História Roxanne - Dia Estranho.

Despertei e ao parar para analisar o local que estava, percebi ser minha cama. Tentei me mexer, mas não deu muito certo. Infelizmente ou não, eu estava apenas de roupa intima e com faixas sobre o corpo. Minha cabeça latejava muito e eu só queria saber se era culpa da ressaca ou do ocorrido na noite passada. Na verdade, eu nem sabia se aquilo era real, ainda mais os olhos brilhantes. Seria Hulk uma E.T? Um espirito sobrenatural? Ou apenas o álcool subiu a minha mente?

Senti um cheiro forte de café e virei a cabeça devagar, vendo Hulk entrando no quarto. Ela andava devagar e ainda estava com o pijama, era uma camisola cinza que arrastava no chão e trazia uma bandeja. A mesma sentou ao meu lado e ao deixar as coisas sobre o criado-mudo, ajudou-me a fazer o mesmo. Encostei as costas na cabeceira e fiquei a olhando enquanto suas mãos moviam-se para a bandeja e depois, para o meu colo. Ela evitava me olhar e fazia o mínimo barulho possível. Então, a noite passada não era uma ilusão minha. Hulk colocou minhas mãos sobre as coisas e levantou-se.

– Hulk? – Segurei seu dedo antes da mesma afastar-se e ela ficou parada, olhando para frente. – Nós precisamos conversar.

– Não precisamos. – Ela respondeu baixo. – Por favor, me solta.

– Sente comigo. – A puxei e Hulk acomodou-se ao colchão. Sua cabeça continuou baixa. – Pode explicar o que aconteceu? – Comecei a comer sem tirar os olhos da morena.

– Não aconteceu nada. – A voz grossa não me surpreendeu.

– Hulk, eu preciso saber o que aconteceu ontem! – Fiquei irritado sem motivos. – Você está vendo o que fez comigo?

– Eu sei, Liam, eu sei! – Ela berrou e levantou. – Me desculpe... Eu vou embora.

Ela saiu correndo e com a pressa que tive em ir atrás da mesma, derrubei tudo no chão e queimei meu pé com o liquido fervente. Praguejei-me pelo ato e junto as dores do corpo todo, segui ao encontro de Hulk. Ao chegar em seu quarto, a vi colocando as roupas dentro da mochila velha enquanto soluçava. Segurei seu braço e ao se virar, senti uma dor enorme em meu coração. Não posso fazer isso com ela, por mais que Hulk seja uma anormalidade. Eu devo ajudá-la.

– Hulk não fique assim, por favor, me perdoe. – Alisei o rosto dela com o polegar.

– Eu preciso ir embora, não faço bem a você. Eu sou eu e você é diferente de mim. – Ela chorou mais.

– Todos nós somos diferentes e você não sabe o quanto isso é bom. No mundo que vivemos, você ser você e eu ser eu, é totalmente normal e legal. Imagina se fossemos todos iguais e o quão chato seria nossa vida. – Sorri e ela fez o mesmo de forma boba.

– Mas o meu diferente não é legal, não é bom.

– Aí que você se engana, Hulk. Todos os diferentes são bons. – Beijei sua testa e a abracei. – Relaxa, não foi nada. Fique em paz, garota.

– Me desculpe mesmo pelo que fiz, eu não queria te machucar. – Balancei a cabeça para tentar confirmar que eu estava bem. – Mas agora, vou cuidar de você. De volta para o quarto, Liam.

– Seu pedido é uma ordem.

Ela riu e com sua ajuda, voltei para o quarto, onde me desculpei pela bagunça quis fiz ao derrubar a bandeja. Mas como o anjo que Hulk é, ela deixou-me a cama e limpou tudo, antes de ir atrás de uma nova refeição para mim. Eu realmente não sei o que ela tem ou o que é, mas estou curioso para descobrir.

Hulk retornou e sentou ao meu lado, vindo a fazer com que eu comesse. Ela aparentava estar melhor, mas seu olhar ainda era triste. Imagino o que deve estar passando em sua cabeça e espero que não continue com a ideia de ir embora. Eu a tornei minha responsabilidade, como se fosse uma filha e farei o possível para cuidar bem dessa humanazinha. Terminei de comer e Hulk avisou que Louis havia ligado, perguntando se iriamos ao beisebol. No meu estado, isso seria suicido, mas é bom levá-la para dar um passeio.

– E o que respondeu para ele? – A olhei enquanto a mesma ajeitava tudo na bandeja.

– Assim que o dorminhoco acordasse, retornaria com a confirmação ou não de nossa ilustre presença. – Ela sorriu abertamente. – Meu vocabulário está mudando, Li. – Seus ombros encolheram e uma risadinha escapou de sua boca. – "Li".

– Gosto de "Li". – Alisei seu braço e seus olhos focaram em mim. – Diga a ele que iremos, você precisa se divertir.

– Tudo bem, Li. – Hulk levantou-se com a bandeja. – Consegue tomar banho sozinho?

– Claro que sim. – Disse num falso tom de raiva e sorri. – Vá se arrumar, nos vemos em breve.

Ela saltitou para longe e eu, cheio de dores, segui até o banheiro, onde tomei uma ducha quente e relaxante. Até que as faixas ajudaram em algo, elas estavam com alguma pomada e me "curaram" de certos incômodos. Sai do banheiro e vi acima da cama uma muda de roupas e um bilhetinho: "Eu que escolhi."

Ri olhando para o papel e vi a roupa. Era uma regata branca com símbolo cinza, bermuda jeans e boné vermelho. Vesti minha peça intima e as roupas, depois calcei tênis pretos e desci procurando as chaves do carro e a carteira. Ao encontrar, ouvi a voz de Hulk e virei, vendo-a. Ela estava encantadora e trajava um conjunto de regata e calça legging até os joelhos preto com listras brancas e um boné também preto prendendo seu rabo de cavalo junto a tênis azuis.

Dei um assobio e ela riu envergonhada. Fiz um sinal e seguimos para a garagem, entramos ao carro e dei partida rumo ao campo de beisebol. Hulk irradiava felicidade agora e eu gostava tanto de observar seu sorriso que tomava cuidado para não bater.

Chegamos ao campo e ao entramos, os meninos já estavam no aquecimento. Os cumprimentamos e nos distribuímos sobre o campo, e como Hulk não sabia jogar, ela ficou sentadinha torcendo. Uma graça. O jogo teve seu início e eu estava com rebatedor enquanto Louis como receptor, Niall como arremessador e Harry como defensor externo. As primeiras rodadas foram ótimas, bons pontos e coisa tal. É meio difícil de jogar apenas com quatro pessoas, mas a gente se vira e dá certo.

Chegou a vez de Harry ser o rebatedor e odiamos quando é ele. Sua força é de mandar a bola para a lua. Louis jogou e assim que o taco encostou a bola, não sei se foi sorte, mas ela seguiu para o meu lado. Dei alguns pulos e acabei caindo ao chão. Ao meu ver, a jogada para mim estava perdida, mas algo me surpreendeu muito mais do que o esperado.

Hulk saltou e voou! Sim, ela voou! O pulo foi tão alto que conto uns 25 metros ou mais e sem nenhum auxilio. Ela foi ao encontro da bola e a pegou, descendo com leveza e parando ao meu lado.

– Toma, Li. – Ela me entregou a bola, mas eu não conseguia falar nada e esse ato a constrangeu. – Anda Li, pega!

Tomei a bola de seus dedos e ela saiu correndo para longe de mim. Levantei ainda sem acreditar na cena e segui atrás da mesma. Parece que o "dia estranho" nunca terá fim. Gritei seu nome várias vezes, não só pelo campo, mas também pelos outros lugares, inclusive o estacionamento e depois de tanto procurar, a encontrei sentada próxima a roda traseira esquerda do meu carro.

– Hulk? – Levantei seu rosto e as listras pretas e brancas que ela havia feito nas bochechas para torcer estavam escorrendo. – Por favor, não chore.

– Por que devo segurar o choro? – Havia revolta e magoa em sua voz. – Liam, me deixe em paz.

– Eu não posso. Tem como entender isso? – Limpei as lágrimas que duplicaram.

– Não, não tem! – Ela sacudiu a cabeça raivosa. – Não dá, Liam. Olha pra mim! – Suas mãos bateram ao seu peito com força. – Olha o que eu sou. – Agora, as mãos encontraram meu rosto. – Eu não sou boa, eu não sou normal. – As palavras foram sussurros cortados por soluços.

– Não diga mais isso. – A abracei com força e fiz um certo carinho ao pé de seu cabelo. – Por favor, Hulk, eu não quero que julgue a si por qualquer coisa que seja. Eu apenas quero que se aceite.

– É impossível. – Ela tateou das bochechas até meu peito. – O que você tem aqui, é diferente do que eu tenho no meu. Podemos ser parecidos quanto à forma humana, mas nossos organismos são totalmente diferentes.

– Eu não me importo com isso e deveria fazer o mesmo. – Beijei sua testa. – Vamos para casa e te levarei para sair em no máximo dois dias. Você precisa de coisas diferentes para distrair sua mente da negatividade.

– Por que vai sair comigo? – Nos olhamos. – Não tem medo de que eu possa estragar tudo? – A voz abaixou.

– Se você estragar tudo, eu também terei, então, não se preocupe.