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História Rolwse Academy of Magic ( INTERATIVA) - Especial: HCHK


Escrita por: Temomen_Orim

Notas do Autor


Provas e mais provas! Desculpem só postar esse capitulo, eu queria postar o especial junto com um capitulo normal, mas... Sem tempo... *_*

Capítulo 126 - Especial: HCHK


 Capitulo 1: Harvey.

 Olhando para essa velha fotografia... Sim, faz tanto tempo... Tantas coisas mudaram e eu aprendi muito, algumas das piores maneiras possíveis. Eu gostaria de ter aqui ainda... Você e May... Parece absurdo, se você não tivesse morrido eu não teria conhecido a May e mesmo assim eu gostaria de ter os dois aqui... Desculpe Leon... Eu não pude te salvar e por muito tempo vivi manchando a sua lembrança com pensamentos sombrios...

— Querido?

 O toque da mão dela em meu ombro é inconfundível.

— Você está bem?

— Sim.

 Como se eu precisasse responder. Kayla pode perfeitamente saber o que se passa em minha mente, mesmo que ela tenha aprendido a controlar seu semblante anos atrás não significa que ela me deu trégua. Acho que é justo, afinal...

— ... somos casados. Sim, eu realmente não te dou trégua.

 Completar as frases que se formam em meus pensamentos e então sorrir. Não tem jeito, eu...

— Você me ama. Eu também te amo.

 Tantas coisas mudaram, mas a sensação de tê-la me puxando para si e me beijando continua a mesma.

— Ele teria sido um bom tio. E May com certeza também seria uma boa tia, um pouco jovem, mas ainda sim uma ótima tia...

— Não tão jovem. Ela teria trinta e cinco... Já faz vinte anos...

— Verdade... Acho que o tempo passa depressa de mais. Enfim, tem outro Leon precisando de sua ajuda lá em cima.

— Você quem manda chefe.

— Engraçadinho...

  Tenho que agradecer todos os dias por ter Kayla ao meu lado. Eu não acredito em destino, mas quando eu penso em como seria minha vida sem ela eu tenho certeza que nosso encontro não foi simplesmente algo ocasional. Ela é a mulher da minha vida.

— Escutei que alguém precisa da minha ajuda...

— Oi pai...

 Quando eu primeiramente pensei em ter filhos eu tive a certeza dos nomes. May se eu ganhasse uma menina e, como aconteceu, Leon para um menino. Kayla e eu nos planejamos bastante e só tentamos em definitivo ter um filho quando sabíamos que poderíamos dar total atenção a ele. Não poderia ser de outro jeito, família é algo que eu considero muito importante, sei disso pelo tanto que senti falta da minha. Leon já está crescido, treze anos, e apesar dele estar começando a buscar certa independência eu o ensinei a pedir ajuda a mim ou a Kayla para qualquer coisa que ele quisesse. Conversar é importante, prefiro que ele faça assim a simplesmente ter a mãe lendo sua mente. O semblante da Kayla com certeza faz dela uma mãe um tanto assustadora já que Leon não pode esconder nada dela, deve ser por isso que ele prefere conversar comigo.

— Algum problema?

 Sentar ao lado dele sempre ajuda a criar um vinculo de confiança, dessa forma estamos mais próximos. E também, eu posso olhar para ele, ver como ele cresceu. Suas características são praticamente da Kayla. Os cabelos loiros, os olhos levemente verdes... Posso dizer que a única característica marcante nele que veio de mim é o rosto, o formato um tanto mais "quadrado".

— É só que... Eu queria um mago, como você e minha mãe... A maior parte dos meus amigos tem poderes e quando a escola terminar eles vão para a Rolwse, mas eu não... É injusto...

 Então é isso... Bem, não posso negar a mim mesmo que fiquei feliz ao ver que Leon não nasceu um mago. Claro que eu gostaria que ele estudasse na Rolwse e conhecesse alguns dos meus antigos professores e amigos, mas a vida de um mago pode ser perigosa. Eu só não quero que ele se machuque ou tenha que passar pelas coisas que eu passei...

— Bem filho, essas não são coisas que estão ao nosso alcance para mudarmos. Receber um signo é um processo que ninguém consegue explicar, ele simplesmente vem naturalmente...

— Eu sei...

— Não fique triste. Você tem que se concentrar naquilo que tens e não no que não tens. Você não precisa ser o melhor mago, mas sim a melhor pessoa possível.

— Ainda parece injusto...

— Ora, você tem as melhores notas de sua escola. É inteligente, esperto e bonito.

 Pela pequena risada ele gostou.

— Obrigado pai.

— Leon, você tem um grande futuro pela frente, apenas seja paciente.

— Eu serei... Hum... Pai, como você descobriu que era mago?

— ... Foi há muito tempo atrás...

 

~x~

Eu tinha dezesseis anos e meu irmão, que como você sabe se chamava Leon, tinha quinze. Nossa família era bem estruturada e estávamos em uma das melhores escolas de Nassau. Na verdade eu já havia concluído meus estudos, mas decidi esperar meu irmão para entrar na Rolwse, ele estava em seu ultimo ano e então poderíamos prestar os testes juntos. Eu sei que você quer saber como eu descobrir ser um mago, mas na verdade, não houve nada de especial, desde que me lembro eu sempre tive uma pequena capacidade de manipular a água enquanto meu irmão era forte. Engraçado, mesmo ele sendo o irmão mais novo ele tentava me defender. Sempre briguei com ele por ele usar sua magia corporal contra qualquer, mesmo que fossem em baixo nível era arriscado. Magos não podem atacar pessoas comuns, isso um crime grave.

 De qualquer maneira, éramos inseparáveis. Eu era o irmão mais velho e responsável enquanto Leon era o mais novo e briguento. Ambos sentíamos uma admiração um pelo outro, ele dizia admirar minha inteligência e eu admirava sua força... Na verdade, o que eu sentia era um pouco mais do que admiração, chegava até a ser inveja... Eu desejava ser forte como ele para poder defendê-lo em momentos mais difíceis. Eu era bom com palavras, mas isso não bastava, eu queria fazer mais do que simplesmente evitar problemas, eu queria poder combatê-los quando eu não conseguisse evitá-los. Lembro perfeitamente do dia em que aconteceu...

 Leon havia marcado um encontro com uma garota e ele disse que pediu para que ela chamasse uma amiga, assim eu poderia ir junto. Ah, não conte para sua mã... Não, não tem como esconder nada da Kayla mesmo... Enfim, é um pouco embaraçoso ter de admitir isso, mas Leon sempre teve mais jeito do que eu com garotas, isso desde muito cedo.

— Você parece nervoso...

— Eu não estou nervoso.

— Mas parece...

— Mas eu não estou!

— Agora eu tenho certeza que você está...

— Leon! Para! Ok?

— Tudo bem — Consigo lembrar exatamente da maneira como ele ria. Uma risada simples e sempre sincera, ele costumava rir de tudo — São só duas garotas, não precisa ficar com medo. Você é bem mais bonitão do que eu e é o mais velho, garotas gostam de caras mais velhos. Alem de que você é inteligente e consegue falar de coisas complicadas, isso com certeza vai impressionar, desde que você se solte mais. Não seja tímido.

— Por que você tem que me dar conselhos assim?

— Bem, entre nos dois eu sou o único que deu o primeiro beijo, então...

— Vai ficar jogando isso na minha cara?

— Não foi minha intenção... — Sarcasmo era sua especialidade. Sempre que ele fazia algo assim suas mãos eram apoiadas atrás da cabeça, um gesto para evidenciar o sarcasmo em sua frase.

— Engraçado...

— Pare com isso. Ali estão elas, aja naturalmente e não me envergonhe.

— Eu deveria estar dizendo isso...

— Shhh... — Ele sempre me cortava com um "Shhh" — Olá garotas!

 A facilidade que Leon tinha em falar e se enturmar com as pessoas, essa outra coisa que eu também invejava um pouco. As garotas? Bem... Uma se chamava Iris... Hum... Como ela era? Isso é importante? Ok... Iris tinha cabelos loiros bem curtos, acho que seus olhos eram castanhos. A outra era... O que? Corpo? Eu não vou descrever isso, eu não me lembro bem... Ela tinha um corpo normal para uma garota de dezesseis. Pare de me perguntar sobre isso. Voltando...

— Oi Leon. Eu estava esperando muito por isso. Ah! E eu trouxe uma amiga, como você pediu. Essa é a Blake.

— Prazer em conhecê-la. Eu me chamo Leon e esse é o meu irmão Harvey.

— Oi.

 Blake me cumprimentou e eu travei. Eu não esperava que a amiga fosse alguém mais velha... Hã? Por que você está insistindo nisso hoje?... Tudo bem... Blake era mais alta e... Sim, ela tinha mais corpo que Iris... Você vai me comprometer com sua mãe desse jeito...  Ela tinha cabelos castanhos e olhos escuros. Acho que acabei encarando ela com cara de idiota até que Leon me deu uma pequena cotovelada.

— Er... Oi...

— Não liga para ele, ele só é meio tímido. Então, vamos?

— Sim.

 O encontro não foi grande coisa, o que importa na verdade é o que veio depois... Você quer ouvir? Tudo bem... Bem, fomos há algum lugar, acho que uma sorveteria, essa parte em especifico em não lembro. Leon e Iris eram todos sorrisos, eu até pensei nos dois como um ótimo casal, mas quanto a mim... Eu estava tentando apenas não estragar tudo, mas o máximo que eu conseguia era dar olhares rápidos para Blake e notar que ela me encarava, isso me deixava envergonhado e eu virava o olhar... Não fique rindo. Eu tive meus problemas quando era mais novo...

— Se divertindo Blake? — Meu salvador. Leon parou de dar atenção a Iris para tentar me enturmar com Blake.

— Sim. Esse é um ótimo lugar.

— Sim, é sim. Ei, meu irmão é o cara mais inteligente que eu conheço. Estou falando serio, ele passou todos os anos na escola com a nota máxima em todas as matérias. Algumas ele até dava aulas aos professores.

— Isso é verdade?

— Não... Leon está exagerando... — Ao dizer isso recebi um olhar de Leon que claramente estava me xingando. Ele estava tentando me fazer impressionante, mas eu não percebi e acabei estragando sua pequena mentira.

— Blake não é daqui — Disse Iris — Ela é de Rorche.

— Rorche? Então, vocês duas se conhecem a pouco tempo? — Perguntei um pouco confuso.

— Sim. Só há alguns dias, então pensei em apresentar algumas pessoas legais a ela.

— Entendi...

— Na verdade. Ela insistiu em vir, principalmente quando soube de você...

— Eu?! — Assustei-me um pouco. Nenhuma garota tinha demonstrado interesse em mim até então, ou pelo não que eu tivesse notado de forma tão explicita.

— Iris! — Blake reclamou e agora foi a vez dela de desviar o olhar.

— Hum... Tenho uma idéia — Leon levantou-se e puxou Iris com sigo — Eu e Iris vamos dar uma voltinha rápida, nos esperem aqui.

— Espere! Leon! Você ainda não pagou....

 Eu sabia do mal habito do meu irmão, ele costumava fazer isso comigo o tempo todo...

— Eu pago na volta...

— Não. Você vai me fazer pagar tudo sozinho de novo...

— Ei! Está me chamando de pilantra?! Eu não faço essas coisas!

— Sim! Você faz!

 Nesse momento esquecemos completamente das garotas que estavam com a gente e nos tornamos apenas dois irmãos discutindo. Fazíamos isso o tempo todo.

— Você está me envergonhando!

— Eu estou?! Você que vai fazer isso quando me obrigar a pagar uma conta que eu não posso pagar!

— De novo me chamando de pilantra?! Já chega! Quer o dinheiro?! — Leon buscou tudo o que tinha no bolso e jogou sobre a mesa batendo com força sobre ela — Pegue essa porcaria! Nunca mais te ajudo em porra nenhuma!

— Você não pode dizer isso!

— Dizer o que?! Porra?! Vai me regular agora?! Eu não posso xingar?!

— Não! Você não pode!

— E o que você vai fazer? — Disse ele com uma voz e um olhar um tanto sombrios.

— Pare...

— Eu perguntei o que você vai fazer? Me bater?

— Pare Leon... Você sabe que mesmo em força física eu ganho de você...

— Até eu usar minha magia...

— Você não pode usar magia assim! Pare de ser irresponsável!

 Fui derrubado em um instante, mal vi Leon se aproximar e me empurrar. Nesse movimento acabamos derrubando a mesa e causando um pequeno pânico nas pessoas ao redor. Eu era bem mais calmo que Leon, mas quando a situação se tratava de nos dois até mesmo eu perdia a cabeça, então o ataquei de volta, me levantando e o golpeando com um soco. Porem o único atingido no golpe fui eu mesmo. Meu punho ficou dolorido enquanto Leon não sentiu dor alguma.

— Não adianta Harvey...

 Novamente ele me empurrou e eu cai, mas dessa vez houve algo diferente. Eu me senti mais forte. Sempre invejei um pouco o signo do meu irmão, ou talvez eu invejasse a forma como ele parecia inabalável com esse poder. Não significava que eu odiasse meu próprio signo, era só uma disputa tola entre irmãos. Com minha nova força eu avancei e soquei Leon mais uma vez, dessa vez ele foi levado ao chão, caindo para trás.

— Leon? Me desculpe... — Acabei me assustando. Algo assim nunca havia acontecido antes — Leon...

 Então eu simplesmente o ouvi rir. Leon começou a rir freneticamente.

— Como você fez isso?

— Eu... Eu não sei... Você está...

— Isso foi incrível! — Ele levantou-se em um pulo e me abraçou. Assim terminou nossa briga, sempre acabava assim na verdade. Acabávamos rindo um do outro, era impossível nos odiarmos — Cara! Você é realmente forte! Mas... O que exatamente foi isso? Você não pode usar o signo corporal e a água ao mesmo tempo...

— Não. Foi mais como se... Eu tivesse pego sua força e...

— Então é um semblante! Que foda!

— Pare com essas coisas...

— O que?! Não comece de novo! Você despertou seu semblante!

~X~

— Vocês eram mesmo bons amigos... Eu sei que eram irmãos, mas... Nem sempre irmãos se dão bem.

— Era mais do que isso. Claro que nossos laços de irmandade eram fortes, mas não era apenas por sermos irmãos. Éramos realmente melhores amigos. A escolha do seu nome foi mais que uma mera homenagem ao meu irmão, eu queria que fossemos melhores amigos também...

— Nos somos pai... E eu gosto desse nome. Queria ter conhecido o meu tio...

— E eu gostaria que eu tivesse te conhecido...

 Não importam o que digam sobre filhos e família, mas eu entendi algo ao lado de Leon e Kayla. Relações são construídas com amizade e confiança, acho que esse a falta disso é um erro mais que comum. Muitas pessoas buscam construir uma relação primeiro para depois buscar essas coisas, mas coisas como amizade e confiança são alicerces e é impossível construir algo sem eles ou então construídos depois. Formei uma família com Kayla porque ela confiou em mim e buscou me entender como ninguém nunca fez, demorei um pouco para perceber isso, mas então senti que tinha que retribuí-la e no fim as coisas aconteceram. Eu não deixaria que com Leon fosse diferente, ele é meu filho, mas acima de tudo preciso ser seu amigo, aquele em que ele pode confiar.

— Pai... E o encontro? Como terminou?

— Isso é uma historia para outra hora... Acabarei tendo complicações com sua mãe se ficar pensando nessas coisas, você sabe como ela é...

— Ok... Obrigado por conversar comigo. Eu acho que... Se eu não puder me tornar um mago então eu gostaria de trabalhar com a Chaya...

— Com a Chaya? — Que surpresa — Bem, garanto que ela irá de bom grado abrir um espaço para lhe ensinar. Você ainda tem tempo para pensar, então não se apresse, faça sua escolha com sabedoria...

 Tomara que ele mude de opinião... Eu não posso ir até Zeon e ficar por lá, tenho trabalho aqui em Letho. Não é que eu não confie que a Chaya irá cuidar bem do Leon, pelo contrario, ele terá tudo que precisa e muito mais, alem da chance de aprender com uma empresa que se estende em todos os continentes. O único problema é... Chaya continua com seus... "maus hábitos". Mesmo que o casamento a tenha limitado um pouco ela continua... Bem, ela continua sendo a Chaya.

— Como foi?

 Kayla provavelmente já sabe de tudo, mas mesmo assim ela pergunta. Muitas vezes eu não sei se é um teste ou algo do tipo.

— Conversamos um pouco sobre meu irmão... Sobre a ultima vez que briguei e fiz a pazes com ele. Eu jamais imaginaria que quando eu acordasse no outro dia ele estaria morto...

— Quando eu percebi sobre o que vocês falavam decidi deixar tudo entre vocês. Então, você falou sobre a Blake?

— Não tudo... Por enquanto prefiro deixar que o Leon enxergue apenas o lado bom das pessoas. Eu sei o que acontece com quem busca sempre o lado ruim.

 

Capitulo 2:Chaya.

— O que merda esses desgraçados fazem no setor de contas?! Está tudo atrasado!

— Senhora Chaya, acredito que eu seja capaz de recalcular tudo e...

— Sim. Sim. E sei Honey. Na verdade, faça isso, preciso tomar um pouco de ar. Esse escritório e essas coisas atrasadas já estão me matando. Vou aproveitar que minha saia está mais curta que o normal e fazer um pequeno desfile para os estagiários. Sim, eles vão ficar babando pelo que não podem ter.

— Acredito que o Senhor R...

— Bah! Ele confia em mim e eu não sou uma vadia... não a ponto de traí-lo. De qualquer maneira, você fala demais Honey. Às vezes eu gostaria de calar sua boca, talvez com um beijo...

— Impossível Senhora. Eu sou apenas um programa de computador, nem possuo corpo físico. Alem disso minhas características foram programadas para serem do sexo feminino...

— E quem disse que eu ligo se você é uma mulher? Isso torna as coisas mais divertidas. Enfim, dê um jeito nisso para mim e se terminar antes de eu voltar, o que é bem provável, apenas organize os arquivos para eu trabalhar, não faça tudo, se não eu vou me sentir inútil.

— Como quiser Senhora.

 Finalmente! Só de estar no corredor o ar já parece mais puro, mas preciso de mais ar puro do que esse corredor, onde o perfume dos funcionários se mistura ao cheiro dos escritórios. Por que eu insisto em trabalhar tanto? Honey poderia simplesmente fazer tudo por mim e eu tenho plena confiança nela, em todos esses anos ela nunca me falhou em nada. E pensar que fui quem a programei... Se eu tivesse que escolher uma garota dos sonhos para casar acho que seria exatamente como eu imaginei Honey. Cabelos negros, com aquelas franjinhas que cobrem toda a testa. Olhos azuis e pequenos. Uma boca carnuda e é claro, um corpo escultural, talvez um pouco mais magro e sem seios muito grandes. Sim, é assim que eu imagino Honey, mas ela é apenas um programa e mesmo que tenha personalidade eu não posso vê-la ou tocá-la. Limitá-la a um corpo, como um robô ou algo do tipo, seria perder seu potencial. Na verdade Honey precisa viver na nuvem, um código que circula entre todos os computadores da companhia Haven.

 E enquanto eu sonho com ela... Até me esqueci de notar os olhares sobre mim. Isso é bom, prova que ainda sou bonita e desejável... Essa palavra existe? Acho que sim. E olha que me visto de maneira bem mais comportada, ao menos no trabalho. O pequeno jardim aberto que pedi para construírem foi uma das melhores idéias que eu já tive. Dessa maneira quando alguém está estressado pela pilha de trabalho pode vir aqui e respirar ar puro, olhar para o céu e matar o tempo, temos até uma mesa de ping-pong.

— Dia chato ein?

 Hum... Quem é esse cara? Cabelos castanhos, olhos dourados, bonito... Sim, ele é realmente atraente e... Há! Ele está dando em cima de mim. Expressão corporal, olhar penetrante. Hum... Estagiário com certeza, não sabe quem eu sou. Bem, dessa maneira eu posso me divertir um pouco.

— Chato não. Eu diria que um pouco... Estressante — Agora a jogada 1: Lentamente levar as mãos ao decote — E um quente. Esse lugar é muito quente.

— Estou percebendo...

— Então, Mark — Nome no crachá — Você é novo?

— Como você sabe?

— Bem, eu nunca te vi por aqui e com certeza eu lembraria de alguém como você — Jogada 2: Faça o sentir-se dono da situação, como se tudo que importasse fosse ele.

— Sim, eu sou novo. Prazer conhecê-la... er... Você não tem um crachá...

— Acho que perdi o meu, não conte para a chefia... — Piscada de olho. Ok. Ele está caindo direitinho.

— Você terá de me compensar. Sabe, eu não quero ser pego sendo cúmplice de uma funcionaria esquecida.

— Compensar é? — Eu claramente entendi. Bem, não vai rolar — Tudo bem, que tal uma partida?

— Partida?! — Ele parece surpreso. Acho mesmo que conseguiria o que queria tão facilmente bonitão? — Você quer jogar ping-pong? Eu estava pensando em outra coisa...

— Se você ganhar então podemos pensar em fazer essa "outra coisa"...

 Basta um sorriso e um olhar mais atirado e ele aceita tudo numa boa. Isso continua tão fácil como sempre.

— Tudo bem então. Vamos jogar.

 Esse sorriso... Ele está confiante. Desculpe Mark, mas eu não perco nesse jogo e esse é exatamente o motivo de eu ter pedido para colocarem essa mesa aqui, porque assim eu posso brincar com os novatos.

 Bem, estamos prontos para jogar e por "cavalheirismo" Mark me deixará fazer a primeira jogada. Será que consigo tira-lo do jogo com seis saques perfeitos? Acho que sim. Então, vamos lá, com efeito e para a esquerda... Obvio que para esquerda, afinal estou sacando da direita... Um. WOW! Ele rebateu?! Dois. Mas ainda sim eu posso ganhar. De novo... Ele rebateu de novo. Três. Preciso jogar para o lado que ele é fraco, então vai ser... Direita... Quatro! E Ponto!

— Parece que o ponto é meu. Seu "outra coisa" está a cinco pontos de não acontecer.

— Então estamos jogando uma partida de no máximo sete? Porque não deixamos as coisas mais interessantes? Que tal um jogo apenas de três? E vamos mudar as regras, quando alguém faz o ponto então o saque é do próximo?

 Que coisa estúpida, isso nem existe. Ele só está fazendo isso para poder sacar. Vou jogar o jogo dele.

— Por mim tudo bem. Aqui, peque a bola e vamos continuar.

 Hum... Ele vai sacar para minha esquerda, eu tenho mais dificuldades em rebater desse lado e ele já percebeu. Ao menos sua percepção é alta. Mas não vai funcionar assim. Um. Dois. Três. O ritmo está ficando mais rápido... Quatro. Cinco. Está demorando mais do que o previsto... Seis. Sete. Oito. Não vou rebater dez vezes, nem pensar. É só errar o movimento um pouco, bater a raquete nos botões da camisa e... Um decote maior, um olhar distraído e... Nove! Ponto! Agora, vamos abotoar isso de novo, afinal estou no trabalho.

— Tive um pequeno acidente e mesmo assim marquei o ponto...

— Por que tenho a impressão de que isso não foi um acidente?

— Sei que eu jogo bem, mas não sou tão habilidosa a ponto de forçar algo assim — Sim. Eu sou.

— Que tal outra aposta? Com mais um ponto você ganha, mas agora vamos para o tudo ou nada. Quem marcar esse ponto vence. Naturalmente eu irei sacar.

 Que mal perdedor...

— Tudo bem. Faça as honras.

 Agora ele parece diferente. O que? Ele jogou a bola para cima... Isso é permitido, mas, o que ele pretende? Uma bola girando? É isso! Mas eu posso rebater. Um... Não. Eu errei... Ele marcou... Espere, não, ele só marca quando a bola atingir o chão, então basta trazê-la de volta com uma rajada de vento, girar e... Um! Ué... Ele não rebateu dessa vez... Acho que ficou impressionado com a magia que eu usei... Bem, eu ganhei.

— Ponto. Você perdeu...

— Eu não esperava por magia.... Então você é uma maga? Cheia de surpresas, hein?]

— Eu tenho que ser.

— Então... Eu perdi minha "outra coisa"?

— Você perdeu a partida, não é? Então sem "outra coisa" para você.

— Que triste... — Definitivamente ele não desistiu... — Posso ao menos saber seu nome?

— Eu não lembro nesse momento...

— Não lembra o próprio nome? Ok, você não é fácil de lidar... Mas, que tal me falar onde aprendeu magia e, é claro, a jogar ping-pong?

 Bom. Eu ainda não posso contar tudo, então terei de omitir o fato de eu ser dona desse lugar. Mas acho que será divertido. Eu gosto da historia de como aprendi a jogar.

~X~

Havia um garoto do qual eu gostava. Sempre me senti presa pelas obrigações da minha vida e tudo que eu queria era uma forma de escapar e me libertar. Talvez por isso eu tenha cometido um erro. Me entreguei por completo a esse garoto, varias e varias vezes... Não sou hipócrita em dizer que não aproveitei, mas eu queria algo a mais. Então quando eu disse toda verdade e me declarei recebi um "não". Grande parte da garota ingênua e sonhadora se foi nesse dia. Aconteceram outras coisas também, mas prefiro não lembrar, é um problema resolvido.

 O fato é que depois do "não" eu passei alguns dias bem pra baixo... Isso não combinava nem um pouco comigo. Por sorte eu tinha um amigo para perceber...

#####, o que aconteceu? Você está meio para baixo há algum tempo?

 E meu salvador apareceu. Rin. Ele era meu amigo desde que eu era bem mais nova, mesmo assim eu nunca prestava muita atenção nele. Acho que Rin sempre foi muito certinho e quieto, o tipo de garoto que não me chamava atenção.

— Oi Rin... Eu estou bem, não se preocupe...

— Ok. Mas... Você não parece bem...

— Ei! Eu estou bem! Não preciso de ajuda!

 Acabei gritando com ele e percebi como fui rude pela forma como ele baixou a cabeça e estava pronto para ir embora.

— Espere! — Chamei o segurando pela camisa — Desculpe... É só... as coisas tem estado complicadas em minha vida e... Eu não devia ter descontado em você. Desculpe.

— Tudo bem... Eu só queria tentar te animar um pouco...

— Mas por quê?

— Bem... É que... Eu... Eu... — Rin corou e começou a desviar o olhar de um lado para o outro enquanto batia o pé impacientemente no chão — Eu... Achei que... Eu sempre te vi sorrindo e... Ver você triste é estranho e... Não quero você assim... Quero dizer...

— Obrigada... de verdade.

— N-Não precisa agradecer...

— Preciso sim. Agora que parei para pensar, você sempre esteve por perto. Eu queria agradecer por você ser meu amigo, mesmo eu não merecendo...

— É claro que você merece...  Na verdade eu... eu meio que gosto de v...

— Ping-Pong?

— O que?!

— Você gosta de Ping-Pong? Tem um clube aqui perto mas... Eu não sei jogar...

— Bem... Eu sei jogar e conheço algumas coisas e...

— Você vai me ensinar?

— Sim...

— Legal! Você é muito legal Rin! A partir de hoje serei a amiga que você merece.

— Amiga... É claro...

— Mais uma coisa... Eu gostaria de pedir um conselho...

— C-Claro... Vá em frente...

— Eu sou uma maga... Posso controlar o vento...

— Verdade? Isso é legal.

— Eu estou pensando em entrar em uma academia de magia...

— Como a Ferreal?

— Não... Eu estive pensando na Rolwse...

— Rolwse? Onde isso fica?

— Em Letho...

— Letho?  É bem longe... Por que não uma academia daqui?

— São só quatro anos... Eu queria um pouco de distancia de tudo isso... Eu queria ser livre um tempo. Fazer amigos e ter... experiências... Eu não sei... Minha vida parece que é completamente planejada. Eu gostaria de descobrir as coisas por conta própria, mas eu... Eu também não quero decepcionar minha família...

— Vá...

— Eu devo?

— É o que você quer... Eu sempre te vi como alguém que esteve presa, mesmo assim você esteve sempre se esforçando. Se tem alguém que merece ser feliz é você...

— Wow... Obrigada Rin — O abracei — Perca sua timidez, as garotas irão olhar para você. Só posso dizer que a que você escolher vai ser uma mulher de sorte.

— Mas eu já esco...

— Vamos! Vamos jogar Ping-Pong!

~X~

— É isso? Você omitiu seu nome... Isso é realmente verdade?

— Claro que é. Não sou do tipo de mulher que tem necessidade de mentir.

— Mas você não disse seu nome...

— Omitir uma informação não quer dizer mentir...

— Então vai dizer que é verdade a parte em que você disse não lembrar do seu nome?

— Talvez...

— Entendo... E o cara? O tal do Rin? O que aconteceu com ele? Obviamente vocês não ficaram juntos, afinal de contas você não parece o tipo de mulher que da atenção a caras como ele...

 Não pareço mesmo... Mas aparências são conceitos vagos, muitas vezes são reais e outras não.

— Yommu Rin Cho'Yong. Atualmente no cargo de CEO geral das empresas Haven.

 E ai vem aquela cara de surpresa que eu tanto gosto de ver.

— CEO geral?! Então esse cara é... O Chefe de tudo isso! Mas então você o conhece...

— Digamos que sim...

— Mark? — Outro convidado? Ah! É o Sammy. Funcionário do mês no setor de produção. Cara legal — O que está fazendo aqui? Você precisa.... S-Senhora Chaya?! Mas... Mas...

— Se acalme Sammy. Seu amigo estagiário está apenas conversando comigo e jogando Ping-Pong.

— Chaya? — Então Mark não sabe quem eu sou? Droga. Eu não precisava ter ocultado meu nome na historia... — Quem é você afinal?

— Idiota! Ela é a dona de tudo aqui!

— Dona? — Novamente a expressão de surpresa. Só que essa é bem melhor que a primeira — Desculpe... Se eu soubesse eu... Oh Deus! Perdoe-me Senhora. Juro que eu não sabia. Eu não estava tentando fazer nada de mais... É meu primeiro dia aqui, apenas... me dê mais um chance e...

— Homens que precisam de uma segunda chance são homens desinteressantes para mim. Não gosto de dar segundas chances, mas tento ser justa. Sugiro que se esforce bastante no trabalho e que escolha melhor os alvos de suas "propostas". Não sou o tipo de mulher que prestaria atenção em um homem como o Rin, não é? Para o seu azar eu escolheria alguém como o Rin um milhão de vezes antes de alguém como você. Homens como você são apenas para se divertir, já homens como o Rin, esses são homens de verdade. Enfim, espero ver muitos resultados do seu trabalho aqui. Tomara que você trabalhe melhor do que convença mulheres a transarem como você. Tchau.

 Minha empresa. Meu jogo. Minhas regras. E a vencedora sempre sou eu. Caras bonitões e cheios de si, como esse Mark, tendem a menosprezar os mais tímidos como o Rin. Eu jamais deixaria que alguém fizesse pouco caso do Rin. Droga... Eu podia ter falo muito mais verdades para aquele idiota... Enfim, hora de voltar ao trabalho. Honey já deve ter terminado tudo. Olá escritório...

— Ah... Ai está você... Eu tive um tempo livre e decidi passar aqui. Honey disse que você tinha saído, então resolvi esperar aqui e adiantar um pouco o trabalho. Você está bem meu amor? Parece um pouco irritada...

 Falando no homem da minha vida... Como eu não estaria bem tendo uma pessoa tão maravilhosa para chamar de meu? Chaya Cho'Yong... Não gosto da pronuncia, mas é um pequeno preço a se pagar para estar ao lado do Rin. Falando em estar ao lado... Trancar a porta. Olhar insinuante...

— Meu amor... O que está fazendo? Eu...

 Mesmo depois de tantas vezes que fizemos isso ele ainda cora quando eu começo. Rin é tímido, mas eu não, sendo assim posso puxá-lo pela gravata e fazer o que eu quiser.

— Que bom que você veio. Vamos nos divertir...

— Mas a Honey está...

— Uma pena que a Honey é só um programa, do contrario ela poderia se juntar a nós.

— Creio que não Senhora Chaya — Definitivamente preciso deixá-la um pouco mais atirada. Mas se bem que eu gosto dessa personalidade mais seria da Honey, me lembra até um pouco a Helena.

— Hum... Então me faça um favor. Ponha uma musica bem sensual para tocar.

— Amor... Estamos no trabalho, não podemos fazer isso aqui...

— Você disse isso em todas as vezes que fizemos isso aqui. Só fique sentado ai e relaxe. Vamos ver se eu ainda consigo fazer uma dança exclusiva para você.

 

Capitulo 3: Helena.

 É sempre bom passear pelos jardins. Alem de ser relaxante eu posso dizer que sinto certo orgulho ao admirar toda essa beleza. É tão trabalhoso cuidar dessas plantas e geralmente eu tenho tão pouco tempo. É uma vida de muitas preocupações, mas todas elas parecerem desaparecer com o perfume das flores e o barulho do vento balançando as folhas. E tem o meu lugar preferido, o chafariz. A água é límpida e algumas flores caem sobre ela e flutuam. Sem contar que o barulho é agradável, acho que é um pouco estranho pensar nisso, mas o barulho da água saltando de uma parte do chafariz para a outra é realmente algo que eu aprecio....

 Porem hoje eu pareço não ser a única a querer estar aqui e relaxar um pouco.

— Jullie...

— Mãe... Oi...

— Oi querida. Posso me sentar com você?

— É claro...

 Tenho tanto orgulho dessa garota. A grande maioria diz que Jullie se parece muito comigo, apesar de ter herdado os cabelos dourados de Zack e também... Ela tem seios bem maiores que os meus... Por que continuo com essa paranóia? Os meus cresceram, mas mesmo assim... É difícil olhar para sua filha e ver que ela tem "vantagem".

 Bem, acho que posso aproveitar para relaxar um pouco ao lado dela. Na verdade faz um tempo que eu e Jullie não temos uma boa conversa... Ela sempre foi mais apegada ao pai, diferente dos irmãos.

— Esse é o meu lugar preferido para descansar. É tão calmo e tranqüilo...

— É o seu jardim afinal... A senhora sempre amou essas plantas...

— Jullie... Você parece um pouco... triste e com raiva... Existe algum problema?

— Eu estava pensando em falar com o papai sobre isso, mas... Acho que é melhor ter uma opinião sua primeiro... Pode me ajudar?

— Claro querida. Eu sou sua mãe, posso te ajudar no que você precisar.

— Foi só há dois dias... Eu estava treinando sozinha quando... Bem, eu fiz...

— Você vez? O que você fiz?

— Eu consegui usar o dragão... O Ligths...

 Então ela... Que felicidade! Quando Jullie e Zenno mostraram magos com o mesmo signo que o Zack eu confesso que fiquei um pouco decepcionada, eu ainda estava feliz por eles serem magos, mas eu esperava que pelo menos algum pudesse ter o signo da água como eu. Demorou muito tempo, Zack foi capaz de invocar o Dragão Ligths ainda bem jovem, já a Jullie só conseguiu agora com dezenove, mas mesmo assim é incrível, ela será a próxima a herdar o trono.

— Isso é maravilhoso!

— Não, não é! Eu sabia que você reagiria assim... Por isso eu não queria falar...

Ela está saindo... Mas eu não vou deixar.

— Jullie espere! Sente-se! Ainda não terminamos de conversar.

— Eu realmente preciso?

— Eu sou sua mãe.

— Droga...

 Bufar e revirar os olhos. Eu devo estar fazendo algo de errado, eu não sei. Jullie sempre foi difícil de entender, nunca tive muito problemas com o Zenno ou o Zoltan, mas... Apenas o Zack consegue acalmar essa garota, ela admira tanto o pai que às vezes sinto que ela mal lembra que eu sou sua mãe... Bom, agora é minha chance.

— Qual o problema? Você não quer ser Rainha?

— Não... e Sim... Eu... Eu sei que é uma honra e eu herdei o Elemental da família, mas... São tantas responsabilidades e eu não sei se eu consigo... Eu queria poder apenas deixar isso com o Zenno, mas eu não posso... O Dragão escolhe o herdeiro... É assim que funciona...

— Eu vi de perto o Zack passar pela mesma coisa que você. Por muitos anos meu sonho era apenas ver os sonhos dele se realizarem.

— Hã? Papai sempre disse que vocês se amam muito, mas eu não imaginei que chegasse a tanto...

— Eu nunca esquecerei o dia em que nos conhecemos...

~X~

Eu era bem jovem, tinha meus nove anos, mas já ajudava meus pais com o jardim. Eu sempre gostei de cuidar do jardim e me dedicava bastante a ele. Eu e minha família morávamos naquela casinha que fica nos fundos, éramos empregados contratados pelo Rei para cuidarmos exclusivamente do jardim. Como empregada eu não tinha permissão para falar diretamente com a família real, durante alguns anos eu os vi apenas de relance. Porem nesse dia em especial eu estava cuidando do jardim quando ouvi alguém se aproximar. Pode ser um pouco difícil para você acreditar, mas eu era realmente muito tímida e por isso me escondi assim que ouvi alguém vindo em minha direção. Para minha surpresa era o Zack, que eu conhecia apenas como príncipe. Permaneci escondia atrás de um enorme vaso enquanto o observava, não me atrevi a falar com ele, pois além de ser tímida eu não tinha permissão para tal coisa, me contentei apenas em observá-lo. Ele parecia triste, mas o que me chamava mais atenção era o fato dele parecer como as outras crianças que eu conhecia, eu esperava que um príncipe fosse diferente, não sei explicar exatamente como eu esperava isso, era apenas uma idéia tola de minha cabeça. Então eu vi quando o olhar de Zack encontrou o meu. Estremeci em meu esconderijo e fechei os olhos, desejando que ele não tivesse me visto. Fiquei assim um tempinho até notar que nada acontecia, então voltei a abrir os olhos e ele não estava mais lá.

— Oi!

 Tomei um grande susto. Zack tinha sumido de vista quando fechei os olhos, eu não notei que na verdade ele tinha ido para o meu lado. O susto foi tão grande que acabei esbarrando no vaso e ele começou a rodopiar e veio caindo em minha direção.

— Cuidado!

 Zack se pôs em minha frente e pela primeira eu vi uma magia sendo lançada. Ele disparou um pequeno relâmpago de suas mãos, mas foi forte o suficiente para destruir o vaso.

— Desculpe... Eu não devia ter te assustado...

— Eu... A Planta!

 Eu e minha mente... Esqueci um pouco de Zack naquele momento. O vaso tinha sido destruído, mas isso tinha derrubado a planta no chão, uma pequena macieira. Comecei a juntar a terra com as mãos, eu queria replantá-la o mais rápido possível para que ela não morresse.

— É minha culpa... Então eu irei ajudar...

 A imagem de Zack pondo suas mãos na terra me fez parar imediatamente. Eu não podia deixar ele fazer aquilo.

— Pare! — Segurei ambas as mãos dele o afastando do que ele queria fazer — Você não pode fazer isso príncipe! Vai acabar se sujando... — Zack ficou me encarando e após um tempinho percebi que eu não tinha largado as mãos dele. Fiquei tão nervosa que o soltei imediatamente, acho que até corei um pouco. Percebi também que ao segurar as mãos dele eu mesma o tinha sujado, já que minhas mãos já estavam sujas — Oh não! Eu te sujei...

— Não tem problemas...

— Me perdoe príncipe! Foi um acidente, eu juro que eu não queria...

— Ei... Se acalme...

— Eu irei dar um jeito... Bem... Aqui! — Puxei um pouco da ponta do meu vestido — Limpe suas mãos no meu vestido, eu não me importo...

— Por que eu faria isso? Vou sujar sua roupa e ela está tão limpa...

— Mas suas mãos estão...

— Não importa... Eu posso lavá-las depois. É bem mais fácil lavar as mãos do que um vestido. Sua mãe deve ter tido trabalho para deixar suas roupas assim para que você fique tão bonita.

— Mas o Senhor... O que? O que você disse?

— Por favor, não me chame de senhor... Eu só tenho nove anos. E você?

— T-Tenho nove... mas... O que você tinha dito?

— Sobre o que?

— Minha mãe e o vestido...

— Ah! Eu disse que ela deve ter dito trabalho lavando isso.

— E depois...

— Depois? Não me lembro... Eu disse algo errado?

— Você disse que eu era bonita... Acha mesmo?

— É claro. Seu cabelo. É o cabelo mais bonito que eu já vi. Que cor é essa?

— Ce-Cerúleo...

 Pode parecer que foi rápido de mais, ou até por um motivo bobo, mas foi nesse momento que me apaixonei pelo Zack. Ele era como um personagem de contos de fadas, um príncipe de cabelos e olhos dourados. Apesar de sermos crianças eu soube ali que nunca sentiria por ninguém o que eu senti por ele.

— É realmente muito bonito. Meu nome é Zack. Eu não sei seu nome?

— Helena...

— Helena. O que faz aqui? Nunca te vi antes...

— Eu sou filha dos jardineiros eu...

— Ah! Então você é uma empregada da minha família. Legal! Então você de morar aqui no castelo, naquela casinha aqui perto.

 Zack estava sendo legal comigo, mas ele falou algo que era verdade. Eu era uma empregada de sua família. Parecia que meu sonho tinha acabado e eu tinha voltado a realidade, qualquer sentimento que eu havia desenvolvido nesse curto espaço de tempo pareceu impossível de ser realizado.

— Bem, vou te ajudar a concertar essa bagunça Helena...

— Mas príncipe... Você vai se sujar.... Hã?

 Sem dizer mais nada ele apenas levou suas mãos as bochechas e fez um pouco de pressão. Quando tirou suas mãos de lá suas bochechas estavam marcadas pela terra negra e então Zack fez uma careta. Não consegui segurar e comecei a rir, ele também riu junto.

— Sua vez Helena.

— Eu? — Encarei minhas mãos — Mas eu...

— Aqui, eu faço para você...

 Fiquei completamente paralisada quando ele me tocou. Era apenas uma brincadeira inocente, tudo que Zack queria era sujar minhas bochechas, mas para mim foi uma oportunidade de encará-lo mais de perto e ver o profundo brilho dourado de seus olhos.

— Pronto! — Disse ele após se afastar — Você ficou engraçada também.

— Eu... devo estar feia agora...

— Hum... Você não gosta de brincar... Mas não se preocupe, mesmo com as bochechas sujas você continua muito bonita.

— Verdade?

— Sim. Então, vai me deixar ajudar você?

— Eu não devia... Eu não devia nem estar falando com você...

— Sem essa! Por que você não falaria comigo?

— Eu sou apenas uma empregada...

— Não! Você é mais que isso. Você é minha amiga agora.

— Amiga?

— Sim. Helena... Você vai brincar comigo mais vezes, não é?

— Eu... Eu adoraria...

— Obrigado! Você é mesmo incrível! Sabe, eu posso invocar um dragão.

— Um dragão?

— Sim. Mas meu pai disse para eu não ficar fazendo isso para qualquer um... Só que você é minha amiga e isso te exclui do titulo de "qualquer um", então acho que posso te mostrar. Porem acho melhor ajeitarmos essa bagunça primeiro e arrumar um novo lugar para essa planta.

— Sim... — Sorri.

Zack começou a rir.

— Príncipe? O que foi? — Perguntei confusa.

— É que você sorrindo com o rosto sujo ficou muito engraçado. Seremos grandes amigos, certo?

— Assim espero...

~X~

— Eu poderia até dizer que foi destino...

— Talvez... Mas nada teria acontecido entre mim e seu pai se não fosse certo empurrãozinho do "destino", mas esse destino tem nome... Chaya...

— Vocês foram feitos um para outro... Mas... E quanto ao meu destino? Alguém como eu assumindo o trono...

— Por muito tempo eu vi Zack se questionar se ele deveria ou não ser o Rei. Vi ele querer que o Ziggyard fosse o escolhido. Mas nada disso mudou o fato dele ter sido o escolhido. Jullie, você não deve ter medo de encarar os desafios a sua frente...

— Não é só isso... É que... Acredito que é mais fácil para um homem como o papai do que para uma mulher como eu...

— É isso? Não precisa ter medo. A família Ligths será sempre aquela que governará Salander, então quando você se casar será o seu marido que mudará de nome, não você, as...

— Mãe... Não é isso... Eu irei contar algo para você... Mas é segredo. Segredo absoluto.

— Entendi. Pode confiar em mim.

— Você sabe quem é a Issis?

— Issis? A filha mais velha da Sarah e do Isaac?

— Sim.

— O que tem ela?

— Eu e ela somos... estamos juntas... Você sabe... juntas mesmo...

— Jullie. Era isso que te incomodava? Você devia saber que isso não importa para nós. Olhe para seu tio Ziggyard e o John. Não precisava manter isso em segredo...

— Não. Não é por isso. Eu sei que vocês aceitariam. O segredo é por causa da Issis... Ela não falou com os pais sobre isso...

— Eu conheço Isaac e ele não vai se importar...

— Mas e Rainha Crowley?

— Sarah... Ela tem um... gênio forte. Mas não acho que ela vá brigar com a Issis por causa disso... De qualquer maneira, você me confiou esse segredo. Cabe a vocês duas resolver isso.

— Obrigada mãe... Você acha que daria certo? Duas Rainhas em um reino...

— Não saberemos até tentar. Seu pai trouxe muita coisa nova para esse lugar, coisas que as pessoas jamais aceitariam anos atrás.

— Mas e quanto à familia? O futuro herdeiro...

— Lembre-se. O Herdeiro é definido pelo Dragão. Você tem dois irmãos e um primo, surgiram novos membros da família... principalmente se depender do seu primo.... Por falar nele. Ele me disse que vocês dormem juntos...

— Algumas vezes. Zephyr disse ter tido um pesadelo e então pediu para dormir comigo. Ele tem apenas oito anos, então achei melhor cuidar dele.

— Mas você dorme...

— Nua? Sim.

— Só... Tenha cuidado com esse garotinho... Enfim, foi bom conversar com você.

— Igualmente mãe. Podemos... conversar mais?

— Claro querida. Quer falar mais alguma coisa?

— Sim... Sobre meu semblante... Com ajuda da Mestre Gabriela eu consegui controlar melhor a absorção de energia. Eu até mesmo consegui usar a energia mágica dela em um dos meus relâmpagos.

 Jullie possui um semblante muito poderoso. Ela pode desfazer as magias de outros magos e absorver sua energia e depois usar essa energia em seus próprios ataques. Tem sido difícil para ela controlá-lo, mas quando ela conseguir será praticamente invencível.

— Isso bom.

— Sim... Mas todos sempre estão falando sobre o meu potencial como maga... A Senhora tem esse semblante, que é dito como basicamente o mais poderoso e imprevisível de todos. Como a Senhora lidou com as expectativas que tinham sobre você?

— Para ser sincera. Assim como você está agora, eu sentia medo e ficava preocupada. Mas acho que você está sendo mais forte. Eu cheguei a chorar algumas vezes, por que eu não desejava ser especial. Isso foi pouco depois de eu finalmente estar junto do seu pai e eu tinha medo que isso nos separasse de alguma forma...

— Não é que eu seja mais forte... Mas acho que a pressão sobre a Senhora era maior...

— Talvez... O que mais me assustava era a Hell Lena — Por que eu uso esse nome? Droga Chaya! — Ainda hoje é um tanto assustador pensar nela...

— Hell Lena? É um ótimo nome. Tem haver com sua transformação?

— Sim...

— A Senhora lembra como ganho esse poder?

— A Hell Lena? Acho que sim... Não tenho certeza, mas... Creio que foi em uma viagem...

~X~

 Eu tinha apenas doze anos, iria fazer minha primeira viagem sozinha então eu estava muito nervosa. Você deve saber, mas eu não nasci em Salander, muito menos em Letho. Minha família veio de Telion, do país de Meriwatter. Foi para lá que eu viajei, iria visitar meus avós. Tudo isso aconteceu por conta de Zack, eu acabei dizendo que mal lembrava de onde eu nasci e que não conhecia meus avós, então ele insistiu para que eu viajasse até lá, como minha família não podia pagar ele convenceu seu pai a arcar com tudo. E lá ia eu, uma viagem gigantesca e sozinha. Quando finalmente cheguei meus avós me esperavam no aeródromo. Jude, minha avó, e Pietr, meu avô. E também Zurry... Fiquei com um pouco de medo dele no inicio, mas logo me acostumei, ele era um cachorrinho legal. Tudo estava perfeito, mas um dia...

 Meu avô estava em uma situação financeira ruim e por isso acabou precisando pedir dinheiro a pessoas não muito confiáveis, infelizmente essas pessoas são especialistas em golpes, eles emprestam a quem não pode pagar de volta... Eu estava brincando com Zurry e quando voltei para casa não restava nada, apenas escombros em chamas... Nessa época eu já sabia como usar magia, só um pouco, eu estava aprendendo por que queria entrar para Rolwse e ajudar o Zack a alcançar seu sonho de se tornar um grande rei. Com minha fraca magia eu consegui apagar o fogo, mas meus avós já estavam mortos.

 Não lembro por quanto tempo eu fiquei chorando ali, até que consegui levantar. Eu estava em um país e continente totalmente estranhos para mim, não conhecia ninguém e não sabia como faria para voltar, tudo o que consegui fazer foi vagar pelas ruas com Zurry ao meu lado. Fiquei tanto tempo perdida ali que minhas roupas já estavam surradas a ponto de eu parecer uma menina de rua qualquer, tímida de mais para pedir ajuda, por sorte algumas pessoas não precisam disso para ajudar e assim eu consegui sobreviver e o mais importante, consegui encontrar as pessoas que mataram meus avós. Na verdade, eu estava procurando por eles, mas demorei muito para encontrá-los. No fim eles estavam em um armazém abandonado, bem distante da cidade.

— C-Com licença...

— Que merda é essa?! Quem deixou essa mendiga entrar aqui?! Cai fora garota!

— Foram vocês... Vocês mataram meus avós...

 Haviam muitos ali, todos trocaram olhares e começaram a rir. Um deles se aproximou de mim e me derrubou com um chute, em seguida tomando Zurry de minhas mãos.

— E daí pirralha? Quem não paga morre. O que porra você quer?

— Quero voltar para casa... A culpa de vocês... Então vocês tem que me levar de volta... Não quero vingança ou coisa do tipo... Só quero ir para casa...

— Vingança? — Todos voltaram a rir — E o que uma guria como você poderia fazer para se vingar?

 Recebi outro chute e senti minha visão escurecer por um breve momento. Fiquei no chão e conseguia apenas ouvir as risadas deles. Comecei a chorar, senti que morreria ali mesmo, esquecida como uma ninguém... Lembrei de Zack e fiquei mais triste, eu jamais iria vê-lo novamente.

— A lua chora está noite... — A frase veio de forma tão natural e então eu estava chorando muito mais do que antes.

— Que porra! O que merda essa guria está fazendo?! Ela vai inundar tudo!

— Cala a boca! Me dê esse cachorro imundo! — Consegui erguer o olhar para ver um dos homens segurando Zurry — Ei sua vadiazinha! Pare de chorar ou eu mato esse saco de pulgas!

 Infelizmente eu não conseguia responder, não conseguia nem me mover.

— Vamos! Pare com essas lagrimas! Merda... Você é teimosa... Então é adeus cachorrinho!

 Ele queimou o Zurry com magia de fogo. Eu não consigo esquecer essa imagem horrível. Nesse momento eu senti uma grande fúria, mas então perdi a consciência e quando voltei a recobrá-la eu ainda estava no armazém, mas tudo estava destruído e os homens todos mortos. Era um cenário horrível então saia correndo dali sem saber o que aconteceu direito, mas no fundo eu sabia que tinha sido eu e isso me assustava muito.

 Voltei para as ruas, minhas esperanças tinham acabado de vez e agora sem Zurry eu me sentia completamente sozinha.

— Oi!

 Me assustei e cai no chão. Ele tinha chegado silenciosamente e eu não pude notá-lo.

— Desculpe... Eu não devia ter te assustado... Mas não resisti...

 Mal pude acreditar. Meu coração bateu tão depressa. Era Zack quem estava ali. Algumas lagrimas escaparam aos meus olhos e logo eu estava indo abraçá-lo, mas então lembrei de meu estado e recuei. Não quis sujar o príncipe...

— Vamos Helena, você está sempre fazendo isso. Não precisa ter medo — Então ele me abraçou. O abraço era tão quente e reconfortante que apenas me agarrei a ele como se nunca mais fosse solta-lo — Você me deixou preocupado... Seis meses...

— Desculpe... Mas eu não sabia o que fazer... Eu...

— Está tudo bem agora. Você está bem, é tudo que importa. Vamos para casa, você precisa de um banho — Ele riu.

— Eu devo estar horrível...

— Então faça isso — Ele tocou meus lábios, mesmo que com as mãos, eu senti algo forte dentro de mim. Zack tentava me forçar a sorrir, empurrando um pouco os cantos de minha boca para cima — Sorria. Você é sempre linda quando esta sorrindo.

— Eu te amo... — Sorri e o abracei.

— Viu? Muito melhor sorrindo. Hã? O que você disse?

— Eu disse que...

— Então, finalmente a encontramos — Olhei para o dono da voz imponente e lá estava o Rei Zoltan. Imediatamente larguei Zack e tentei parecer o mais apresentável possível — Então essa é a Helena? Você deixou meu filho bastante preocupado garotinha.

— Mil perdões... Vossa majestade...

— Pai. Ela está assustada. Melhor voltarmos logo, os pais da Helena também estão preocupados.

— Eu sei Zack. Venha criança, me dê sua mão.

 Demorei um pouco para perceber que era a mim que o Rei estendia a mão. Eu não sabia bem como reagir, eu mal deveria falar com o Zack e eu quebrava essa regra todos os dias, mas já o Rei. Eu estava suja e como o Zack disse, eu precisava de um banho, mas naquele momento recusar um pedido do Rei seria algo bem mais grave, então eu segurei sua mão. Em um único movimento ele me puxou e me levantou, quando menos percebi ele me carregava em seu braço e me fez repousar a cabeça em seu ombro.

— Vamos para casa agora — Ele disse.

~X~

 — Meu avô deve ter sido realmente alguém impressionante... Eu... Eu gosto do meu outro avô também, seu pai, é que...

— Tudo bem Jullie. Zoltan era realmente alguém impressionante. Quando ele me botou nos braços eu pude sentir uma pequena aura o rodeando, como uma fraca estática. Também senti os longos cabelos dele, fios finos e macios. Não sei dizer o porquê, mas eu me sentia segura em saber que ele protegia toda a Salander.

— Mas nem mesmo ele conseguiu sobreviver a tudo...

— Ele morreu tentando proteger esse lugar. Na verdade, muitos dizem que se Zoltan estivesse disposto a destruir tudo para vencer o inimigo ele conseguiria, mas ao invés disso ele optou por se sacrificar para proteger seu povo.

— Assim como a Jullie Charppeu?

— Seu nome não é a toa. Você sabe... Ela se sacrificou por mim, por que acreditou que Zack e eu deveríamos ficar juntos. Quantas pessoas assim existem no mundo?

— Poucas... O Dragão, meu semblante e até mesmo meu nome... Todos parecem me querer na grandeza e eu quero honrar todos...

— Jullie... Você vai conseguir. Eu tenho muito orgulho de você.

— Obrigada mãe...

— E quando você e Issis resolverem tudo isso, traga ela aqui. Eu adoraria conhecê-la melhor.

 

Capitulo 4: Kayla.

 Sozinha novamente... Bem, eu escolhi ficar. Mas essa casa não é a mesma coisa quando Harvey e Leon não estão aqui. O que eu estou fazendo? Sentada nessa poltrona e olhando para o nada... para o nada não... as fotos... Elas mostram tudo que eu consegui conquistar. Amigos e família.

 Fico feliz que eu e Harvey consigamos dar a Leon o que eu não tive... Minha infância foi uma droga. Começando quando ele se enforcou... Eu desci as escadas naquele dia e lá estava meu pai, erguido por uma corda e balançando bem no meio da sala de estar... Porem, desde que eu me lembro ele sempre apresentou sinais de depressão.

 Já a minha mãe... Ela sempre foi distante, mas quando o meu pai morreu parecia que ela nem morava mais naquela casa. Tive que aprender a fazer tudo sozinha, pois ninguém faria para mim. Levei isso para minha vida fora de casa também e por isso acabei sem amigos nenhum, eu não confiava em ninguém e não me aproximava de ninguém e por estranho que isso pareça ser, meu maior medo era acabar sozinha... Uma velha sentada em uma cadeira antiga, sem ninguém por perto.

 Acho que foi aos dezesseis que eu sai de casa, aquele lugar já não significava nada para mim, apenas um poço de memórias ruins, parecia até que a ligação entre mim e o meu pai ainda estava ativa. Fora com ele que eu descobri meu semblante, desde bem pequena, eu era apenas uma garotinha lendo pensamentos depressivos sobre tudo que existia. Não sei como eu não acabei do mesmo modo.

 Quando fui morar sozinha eu logo descobrir o quanto as coisas são difíceis, arrumar emprego era algo bem complicado, por sorte ainda consegui o meu em uma pequena loja. Ao mesmo tempo em que eu trabalhava eu estava sempre com um livro perto de mim, queria fazer algo melhor da minha vida, queria ter uma vida digna... Então eu estudava. Eu tinha a pequena mania de marcar paginas que eu achava muito importantes com pequenas queimaduras. Acho que alguém percebeu isso.

~X~

— Kayla... Por que você está sempre lendo essas coisas?

 Não me lembro que era... Mas era algum dos meus colegas de trabalho. Nunca prestei atenção neles, era uma surpresa ele saber meu nome.

— Eu só não quero passar a vida toda nessa loja... Por estou estudando...

— E o que você quer fazer?

— Não sei... Por que a pergunta?

— Esse não é um livro sobre finanças?

— Sim.

— Então, você que administrar um negocio próprio?

— Talvez... Mas para isso eu precisaria de dinheiro para investir em algo... As coisas não são tão fáceis...

— Mas você é uma maga, não é?

— E daí?

— Por que não estuda magia?

— E o que eu ganho com isso?

— Bem, magos que trabalham para o conselho são muito bem pagos e com depois disso você pode usar esse dinheiro para fazer o que quiser, até mesmo criar o seu negocio.

— Sabe... Essa é uma ótima idéia... Obrigada.

— Espere! Aonde você vai? Ainda não terminou o seu turno...

— Estou me demitindo... Precisa melhorar com minhas chamas.

~X~

— Querida? Você dormiu ai?

— O que? — Eu dormi? — Nem percebi... Quando vocês voltaram?

— Há bastante tempo. Leon me ajudou e então fizemos o jantar.

— Podia ter me acordado...

— Eu não faria isso. Você parecia estar aproveitando o sono. Mas, venha, vamos comer.

— Obrigada...

— Hum... Obrigada por quê? Pela comida? Sabe que eu não me importo em...

— Obrigada por me dar tudo isso.

— Você está bem?

— Sim. Nunca estive melhor. Só espero que a comida esteja boa também.



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