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História Roses and Demons: Hells Flower - Lágrimas e Veneno


Escrita por: JulianVK

Capítulo 29 - Lágrimas e Veneno


Sentada diante da fogueira, Priscilla Minson, a mulher conhecida como Viper, empunhava sua cimitarra, balançando-a suavemente numa tentativa de apaziguar a própria inquietude. A alguns passos de distância, do outro lado da fogueira, Elbio moldava sua magia na forma de uma faca comprida, cortando a parte inferior do manto de Carbon e separando uma tira retangular.
Ao terminar, os dois então se debruçaram sobre os mantimentos recebidos de Madame Papillon. Contando com a possibilidade de que Viper precisasse retornar ao esconderijo, eles começaram a avaliar o que poderiam deixar com a garota, caso o regresso fosse realmente necessário.
Sem ter em que ajudar, Scythe aproximou-se da controladora do veneno, sentando-se ao lado dela. Seu rosto pálido, iluminado pelas labaredas, tinha traços de preocupação. Uma sensação de incerteza, semelhante à que havia sentido quando abandonou o bosque Sinelth a mando de Inferno, sufocava seu coração.
-Não seria melhor se nós todos voltássemos com você? – Disse ela, timidamente. – Se continuarmos nos dividindo desse jeito, a missão vai ficar ainda mais perigosa.
-É verdade. – Concordou Viper. – Mas o Elbio acabaria indo sozinho de qualquer jeito. Só o que ele consegue pensar agora é na segurança daquelas bruxas.
Não havia muito o que retrucar. Scythe sabia que àquela altura já não seria mais possível dissuadir o rapaz, portanto decidiu fazer uma pergunta diferente.
-Tem certeza que você vai ficar bem?
-Certeza eu não tenho, mas espero que sim. Só os deuses sabem o que me espera quando eu voltar para aquele portão. – Tais palavras, entretanto, apenas aumentavam a aflição de Scythe. Percebendo isso, Priscilla rapidamente se corrigiu. – Mas é claro que não vão me derrubar tão fácil! Eu só aceito morrer no dia que o meu corpo não aguentar mais o próprio veneno! Até lá vou aproveitar bem a vida que tenho.
Um silêncio penoso se seguiu, alimentado pela melancolia da jovem de cabelos cinzentos. Preocupada, Viper perguntou:
-O que foi, Scythe?
-Para falar a verdade, quando me enviaram para conter as feras do bosque Sinelth, eu achei que fosse ficar lá para o resto da vida, isolada do mundo. Tanto que por muitos anos, meu único amigo foi um dragolagarto que eu apelidei de Bog.
-Scythe...
-Por causa disso, meus modos são horríveis e eu nem sequer sei como me relacionar direito com as pessoas.
-Calma, falando desse jeito até parece que você é uma selvagem. – Priscilla riu. – Fique tranquila, Scythe, comparada com alguns babacas da ordem você é um verdadeiro amor de pessoa.
-É sério? – Espantou-se a manipuladora.
-Com certeza. – Viper então fez uma careta. – Fico com raiva só de lembrar daquele metido do Sol.
Um sorriso minúsculo e tímido de alívio se desenhou nos lábios de Scythe, embora sentisse um pouco de pena do controlador das estrelas. Não parecia haver um único membro na Rosa Branca que realmente gostasse dele.
-Na verdade, o que eu realmente queria lhe dizer é que, mesmo não fazendo muito tempo que nos conhecemos, isso me deixou muito feliz. Eu-
-Tudo pronto, Viper. – Carbon interrompeu Scythe, estendendo um embrulho para a garota de cabelo esverdeados. Era um pacote pequeno, enrolado com o tecido de seus próprios trajes. – Aí tem um pouco de água e comida, e também uma dose daquele remédio que recebemos das bruxas.
-Obrigada, Carbon, isso vai ser o suficiente. – A manipuladora se ergueu de imediato, dispensando a cimitarra e pegando o pacote.
-Tome cuidado. Não podemos nos dar ao luxo de ficar perdendo membros. – Disse o homem, sério.
-Eu sei disso, fica tranquilo. – Em seguida, Priscilla virou-se para Scythe, que continuava sentada. – Olha, Scythe, eu preciso ir salvar o Inferno agora, mas você também não precisa se preocupar, está bem?
-Hã?
-Você pode não acreditar, mas também é a primeira amiga que fiz desde que entrei para a Rosa Branca. Eu prometo que ainda vamos nos divertir muito juntas, mas agora o Elbio e Carbon precisam da sua ajuda. Você é a mais forte entre todos aqui e precisa se manter focada.
-E-Eu?! – Inesperadamente, um leve traço de cor tingiu o rosto da controladora da morte.
-Fica de olho nos dois e não deixe eles morrerem! – Viper deu uma piscadela e então voltou-se para o lado oposto. – Fui!
Sem perder mais um instante sequer, ela disparou na direção onde havia visto o pilar dourado alguns minutos atrás. De certa forma, seu coração estava aliviado por saber que Scythe se importava tanto, mas naquele momento apenas um pensamento tomava conta de sua mente. Em toda a sua vida miserável, somente duas pessoas lhe estenderam a mão, oferecendo alívio para as dores do passado. Agora que uma delas estava em perigo, Priscilla não mediria esforços para salvá-la.

Não havia mais vestígio do Portão do Sacrifício no mundo mortal. Em seu lugar, sobre a relva, restava apenas um homem desacordado: Inferno. Aos poucos, um barulho suave, como sussurros distantes, começou a se espalhar pelo ambiente, aumentando em intensidade aos poucos até se tornar um coro de sons sibilantes. Então, um demônio alcançou o líder da Rosa Branca.
Seu corpo, de formato humanoide, era envolvido por dezenas de víboras que se contorciam e balançavam devagar, enroladas ao redor dos músculos. Espalhando-se pelos braços, pernas, torso e o pescoço, elas cobriam praticamente todo o monstro, exceto pelas mãos e pés esverdeados e escamados, assim como o rosto hediondo, sem cabelos e com olhos de predador.
Enquanto ele observava Inferno com curiosidade, outros demônios se aproximaram também, espalhando-se ao redor.
-O que aconteceu aqui, Asudem? – Perguntou um deles.
-Se bem me lembro, foi aqui que o mago colocou aquele portão. – Respondeu a besta serpentina.
-Mas eu não vejo portão nenhum... – Foi o comentário de outro.
-Evidentemente porque este humano deve ter conseguido destruí-lo, seu imbecil.
-O maldito ainda está respirando! – Exclamou ainda outro. – Vamos matá-lo!
-Não, eu tenho uma ideia melhor. – Disse Asudem novamente com sua voz tranquila, mas carregada de crueldade. – Um humano qualquer não teria condições de destruir um portão demoníaco. Este aqui deve ser especial.
-Isso não é mais motivo ainda para matá-lo?! – Protestou o demônio que havia sugerido tal ideia.
-Ferido desse jeito ele não é uma ameaça. Na verdade, talvez até acabe morrendo no meio caminho, mas vamos levá-lo assim mesmo. Algo me diz que o mago vai se interessar nele.
Tão logo quanto terminou de dizer aquelas palavras, o demônio serpente virou o rosto para a esquerda e então saltou, desviando de um ataque. Os demais também se esquivaram, exceto por dois, que se viram encharcados por um líquido estranho.
O efeito foi rápido, e logo os demônios atingidos pelo veneno começaram a se debater no chão.
Aproveitando a confusão dos inimigos, Viper saltou de trás do arbusto que a ocultava, decepando a cabeça de um deles. Ao fazer isso, contudo, sua vantagem se esgotou por completo. Sob a luz tênue da lua, os demônios que restavam moviam-se como sombras, tornando difícil acompanhar seus movimentos. Para eles, dotados de sentidos sobrenaturais, a escuridão não representava impedimento algum.
Numa tentativa de reduzir a desvantagem numérica, Viper novamente lançou jatos de veneno, mas não conseguiu atingir nenhum inimigo. Eles então avançaram, atacando com suas garras e punhos, forçando a manipuladora a assumir uma postura mais defensiva. Sem espaço para desferir golpes significativos com a cimitarra, ela buscava atingi-los com ataques venenos, mas os demônios se mostravam cautelosos e elusivos, evitando cada uma de suas tentativas.
Mas mesmo com a batalha sendo levada a um impasse, logo se tornou evidente que dentre os adversários da manipuladora o mais perigoso era o demônio serpente. Sorrateiro, ele procurava constantemente por brechas em sua guarda, atacando a partir de ângulos difíceis de defender. Sua oportunidade então surgiu quando Priscilla desferiu um golpe em arco, tentando afastá-lo.
De dentro da boca escancarada de Asudem saltou uma víbora ainda maior que as que cobriam seu corpo, cravando as presas no braço da garota. Em questão de segundos, seus movimentos paralisaram e ela caiu no chão, incapaz de continuar lutando. A toxina se espalhava rapidamente pelo corpo, ardendo em suas veias.
-Pronto, isso vai dar um jeito nela. – Disse o demônio, calmamente.
-Vamos levá-la também? – Perguntou um de seus companheiros.
-Não, essa humana nojenta não vai durar muito tempo. Deixem que morra agonizando, é o que ela merece. – Eles respondeu, frívolo. – Agora recolham o outro e vamos embora. Ainda temos um longo caminho até a capital.
Em meio aos grunhidos de Viper, ouviu-se o som de Inferno sendo erguido da grama e então passos que se afastavam lentamente, junto com o sibilar das serpentes. Porém, antes que os demônios pudessem cobrir uma distância significativa, a percepção afiada de Asudem o alertou, permitindo que escapasse outra vez de um ataque pelas costas.
O mesmo, contudo, não podia ser dito de seus aliados. Um deles, com as costas banhadas de veneno, já se contorcia, enquanto o outro, que carregava Inferno em seus ombros, teve a cabeça atravessada pela lâmina de uma cimitarra. A arma então desapareceu, retornando para as mãos da dona.
Contrariado, Asudem virou-se para ver que Viper, mesmo com o corpo tremendo de dor, estava em pé. Os olhos da garota transbordavam de lágrimas, mas ela o encarava com uma expressão feroz.
-Pode esquecer, jararaca. Ele vem comigo!
-Maldita humana...



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