História Room Mate - Dois.

E então o negócio estava fechado. Depois de alguns dias conversando melhor com Jooheon nós decidimos que dividiríamos apartamento. Hyunwoo e Minhyuk estavam felizes por ser em um prédio perto do deles, e por eu ter aceitado a proposta. Jooheon não é nada como eu pensava, aliás, é um cara até legal. A mudança estava sendo feita, e eu tentava guardar tudo o que eu podia nas caixas para que não fossem tantas. Os móveis já haviam ido todos para o novo apartamento e agora, só faltava eu e Jooheon nos mudarmos definitivamente para lá.

Não é nada muito chique, mas não chega a ser uma pobreza. É consideravelmente espaçoso, duas suítes, uma sala, uma pequena — quase minúscula — cozinha e uma varanda. Nada melhor do que isso por um preço bacana. Depois de muito insistir aceitei a ajuda que Minhyuk me ofereceu para levar minhas caixas ao apartamento, e assim como combinamos, ele chegou na hora. Minhyuk sempre foi muito pontual e isso é algo que me impressiona.

— Está ansioso? — Ele perguntou me ajudando a fechar a penúltima caixa.

— Bem, não ansioso, só... — Suspirei. — Não sei Min. Conheço ele há tão pouco, e irei morar com ele só sabendo o básico.

— E o básico você diz? — Ele indagou.

— Nome, idade, faculdade, e nome do perfume. — Respondi arrumando algumas outras coisas.

— Nome do perfume? Não acredito. — Minhyuk riu alto, sentando-se ao meu lado. — É um bom começo.

— Aham. — Respondi ironicamente.

Guardei os últimos pertences expostos e fechei a caixa, colocando-a no corredor do apartamento para que Hyunwoo pudesse levar para o carro junto com as outras. Minhyuk cantarolava enquanto carregava duas outras caixas e eu varria o chão do apartamento para pelo menos deixa-lo arrumado para ir embora.

Assim que tudo estava no carro, tranquei o apartamento e desci até a portaria ao lado de Minhyuk, que pro meu gosto estava muito animado. Deixei a chave com o dono do prédio, agradecendo a paciência que ele sempre teve com os meus atrasos de aluguel. Convenhamos, mesmo aqui sendo uma merda, ele foi muito paciente comigo em relação ao aluguel. Me despedi e sai do prédio, querendo voltar pra trás ao sentir meu estômago revirar e ver Jooheon ali, ao lado de Hyunwoo. Os dois conversavam e riam e Minhyuk logo chegou, entregando a chave do carro a Jooheon e abraçando o braço de Hyunwoo.

— Bom, depois é só estacionar no prédio, já deixamos o porteiro avisado. — Minhyuk disse assim que me aproximei.

— Tudo bem. — Jooheon sorriu e olhou para mim. — Pronto?

— Sim, tudo certo. — Respondi.

— Bom, então nós já vamos, não é Min? — Hyunwoo sorriu. — Temos coisas demais para fazer hoje.

Eu vou matar esse casalzinho que, com toda a certeza, está armando pra mim.

— Sim, vocês vão e arrumem o apartamento, esperamos ser chamados pra tomar um cafezinho logo. Até mais. — Minhyuk se virou e puxou Hyunwoo, e os dois piscaram pra mim.

Sem me darem tempo de protestar, sem me darem tempo de ao menos discordar, os dois saíram andando em passos rápidos. O inferno que me aguarde porque eu vou matar um casal muito filha da puta que parece só foder com a minha vida. O silêncio constrangedor novamente. Ah como eu amo a minha vida.

— Bom, o apartamento é muito longe? — Perguntei.

— Não, é meia hora de viagem. — Jooheon respondeu, e apontou para o carro. — Vamos?

Entramos no veículo e logo saímos a caminho do novo lar. Jooheon ligou o rádio e o deixou numa estação de músicas calmas. Aconcheguei-me no banco e mirei a rua lá fora, observando rapidamente a paisagem enquanto ignorava o fato de estar sozinho com Jooheon, pela segunda vez.

Não é questão de medo. É questão de não me sentir confortável com ele, pelo menos não ainda. Se Minhyuk e Hyunwoo estivessem aqui, com toda a certeza, eu estaria mais solto, faria piadas, entraria no assunto e teria como criar uma conversa. Mas parece que Jooheon bagunça meus pensamentos  e some com todas as minhas ideias. Nunca fui tímido, aliás, sempre soube socializar sem problemas, mas quando se trata de Jooheon, a história é outra.

Depois de meia hora sem trocar uma palavra e sendo torturados pela vergonha e pela falta de assunto, chegamos ao nosso destino. O prédio todo colorido, com portas e janelas brancas, uma fachada colonial com várias flores fez com que eu já amasse o local. Entramos no prédio juntos, sendo atendidos pelo dono do local, que chamou uma das empregadas para nos mostrar nosso novo apartamento. O apartamento oito do quarto andar nos foi apresentado.

Uma sala com um sofá de três lugares e um tapete, uma cozinha em preto, branco e azul, duas suítes, e uma varanda que dava visão para a cidade toda. A tal moça que nos apresentava tudo explicou as regras, e também nos deixou informações básicas sobre contas. Assim que ela saiu, Jooheon e eu decidimos explorar o apartamento.

— Acho que o por do sol aqui vai ser maravilhoso. — Comentei.

— Vou adorar ver você fotografando. — Ele disse baixo, mas o suficiente para que eu ouvisse.

Senti minhas bochechas esquentarem e voltei minha atenção à rua, lembrando-me dos nossos pertences. Vai ser complicado trazer toda essa tralha aqui pra cima.

— Bom, vamos buscar as coisas lá no carro, as minhas estão na portaria. — Jooheon me chamou, saindo pela porta, e eu apenas o acompanhei.

Descemos em silêncio pelo elevador do prédio. Sentia e tinha certeza que Jooheon me fitava em alguns momentos, e eu só me sentia mais envergonhado, e cada vez mais tímido. Elevador, pode despencar, eu apoio muito. Assim que a porta se abriu no térreo, fomos em busca das coisas do Jooheon que, de acordo com ele, eram menos do que as minhas. Levamos com muita dificuldade quatro das seis caixas para dentro do elevador e subimos.

— Chang? — Jooheon me chamou, e assim eu voltei meu rosto para o dele. — Não sabia que você era tão quieto.

— Não é isso, é que... — Comecei desconsertado. — E-Eu não tenho assunto.

— Não tem assunto ou está com vergonha de mim? — Ele perguntou, sorrindo de lado.

— É, acho que os dois. — Me entreguei.

— Está com vergonha por quê? — Ele perguntou.

Não respondi. A minha timidez talvez tenha motivo, mas não é nada tão relevante. Bom, pelo menos não era até eu ter aceitado dividir apartamento com Jooheon, fazendo minhas lembranças daquele dia do hospital voltarem à tona há todo momento.

— Você está  bem mesmo? — Jooheon me perguntava pela trigésima vez naquele dia. — Chang me perdoe, é sério.

— Eu já disse que não foi nada. Só está doendo.

— E está sangrando. — ele se aproximou com o papel em mãos, limpando cuidadosamente meu nariz, que sangrava demais.

A proximidade de nossos rostos era tão grande que eu podia sentir a respiração calma e quente de Jooheon bater contra o meu rosto. Tentei abaixar a cabeça, mas ele segurava meu queixo, obrigando-me a deixar a cabeça erguida, e os meus olhos se encontrando com os dele.

— Joo... — suspirei, retirando sua mão do meu queixo, tentando fazer com ele se afastasse.

Mas, a distancia que havia entre nós foi anulada com um beijo, um selar simples de lábios. Jooheon mantinha seus olhos fechados e eu mantinha os meus esbugalhados pelo ato repentino. Assim que ele se afastou, sorriu escondendo os olhos e mostrando as covinhas. E eu fazia cosplay de tomate.

Depois daquele dia eu passei a ignorar o Jooheon, me escondendo no banheiro quando o via parado perto do meu armário do colégio. Fugia das aulas de educação física que minha classe fazia com a dele, me escondendo na biblioteca e ajudando na cantina. Quando ele estava no corredor, eu estava em alguma sala de aula. Sempre que ele me esperava na porta da classe, eu pulava a janela. Sempre que estava no portão de saída, eu ficava mais uma hora na escola, fazendo algo até que ele desistisse e fosse embora. Sempre que podia, eu puxava Kihyun comigo para todo lado, porque quando eu estava perto dele, Jooheon não se aproximava de mim, não corria atrás de mim como um cachorrinho. Por algum motivo, Kihyun mantinha o Jooheon longe de mim, e eu me aproveitei disso, me apegando bastante ao Kihyun, sabendo que sempre me ajudaria a fugir de qualquer situação envolvendo Jooheon.

Quando percebi, a porta do elevador já estava aberta e Jooheon retirava duas caixas de dentro dele, enquanto eu carregava uma delas para o corredor, e logo depois a que havia sobrado. Ele levou-as para dentro da casa e logo depois voltou para que pudéssemos descer para buscar mais e mais caixas.

Quando tudo estava dentro do apartamento, Jooheon se encarregou de levar o carro de Minhyuk e Hyunwoo até o prédio deles, que não é nada longe daqui. Esperei por Jooheon, esperei, esperei, esperei por quase uma hora, e quando já estava cansado de ficar vasculhando meu celular, a porta branca do apartamento foi aberta, revelando Jooheon, que carregava algumas sacolas consigo.

— Desculpe a demora, eu fui comprar nosso jantar. — Ele respondeu, erguendo as sacolas. — Espero que você goste de pizza de frango.

Sorri abobado. Jooheon entrou e deixou as compras em cima da pequena mesa de centro da sala. Sorriu sem mostrar os dentes e olhou em volta.

— Temos que organizar tudo. — Concluiu.

— Exatamente... — Me espreguicei. — Mas estou com preguiça.

— Em algum momento teremos que arrumar tudo, vamos, Changkyun. — Ele me deu tapinhas nos ombros.

Levantei contra minha vontade, enquanto ele escolhia o quarto que ficaria. Não faz diferença alguma, pois as suítes são exatamente iguais. Assim que o vi abrindo a porta do cômodo escolhido, puxei uma caixa minha e me dirigi a outra porta, abrindo-a e sentindo o vento gelado que entrava pela grande janela do quarto. Não pude evitar imaginar quantas fotos maravilhosas eu conseguiria fazer aqui dentro. Deixei uma caixa em um lugar aleatório e sorri ao ver minha cama montada no centro do quarto.

— Precisa de ajuda com algum móvel? — Jooheon apareceu na porta.

— Acho que não. — Respondi olhando em volta.

— Ok, se precisar é só chamar. — Disse e virou-se para voltar para seu quarto.

Tratei de começar a arrumar minhas coisas, passando todos os meus pertences para o armário grande e espaçoso que havia ali. Logo, minhas prateleiras estavam cheias de livros e decorações que eu adorava. Deixei uma playlist de músicas tocando para me distrair e tornar a arrumação menos cansativa. Minha atenção foi chamada quando a música fora interrompida e o som de uma nova notificação ecoou pelo quarto.

Parei o que estava fazendo e chequei o aparelho, sorrindo ao ver a mensagem de Kihyun ali na tela. Sorri e abri a mesma rapidamente, eu não havia falado com Kihyun sobre nada. Me senti o pior amigo do mundo.

Kihyun: Onde você está? Voltou para sua cidade e não me contou? Changkyun eu vou matar você.

Changkyun: Eu não sumi  não, besta. Mudei de apartamento.

Kihyun: Porra, não me assuste desse jeito, eu já estava comprando passagens.

Changkyun: Que drama. Não lhe contei nada porque estava sem tempo algum pra isso.

Kihyun: Mas e ai, onde está?

Changkyun: Estou metido em problemas Kihyun...

Kihyun: Como assim?

Changkyun: Ligue-me, estou com preguiça de digitar.

Dito e feito. Logo o pedido de chamada apareceu na tela, e eu prontamente o atendi. Sorri ao ouvir a voz de Kihyun, ele é como um irmão para mim, e eu sei que posso contar com ele para qualquer coisa. Contei tudo, detalhe por detalhe, desde o dia do café com Minhyuk até a hora que me coloquei a arrumar o quarto. Ele ria, mas ficava calado o resto do tempo muitas vezes sem esboçar reação alguma.

— Então você está morando com o Jooheon? — Kihyun perguntou.

— Sim. — Ajeitei meu fone de ouvido.

— Isso é... Legal. — Kihyun tentou não transparecer o ciúme.

— Considerando que eu viro uma estátua perto dele, acho que é legal sim. — Comentei.

— É. — Kihyun riu soprado. — Chang, eu tenho que desligar. Se cuida, viu.

— Fica bem, Kihyun, amo você.

— Também. — Kihyun desligou.

E sim, eu já sabia que ele estava se mordendo de ciúmes. Eu o usava para afastar Jooheon de perto de mim e agora estou dividindo teto com o mesmo, não é algo que você vê acontecendo todo dia. E eu sabia muito bem que seria difícil lidar com o Yoo.

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