História Rotina - Crônica de Clarisse

R O T I N A

Capítulo Único

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Clarisse desperta e chateada desliga o persistente alarme desejando tê-lo obedecido nos primeiros toques; cinco minutinhos custam caro.

Não dormiu quase nada e está atrasada, saí as pressas e sem comer. Seu ônibus hoje está mais lotado que o de costume incomodada repara que também o céu está nublado e pra variar, pela segunda vez no mês, seu chefe lhe dá uma bronca. No almoço não pôde almoçar, pois furtaram sua marmita e sabe que se protestar seu chefe não irá gostar então volta a trabalhar, de mal humor, mas trabalha a fim de equilibrar suas contas; uma fiel malabar.

No fim de seu expediente descobre que as companhias de ônibus entraram em greve, cortesia de um dia ruim, sem opções tem de caminhar e ao anoitecer entra em seu lar esparramando-se em seu sofá, logo um súbito desejo cresce e ela se inclina para acarinhar sua gata que a rodeia, mas a mesma corre de seu afago então algo lhe surge a mente: O que aconteceria se não mais a alimentasse... ela ainda ficaria ou se mandaria? Sem gana de obter resposta a sua dúvida se levanta e mais uma vez alimenta sua Tita.

No banho a mesma cantoria se inicia e quando Clarisse se esquece da letra de alguma das canções ela a substitui por um "na na na na". Pela última vez a lâmina de barbear desliza suavemente por sua perna retirando no processo os últimos resíduos de sabão. Clarisse se fita em seu pedaço de espelho quebrado, seu semblante está péssimo e ela certamente não gosta do que está refletido ali, mas isto não faz com que critique as demais e outra vez algo lhe surge a mente: O que aconteceria se pelo resto desse dia todos buscassem um pouco mais de compreensão? Para ela não haveria mais tanta discriminação.

Agora limpa, porém fatigada, bem mais calma, sem fome ou desorientada Clarisse se deita em companhia de Tita para repousar, torcendo para que o amanhã seja melhor que o hoje, mas, ainda assim, deseja que venha o que tiver de vir, porque sabe que aguenta muito mais.