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História Roses and Demons: Hells Flower - Chá e Bolinhos


Escrita por: JulianVK

Capítulo 24 - Chá e Bolinhos


A aventura de Karin em busca da arcanita havia começado. Cantarolando, ela caminhava a passos largos pela estrada, enquanto seu inquieto companheiro de viagem tentava entender como alguém era capaz de agir com tanta tranquilidade, mesmo sob o risco de serem atacados a qualquer momento. De fato, estavam se expondo tanto que seria um milagre conseguirem chegar ao destino sem chamar a atenção de ninguém pelo caminho.
-Karin, por que nós estamos usando a estrada principal para ir até o seu mestre? Não deveríamos tentar ser mais discretos?
-Ser discretos de que jeito? Aqui ao redor é só morro e grama! Não tem como andar escondido!
O tom completamente despreocupado da manipuladora da luz ignorava os receios de Vulcano, mas ele não se sentia convencido.
-E vamos fazer o que se surgiu um demônio de repente? Você lembra que o Ent nos disse para voltar se ficasse perigoso demais, não lembra?
-Primeiro que para um demônio surgir de repente, só se ele brotar da terra. – Karin se calou por um instante mínimo, tendo se dado conta de que aquilo não era algo impossível de acontecer, mas prosseguiu após desejar mentalmente que não cruzasse o caminho de um demônio subterrâneo. – Enfim, daqui podemos ver de longe se tem alguém vindo ou não. Além do mais, se um deles realmente aparecer, só precisamos descer a porrada até o desgraçado voltar chorando para Pravus! Simples assim!
Ainda insatisfeito, Vulcano manteve sua expressão de desagrado, mas preferiu se calar. Àquela altura já não tinha muita escolha. Despois de se voluntariar para acompanhar Karin, desafiando a vontade de Ent, seu sermão seria ainda pior caso decidisse abandoná-la.
-Fica tranquilo. – Disse a garota, tentando acalmá-lo. – Eu tenho olhos de águia. Se aparecer algum demônio, eu vou perceber na hora, e aí nós decidimos se vamos bater ou correr.
-Tudo bem. – Ele respondeu, com um suspiro.
O que os olhos de águia de Karin não perceberam, entretanto, foi a imensa ave negra que cruzava os céus, seguindo na direção oposta. Tratava-se de Corvame, e ele não podia deixar de notar a presença de dois humanos num lugar que deveria estar desabitado.
-Aqueles lá são...
Graças à sua visão aguçada, a ave diabólica conseguia discernir quem eram os viajantes mesmo daquela distância. Ela reconhecia Karin como a garota esquisita que passou vários dias no meio do mato arrancando couro de carcaças de demônio e, embora não conhecesse Vulcano, o identificou como um membro da Rosa Branca.
-“Esses dois devem estar aprontando alguma coisa. Não estou gostando disso...”
Com uma ideia em mente, Corvame realizou um desvio brusco de direção, seguindo para o leste. Não pretendia deixar que seus inimigos agissem livremente.

Jack tirou a proteção de ferro que usava para cobrir o rosto e contemplou sua mais recente obra-prima. Finalmente, a fornada de bolinhos de farinha de milho estava pronta. Enquanto esperava os salgados esfriarem, ele preparou um chá de maçã e arrumou a mesa para sua refeição da tarde. Porém, quando estava prestes a sentar, ouviu batidas vindo da porta.
Não era costumeiro para o homem era receber visitantes, e certamente não havia imaginado que alguém fosse pensar em procurá-lo justo agora que Chesord se encontrava mergulhada em desordem. Um tanto a contragosto, ele se levantou, dirigindo-se à porta com passos lentos. Então, ao abri-la, viu do outro do lado o rosto sorridente de sua pupila.
-Boa tarde, mestre! Tudo bem? – Sem a menor cerimônia, Karin foi entrando na pequena residência. – Que sorte, parece que chegamos bem na hora!
A garota nem sequer esperou uma resposta. Imediatamente se acomodou no lugar que Jack havia preparado para si mesmo e começou a devorar os bolinhos diante do seu olhar atônito.
-Nossa, isso aqui está uma delícia!
-Que falta de respeito é essa, Karin? Não basta você aparecer sem avisar e já chegar atacando minha comida, ainda por cima trouxe um namorado junto?
-N-Não, não é nada disso, senhor. – Vendo que a conversa estava tomando um rumo esquisito, Vulcano logo tratou de se eximir de qualquer culpa.
-Então o que diabos vocês vieram fazer aqui?! – Obviamente, Jack estava aliviado em ver que sua discípula estava viva e bem, mas não ignorava o fato de que visitá-lo era um grande risco. – Não perceberam que tem demônios andando por aí?!
-É que nós precisamos de arcanita, mestre. Não tem problema se nós levarmos só um pouquinho, né?
-Arcanita? – O ferreiro conhecia Karin bem o suficiente para saber que ela não viria buscar um minério que nem conhecia direito sem um bom motivo. Certamente, a sugestão deveria ter partida de alguém que realmente sabia o real valor da arcanita, e ele estava curioso para saber quem poderia ser. – Para que você precisa de arcanita?
-A mestra da Samantha me contou que esse cristal tem uma afinidade muito forte com magia. Se eu levar um punhado, ela vai criar um traje para mim e depois colocar um encantamento de proteção nele.
Aos poucos, a situação se tornava clara para Jack. A demanda inesperada, a escolta de um membro da Ordem da Rosa Branca, e, acima de tudo, a seriedade que começava a tomar conta daquele olhar que antes era tão ingênuo. Karin estava lutando contra demônios, e esse pensamento o fazia sentir um aperto no peito. Mesmo assim, ele não se sentia no direito de questionar a decisão de sua discípula.
-Tudo bem, pode pegar a arcanita de que precisa, mas você sabe as regras. Tem que ir buscar lá no topo da montanha.
-Deixa comigo, mestre! Eu vou e volto num instante!
-Muito bem. Peça para o seu amigo sentar em algum lugar enquanto eu preparo mais bolinhos, já que você acabou com todos.
Dito isso, Jack voltou a colocar suas luvas e a proteção de metal, desaparecendo no cômodo ao lado. Passados alguns minutos, ele voltou com uma bandeja cheia em mãos.
-Nossa, isso foi muito rápido. – Disse o jovem, admirado. – Nunca pensei que fosse possível fazer bolinhos em tão pouco tempo.
-Eu tenho métodos especiais. – Respondeu Jack, enquanto servia duas xícaras de chá. – E você, quem é?
-Ah, peço perdão pela minha falta de modos. Eu sou Vulcano, um dos membros da Ordem da Rosa Branca.
-Rosa Branca, é? Por acaso o Ent morreu? Ele nunca teria deixado um moleque partir sozinho numa missão tão perigosa.
-Ah, não. O Ent está vivo, mas ele não é mais o líder da ordem. Sem contar que eu me ofereci para acompanhar a Karin.
-É mesmo? – A expressão de Jack se encheu de desconfiança. – Algum motivo em especial?
-É uma forma de agradecer o apoio. Embora tenhamos lutado como inimigos, eu acho que me tornei mais forte e corajoso por causa dela.
-Então quer dizer que vocês lutaram. – Aos poucos a conversa despertava o interesse do ferreiro. – E quem venceu?
Thomas se sentia um pouco acanhado para entrar em detalhes, mas resolveu agradecer a hospitalidade respondendo de maneira honesta.
-Em venci as duas lutas, mas a última foi por muito pouco. Para falar a verdade, se lutássemos hoje, eu realmente acho que seria derrotado. A manipulação dupla dela é uma das mais poderosas que eu já vi.
-Entendo.
Ouvir que Karin havia alcançado um nível de força capaz de rivalizar o de um guerreiro da ordem foi algo inesperado para Jack. Era espantoso o quanto ela havia evoluído em questão de meses, e isso o enchia de orgulho. Contudo, essa mesma força a arrastaria para o conflito de uma forma ou de outra. Não havia mais volta no caminho perigoso que a garota trilhava e seu mestre sabia disso. Tudo que podia fazer agora era rezar para que os deuses a protegessem.
-A propósito. – Vulcano estava começando a se sentir desconfortável com o silêncio repentino.. – Por que o senhor ainda está aqui? Não é perigoso com todos esses demônios andando por aí?
-Nem tanto. – Jack respondeu com absoluta tranquilidade. – Este lugar sempre foi isolado, então eles provavelmente não se importaram em verificar se tinha alguém ou não. Por mim é até melhor, assim posso continuar me concentrando no meu trabalho.
-Sério? – O controlador de magma se viu perplexo, tentando imaginar o que poderia levar alguém a se dedicar com tanto afinco, mesmo diante da maior crise da história de Chesord. – Que tipo de trabalho é esse que o senhor está realizando?
-Eu-
Antes que pudesse dar sua resposta, a atenção do homem foi tomado pelo sentimento súbito de que algo estava errado. Mesmo que não fosse capaz de dizer exatamente do que se tratava, já tinha uma noção bem clara do que esperar.
-Escuta, moleque. Você é bom de briga?
-M-Mais ou menos, por quê? – Vulcano quase se engasgou diante da pergunta abrupta.
-Parece que vocês não são os únicos que decidiram vir me visitar hoje. Que tal me ajudar na recepção dos hóspedes?

Antes de sair, Jack se aproximou do balcão ao lado de sua forja. Dentre as várias armas dispostas sobre o móvel, ele escolheu uma manopla de metal negro e a equipou no braço esquerdo, experimentando a flexibilidade dos dedos. Em seguida, deixou sua cabana, sendo seguido de perto por Vulcano. Não foi necessário caminhar muito para que encontrassem a razão do mau pressentimento.
Dos nove demônios que subiam a encosta pelo lado oposto, um em particular se destacava através de sua aura terrível e ameaçadora. Conforme ele se aproximava, sua aparência peculiar se tornava nítida. Pele negra, lisa e viscosa, com emaranhados de tentáculos no lugar dos braços e pernas, e o corpo de formato humanoide coberto por um longo traje escuro.
-Bem que eu avisei a Karin que deveríamos ter sido mais cautelosos. – A frustração de Vulcano reverberava em suas palavras. – Nós fomos seguidos!
-Corvame não falou nada sobre ter um homem com eles. – Disse um dos demônios ao avistar o menino e o ferreiro.
-Não importa, matem todos que encontrarem! – Declarou a aberração tentacular. Em resposta a isso, Vulcano imediatamente materializou sua rapieira e se colocou à frente de Jack, preparado para a batalha.
-Fique atrás de mim. Eu vou protegê-lo, senhor.
-O que significa isso? Essa criança acha mesmo que é capaz de lutar contra demônios? Eu deveria esmagá-lo até a morte por esta falta de respeito!
Com uma velocidade espantosa, os tentáculos que formavam o braço esquerdo do monstro se esticaram, imobilizando Vulcano. Ignorando o garoto, os demais inimigos avançaram, cercando Jack. Então, um deles atacou, abrindo sua boca repleta de presas longas e afiadas para abocanhar sua presa.
-Não!
O grito de Vulcano se perdeu no meio do som de dentes se partindo e de um grunhido de dor profunda. O demônio caiu atordoado no chão enquanto Jack, com seu punho esquerdo ainda erguido, censurava o manipulador.
-Eu não sou tão fraco assim para precisar ser protegido! Agora trate de acabar com esse monstro nojento, que eu vou mostrar para esses capachos aqui quem é Jack Faith!
Vulcano suspirou. Realmente estava se preocupando à toa, mas a reprimenda o ajudou a recuperar o foco. Chamas irromperam nos tentáculos que o envolviam, obrigando o demônio a libertá-lo. Então, brandindo sua arma, o garoto iniciou seu contra-ataque, determinado a não fazer feio na frente de Jack.
-Deixa comigo!



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