História Rosegarden.com - Entrando na sua conta

Sexta-feira: 10:50 da noite.

Você pega seu celular e acessa o aplicativo rosegarden.com. Só queria sair um pouco do seu mundo, esquecer os problemas.

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Usuário: Butterfly

Senha: ********

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Após apertar o botão de entrar, vasculha a lista de contato, procurando um certo alguém ao mesmo tempo torcendo para que a pessoa esteja online. Um sorriso aliviado surge em seu rosto. Você clica em um usuário chamado Firefly e inicia a conversa.

Butterfly: E aí, tudo bem?

Firefly: Tudo e com você?

Butterfly: Horrível, desculpe, mas posso desabafar com você?

Firefly: Claro, é pra isso que estou aqui :)

Butterfly: Eu briguei com meu namorado... De novo.

Firefly: Que chato :/

Butterfly: Ele anda desconfiado de tudo o que eu faço; dos meus amigos. A cada minuto quer saber onde estou, o que estou fazendo e principalmente com quem estou.

Firefly: Tradução, ele é muito ciumento.

Butterfly: Não faz ideia do quanto ^^’

Firefly: Continue :)

Butterfly: Bem, digamos que esse namoro está me fazendo ser uma prisioneira. Não posso fazer nada sem dar satisfação pra ele. Não sei como resolver essa situação... A única saída que tenho, é terminar :/

Firefly: Calma, acho que você está desesperada. Tem que ter outro jeito.

Butterfly: Talvez, mas é complicado.

Firefly: Vocês não se amam mais?

Butterfly: Claro que o amo, só que a cada dia que passa sinto que esse amor dá lugar à raiva; cansaço. Nem me lembro a última vez que saímos juntos sem ter um momento de briga. As coisas sempre acabam mal.

Firefly: Entendo, com a minha namorada é a mesma coisa.

Butterfly: Ela também é ciumenta?

Firefly: Não, mas eu diria que ela é ausente.

Butterfly: Como assim?

Firefly: Parece que estou sempre em segundo plano. Ela não me dá mais tanta atenção. Às vezes me pergunto se ela ainda me ama. Se sim, não demonstra muito.

Butterfly: E o que você faz? Conversa?

Firefly: Não, sou péssimo em conversas difíceis, acabo ficando nervoso. Eu tento ganhar atenção. Só que ela acaba achando que estou sendo possessivo e ciumento como se eu a quisesse só pra mim, mas não é assim.

Butterfly: Você só não quer perdê-la, certo?

Firefly: Exatamente! :)

Butterfly: Meu namorado pensa assim, eu acho. Só que ele ultrapassa os limites.

Firefly: Fala com ele, diga que está exagerando e pergunte o que o deixa tão desconfiado.

Buterfly: É inútil. Ele nunca se abre comigo claramente. Não consegue se expressar. No fim as coisas terminam em nada.

Firefly: Sei como ele se sente, coitado, deve ser angustiante.

Butterfly: Ei, você é meu amigo, devia ficar do meu lado, seu falsiane! u.u

Firefly: Não é isso! Kkk Eu só sei como é não se expressar.

Butterfly: Eu sei, tô brincando.

Firefly: Então... Vai falar com ele?

Butterfly: Vou tentar, só de pensar nisso já me desanimo >.<’

Firefly: E amanhã você me diz o que aconteceu.

Butterfly: Acho que não vou fazer isso hoje.

Firefly: Não?

Butterfly: É. Preciso pensar no que falar.

Firefly: Ok, então nos falamos depois?

Butterfly: Ok, boa noite, beijos.

Firefly: Boa noite, tchau.

Firefly se desconectou.

...

Seu namoro já deixou de ser a mesma coisa há muito tempo. Midorikawa Ryuuji mudara. O ciúme excessivo o fazia ser uma pessoa insuportável. Ele não confiava em você e parecia se desesperar com a ideia de lhe perder. No começo era fofo e engraçado suas reações ao te ver com outros garotos. Contudo após um tempo, Ryuuji adquiriu ciúmes de suas amigas, qualquer um que se aproximava e até mesmo de alguns parentes. Aquilo virou uma relação sufocante.

Celular, redes sociais, vigilância vinte e quatro horas. Sem perceber você obteve um guarda-costas. "Onde está?; Eu te liguei, mandei mensagem, por que não respondeu?; Tá me ignorando? Não me ama mais?". São algumas das frases que costuma ler e ouvir.

O namoro tornou-se algo vazio, sem sentido. Não era mais uma relação boa. Nesse tempo, você acabou descobrindo um aplicativo chamado rosegarden.com, o qual é uma rede social online, como qualquer outra. A única diferença é que todos os usuários têm apelidos de insetos de jardins, fora alguns outros detalhes que o diferenciava do resto das redes sociais.

Vasculhando o aplicativo e desfrutando seus recursos e funcionalidades, você termina por fazer uma amizade especial com o usuário Firefly (vaga-lume). Ele te entendia como um amigo de muitos anos. Sabia as palavras certas para te alegrar quando ambos conversavam e dava os melhores conselhos.

Isto poderia ser considerado algo completamente normal, afinal, quantas pessoas têm amigos online? Entretanto, só um detalhe muda tudo. O fato de se envolver demais nessa relação virtual e instintivamente desenvolver um sentimento, o mesmo que possuía por Midorikawa. Amor.

Sem perceber, você ansiava teclar com ele cada vez mais que logava em sua conta, e quando o via online, um sorriso maroto contornava sua face. Ambos não se conhecem pessoalmente, nem fazem ideia de como o outro é. Nem o nome ao menos sabiam.

Este não é o maior dos problemas, é claro. Sua consciência tinha culpa. Por mais que seu namoro estivesse decaindo, isto não lhe dá o direito de amar outro. Mas é impossível evitar. Tentava reprimir seus sentimentos para não acabar machucando a si mesma e ao Ryuuji, mas é complicado.

Por falar nele, ali está Midorikawa sentado a sua frente com o olhar fixo no chão. O clima tenso pairava no cômodo como uma grande e pesarosa nuvem negra de nervosismo. Nenhum dos dois se atrevia a dizer uma palavra. Quando os olhos se encontravam, desviavam-se rapidamente. Você sabia que ele ficaria desse jeito o tempo todo, sendo assim, decide cortar o silêncio.

— Isso tem que parar, digo, essas brigas e desentendimentos. — Você menciona olhando o garoto que concorda. — Eu... Só não sei exatamente como. Midori, o seu ciúme... É muito irritante, não suporto mais.

 No início, sente-se hesitante, mas logo desabafa. Já seu parceiro, dedica-lhe um olhar meio indignado por suas palavras, enquanto você o espera se pronunciar, dizer algo. Porém ele apenas abre e fecha a boca algumas vezes, por fim ficando em silêncio.

— A conversa vai ser assim de novo? Sem resolver nada?

Aproximadamente dois minutos inteiros, silêncio reinou. Seus olhos miravam Midorikawa esperando uma resposta que não veio, sabia que ele estava nervoso.

— Me sinto só... — Finalmente ele fala, porém em um tom baixo e inseguro. Tanto que você quase não ouviu e murmurou até um "Ahn?" ao mesmo tempo se perguntando o que a frase significa. — Você não vê? — Ele indaga-lhe tristemente.

— Como assim? Fale comigo, diga o que sente Ryuuji. —  O pede, mas ele hesita muito ao responder novamente.

— Você me ama? — Desta vez ele olha profundamente em seus olhos te causando espanto com a questão. Teria descoberto sobre o aplicativo?

— Claro que amo. Por que isso de repente?

Ryuuji apenas suspirou pesadamente e falou para esquecer o assunto. Em seguida se levanta e despede-se a deixando atônita. Você tenta impedi-lo de sair, mas ele alega que tudo estava bem e que não precisava se preocupar mais. Você sabia que não estava, afinal, como todas as outras conversas, essa acabou numa falsa paz.

...

Butterfly: Eu diria que as coisas estão normais, mas não bem.

Firefly: :/

Butterfly: Vou deixar assim mesmo. Só ficar me preocupando com isso é cansativo.

Firefly: Também acho, deixa ele falar alguma coisa, sei lah, tomar uma atitude.

Butterfly: Tem razão.

Firefly: Mas e aí, alguma novidade?

Butterfly: Não, nadinha. E você?

Firefly: Também nada. Nossas vidas são bem interessantes né?

Butterfly: kkkkkkkkkk

Firefly: Ah, esses dias eu tava pensando em algo...

Butterfly: No quê?

Firefly: Não sei se devo dizer.

Butterfly: É só escrever.

Firefly: Conversamos a bastante tempo, certo?

Butterfly: Certo.

Firefly: Você me considera seu amigo?

Butterfly: Claro ^^

Firefly: Teria coragem de fazer algo?

Após ler a frase, você reflete no que responder. A conversa tomou um rumo estranho.

Butterfly: Hum... Depende do que for.

Firefly: Eu estava pensando na gente se encontrar, o que acha?

Buttefly: Bem, eu também tenho vontade de te conhecer pessoalmente.

Firefly: Sério?

Butterfly: Sim :) Mas primeiro eu preciso ver uma foto sua e saber o seu nome né?

Firefly: Ah, certo. Mas primeiro posso ver a sua antes?

Butterfly: Ok.

Depois de concordar, envia uma foto sua e digita seu nome. Passados cinco minutos  ele não responde. Você envia outra mensagem.

Butterfly: Ei, você tá aí?

Firefly: Desculpe a demora.

Butterfly: Minha foto te assustou? ^^’

Firefly: Não kkkkk Tinha ido ao banheiro. Você é bonita :)

Buttefly: Obrigada, mas é feio mentir sabia?

Firefly: Tô falando sério kkkk

Butterfly: Eu sei ^^’ E a sua foto, não vai me mostrar?

Firefly: Vou sim.

Ele envia a foto de um garoto de pele branca, cabelos pretos e curtos e olhos azuis; e revela que seu nome é Yukiro Michiru.

Butterfly: Hum *-* que gato 

Firefly: >.< Sou nada. 

Butterfly: Você sabe que é, não seja tão humilde :)

Após conversarem mais um pouco, por fim decidem marcar a data e hora pra se encontrarem. Um misto de sentimentos acompanhados de pensamentos percorre sua mente. Iria se encontrar com um cara que conheceu há um tempo através de um aplicativo. Isto pode ser considerado errado, talvez traição? Não. Mesmo que possuísse um tipo de afeto por ele, não seria capaz de cometer algo assim com Ryuuji. Ainda o amava e isso será somente um encontro de amigos, não havia nada a temer.

...

Butterfly: Já cheguei, onde você tá?

Firefly: Atrás de uma árvore na sua esquerda.

Butterfly: Ok ^^

Firefly: Me promete uma coisa antes?

Butterfly: Claro, o quê?

Firefly: Não brigue comigo.

Butterfly: Õ.o Por que eu brigaria com você?

Firefly: Promete?

Butterfly: '-' Tá bom, prometo. 

Firefly: Você já vai entender.

Retomando a caminhada, você procura o garoto com o olhar e quando avista com sucesso a árvore descrita, e através dela uma espécie de silhueta ocultada nas sombras, se dirige a ela aproximando-se com passos lentos de forma cautelosa. Nervosismo aparente, coração a mil, curiosidade a flor da pele. Quem será, ou melhor, como ele será pessoalmente? Talvez tivesse caído numa armadilha...

Não, não pode ser. Ele deve ser realmente a pessoa da foto. Enquanto sua mente se martelava em dúvidas, mal notou que estava no pé da árvore. Ele ainda não te percebeu. Engolindo seco, seus dedos o cutucam no ombro.

Qual não foi seu espanto ao invés de ver olhos azuis, você encara duas orbes negras e brilhantes, que conhecia de longe.

— Midorikawa?!

...

É claro que sua cabeça ainda não absorveu aquelas informações. Como Midorikawa pode ser Firefly? E pensar que todo esse tempo esteve falando, desabafando com seu namorado. Como nunca imaginou? Talvez por ele estar muito diferente. Afinal, Ryuuji não demonstrava esse lado na realidade. Todavia, agora isso não importa. Sentia-se envergonhada por acabar nutrindo sentimentos por um estranho quando na verdade era a pessoa que mais amava, mas deixara de prestar atenção.

— Por que usou o aplicativo? — Você quebra o silêncio tenso.

— Eu queria ter alguém pra desabafar. — Ele responde com o olhar baixo. — E você?

— Meu... "Amigo virtual", me fazia sentir-me melhor. Quando brigávamos, ou simplesmente quando queria só conversar. — Responde hesitante enquanto retornava. — Eu nunca imaginei... Que você seria daquele jeito, Ryuuji. Aberto, espontâneo. Por que não me mostrou esse lado antes? Nossas discussões diminuiriam.

— Você deve achar que é pela timidez, mas não é. — Midorikawa responde seriamente. — Você passa tanto tempo consigo mesma... Preocupada só com as suas coisas, que...

— Que... — O encoraja a continuar a frase, mas ele parecia se decidir se dizia ou não. O Ryuuji mexe as mãos nervosamente, odiava esse tipo de conversa. Provavelmente por não querer que acabe numa situação pior e irreversível. Por fim, Midorikawa murmura um "Esqueça" e declara que é melhor irem pra casa, mas você o corta. — Você não entende? Toda vez acaba assim, vamos resolver tudo de um jeito certo.

— Mas...

— Não há nada a temer Midori, fale. — Com um sorriso sincero e incentivador, diz, finalmente convencendo-o a prosseguir.

— Você... Passa tanto tempo se preocupando com si mesma... Que não vê esse meu lado. Você só vê o meu lado ruim. — Sua expressão torna-se confusa, analisando se era realmente verdade. — Quando quero passar um momento contigo, quase nunca dá... É sempre os seus problemas ou alguma outra desculpa. Me sinto um amigo e não o seu namorado. — Midorikawa despeja tudo que guardava. Você até pôde perceber um alívio em torno dele.

— Não sabia que se sentia dessa forma. — Culpa corroeram-lhe a mente. Ele tinha razão. — Sendo assim, temos que chegar a um acordo, bem, se você ainda me amar.

— É claro que eu te amo! — Ele exclama como um desespero.

— Eu também te amo Midori. — Declara sorridente. Sentindo sua paixão por ele aquecer novamente. — E... Prometo te dar mais atenção, a partir de agora. Mas só se você parar de ser tão ciumento.

— Eu prometo. — Ele estende o dedo mindinho a você, que de imediato entrelaça o seu no dele. — E agora, a parte que mais gosto. — Sorriste concordando.

Ambos se aproximam devagar, fechando os olhos à medida que a distância encurtava. Isto prossegue até poderem sentir a respiração um do outro e enfim, selarem os lábios tentando encontrar desesperadamente uma forma de encaixá-los. A cada segundo, a voracidade aumentava e o calor também, línguas para lá e para cá, mãos subindo e descendo, passeando entre os cabelos.

Os dois decidiram se separar antes que não conseguissem mais se segurar e acabassem fazendo atos obscenos na rua. Midorikawa sussurra algo que a fez corar loucamente e no fim, assentir.

— Em casa é melhor.

Não precisa ser um gênio para notar o duplo sentido e a malícia da frase.  Quanto ao aplicativo? Ele simplesmente foi abandonado. Creio que não é necessário contar o que aconteceu quando os dois chegaram na casa. Só digo que é algo que há tempos não faziam e esqueceram de como é bom.