História Rosas são vermelhas, violetas são azuis - Sob o signo da rosa

18/09 – Myshville – Califórnia

********************* POV narrador *******************

O ser sombrio se esgueirava pelas ruas como um gato perseguindo uma presa, a capa negra tremeluzia sobre a luz dos postes e ele se movia de forma ágil, sempre atento ao que acontecia ao seu redor. As noites na cidade de Myshville eram um tanto quanto movimentadas, mas nessa noite as coisas eram um pouco diferentes, localizada no estado da Califórnia, Estados Unidos, a cidade de Myshville era uma cidade pequena, mas possuía parques, restaurantes e bares únicos, a cidade possuía um clima ameno, não muito quente a maior parte do ano devido aos inúmeros bosques espalhados pela cidade.  Mas todos esses aspectos positivos não escondiam o emaranhado de intrigas e sentimentos perversos que se espalhavam pelas ruas, era uma cidade onde nada era o que parecia e os mistérios que a rondavam eram antigos, e ainda não desvendados...

Até agora...

De rua em rua e se escondendo nas sombras aquele estranho ser se encaminhou até o principal colégio da cidade, o Santorum School, ele estava fechado naquele horário, e era bem tarde, próximo às doze badaladas da meia noite; ele teria que ser rápido, aproximando-se do muro do colégio e demostrando eximia destreza e força ele o escalou e com um salto caiu de pé do outro lado, seu plano estava quase completo, com este pensamento ele adentrou mais e mais no colégio indo em direção ao seu alvo.

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O diretor do colégio Santorum era definitivamente um homem bom, seu nome era Marcos, dedicado a sempre ajudar os outros, fazia inúmeras doações a instituições de caridade, sempre buscava entender os seus alunos e fazia vários projetos para integrar os jovens aos meios de ensino da escola, por causa disso era respeitado e amado por diversas pessoas, todos da cidade inclusive os alunos admiravam seu caráter exemplar, naquela noite ele estava acordado até tarde em sua sala no colégio, estava sentado em uma cadeira na mesa de seu escritório, organizando os documentos do baile de fim de ano, era o último simestre e o baile tinha que ficar majestoso, os únicos que estavam na escola além dele eram poucos zeladores que vagavam pelos corredores de tempos em tempos.

De cabeça baixa lia as paginas dos documentos, até sentir um calafrio lhe percorrer a espinha, sentia a presença de mais alguém naquela sala, levantando lentamente a cabeça ele observou o ser de a sua frente, assentado sobre uma poltrona, era um velho conhecido, vestia-se de inteiramente de preto, as luvas negras também serviam para esconder suas mãos, o rosto era coberto por uma mascara de um intenso tom de vermelho, era desenhada por uma maestria sem tamanho, um tecido negro tampava os buracos dos olhos e os outros espaços da máscara não deixando ver nenhuma parte do rosto, a riqueza de detalhes apavoravam qualquer um O diretor e aquele ser se olharam por alguns segundos que pareciam uma eternidade quando uma voz fria e metálica soou vinda do mascarado.

— Olá caro diretor, vim lhe fazer uma visita amigável para... digamos, fortalecer nossas relações.

Mais uma vez o calafrio lhe percorreu a espinha, a visita do mascarado nunca era um bom presságio.

— O que você quer aqui ? Não já nos falamos o bastante nos últimos tempos ? ­­ — A voz de Marcos soou firme apesar de seu sangue estar gelando por dentro.

— Pelo contrário estimado diretor, sinto sua falta, percebi que tem se distanciado de mim, não nos falamos a vários dias — O mascarado respondeu.

— Já conversamos o que tínhamos de conversar, fiz tudo o que você pediu, o que mais você quer de mim ? —Marcos falou, com a voz trêmula e visível desespero.

— Eu quero tudo, quero o que é mais precioso para você.

— Mas eu não posso, já lhe disse, se eu fizer isso ficarei sem nada — O diretor respondeu já aflito.

— Eu não estou interessado em seus problemas pessoais, ou você faz o que eu estou pedindo ou todos saberão de seu segredinho sujo.

— Não, por favor, tenha piedade — Os olhos do diretor começaram a lacrimejar, tudo que ele queria era mais uma chance, e ele implorava por ela.

— Piedade é para os fracos, você já devia saber disso ­ — O mascarado respondeu, visivelmente sem nenhum pingo de remorso na voz.

Era demais para Marcos, havia suportado ameaças e todo tipo de pressão, ele só queria voltar a viver sua vida normalmente, irritado com tudo isso fez a única coisa que lhe veio a mente. Tirou um revolver que estava repousado em uma gaveta aberta em sua mesa e levantou-se de sua cadeira apertando com firmeza a arma e apontando para a figura a sua frente, mudando completamente de expressão disse com intensa raiva na voz.

— Eu não te darei mais nada ! Você quase desgraçou minha vida, nunca mais me perturbe senão a ultima coisa que verá será uma bala na direção de sua testa !

A outra figura lentamente se levantou da cadeira olhando fixamente para o diretor.

— Caro diretor, nós dois sabemos que você não tem coragem para apertar o gatilho.

— Tenho bastante coragem sim, não me subestime — Marcos respondeu confiante de seus atos.

De repente a figura a sua frente começou um riso baixo, como se debochasse do diretor, logo depois mudando sua postura disse em tom de ameaça.

— Acho que é você que não deve me subestimar.

Com uma velocidade e força sem igual, a figura correu em direção a Marcos puxando uma faca de aspecto cruel de suas vestes, ele golpeou o pulso da mão esquerda do diretor que pela dor imediatamente soltou o revolver, que caiu no piso. Com outro golpe certeiro ele acerta o peito de Marcos perfurando seu coração, girando a lâmina e depois a retirando, o corpo de Marcos gelou-se e o seu olhar ficou vidrado, sua vida escoando aos poucos de seu peito.

O corpo inerte do diretor caiu ao chão com um baque surdo, o ultimo olhar do estimado diretor antes de se render ao sono eterno foi o seu assassino de máscara escarlate o observando enquanto uma poça de sangue se formava ao seu redor. O assassino, parecendo contemplar uma obra de arte, tirou uma rosa vermelha como o sangue de sua capa e a depositou em cima do corpo do diretor, tão rápido quanto tinha entrado o assassino foi embora enquanto a lua subia brilhando no céu, iluminando aquela perversa noite.

******************** POV Alice ***********************

Acordei com o som do despertador tocando, o sol entrava lentamente por entre as frestas da cortina iluminando todo o quarto, levantei a cabeça com um pouco de dificuldade, esfregando as mãos sobre o meu rosto tentando acordar de vez para o dia que despontava lá fora. Sai da cama, calcei meus chinelos e desliguei o despertador, de repente, meu olhar pousou sobre o bilhete ao lado do despertador, o peguei e abri reconhecendo a letra que já vi tantas vezes.

 “ Você acabou dormindo durante o filme então te trouxe até a cama e te cobri. Tomei a liberdade de preparar uma surpresa pra você, ela está te esperando na cozinha, espero que goste. Beijos, Ethan “

Mas é claro, só ele mesmo para ser tão carinhoso comigo, refleti sobre aquela mensagem e flashbacks sobre o dia anterior vieram a minha mente.

“ ­ ­— Eu juro que essa é a ultima vez que você me faz assistir a esse filme Alice ­ — Ethan disse fingindo estar bravo.

— Ah, o que tem de mais ? É só “Para sempre”, é um ótimo filme — Respondi fazendo um pequeno bico.

— Eu sei, mas já vimos esse filme mais de um milhão de vezes — Ele falou enquanto trazia dois baldes de pipoca da cozinha.

— Não é verdade... Foi no máximo 900 ­ — Disse rindo para ele enquanto me sentava no sofá.

Ethan colocou os baldes de pipoca sobre a mesinha de centro e pegou um travesseiro e jogou de leve sobre mim, ele rapidamente veio para cima de mim e começou a fazer cócegas me fazendo dar boas gargalhadas.

— Para... Sai de cima de mim... ­— Eu disse rindo, já sem fôlego.

Ele saiu de cima de mim e me entregou um balde de pipoca com um copo de refrigerante,  sentando-se ao meu lado, dei o “play” no filme e começamos a ver, após alguns minutos ele colocou a pipoca sobre a mesa e deitou-se sobre o meu colo, minhas mãos imediatamente foram ao seu cabelo, acariciando lentamente seu couro cabeludo. Abandonando o filme, passei a observar seu rosto sem que ele percebesse, gostava de observar suas feições, o modo como seus magníficos olhos azuis se moviam conforme os diálogos dos personagens do filme, os seus lábios incrivelmente apetitosos, como adorava beijá-los, sua pele lisa em contraste com a minha, a forma com que seus cabelos loiros da cor do sol caiam sobre sua testa e seu nariz perfeitamente simétrico.

Deixei meus pensamentos me levarem e comecei a pensar sobre o nosso namoro, começamos a namorar no final do ano passado com um lindo pedido de namoro dele, durante todo o ano foram inúmeras declarações de amor, encontros, e beijos apaixonantes, as vezes achava ele meio bipolar pois era um pouco rude e frio com outras pessoas, o que eu até compreendia já que ele era capitão do time de futebol americano da escola, mas ao mesmo tempo era gentil e amoroso comigo, um pouco ciumento e possessivo as vezes, mas ainda assim uma pessoa maravilhosa que gostaria de ter por toda minha vida. Passávamos muito tempo juntos e graças a isso sei cada expressão do rosto dele, quando ele está confuso, triste ou bravo consigo perceber e auxiliar ele, nós além de namorados erámos amigos e companheiros de todas as horas um do outro e isso fazia com que nossa união fosse ainda mais especial.

Meus pais, Roward e Suzana, tiveram que viajar a trabalho, eles eram vendedores de imóveis o que fazia com que eles viajassem constantemente por alguns dias pelo estado para poderem negociar contratos, imóveis e outras coisas, por isso hoje estava sozinha e ele estava novamente me fazendo companhia; estava perdida em meus pensamentos quando ouvi uma voz sonolenta me chamar.

— Ei, no que você tanto pensa ­ ? ­­— Ethan diz virando a cabeça e olhando com um brilhante sorriso para mim.

— Hhum... Nada... Estava pensando em nós dois — respondi  abaixando a cabeça ­para observá-lo ­ — Você gosta mesmo desse filme ? Se quiser podemos trocar.

Ele levantou-se do meu colo e se sentou ao meu lado do sofá.

— Na verdade não gosto muito, mas você sabe que eu te amo, se você quisesse, assistiria mais um milhão de vezes por você ­ — Ele respondeu com um sorriso e um brilho nos olhos.

Aquelas palavras me tocaram de forma surpreendente, saber tudo que ele fazia por mim me fez sentir ainda mais amada do que já era; ele esticou seu braço e tocou meu queixo, puxando meu rosto lentamente para um beijo apaixonante. Nossas línguas se enroscavam em uma dança lenta e prazerosa, ele me puxou para mais perto dele e enquanto continuávamos o beijo eu sentia o carinho e a paixão que ele me oferecia, sentia o amor que possuíamos um pelo outro, e naquele momento eu me sentia completa, completa como só me sentia quando estava com ele, minhas mãos estava em seu pescoço acariciando levemente seu cabelo enquanto as suas mãos estavam em minha cintura me fazendo perder o ar, conforme aprofundávamos nosso singelo beijo, transbordando nossas emoções, pude sentir um sentimento novo aflorar em meu corpo.

O desejo...

O desejo por ele, e sentia que ele também estava tendo o mesmo sentimento que eu, embriagada por esse sentimento inebriante, aprofundei cada vez mais nosso beijo, que adquiria um toque erótico e malicioso, rapidamente e sem interromper o contato entre nossos lábios, levantei um pouco do sofá e sentei sobre o seu colo envolvendo minhas pernas em volta de sua cintura, minhas mãos exploravam suas costas fortes enquanto ele me puxava para mais perto dele nos deixando colados um ao outro, arfei quando ele adentrou seus dedos por dentro de minha blusa apertando um pouco forte minha cintura, ele separou nossos lábios e começou a distribuir beijos pelo meu pescoço me dando leves choques de prazer quando de repente...

Saltei do seu colo e me virei, sentando do outro lado do sofá.

O que havia acabado de fazer ?! Nós dois queríamos aquilo, mas quando as coisas começaram a ficar um pouco mais intensas sabia que não estava preparada para aquilo. Eu queria muito isso, queria muito perder minha virgindade com alguém que eu amava e puxa, eu realmente o amava, mas apesar de tudo isso, algo dentro de mim me dizia que aquela não era a hora nem o momento certo, que ainda não estava 100% pronta para o que iria acontecer, mas apesar de tudo isso sabia que ele não poderia me esperar para sempre, ele era um homem e todo homem sonhava em ter isso com sua companheira.

— P-por favor... me desculpe... ­ — disse com lágrimas nos olhos que começavam a cair sobre meu rosto, enquanto observava sua expressão confusa e arfante pelos momentos anteriores — não estou preparada pra isso... sei que você quer tanto quanto eu, mas não posso agora... por favor, me perdoe por ser tão egoísta...

Cobri meu rosto com minhas mãos, com medo de sua reação quando de repente sinto braços fortes me envolvendo, retiro as mãos do meu rosto e olho para ele, ele me observa de maneira carinhosa até que me dá um lento e carinhoso beijo na testa.

— Você não precisa me pedir desculpas por nada Alice ­­— Ethan me diz, limpando com os dedos as lágrimas do meu rosto — eu jamais te obrigaria a nada que você não quisesse fazer, se você não está preparada tudo bem, eu espero quanto tempo for necessário, só não se sinta obrigada a fazer nada por minha causa, eu espero anos e mais anos se você quiser Alice, e eu sempre esperarei.

Meu coração se derrete diante dessa declaração, me sinto nas nuvens e uma paz imensa se apossa de meu corpo, Ethan me dá um beijo apaixonado, logo depois separo os nossos lábios e reclino a cabeça sobre seu ombro enquanto terminamos de ver o filme, não presto muito atenção no filme, enquanto sinto seus braços em volta de mim eu lentamente me entrego aos braços do sono e adormeço. “

 Livrando-me daqueles pensamentos e dando um leve sorriso, eu me arrumo para ir à escola, vou ao banheiro tomar um relaxante banho, visto meu uniforme e me olho no espelho.

— Alice... Essa é você... ­— Digo em frente ao espelho, observo meu cabelo castanho e olhos verdes; nunca me achei muito bonita, havia dezenas de meninas no colégio mais bonitas que eu e só ao saber que Ethan podendo ficar com qualquer uma se apaixonou por mim assim como eu me apaixonei por ele me faz sentir especial.

Ao menos para ele...

Desço ate a cozinha e observo espantada a “surpresa” que Ethan preparou no dia anterior, um lindo buquê de rosas vermelhas está sobre a mesa, o pego e aspiro o doce aroma que emana daquelas lindas flores, adocicado e madeirado, as rosas possuíam um aroma que desperta diversos sentimentos em meu corpo, as carrego até um vaso, e coloco água dentro, as colocando sobre uma bancada. Um grande café da manhã também estava preparado sobre a mesa: café fumegante, leite, waffles, panquecas com mel, pão com canela, frutas, pão de queijo e muitas outras coisas deliciosas. Ele estava querendo me engordar só pode, ao preparar tantas coisas boas no café da manhã.

Olho no relógio e me assusto, percebo que daqui a 25 minutos começam as aulas, corro para comer meu imenso café da manha e quando estou quase saindo de casa meu celular começa a tocar apitando incansavelmente, olho o visor e percebo que o número é desconhecido, mesmo assim atendo.

— Alô ? Quem fala ?

— Olá Alice — uma voz robótica e fria diz, me causando um calafrio na espinha ­— Como vão as coisas ?

Estranho, como essa pessoa conhece meu número e meu nome.

— Ah, sinto muito, acho que você ligou para o número errado, meu nome é Alice mas você deve estar querendo falar com outra Alice — digo já me preparando para encerrar a chamada.

— Não, não, é exatamente com você que eu quero falar.

Movida pela curiosidade, eu persisto a ligação, respondendo.

— Qual seu nome ? O que você quer falar comigo ?

— Nada demais, você não precisa saber meu nome, só precisa saber que estou te observando muito bem...

Mais uma vez um calafrio me percorre a espinha, eriçando os pelos da minha nuca, caminho até a janela ainda com o telefone no ouvido, abro as cortinas e olho para a rua, nenhuma pessoa está a vista.

— É melhor você parar já com isso ou se não...

— Senão o que ? — a outra voz fala dando uma gargalhada baixa do outro lado da linha — Você vai me impedir por acaso ? Você tem os amigos perfeitos, um namorado gentil e amoroso e uma família maravilhosa, mas sua vida está prestes a ruir e eu quero estar de camarote assistindo sua queda.

Minha alma gelou com essa afirmação, como ele sabia tantas coisas sobre mim ?

— Eu não ligo para ameaças, você não tem poder nenhum sobre mim — digo tentando manter a voz firme.

— Tem certeza Alice ? É o que veremos. Só espero que você não se dê conta de sua queda quando for tarde demais e a propósito, eu espero que você goste do presentinho que eu deixei para você na escola, vai servir para abrir seus olhos para o que está a sua volta.

— Espera, como assim ? Do que você está falando ? Que presente é esse ? — eu falo, tentando conseguir mais informações.

Mas o desconhecido desliga...

E o telefone fica mudo...