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História Romeu - Capítulo Único - Romeu.


Escrita por: iamamiwhoami

Notas do Autor


Boa noite, caros leitores.

Essa one-shot é um pouco diferente do que costumo escrever. É narrada em primeira pessoa, especificamente por Regina Mills. Passa-se no universo da série, na terceira temporada, quando Emma e Henry voltam para Storybrooke.

É uma reflexão, talvez não necessariamente uma história. É curta, mas me foi importante escrevê-la.
Espero que apreciem.


Música-título que a inspirou: Agridoce - Romeu.

Boa leitura.

Capítulo 1 - Capítulo Único - Romeu.


 

 

Uma faixa amarela de ponta a ponta no asfalto me separa do mundo afora. O mesmo Sol que aquece Storybrooke também aquece o outro lado, as nuvens passeiam para lá e para cá sem alterar em forma e densidade. É como se o céu fosse universal, inerente aos mágicos e aos incrédulos, aos vilões e aos heróis. Sinto estar completamente louca e deve ser por esse motivo que ouço as risadas do meu coração vindo da cidade, correndo pela estrada e me alcançando com a força do impacto de um ataque inescapavelmente fatal. Sim, as risadas do meu coração. O arranco do peito por um instante e analiso como as manchas negras estão fracas e espaçadas, como se prestes a extinguir, pulsando fracamente. Mas jamais se extinguirão. Agarro-me a elas como se minha vida dependesse disso. Como se estivesse caindo em um abismo de vidro e cada escuridão fosse uma pedra despontando do penhasco para que eu não caia, para que não me espatife bruscamente, estilhaçando-me naquilo que mais me amedronta... A Felicidade.

Foram dias bonitos. Se os denominasse lindos, seria gritante. Se os denominasse agradáveis, não faria jus a eles. Titulá-los como “bonitos”, me traz uma acalentadora sensação amenidade e maravilha combinadas em um equilíbrio intocável, ideal. Começaram em tormento ao ver nos olhos do meu filho que éramos naquele momento completos desconhecidos, que todas as suas memórias sobre mim, dolorosas e alegres, desapareceram. Mas ela... Ela se lembrava. Ela tomou minha mão e pediu-me confiança. Defendeu-me de uma cidade que, com justificativas incontestáveis, culpou-me de imediato pela amnésia e maldição. E com esses pequenos gestos ela destruiu, dilacerou sem compaixão todo o meu esforço consciente para esquecê-la enquanto estive por um ano na Floresta Encantada.

Quando dela me despedi antes da maldição de Peter Pan, foi quando finalmente a notei. Não como pessoa, não como xerife, não como Salvadora, mãe biológica de Henry ou filha de Snow White. Foi quando a notei como aquela emoção da qual me escondo, a Felicidade. Com suas manias irritantes, seus terríveis modos, sua petulância aguda e, principalmente, sua habilidade de olhar em meus olhos e silenciosamente dizer... “Eu conheço você. Eu vejo você”.


Esqueci minha boca no teu corpo
Pensei que isso te faria meu
Usei de artifícios, gastei meus truques
Depois, quem escapou fui eu

 

Mesmo com Henry e Emma de volta à Storybrooke, o tormento não me abandonou. A amabilidade de Robin Hood não me acolheu. Sua bondade não me alcançou. Seus beijos e toques não me bastaram. Eu o beijei com ferocidade e pressa, como se fosse ele um homem capaz de arrancá-la do meu coração. Um bom homem. Mas não para mim. E quando nossos caminhos se cruzaram, ela já estava impregnada em mim. Ela já havia trazido sua luz e aplacado minha dor. Robin não me viu e me aceitou destroçada e vil. Não me aceitaria se tivesse visto.

E eu o aceitei porque havia aprendido a me contentar com migalhas. Vingar-me de minha enteada pelos atos simplórios de uma criança: Migalhas. Acabrunhar Emma Swan desde que pôs os pés nessa cidade enquanto a assistia desvendar-me, salvar-me: Migalhas. Permitir que Henry fosse julgado como uma criança fantasiosamente tola por temer sua rejeição e continuar negando suas verdades para não perdê-lo mesmo quando essa rejeição chegou: Migalhas. Aceitar o romance improvisado, superficial e distante com Robin Hood...: Migalhas.  

Contudo, mais uma vez, lá esteve Emma, crendo em mim como se nenhum mal tivesse causado a ela e aos seus. Lá esteve Emma, me escolhendo, me cuidando. Perdoando-me. A magia de luz que do meu âmago nasceu para derrotar Zelena não foi uma lapso de consciência e heroísmo. Foi ela. Emma Swan e Henry, meu pequeno príncipe que, embora não me reconhecesse, acreditou em mim.

Oh, Emma Swan... Quando deixei Robin Hood na Floresta, em seu acampamento, para esconder-me na mansão, eu jamais imaginaria que você bateria em minha porta. Jamais imaginaria que depois de perder Neal Cassidy e de ter Killian Jones aos seus pés, você me escolheria novamente. Como você esperou que eu reagisse a isso?


Não pense que eu não desejei
Não diga que eu não quis
É só que eu me assustei
Ao me ver tão feliz

 

Certamente não esperava o que ocorreu. Não esperava que eu fizesse o que fiz, e estas lembranças estão claras e ardentes e mim como o fogo lânguido de um incêndio criminoso que devasta vidas. Não me reconheci, ao mesmo passo em que me senti mais Eu mesma do que jamais pude ser quando agarrei a gola de sua jaqueta vermelha e rasguei o couro em minhas mãos como se fosse feito de papel. Não senti o chão sob meus pés ao mesmo passo em que me senti forte e sólida como uma rocha quando seus lábios me devoraram a pele, quando nos devoramos com língua e dentes, nossa batalha interminável. Você me deixou vencer. Eu não me reconheci quando nos levei ao meu escritório, meu palco da solidão onde atuo meu monólogo, quando acendi involuntariamente a lareira e derrubamos tudo em nosso caminho até alcançar o divã. Mas ao mesmo passo, senti que estava viva, voltando à superfície para respirar um ar límpido que queimou minha garganta, meus ossos, minha alma. Quando suas mãos me capturaram e gemi, gemi, gemi em julgamento, chorei, chorei e chorei enquanto seus olhos me acusavam, seus dedos me torturavam em busca da verdade e seu sorriso de menina me sentenciava... À vida. À absolvição.

Quando despertamos com o cheiro fraco das brasas e a brisa suave da manhã, quando seus braços me seguraram, quando seu olhar me implorou que ficasse, eu soube que esta era a felicidade. Quando Henry mais uma vez provou sua nobreza, acreditou em nós, quando meu beijo o trouxe de volta para mim e vi nele um amor por mim que jamais pensei merecer, quando meu menino ali, diante de mim, me abraçou e você nos abraçou em um milésimo de segundo, ela estava ali novamente, a plena felicidade. Eu tive quase certeza de que era ela. Certeza que chegou quando seus pais se beijaram, sorriram e Snow, fitando-me, suspirou “Agora nossa família finalmente está completa uma vez mais”.


Colei os meus olhos no teu mundo
Guardei cada passo teu
Mas eu, Julieta, presa nesse pacto
Você, o meu Romeu

 

Em sequência, os tais dias bonitos. Os dias em que você me cobriu de flores e palavras, que regou-me com café fresco no amanhecer e saliva e gozo ao anoitecer, que me fez desabrochar para uma nova vida. Robin e Killian criaram uma amizade cúmplice e espero eu que ela se mantenha intacta. Entendem ambos que eu estava destinada a ser sua desde que nossos olhos se encontraram pela primeira vez? Entendo eu? Alguém entende?

Você, desastrada e moleca, fez me seduzir. Você, impulsiva e realista, fez me compreender. Você, maldição, Emma Swan, quebrada pela solidão do abandono de vinte e oito anos, me tomou em seu colo, aprisionou-me em seus braços e arrastou-me pelas paredes da casa e pelos lençóis da cama, carregou-me pelas escadas, rodopiou-me na sala quando ouvimos música, me deu fôlego, me deu fome, uma fome ensandecida e predatória de viver essa temida felicidade ao lado seu e ao lado de Henry.

Mas eu sabia que as manchas negras restantes em meu coração trariam o tormento de volta. Sabia que as pequenas e parasitas escuridões me encontrariam em meio à sua risada debochada e a risada travessa do nosso filho. Sabia que me encontrariam nas palavras esperançosas e disparadas da sua mãe e nos gestos silenciosos, gentis e protetores do seu pai. Fui eu, Emma, eu quem estragou, quem se arrancou do caule antes de fazer-me completamente flor. Você entende, você é capaz de compreender que eu tive medo de ser flor, de ser colorida e de doce aroma? Pode enxergar como ser plena flor me apavorou, me fez desejar ser botão, muda e semente, encolhida em mim?


Entenda esse lado bom
Nem tudo é aflição
Ficamos com o sonho
Ao invés da punição

 

Rumplestiltskin teve sua parte em quem me tornei. Ele, Cora e eu fizemos um bom trabalho com o meu coração durante muitos anos. E eu acabei de deixar aquele estranho homem frustrado e magoado em seu antiquário, lamentando ter concordado em fazer-me a poção que conservaria a memória de que tenho um filho em Storybrooke e dando-me novas memórias de uma vida que não tive. Caso você deseje saber, Emma, Gold encontrou um apartamento em New York, em um bairro pacato do subúrbio. Serei Regina Mills novamente lá, mas uma escritora de contos de fadas com memórias ordinárias de uma vida sem grandes emoções, uma vida de calmaria onde apenas a mente viaja à fantasia. O livro que ele produziu para que minha vida no mundo literário comece é a história de uma Rainha Má que se apaixona por uma Princesa Heroína. E essa é a forma que encontrei para, de algum modo, não me esquecer de você.

Eu posso vê-la agora, depois de ler minha carta, nos braços de Snow. Vejo também Henry em prantos nos braços de David. Sim, Emma, eu sou a culpada, eu destruí tudo antes que construíssemos, eu estou desistindo antes da queda ou do voo, eu, eu, eu, eu mais uma vez firo-me e firo vocês todos, eu mais uma vez perco-me e fujo da felicidade.

 

Não me perdoe, Emma!

Não me procure, Emma!

Deteste-me, maldiga-me, amaldiçoe-me, condene-me, maltrate-me!

 

Não estou preparada para ser flor, talvez jamais esteja! A Felicidade ao meu redor me esmaga, me assombra, não consigo tocá-la por muito tempo, pois rasga-me a pele como navalha, sufoca-me a alma como morfina, golpeia-me, eletrifica-me, mata-me! Sinto-me morrer quando a Felicidade me sorri e me abraça, porque não sei lidar com ela, porque sinto que somente eu sou capaz de destruí-la completamente. Minhas razões são inexpressáveis e dói-me tanto não poder dar em suas mãos os porquês que a convencerão de que não pude evitar... Dói-me tanto saber que suas lágrimas serão rios de sofreguidão... Na alegria ou na tristeza continuo sendo responsável por uma carga insuportável de sofrimento.

Você é minha luz. Mas ao meu lado, você se apagará. Como todo o resto se apaga.
Comigo, cedo ou tarde, a sua própria luz findará. 

O ronco do motor é o último som que ecoa e ensurdece antes que a faixa amarela seja atravessada e todas as memórias de nós deem lugar às falsas memórias de névoa dentro de mim.

Não me reconheço. Não me sou. Nunca mais me serei.


Não pense que eu não desejei
Não diga que eu não quis
É só que eu me apavorei
Ao me ver tão feliz...

 

Em nome do nosso amor, Emma Swan...

Não me perdoe. 
 


Notas Finais


Até breve, caros leitores. :)


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