzzi na festa de sábado. Eu em cima dele, estávamos nos beijando e... até a momento em que eu levanto sem sutiã, com os seios cobertos pelas minhas próprias mãos. 

— Quem... onde... isso está em algum site? Que porra é essa?

— Fizeram pra te queimar. Criaram um site que falam apenas sobre você. Nem lê o que está escrito. 

A santinha está perdendo a linha e virando piranha. Que maravilha! Senti meu sangue ferver a cada novo comentário que eu lia. 

— Eu preciso de gelo, Chase. Eu preciso... — cobri o rosto com as mãos, sentindo meu rosto quente de raiva. 

— Cara, olha pra mim. — ele tirou minhas mãos do rosto, fazendo-me olhar para ele. — Não liga pra isso. Você não estava fazendo nada de errado. Todo mundo transa, filmaram isso para te foder. 

— E você acha que eu não sei?  

— Por que mexem tanto com você? 

— Não é essa a questão, eu acho. Nunca fiz nada pra ninguém aqui diretamente, mas... puta merda. — passo as mãos pelo cabelo, completamente aflita. 

— Sabe quem foi? 

— Ariel não deixa ninguém subir lá além dos amigos. Paige tinha ido embora, Dylan estava tão bêbado que mal se aguentava em pé... quem fez isso?

— Não desconfia de alguma delas? Callie, Cheryl, até a própria Ariel? 

— Não sei. Não sei mesmo. Preciso ir para a aula. 

— Se precisar de alguma coisa... — ele coçou o nariz com o dedo do meio novamente e eu abri um sorriso. 

— Obrigada. 

Saio do armário enquanto ninguém está prestando atenção e mais pessoas me olham daquela mesma maneira ao me notarem. Cochicham, dão risada, desdenham. Empinei o nariz enquanto passava pelo corredor e o momento em que realmente tombei, foi o modo que o meu professor favorito me olhou. Ele tinha visto o vídeo? Eu realmente não entendia qual era a gravidade do problema. Não estávamos em público, estávamos sozinhos - pensávamos que sim -, somos adolescentes e, até onde eu sei, posso transar com quem quiser e meu caráter não muda por causa disso. Puta merda, essa sociedade de merda vai aplaudir o Josh e me diminuir! Claro que isso aconteceria. Eu não aguentaria ser alvo de comentários machistas, sexistas e hipócritas. O que mais odeio no mundo é o fato de que, se um homem ficar com várias... tudo bem, ele é o garanhão. E se for a vez da mulher, ela se torna uma piranha que não se dá ao valor. Eu vou bater em alguém hoje, estou sentindo isso. 

— Agora está mais confortável sem precisar fingir ser puritana, gostosa? — Um garoto que eu nunca tinha falado na minha vida disse e várias risadas apareceram.

— Fiquei sabendo de umas histórias, Alicia... nunca imaginaria que você é tão suja desse jeito. 

— Depois dessas histórias só sei de uma coisa: a diferença entre você e uma puta, é que você nem cobra. 

Ignore, Alicia. Apenas ignore. 

— Deveria começar a cobrar, Alicia. Eu pagaria mais do que você possa imaginar. — o inconveniente continuou. — Quanto é? Me diz, vai.

— Vem cá, por que vocês só enchem a porra do saco da garota e ficam aplaudindo o Josh? — ouvi a voz do Chase e fui obrigada a olhar para trás. — Perguntem quanto é o programa dele também ao invés de ficarem diminuindo a garota só por gostar de sexo. Hipócritas do caralho. 

A sala ficou em silêncio. 

— Vai! Continuem! — uma garota que eu também nunca tinha conversado, disse. — Continuem com esses comentários machistas pra cima dela. Principalmente vocês, meninas. — ela sorriu irônica para as garotas. — Vocês não são mais virgens? São todas piranhas por darem para quem quiserem. 

A sala permaneceu em um silêncio infinito. E em meio ao silêncio, Bailey entrou na sala sem olhar para ninguém e me puxou pelo pulso para fora da sala sem nem pedir permissão para o professor. Olhei por cima do ombro para ver o Chase e fiz um sinal para que ele viesse também. 

— Eles devem estar te enchendo o saco, né? 

— Pra cacete. 

— Não ligue para os que eles estão dizendo, Ali. — ele tirou meu cabelo do rosto com um sorriso. — Além do mais... depois de você ter me defendido dos seus amigos homofóbicos, eu coloco a mão no fogo por você. Calei a boca de uns idiotas da minha sala. — disse. — Minha amiga da aula de informática conseguiu hackear o site e vai excluí-lo.  

— Você pediu para ela fazer isso? — ele assentiu e eu o abracei. — Obrigada, Bailey. 

Avistei Chase procurando por mim e acenei de onde eu estava. Bailey me encarava incrédulo ao notar que tínhamos um certo tipo de intimidade. Ele sabia que era o Chase que tínhamos comentado apenas pelas suas roupas e seu jeito de andar. 

— Oi — Bailey sorriu para Chase, que me olhou com as sobrancelhas levantadas. — É sempre um milagre encontrar alguém como você por aqui. Prazer. 

Comprimi a risada quando vi os dois apertando as mãos. A expressão do Chase era a melhor. 

— Vamos para a sala de informática. — Bailey puxou nós dois. 

— Chase — o chamei em um sussurro. — Obrigada. 

Ele apenas deu de ombros, como se não tivesse feito nada demais. Bailey nos levou para a sala de informática e tinha apenas uma garota em frente a um computador. Ela se virou e abriu um sorriso confortante na minha direção, como se estivesse do meu lado. Sorri de volta e Bailey disse que ela poderia apagar.

— E os vídeos no Twitter, no Facebook e no Instagram? — Chase questionou. 

— O nome é o mesmo, ou seja, a pessoa criou os perfis falsos só para postar isso. A mesma senha para entrar no site onde tem as ofensas, é a senha das outras contas. 

— Tem como você descobrir de qual computador foi postado pelo endereço de IP, certo? — perguntei. 

— Sim, mas pode demorar. 

— Sem problemas. 

— Vou excluir, tudo bem? 

— Sim. 

O site que dizia absurdos sobre a minha pessoa foi substituído por uma tela branca escrito "error". Ótimo. 

— Obrigada... — esperei que ela dissesse seu nome. 

— Zara. 

— O meu é Alic...

— Alicia. Eu sei quem você é. — ela me interrompeu e eu assenti. Ok. — Não me leve a mal, todo mundo sabe quem você é. 

— Não estou te levando a mal. Tipo, não mesmo. — balancei a cabeça. — Obrigada mesmo. 

— As pessoas estão enchendo ainda mais porque você disse no jogo que ficou com um cara na Alemanha. — Bailey disse. 

— Qual é! Tudo mundo viu na festa que deu merda. Eles só estão procurando motivos para mexer com quem está quieto.

— Eu aposto que até o fim do dia você terá dado um soco em alguém. — Bailey disse, sorrindo travesso. 

— Eu socar alguém? Que isso! Sou a certinha que não pode nem transar, quem dirá se meter em uma briga! — ironizei, realmente irritada. Eles riram, mesmo que eu esteja totalmente frustada. 

— Preciso voltar pra sala. — Bailey disse. — Você vai ficar bem? 

— Sim. — assenti, dando de ombros. — Obrigada novamente, Zara. 

— Por nada. — ela sorriu. 

Chase e eu voltamos para a sala em completo silêncio, mas fui parada pelo professor. A diretora estava pedindo a minha presença em sua sala, que maravilha! Chase entrou na sala e eu fui em direção a sala dela, que já estava aberta. 

— Oi, diretora.

— Sente-se. — obedeci. — Estou te chamando aqui como amiga e não como diretora.

— Certo...

— O site foi excluído, assim como os perfis nas redes sociais. — assenti. — Você quer que eu diga alguma coisa? Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade onde a mulher não pode fazer o que quer. 

— Não quero. Mas queria pedir para não me dar uma advertência se eu socar alguém. 

Ela sorriu. 

— Não vale a pena gastar seu tempo respondendo às provocações.

— Eu sei, mas pode aliviar minha raiva. — falei. — Estou tão indignada, diretora. 

— Pode me chamar de Lucy. 

— Ok. Lucy. — agora vou virar a melhor amiga da diretora. — Eu sei que meu corpo estava exposto e que meus seios não apareceram só porque eu tampei, mas eu não entendo qual é a gravidade disso. Realmente não entendo. Tenho dezessete anos, tenho desejos e não posso transar? Além do mais, nós não estávamos em público e eu não estava caindo de bêbada. 

— O problema não é você ou o vídeo. O problema é a mente fechada dessas pessoas e aquela necessidade dos adolescentes gostarem de ofender os outros. Eles são machistas, até porque o Josh está ileso, né? Ninguém ao menos o xinga. 

— Ninguém. Eu ainda vi alguns meninos o reverenciando antes de eu entrar na sala. 

— Então... mais um motivo para você não ligar. Você sabe que não é piranha, puta e todas essas coisas que estão te chamando.

— Eu sei, mas também me irrita o fato de me chamarem de certinha. Tudo bem, eu sou. Eu estudo, não costumava ir as festas, mas todo mundo sabia que eu tinha um namorado. Só porque eu quero ficar com outras pessoas sou piranha agora? Isso não faz sentido! 

— Não mesmo. Se você quiser ir embora... está liberada. 

— Não mesmo. Até parece. — falei. — Mas obrigada. 

Ela sorriu e disse que eu poderia voltar para sala. E eu voltei. Com um sorriso no rosto, que fez todos se entreolharem como se eu fosse maluca. 

— O que foi? Pode continuar a aula, professor. — falei alto o suficiente para todos me ouvirem. — Algum problema? 

— Nenhum. 

— Ótimo, então.

***

Eu sabia que a pior parte seria durante o intervalo. Mesmo nas outras aulas, eu ainda ouvia xingamentos, ofensas e piadas sem graças enquanto ninguém dizia uma palavra ao Josh, sentado praticamente na minha frente. Era como se nada tivesse acontecido com ele. Por um momento, cheguei a pensar que ele poderia ter armado essa situação toda, mas ele veio falar comigo e me defendeu na frente de todo mundo também. E mesmo que tenha sido péssima nas outras aulas, o intervalo foi mesmo pior. Entrei sozinha com o meu almoço e os olhares de todos os seres existentes naquele refeitório pararem em mim, junto à um silêncio ensurdecedor. 

— Deem espaço para a piranha passar. — ouvi uma voz conhecida e as gargalhadas começaram. 

— Inveja é algo tóxico, sabia Paige? — Bailey levantou da mesa que estava sentado. 

Paige disse aquilo. Claro que foi Paige. Tão hipócrita. Meu olhar se encontrou com o do Dylan e dava para perceber o quanto ele estava sentindo pena da situação. Seus olhos não estavam me acusando e ele deve imaginar o quanto esses comentários estão me tirando do sério. Mas ele não iria me defender. Não se manchasse a sua importante reputação. 

O mesmo garoto que perguntou quanto era o programa, vulgo Simon escroto Smith, levantou da mesa com um sorriso descarado e simplesmente deixou cinquenta dólares dentro do meu bolso. Não tive tempo para mostrar a minha indignação. Sorri irônica enquanto rasgava a nota e enfiei dentro de suas calças. Porém, o que ele fez quando dei as costas foi a gota d'água para mim. Sua mão deu um tapa estalado na minha bunda, como se eu realmente tivesse sido paga para que ele pudesse fazer isso e no segundo seguinte, eu havia dado um soco tão forte em seu nariz, seguido por empurrão, que ele estava no chão. Seu nariz começou a sangrar, mas isso não era o suficiente para mim. Sentei em cima dele no chão e bati, soquei, arranhei o seu rosto enquanto ele tentava se defender, mas não conseguia. Alguém agarrou minha cintura por trás, me tirando de cima de Simon e isso foi o suficiente para ele levantar com a mão na frente do nariz. Me debati para tentar me livrar dos braços e acabei dando uma cotovelada em quem me segurava para avançar em Simon novamente, acertando outro soco em seu nariz. Porra, minha mão latejava. Olhei para trás e vi que Dylan também estava com a mão no nariz. Ops, parece que a cotovelada foi nele. 

— Eu só vou dizer uma coisa: vocês pensarem que me conhecem só por me verem todos os dias é muita burrice. É lamentável ver garotas me chamando dessas coisas, de verdade. — falei, enquanto me recuperava do que havia acabado de fazer. — Já com vocês... — olhei com nojo para Simon, ainda no chão. — Vocês são moleques influenciáveis e, automaticamente, machistas escrotos que só estão desesperados por uma garota que queira dar para vocês. É difícil, né Simon? — fiz beicinho. — Entendo a frustração de vocês. Deve ser muito desesperador querer ter a imagem de galanteador pegador, mas não conseguir pegar nem uma gripe. 

Alguém pigarreou enquanto outros seguraram a risada. 

— Eu sou solteira. E adivinha só de quem é isso aqui? — apontei para a minha vagina. — Isso mesmo. Minha. Se eu quero dar ou não dar, o problema é exclusivamente meu. Só lamento se a vida de vocês é tão parada que precisam focar na dos outros. 

Dei de ombros e olhei para a minha bandeja. Peguei a caixinha do suco de laranja e despejei todo o conteúdo em Simon, que ainda tentava se recuperar da joelhada acidental em suas bolas. Ao perceber que eu já estava satisfeita, me retirei do refeitório e só notei o quanto estava nervosa quando vi a cor das minhas bochechas no espelho do banheiro feminino. 

— Está tudo bem? — Camille, Bailey e Chase estavam parados na porta do banheiro. — Quer que eu te leve embora, amiga? 

— Estou bem, só estou... com raiva. — respirei fundo. — Mas quero ir embora. Você me leva, Cami? 

— Levo. Vou avisar a diretora. 

— Obrigada. 

Os meninos não disseram nada. Nem tinha nada para dizer agora, na verdade. Daqui a um tempo isso vai virar piada entre nós, com certeza, mas agora... agora eu não conseguiria rir por nada. Camille me deixou em casa um pouco depois do meio dia e abri um sorriso ao sentir o perfume da minha mãe pela casa. 

— Mãe?

— Alicia? Você não deveria estar na escola? — ela desceu as escadas correndo. Coloquei as mãos no bolso para ela não ver meus punhos machucados. — Oi, filha! Que saudade!

— Também estava com saudade. Como foi a viagem? 

— Foi tranquila. Sem turbulência e dormi pra caramba. Por que voltou cedo? Está tudo bem? 

— O papai já chegou também? — perguntei ao ver o tênis dele perto da escada. 

— Aham. A gente ia fazer uma surpresa pra quando vocês chegassem. — disse. — Leo! A Alicia chegou! 

Meu pai desceu as escadas e me deu um abraço apertado. Eu estava prestes a me debruçar em lágrimas, para ser bem sincera. Queria abraçar os meus pais e ficar perto deles até que essa merda toda passasse. 

— Vocês vão saber de um jeito ou de outro, então eu vou contar — comecei a dizer. — Dylan e eu terminamos na semana passada. Definitivamente. 

— Sério?! Por que você não contou antes?

— Esse não é o ponto, mãe. — falei baixo. — Eu fui em uma festa na casa da Ariel no sábado e fiquei com um garoto na jacuzzi. Gravaram o nosso momento íntimo e foi postado em vários lugares. As pessoas estão caindo em cima de mim no colégio. 

— Vocês... transaram? Esse tipo de vídeo? 

— Não, mas quase. — passei as mãos no rosto. — Meu celular tocou e eu fui atender sem o sutiã, mas com as mãos tampando. Estão me chamando de piranha, puta, prostituta e um garoto colocou dinheiro no meu bolso e deu um tapa na minha bunda. Acabei perdendo a cabeça. — ainda estava escondendo minhas mãos no bolso da jaqueta. Fodeu o meu punho direito. 

Eu sabia os pensamentos que meu pai teria em relação a isso, mas ele não é nem louco de dizer em voz alta. Minha mãe e eu temos os pensamentos iguais em relação a esse assunto, por isso eu sabia que ela estava entendendo o que eu estava pensando. E eu também sabia que era diferente com o meu pai porque, querendo ou não, era sua filhinha exposta. 

— E eles não estão em cima do garoto, eu imagino. — minha mãe disse. 

— Exatamente. 

— Vamos no colégio, Leo. — ela levantou.

— Espera. Precisamos conversar com ela primeiro. — meu pai disse. 

— Conversar com ela por que? Ela não estava fazendo nada de errado. 

— Alicia, você não pode... 

— Pai, não fala isso. Eu posso sim. Sou solteira, tomo anticoncepcional e estava fazendo tudo com respeito. Se alguém filmou na maldade a culpa não é minha. Eu pensei que estávamos sozinhos.

— Tem razão. Não vamos ainda. — minha mãe olhou para ele puta da vida. Vish. — Nós vamos conversar. 

— Mariana...

— Mariana o que? Não vamos contradizer a opinião um do outro na frente da nossa filha. Sobe, por favor.

Meu pai subiu pianinho com a minha mãe. Tirei as mãos do bolso e fui até a pia da cozinha para lavar. Estava ardendo. A campainha começou a tocar diversas vezes seguidas e não consegui esconder a minha surpresa ao ver Chase ali. 

— Você está bem?

— Sim... pode entrar. — dei espaço para ele entrar. — Por que você veio embora cedo também? 

— Você não é a única dando socos por aí. 

E notei seus punhos ainda mais ferrados do que os meus. 

— Você socou alguém?! Quem?

— Dois caras do time. O treinador ficou puto, mas quando contei o que ouvi eles dizendo sobre você...

— Você bateu neles por mim?

— Essas paradas me tiram do sério. 

— Vem aqui. — o puxei pelo pulso até a cozinha. — Quer um gelo aí? 

— Acho que você precisa de um gelo aí. — ele segurou minha mão direita. — Caralho... você arrebentou o cara. 

— Não é?! — sorri animada. — High five. — levantei a mão e ele bateu na minha, rindo. — Você quer gelo também?

— Estou tranquilo. 

Peguei um hambúrguer congelado e coloquei em cima do meu punho.

— Você é um dos poucos caras que eu conheço que não é machista. — comentei enquanto sentava na bancada da cozinha. 

— A sociedade está sempre pronta para humilhar a garota por gostar de sexo e aplaudir o cara. Isso é ridículo. Se vocês dois estão no mesmo lado da moeda, por que só você carrega o fardo?

— Pelo fato de eu ter uma... — olhei para trás para me certificar de que meus pais não estavam descendo e sussurrei: — Boceta e não poder usá-la com quem quiser. — Chase riu. — Eles querem até controlar meu órgão genital, isso é doentio. 

— Acho que a galera vai calar a boca depois do que você falou. Na maioria das vezes eles só fazem por diversão e vão na onda dos outros. — disse. — Se você não tivesse socado Simon, eu teria feito isso.

— Teria?

— Porra, eu já levantei quando ele deixou a grana no seu bolso. Quando ele deu o tapa eu ia mesmo, mas você fez antes. Você acabou com ele. 

— Eu pensei que você quem tinha me segurado por um momento. 

— Até parece. Eu queria mesmo que você socasse o cara. 

— Obrigada por ter dados socos por mim, valentão. — sorri enquanto levantava as sobrancelhas e ele riu.

— Sempre que precisar. — ergui o punho para ele bater, mas ele balançou a cabeça. — Melhor não. 

— Claro. — ri. — O treinador ficou do meu lado, então? 

— Sim. Eu pensei que ele era do tipo mente fechada, mas ele ficou bem indignado e disse que se foi alguém do time que filmou ficaria suspenso. 

— Sério?! Eu sabia que ele gostava de mim, mas não tanto assim. 

— Ele contou das semanas que treinou as meninas para um jogo de futebol americano. Você sempre é a melhor em tudo que faz, né?

— Se eu me disponho a fazer algo... qual é a graça de fazer de qualquer jeito? Tem que fazer para ser a melhor.

— Ele disse que era uma pena você não poder jogar no time.

— Cruzes! Eu até gostei da experiência, mas foi uma brincadeira. Não tenho vontade de jogar, não. 

Chase riu e antes que respondesse, ouvimos um pigarreio e vi meus pais parados um ao lado do outro. 

— Conversaram? — perguntei.  

— Quem é esse? — meu pai perguntou.

Merda. Chase estava com uma camiseta de manga curta, ou seja, tatuagens a mostra. O piercing na sobrancelha brilhava e os alargadores pareceram ficar ainda maiores pelo momento constrangedor. 

— Oi! Prazer, sou Mariana. Mãe da Alicia. — minha mãe se aproximou e estendeu a mão para ele. 

— Chase. Prazer. — ele apertou a mão dela.

— Meu Deus, o que aconteceu com a sua mão? 

— Ele não foi o único a socar babacas. — sorri, mostrando meu punho todo ferrado também.

— Mandaram o vídeo para o seu pai. — minha mãe sussurrou. — Talvez ele fique até pior agora. Sei que você não estava fazendo nada de errado, mas de um tempo para ele digerir o que viu. 

Assenti, entendendo o lado dele. 

— Pai, não seja mal educado. A vovó ficaria brava. — provoquei. 

Meu pai apenas acenou com a cabeça para Chase, que fez o mesmo. 

— Eu acho que já vou... 

— Que isso! Pode ficar. — minha mãe o interrompeu. 

— Pode ficar o caralho. Nós precisamos conversar com ela. — meu pai disse em português. Começou a discussão em português na frente das pessoas que não entendem. 

— Para de ser chato, pai. Sei que deve ter sido difícil para você me ver com um garoto, mas eu não vou aceitar levar uma bronca. Além do mais, nós nem transamos. E o problema de transar na adolescência é o medo da gravidez, certo? Não estou grávida e não vou ficar. — falei, também em português. 

— Manda o garoto embora, nós vamos conversar. —meu pai disse. 

Chase estava com um ponto de interrogação no meio da cara. 

— Ele é seu amigo, Alicia? Ou é algo mais? — minha mãe sorriu para mim.

— Nenhum dos dois. Só temos uma troca de favores. — falei. — E damos alguns amassos quando convém. — sussurrei e ela deu uma risadinha. 

— Eu imaginava. 

— Ok, falar em português na sua frente não é justo. — me virei para Chase. — Meus pais querem conversar comigo. Vou na sua casa mais tarde para a aula de biologia, tá?

— Se não quiser ir... podemos deixar para amanhã. 

— Estou bem. Obrigada mesmo, Chase.

Ele acenou com a cabeça para os meus pais e saiu do nosso apartamento. 

— Bonito, hein! Tatuados nunca fizeram meu tipo, mas esse aí... 

— Se liga, Mariana. — meu pai revirou os olhos. 

— Larga de ser carrancudo, Leonardo! Sua filha é linda, solteira e pode ficar com quem quiser. Não quer o meu discurso de "meu corpo, minhas regras" de novo, né?

— Não. Por favor, não. — ele levantou as mãos e nós duas rimos. — Mari, você sabe o que eu faria se fosse qualquer outra pessoa. Sabe que eu ficaria do lado da garota.

— Eu sei. 

— Estou do seu lado, Alicia. Estou mesmo. Mas não é fácil para um pai ver o que viu, entende? 

— Entendo, pai. Só quero que me responda uma coisa: você chamaria a garota desse vídeo de piranha se não fosse eu?

— Claro que não. Vocês sabem que não. 

— Sabemos... — o abracei de lado. — A última coisa que eu queria era você pensando em coisas ruins sobre mim.

— Não faria isso. 

— Obrigada. 

— Mas voltando... quem é esse garoto que estava aqui? E o piercing e os alargadores? E as tatuagens?

— A mamãe tem várias tatuagens e você tem uma tatuagem, pai. 

— As da sua mãe são pequenas. Não dá nem para ver. 

— Eu sei, mas qual é o problema de Chase ter tatuagens? Eu dou aulas de biologia para ele. Ele quer conseguir uma bolsa completa pelo futebol americano... isso não diz muito sobre ele?

— O que mais você sabe sobre esse garoto?

Se eu dissesse que ele mora sozinho em Los Angeles poderia causar problemas, então fiquei quieta. 

— Que ele foi um dos poucos que me defendeu e até socou alguns babacas que me ofenderam. — falei. — Mãe, ele não é nem um pouco machista! Em nenhum momento ele me olhou estranho ou algo assim...

— Raridade. Os meninos da sua idade são otários. 

— Sim. Muito otários. 

Pensei que o clima ficaria constrangedor durante o resto da tarde, mas pela primeira vez em muito tempo eu ajudei os meus pais a cozinhar para podermos almoçarmos todos juntos quando Matt e Sophie chegassem. O assunto sobre o que aconteceu se encerrou e, para ser bem sincera, estranhei muito o fato de eles não terem feito nenhuma pergunta sequer sobre meu término com Dylan. Sei que ele passou de queridinho para detestado de uma hora para outra e por algo que eu ainda não sei, mas eu esperava que minha mãe me enchesse de perguntas sobre. Pelo menos eles apenas me contaram das viagens e tive mais notícias sobre o tio Joe no hospital. Ele terá alta durante essa semana, meu pai disse. E ele não quer ver Keaton nem pintado de ouro, o que gera uma confusão entre o tio Joe e o melhor amigo. Só sei que ficar bravo não vai adiantar nada; Faith ainda terá o bebê e eu aposto que tio Joe vai virar um vovô babão. 

— Ai meu Deus, vocês chegaram! — Sophie entrou primeiro que Matt no apartamento e foi correndo para o colo da mamãe e do papai.

Matt inclinou a cabeça para o lado ao me olhar e veio até mim. 

— Você está bem? Quem caralhos filmou aquilo? 

— Estou bem. E não sei, nem quero saber. 

— Matt, vem aqui dá um abraço na mamãe! Não sente saudade não, é?

— Já me costumei. — ele deu de ombros enquanto ia até eles. 

Minha mãe e eu trocamos olhares por cima do ombro de Matt. 

— Bom, estão com fome? — meu pai foi até a cozinha com a Sophie no colo. — Você parece com fome. Não comeu na escola? 

— Comi, mas minha barriga ainda está roncando. É a saudade de vocês. 

— Ah! E adivinhem só quem fez a sobremesa ontem. Sobrou um pouquinho. — falei. 

— Vocês deixaram a Sophie mexer no forno? 

— Ih, Matt, fodeu. — comprimi os lábios. — Mentira. Essas partes perigosas fui eu quem fiz. Relaxa, mãe. 

Ainda conseguimos assistir um filme juntos depois do almoço, como nos tempos em que a mamãe estava de licença maternidade. É, oito anos atrás. Era difícil ter momentos como esse durante dias de semana. 

— Preciso ir, gente. — falei, levantando do sofá. 

— Onde você vai? 

— Estou dando aula de biologia para um aluno, lembra? Não sei que horas volto. Beijo beijo. 

— Você precisa perder o medo de dirigir ao invés de ficar pegando táxi cada vez que quer sair, filha. 

— Um dia, pai. Um dia. 

***

Chase estava assistindo Velozes e Furiosos 5 quando cheguei no seu apartamento e, por mais que eu soubesse que tínhamos que estudar, eu simplesmente não consigo ignorar Velozes e Furiosos. Sentei ao seu lado e peguei um punhado de pipoca do balde, vendo-o me olhando com as sobrancelhas levantadas. 

— Que foi? Eu gosto de pipoca. 

— Como está sua mão? 

— Um pouco dolorida e a sua? 

— Tranquilo. 

— Já deve ter socado caras antes, né? Aposto que sim. 

— É, não vou negar. — ele deu de ombros. 

— E qual foi o maior motivo? 

— As vezes que fiquei no reformatório e outros motivos que não posso te dizer. Eu costumava ser bem esquentado. 

— Isso não me surpreende. Você precisa controlar o pavio curto aqui por causa do seu pai, né? E nenhum desses motivos envolvia sua ex-namorada?

— Não vamos falar sobre isso. — ele desligou a televisão. — Ainda não estou preparado para a prova. Podemos começar? 

Assenti, mesmo querendo saber quando ele iria me contar algo real da sua vida. Não sei absolutamente nada. E, pela primeira vez, ele não demorou para se concentrar na matéria de hoje. 

— Você fuma? — perguntei quando vi um maço de cigarros em cima da bancada da cozinha. 

— Ás vezes. Agora é só ás vezes. 

— Costumava fumar sempre antes? 

— É. Ajudava a desestressar. Eu só gastava com grana com isso e bebida. 

— Por que? Nunca diziam que isso poderia te matar?

— Como se eu ligasse antes. — Disse enquanto balançava o lápis entre os dedos. — Por que você tem medo de dirigir sozinha? 

— Porque eu tive um trauma assim que consegui a carteira. — falei. — Eu dirijo bem, todo mundo me diz isso, mas eu fico nervosa quando preciso andar em ruas movimentadas. E eu estava sozinha nessa primeira vez. Bati em um cara de bicicleta e ele...

— Ele morreu?!

— Minha nossa, não! Deus me livre. 

— Você não pode ficar assim pra sempre. Já tentarem te fazer perder o trauma? 

— Queriam tentar, mas eu não quero. Ainda não estou preparada. E eu tirei a habilitação super rápido, pensei que precisaria fazer vários outros testes práticos naquele lugar cheio de cones. 

— E você quer fazer esses testes? Porque tem uma auto escola aqui perto que fica bem vazia a noite. 

— Não, eu não preciso. Eu só preciso aprender a manter a calma nas ruas. 

— Beleza, então a gente vai dirigir de noite. 

— Você quer morrer ou matar alguém? 

Chase deu risada. 

— É sério. Você vai se formar, tem grana pra ter um carro e não dirige. Não é ruim ficar sempre pedindo táxi ou dependendo do seu irmão? 

— É. Ás vezes. 

— Então fica aqui até mais tarde na sexta e a gente vai. Beleza? 

— Combinado.

Voltamos para a matéria, mas o celular do Chase começou a tocar em cima da escrivaninha. 

— É a Camille. — ele apontou com o cenho franzido antes de atender. — Oi, Cami. Tudo bem? — silêncio. — Sexta? Sexta não vai dar, eu acabei de...

— Fala que vai! — sussurrei. — Sério, a gente faz isso outro dia. 

— Tô aqui, sim. Não vai dar na sexta, mas no sábado tá suave. Pode ser? — mais silêncio. — Tudo bem, então. Tchau. 

Ele finalizou a ligação e deixou o celular em cima da mesa. 

— E aí? Ela pode no sábado? 

— Aham. Viu? Tá tudo certo. Agora me responde: por que quer tanto que eu saia com ela? 

— Não quero. Só achei que seria legal, mas se você não quer nada mesmo deixe bem claro pra ela. 

— Sei lidar com isso, patricinha. 

— Sorte a sua. 

Terminei de ler o que estava escrito na apostila, mas notei que ele estava me olhando por mais tempo que deveria. Estava prestes a perguntar se tinha algo errado, mas ele tirou meu cabelo do rosto e sua mão permaneceu ali, com seu polegar acariciando o canto da minha boca. 

— Simon te machucou enquanto tentava se defender. 

Levei o indicador até o lugar que ele tocava e franzi o nariz ao sentir o machucado ardendo. Não havia notado antes. 

— Nem tinha percebido. Está bem visível? 

— Não. Tá ardendo? 

— Um pouco. N-nada demais. — desviei o olhar para as apostilas. — Podemos voltar? 

Ele pigarreou enquanto desviava o olhar também. Jurava que ele iria me beijar. Ainda bem que não o fez. Não tem como transformar isso aqui em algo a mais, por mais que eu sei que ele esteja do meu lado em toda essa merda que tem acontecido. Chase carrega uma bagagem que eu não conseguiria lidar. Como ele mesmo sempre diz, nós somos de mundo diferentes e enquanto eu sempre tive tudo na mão, ele já deve ter passado por dificuldades. Coisas que eu não consigo nem imaginar; que eu prefiro não imaginar, na verdade. 


Notas Finais


E não sei se vocês lembram, mas eu falei que criaria um grupo no WhatsApp quando meu celular chegasse e ele chegou. Vocês topam mesmo??? Não será só de Rock Bottom, mas também das minhas outras histórias, de todas na real. Se vocês quiserem entrar, mandem mensagem aqui no Spirit mesmo ou no meu whats: 1-3-9-9-6-1-6-3-0-0-2. Tem que escrever assim senão dá como "Telefone Removido".

E, gente, um spoiler: isso só vai piorar!! O que vocês acham que vai rolar pela frente?? Comentemmm, beijos!

Ahhh e tem uma playlist de RB no Spotify e eu coloquei umas musicas novas esses dias, se quiserem ver: https://open.spotify.com/user/22tbpsa572wyqkdmkjlsrpz4a/playlist/3ZgG0M0BGdkj8lOSn8piv5


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...