História Rosas esmagadas - Capítulo Único

Nem sempre tudo acontece como a gente quer, e eu me lembro da vez que eu tive a certeza disso.

Lembro-me da primeira vez que eu o vi, você estava entrando no quarto que teria que dividir comigo. Nós dois, dois completos estranhos que teriam que dividir um dormitório na faculdade, já que nenhum de nós tínhamos dinheiro para alugar um privado.

Você estava lindo: tinha o cabelo na cor de um preto escuro, usava uma regata -que por Deus, você ficava maravilhoso com os braços à mostra- calça de moletom e sandálias de dedo. Você carregava caixas de papelão que pareciam estar muito pesadas, e foi assim que eu me dispus a te ajudar a carregar, e você me deu o primeiro sorriso, aquele que deixava seus olhinhos em forma de lua crescente e suas bochechas ruborizas.

Nunca imaginei que um homem como você poderia deixar todos aqueles efeitos em mim. Eu já tinha noção minha homossexualidade, mas um cara lindo como você só poderia gostar de mulher, não é mesmo? Eu estava errado. Na primeira semana que dividíamos o quarto, já estávamos íntimos o suficiente, e decidimos ver um drama qualquer na Netflix. Eu me lembro perfeitamente que a noite estava fria, por isso assistimos o filme juntos no mesmo sofá e com a mesma coberta, e até hoje não sei como consegui me segurar para não lhe beijar ali naquele momento mesmo. Já era tarde da noite, e você como sempre já estava quase dormindo, e eu me assustei quando você se deitou com a cabeça no meu colo.

‘’Sabe, Suga –foi esse apelido que você me deu na noite passada, porque, segundo você eu parecia ser feito de açúcar- eu não gosto de mulheres, e realmente não sei porque eu estou lhe contando isso, mas acho que devo explicações ao meu companheiro de quarto’’. E você, logo depois de terminar de formular a frase, que estava saindo de forma meio difícil, pois você já estava embargado de sono, você dormiu em meu colo. Você estava tão lindo dormindo daquele jeito, que eu não podia acordá-lo, e mesmo eu estando em uma posição nada confortável, eu dormi assim. Quando você me contou que não gostava de mulheres, eu pensei que poderia ter uma chance com você. E eu não poderia estar mais certo.

Dois meses depois, eu e você já estávamos saindo, e só Deus sabe a coragem que eu tive pra te chamar pra sair. E minha nossa, quando você aceitou sair comigo, eu sem dúvidas nenhuma era a pessoa mais feliz da face da Terra, e eu poderia ter fogos de artificio saindo de dentro de mim.

Você, tão lindo, como teve olhos para uma pessoa como eu? 

Todo fim de semana íamos para um barzinho qualquer e ficávamos jogando conversa fora a note inteira. Mas nesse dia foi diferente, você quis ir no cinema e eu prontamente aceitei o seu pedido. Escolhemos o filme ‘’A culpa é das estrelas’’ e você chorou. Seu rostinho ruborizado e molhado pelas lágrimas era a coisa mais linda do mundo inteiro. Minha nossa, como eu amava você. Depois do filme, fomos para o nosso dormitório, e lá, enquanto eu e você jogávamos cartas, você me deu o primeiro beijo, o beijo que eu tanto esperei.

Sua boca foi a melhor coisa que eu já experimentei em toda a minha monótona vida, e puta merda, Jimin, como eu fui a pessoa mais realizada de toda a Terra por te ter em meus braços.

Mais uma semana se passou, e o fim de semana chegou de novo. Você queria ir num novo barzinho que havia sido aberto no centro da cidade, e como sempre, eu concordei com você. Nos arrumamos, e você usava branco. Jimin, você parecia um anjo e eu sorria bobo olhando como eu era sortudo por te ter e por você me amar. Chamamos um táxi e minutos depois ele já havia chegado, saímos do nosso quarto e fomos em direção ao táxi. Ao chegar no novo bar, ele estava lotado, e tivemos que esperar mais de duas horas na fila para enfim conseguirmos uma mesa vaga. Eu estava irritado, e você ria das minhas caretas a cada mesa que vagava e mesmo assim nós não poderíamos nos sentar porque tinha gente na frente da fila. Você segurava a minha mão, entrelaçando nossos dedos e me dando aquele sorriso que fazia eu me perder, me deixando mais calmo. Quando finalmente pudemos sentar, comemos, bebemos e nos beijamos. Você era tão precioso, meu Jimin.

Saímos do bar já era tarde da madrugada, e ficamos na esquina esperando aparecer algum táxi para nos levar de volta ao aconchego do nosso dormitório. Você ficava ainda mais lindo com a luz da lua iluminando seu rosto. Você me olhava com todo o amor do mundo, e mais uma vez eu era a pessoa mais feliz de todas. Você ouviu um barulho de chorinho de cachorro, e quando olhou para o outro lado da rua, havia um filhote peludinho e branco. Você sorriu tanto e atravessou a rua para buscá-lo. Você o pegou, e quando atravessava a rua para voltar pra mim você disse ‘’Olha meu amor, ele é branquinho como você’’ e sorria da forma mais radiante possível, e eu fiz o mesmo. Mas logo meu sorriso se desmanchou. Ah meu Jimin, foi a coisa mais horrível que eu já vira. Um carro em alta velocidade lhe pegou de um jeito que a sua morte foi na hora. Sua blusa branca agora estava vermelha por conta do seu sangue, e eu me desesperei. Corri até onde você estava e o peguei em meus braços, mas não sentia mais a sua pulsação. Dezenas de pessoas que passavam por ali ligaram para a ambulância, mas você já tinha me deixado, e se eu pudesse teria ido junto com você. Chorei com você nos braços como se não houvesse amanhã. Por que você me deixou, meu pequeno?

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Hoje era o dia do seu velório, eu usava o meu terno que você mais gostava, e em minha mão tinha rosas na cor rosa, as suas favoritas, meu amor. Mas que de tanto eu chorar, elas agora estavam amassadas e esmagadas.

Agora eu estou aqui, com o coração feito essas rosas esmagadas e sentindo cada vez mais a sua falta. Cada dia que passa sem você aqui do meu lado, eu me sinto mais murcho e sem vontade de viver.

Eu sinto sua falta meu pequeno Jiminie.

Para sempre.