Enquanto aquela névoa abaixava, as figuras ficaram mais nítidas e eu não aguentei segurar um sorriso quando vi Roxanne. Mas minha surpresa ficou focada na roupa que ela usava. Era um traje de combate ou algo parecido com isso.
– Ora, ora... Olha só quem chegou para a nossa festinha! – Drake comemorou.
– Festinha? – Ela andou para frente sem tirar os olhos dele. – Você não vai conseguir o que quer, não hoje.
– É o que você acha. – Sorriu. – Eu vou ter o que quero sim, nem que pra isso eu tenha que matá-lo. – Apontou para mim.
– Fique longe dele. – Roxanne deu um salto e parou junto de mim. – Você nunca mais encostará em Liam e nem tentará continuar com as suas experiências ridículas, ou eu serei obrigada a pará-lo.
– E como pretende fazer isso? – Observei Drake passar algo para Carol e ele andou para o lado. – Vai me matar?
– Se for preciso, eu irei.
– Por que você simplesmente não colabora com a gente? – Ele a olhou. – Queremos o seu bem e o bem de toda a sua raça.
– Vocês querem acabar com nós achando que somos monstros, mas os verdadeiros e únicos monstros que vemos são vocês! – Berrou e ele riu.
– Tão inocente, garota. – Sua cabeça balançava de um lado para o outro. – Mas tudo bem, será rápido e você nem sentirá. – Olhei para o pé de Roxanne e vi Carol surgindo como humana, depois de rastejar até ela.
A mesma sacou uma seringa, porém, Roxanne foi mais rápida e com um chute, mandou Carol para a parede e lá, ela se tornou cobra. Roxanne pulou para trás enquanto Drake vinha em nossa direção. Ela ergueu a cadeira comigo ainda preso e quando ele chegou perto o bastante, chutei seu rosto, mas nem isso parou o moleque.
Fui posto ao chão e Roxanne passou para frente, indo para uma luta corporal com Drake. Mesmo sendo uma mulher, ele não pegou leve. Eram socos e chutes, até que o mesmo a derrubou e isso me surpreendeu. Como assim Roxanne havia sido derrubada?
– Você é tão inútil, garota. – Ele andou ao redor dela. – Nem sei porque te queremos de verdade. – Drake se abaixou e a segurou pelo pescoço. – Você é só mais uma no meio desses idiotas.
Os olhos brilharam e Roxanne gritou de ódio. Suas pernas se enrolaram ao braço de Drake e viraram, causando em um estralo junto a um gemido de dor do idiota. Ela pôs os pés sobre o peito dele e o empurrou, fazendo seu corpo ir até o teto. Roxanne levantou e quando Drake despencou, sua mão se fechou e foi de encontro com o rosto dele. De longe, eu pude ver 3 dentes e sangue voando de sua boca. Ele caiu ao chão e ela correu para Carol, que ainda como uma cobra, tentava fugir. Roxanne a puxou pelo rabo, segurou a cabeça e apertou, trazendo Carol de volta. Ela a aproximou do tonel e bateu seu crânio no metal, até a mesma desmaiar.
Roxanne sorriu ao olhar para os dois e caminhou para mim. Ela soltou as correntes e me pôs de pé, depois, me abraçou.
– Estava com saudades. – Falou no seu tom infantil. – Pensei que nunca iria te encontrar.
– Não sabe o quanto agradeço por te ver aqui, mas podemos ir? – Pedi e ela riu.
– Tudo bem, Li. – Ela segurou minha mão e fomos até o buraco na parede. De lá, avistei que estamos muito longe do chão de terra, muito mesmo.
– Vamos pela porta? – Sugeri.
– Em menos de 30 segundos, essa sala estará lotada de caras com armas e prontos para atirar em nós. – Seus ombros balançaram. – Confie em mim.
– Não posso fazer isso! É loucura. – Ouvi uns barulhos e meu coração disparou. – Não dá, Roxanne. – A olhei. – Não mesmo, sem chance.
– Medroso. – Riu e foi um pouco para trás.
– O que vai fazer? – Franzi o cenho.
– Te dar um empurrãozinho. – Ela pôs as mãos em minhas costas e me impulsionou para frente. Como reflexo, virei, segurei seus pulsos e caímos para aquele terreno enquanto tiros eram disparados contra nós.
Eu só focava no barulho e não sabia o que era pior. Estar caindo ou há qualquer momento o corpo perfurado por uma bala. Parecia que nenhum dos meus pensamentos influenciavam em nada para Roxanne porque ela ria e até dava piruetas. Assim que chegamos bem próximos do chão, comecei a berrar para ver se ela fazia algo e nem isso chamou sua atenção.
Encolhi meu corpo como pude e fechei os olhos. Senti algo macio abaixo de mim e levantei as pálpebras com pressa, já esperando ser o céu, mas pelo contrário, era uma estrutura de plástico, como aqueles castelos pula-pula de festa de criança.
– Tinha que ver a sua cara. – Roxanne pulou nele até ir para o lado de fora.
– Como essa porra parou aqui? – Apontei para o negócio e vi aquele menino que “salvei” no laboratório aparecer do lado dela.
– Te apresento meu novo amigo, Elliot. – Ele sorriu. – Conversaremos depois. – Ela me puxou pela mão e o menino sumiu. Começamos a correr para longe daquele terreno.
– Poderia ter me trazido sapatos, pelo menos. – Resmunguei.
– Cala a boca, Liam! – Foi rude. – Já não basta ter que te salvar dessa pocilga, ainda tem que te ouvir reclamando.
– Não estou reclamando, só falando que sapatos seria uma boa.
– Fique quieto. – Revirei os olhos e continuamos a correr.
Saímos numa rua e fomos para o lado direito que deu em uma ponte, onde por baixo passava um rio. Olhei para o sentido que havíamos vindo e tinha um batalhão de carros em alta velocidade na nossa direção.
– Roxannne? – Puxei seu braço.
– Espere. – Ela estava debruçada na beira da ponte.
– Esperar? Você está vendo aquilo? – Virei sua cabeça para eles.
– Hm... Espere. – Repetiu e voltou a olhar a água.
– Tem como você sair do seu mundinho, ou seja, lá o que é que está pensando e dar um jeito de nos tirar daqui? – Precisávamos sair logo daí, ou morreríamos.
– Como você é... Aquela pessoa sem tempo... – Ela me olhou e colocou a mão no queixo.
– Depois você lembra disso! – Berrei quando avistei um cara saindo no teto com uma arma em mãos.
– Impaciente! – Sua mão segurou meu braço e ela subiu no ferro da ponte. – Você é muito impaciente. Sobe. – Mandou.
– Subir? – Assentiu e balançou meu braço. – De novo não.
– Cristo, que homem frouxo! – Roxanne desceu e suspirou. – Espero que seja leve.
– O que? – Ela enrolou os braços em minha cintura e me jogou por cima de seu ombro. – Me coloque no chão!
– Prenda a respiração. – Subimos no ferro da ponte e tiros começaram a ser disparados.
– Roxanne!
Ela se jogou e meu estômago revirou, mesmo não havendo tanta coisa dentro dele. Essa queda foi mais rápida – deve ser porque me acostumei e em segundos, já havíamos caído na água. Eu fiquei meio desnorteado e quase me afoguei, mas assim que agarrei o pulso de Roxanne, me acalmei um pouco. Ela não parecia afobada, nem nervosa com o fato de termos pulado de uma ponte com um batalhão de pessoas que poderia fazer o mesmo e acabar com nossas vidas. Como é que ela podia manter tanta calma num momento daqueles?
O rio nos levou por longos metros e parecia que nunca teria fim, até que de longe avistei uma enorme lancha e fomos ficando cada vez mais próximos dela. Roxanne se agarrou numa corda e subiu até a parte de dentro, eu fiz o mesmo e assim que senti o solo, deitei, cansado. Ouvi a risada da morena ao meu lado e mostrei o dedo do meio para ela. Minha vida nunca teve tanta adrenalina quanto agora.
– Você é fraco demais. – Comentou.
– Eu só não estou acostumado. – Coloquei as mãos no rosto.
– E nunca estará. Essa vida não é para você. – Afastei meus dedos dos olhos e a vi se levantando. – Vem, você precisa de um banho, comida e roupas limpas. – Roxanne me ajudou a levantar.
Andamos para a parte de dentro e encontramos Louis e Rosa em uma espécie de sala.
– Estão um minuto atrasados. – Louis falou e Roxanne balançou os ombros.
– É culpa dele. – Apontou pra mim e revirei os olhos. – Não estava disposto a situações de risco.
– O que estão fazendo aqui? – Indaguei com a minha cabeça confusa e um pouco tonta.
– Viemos te resgatar, não está na cara? – Louis deu um tapa em meu rosto.
– Por que vieram junto com ela?
– Bom, essa já é outra história. Quer ouvir agora ou depois?
– Agora.
– Depois. – Rosa respondeu e a olhei. – Vai por mim.
– Vai por ela. – A dupla disse junto e eu senti uma forte tontura, até que tudo apagou de vez.
(...)
Respirei fundo quando a consciência voltou e me vi – já vestido – deitado em uma cama. Alisei o suéter que cobria meu peito e virei no colchão, ficando de frente para uma porta que se abriu com pressa e Roxanne entrou sorrindo enquanto trazia uma bandeja em mãos. Ela sentou ao meu lado, deixou a bandeja em um travesseiro e me fez sentar.
– Coma tudo. – Recebi o prato que era uma bela macarronada.
– Obrigado. – Dei algumas rápidas garfadas e tomei um pouco do suco que veio junto a bandeja.
– Como se sente agora? – Ela cruzou as pernas, apoiou os cotovelos nos joelhos e o queixo nas mãos.
– Um pouco mais forte. – Eu falava de boca cheia e ela ria.
– Parece uma criança, Li.
– Eu fiquei quanto tempo naquele lugar? – Tinha perdido a noção do tempo.
– Uns 3 dias. Não sei como aguentou passar fome. – Ela limpou os cantos da minha boca.
– Eles tentaram me alimentar, mas era uma mistura muito louca que eu decidi não experimentar.
– Que bom. – Roxanne voltou a posição. – Pode perguntar, Liam. – Suspirou.
– Como me encontraram? – A olhei sério.
– Elliot conseguiu escapar de Drake na empresa e Niall o trouxe até nós. Na casa de Louis, conversamos sobre o seu “sequestro” e decidimos te salvar. – Ela riu. – Isso foi engraçado porque não sabíamos aonde você estava, mas ela sabia.
– Ela quem? – Franzi o cenho e Roxanne apontou para a porta com a cabeça. Fitei a mesma e lá estava Rosa. – Quer dizer que...
– Sim. – Rosa respondeu. – Foi um pouco difícil, mas eu consegui visualizar o local que estava entre uma névoa e outra.
– Então, você é a bola de cristal do grupo? – Ela fechou a cara. – Me desculpe.
– Se acostume com as piadas. – Roxanne disse dura.
– Ser o que sou não é ser uma bola de cristal, Payne. Foi difícil para mim porque parecia que algo me impedia de te encontrar e creio que seja a sua falta de consciência. Mas eu foquei em seus detalhes. Os detalhes que ficaram marcados em minha mente... – Fechou os olhos por segundos e sorriu. – Então, te encontrei.
– Obrigado, eu acho. – Sorri de lado.
– Não precisa agradecer, não deixaria um amigo de Louis na mão. – Ela andou para a porta. – Sem mais piadas, ou te deixarei morrer na próxima.
– Tudo bem. – Rosa saiu e olhei Roxanne.
– Termine de comer. – Pediu. – E pare com as piadas.
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