História Roxanne - Hulk.

Liam P.O.V

Continuei fitando aquela garota que devorava todas as frutas a sua frente. Ela aparentava estar com a fome dos sete leões adormecidos da era glacial. Não via a hora que aquela comilança acabasse e ela, finalmente, me dissesse algo, até porque me deve isso. Não se entra na casa de alguém no meio da noite, come sua comida e vai embora sem ao menos falar o porquê disso. Tudo bem que é meio óbvio, ela deve ser uma andarilha que ficou com fome e resolveu invadir minha casa. Preciso reforçar a segurança desse lugar, não quero que isso aconteça novamente.

– Oi... – Ela me olhou pelo canto dos olhos e continuou comendo. – Ahn... Me chamo Liam. – Estendi a mão e a mesma veio pra frente como um cachorro que te cheira pra ver se vai te dar intimidade ou não. Mas diferente do animal, que já se amiga com você, ela recuou. – Não tenha medo de mim, não vou fazer mal algum a você. – Seus olhos giraram para o lado direito e a segui. Ela encarava o taco de beisebol. – Ah, eu não iria te bater com aquilo. – A olhei. – Talvez. Eu achei que era um animal, me perdoe. – Ela começou a rir. – O que foi? O que é engraçado?

– Você. – Pela primeira vez, ela abriu a boca e não comeu nada. – Você é engraçado.

– Obrigado. – Sorri. – Você não é daqui, né?

– Não. – Seu sotaque é bem carregado, sinto que ela veio da Rússia. – Isso não é verdade!

– Como? – A olhei assustado.

– Nada. Eu só... – Ela olhou para o chão. – Preciso ir pra rua... Casa. Tchau. – Suas pernas se flexionaram e ela se ergueu, mas segurei sua mão que estava fria como o polo norte.

– Espere. – Me levantei. – Se acalme, vamos conversar um pouco. Você me parece doente, esta fria. Como se chama? – Ela ficou calada. – Dá onde veio? – Novamente, nenhuma palavra. – O que aconteceu com você? Com a sua família?

– Cale-se! – Sua voz se engrossou e suas mãos seguraram meus braços com uma força que eu nunca havia visto em uma mulher. Talvez, fosse o contato de suas unhas pretas em minha pele e eu delirei um pouco achando vir dela. – Por favor, me deixe passar essa noite aqui, apenas essa noite.

– Tudo bem. Pode ficar aqui. – Sorri. – Como posso te chamar?

– Por que quer saber meu nome? – Ela me soltou e se afastou com passos lentos.

– Não preciso saber seu nome. – Olhei para meus braços e eles tinham marcas dos dedos dessa garota. – Posso te chamar de Hulk? – A olhei e ela franziu o cenho. – Hulk, aquele monstro forte e verde dos Vingadores.

– Vingadores? – Ela perguntou toda confusa e balancei a cabeça com negação.

– Esqueça, Hulk. Bom, você pode ficar aqui sim, tenho um quarto de hóspedes. – Sorri. – Vem comigo.

Andei na frente e ela veio logo atrás. Algumas vezes, a olhava e ela estava alisando as paredes. Um ato bem estranho, admito que me deixou um pouco confuso. Essa garota surgiu aqui do nada e parece que é drogada, sei lá, não fala coisa com coisa, tem uma força incrível e aparenta não ter tomado banho por dias. Chegamos ao quarto que fica no andar debaixo, ele é bem simples em questão de arrumação e o banheiro está localizado a frente do mesmo.

Acho que para ela está bom, a mesma disse que só deseja passa ruma única noite aqui e para ser bem sincero, espero que ela não minta. Não que eu esteja querendo que ela vá embora, mas se já é arriscado abrigar pessoas que te conhecem, imagina estranhos que nem ao mesmo sabe o próprio nome?

– Você tem toalhas aqui. – Puxei a gaveta da pequena cômoda. – E o banheiro fica ali na frente. – Apontei para o mesmo. – Você pode usá-lo sem preocupações, eu não venho aqui muito e se ainda estiver com fome, posso preparar algo para você comer. – A olhei e ela estava encarando a parede como se houvesse algo muito interessante ali. – Hulk?

– Oi? – Ela virou. – Oi! – A mesma sorriu feliz e acenou diversas vezes. – Oi.

– Hm... Eu vou fazer algo para que coma, tome um banho e vá para cozinha, okay?

– Tá bom. – Seus pés saltitaram até a cama, a fazendo se jogar nela. – É boa. – Ela se remexeu.

– Obrigado... Eu acho. – Fui até a porta. – Não se esqueça de ir lá. – A vi assentindo.

Sai do quarto e voltei a cozinha, ouvindo a risada daquela garota que é muito parecida com a de uma criança em uma tarde de verão no parque. Juntei as coisas que estavam no chão e joguei os restos no lixo. Por essa pequena ação, percebi que ela havia comido muito mais do que pensei de início. Peguei uma panela e um pacote de macarrão instantâneo, era a única comida que poderia ser feita ao tempo de a menina tomar banho. Sem contar que eu já estava vindo de um longo dia para procurar coisas e fazer para uma desconhecida. Eu seria um péssimo voluntário em projetos sociais.

Finalizei o alimento e Hulk entrou na cozinha, ela estava vestindo um macacão de frio na cor rosa, que, provavelmente, estava naquela mochila. A mesma sentou à mesa e a servi do macarrão, logo, me acomodei a cadeira do seu lado. A garota começou a comer com pressa e eu apenas a observava. Hulk estava sendo um grande enigma para mim, eu sentia necessidade anormal e poderosa de saber sobre sua vida para ter um motivo da invasão a minha casa. Mas o seu olhar denunciava que eu nunca teria tais respostas. Não pela falta de perguntas porque eu as farei com toda a certeza desse mundo, e sim, por um medo que ela deve carregar.

Ela terminou de comer e me agradeceu, eu apenas sorri e pedi que a mesma fosse descansar. Mesmo com o banho e a alimentação, a mesma ainda aparentava estar altamente esgotada, assim como eu. Levantamos e cada um seguiu o rumo para os quartos, adentrei ao meu e me joguei na cama, caindo no sono, em seguida.