O dia havia amanhecido e eu estava com alguns pensamentos sobre Hulk. Tudo é estranho quando se foca nela. Normal, Hulk não é. Primeiro, por ter esse apelido ridículo que eu dei e segundo, por ter surgido em minha casa de forma absolutamente esquisita. Talvez, seja a vida nos botando em um caminho de descobertas, mas para mim, é apenas loucura da minha cabeça. Eu devo estar internado em um hospício e alucinando com os remédios jogados em minha goela. Não é possível que tudo isso seja real, ainda mais o que ela faz e esconde.
Desci sem muita pressa e parei a porta do quarto dela. Hulk dormia toda enrolada em uma coberta e tinha os cabelos sobre o rosto. Uma cena bem fofa, se eu não estivesse curioso. Virei para o banheiro que estava a minha frente e adentrei ao mesmo. Mexi em algumas gavetas com cuidado e na última, achei um kit com seringas que havia comprado há um tempo atrás, para que? Não sei.
Peguei uma junto a um algodão e álcool e voltei ao quarto, indo em direção a Hulk. Abaixei-me próximo a ela e tomei seu braço direito em minha mão vazia, usando toda a cautela do mundo que tenho. Após o esticar, passei o algodão com o álcool e por ela ser bem magrinha, dava para ver sua veia com muita clareza. Enfiei a agulha devagar e aos poucos, puxei alguns mililitros de seu sangue. Retirei de seu braço, o limpei e coloquei um band-aid colorido, depois beijei sua testa e sai do quarto com as coisas.
Segui para a cozinha e depositei o sangue em duas pequenas capsulas, vou mandar para Niall fazer exames. Eu acho que o problema dela deve ser radiação gama em excesso, agora, ela só precisa ficar verde e juntar-se a um cara com armadura, um ex-congelado, um Deus maluco e uns dois patetas de uma organização estranha. Puxei o telefone da parede e digitei o número de Niall.
– Quem é? – Ele estava mal-humorado e dou toda a razão para isso. É cedo demais para uma ligação de domingo.
– Eu, Niall.
– O que você quer, infeliz?
– Preciso que me faça um grande favor e eu confio apenas em você para isso.
– O que é? – Niall se interessou.
– Preciso que faça alguns exames com uma amostra de sangue.
– Sangue de quem?
– Não precisa saber agora. Só quero que faça isso e em segredo, ninguém além de nós deverá saber e caso, tenha novidades, me avise. Por favor, Niall, é importante.
– Tá, eu já entendi. – Falou impaciente. – Vou ai para pegar as amostras.
– Estarei a sua espera.
Desliguei e guardei as duas capsulas no freezer. Para agradar Hulk e fazer com que ela não questione tanto sobre o band-aid porque tenho certeza de que ela fará isso, resolvi preparar um belo café da manhã. Bolo, frutas, suco, pães e panquecas. Okay, não é o melhor banquete do mundo e nem chega aos pés do que ela faz, mas eu me dediquei.
Coloquei tudo na bandeja e caminhei até o dormitório, onde ela ainda dormia. Deixei as coisas sobre a cômoda e a chamei enquanto alisava seu cabelo que estava muito macio e com um cheiro de uva bem forte. Seu olho esquerdo abriu junto a um sorriso e a desejei "bom dia".
– Por que acordou primeiro que eu? – A ajudei sentar.
– Porque você precisava de uma folga e eu quis te agradar. – Peguei a bandeja e coloquei em seu colo. – Espero que goste, eu que fiz e dei o meu melhor, mesmo não chegando aos seus pés.
– Tenho certeza de que está gostoso. – Ela começou a comer. – Meu braço está doendo.
– Deve ter dormido de mal jeito. – Olhamos para ele e a mesma encarou o band-aid.
– O que é isso? – Seu braço foi esticado em minha direção.
– Acho que estava entre suas cobertas e colou em você. – Que mentira mais idiota.
– O que? – Hulk ergueu a sobrancelha em uma expressão séria e raivosa.
– Que foi?
– O que você disse?
– Eu falei...
– Não é isso. – Ela apontou para minha cabeça. – O que disse aqui?
– Nada. – Respondi com nervosismo e a campainha tocou. – É Niall. Aproveite a comida.
Beijei sua testa e parti para a porta, assim que a abri, senti um peso saindo das minhas costas. Como era bom ver a cara de Niall. O puxei para dentro de casa e fomos para a cozinha em passos apressados, na verdade, eu estava com essa pressa. Abri o freezer e tirei de lá as capsulas mostrando para Niall que, pela expressão, percebi ter notado algo diferente.
– Que foi? – Questionei enquanto ele colocava um dos vidrinhos em uma estrutura gélida que o acompanha desde que o conheço por gente e segurava o outro.
– Esse sangue é estranho.
– Estranho como? – O olhei confuso.
– Está bem escuro e... – Ele balançou a capsula. – Sei lá, está um pouco... Não dá pra dizer aqui. – Niall guardou o mesmo e fechou a estrutura. – Aonde pegou isso? Eu preciso que me diga.
– É da Hulk. – Confessei olhando para trás, confirmando de que ela não estava ali.
– Quero que fale uma única coisa. – Voltei a olhá-lo. – Acha que ela é o que Fheder procura?
– Eu não sei, Niall, mas a porcentagem vem crescendo a cada ação.
(...)
Entrei no escritório após o domingo ter sido um porre. Hulk ficou o dia todo trancada no quarto e eu a sala, assistindo beisebol e tomando cerveja. Foi estranho o dia, mas não a culpo por isso, até que foi melhor. Encontrei vários papéis sobre minha mesa e tinha uma reunião marcada para daqui 10 minutos. Eu não estava com paciência alguma para essa merda, mas fui, convicto de que agora, desistirão dessa loucura.
Sentei a cadeira da mesa de reuniões e aos poucos, todos apareceram e o cumulo do ridículo teve início. Vi alguns contratados indo de encontro ao telão, mostrando suas provas e etc. Tudo para mim, ainda era uma palhaçada sem fim e coisas bem idiotas.
A reunião teve fim, sem que eu fosse dar um show de bizarrice e voltei a minha sala, junto aos contratos que deveria analisar. Eram pedidos de exportações e importações, investimentos em algumas pesquisas, distribuições, inícios de testes e essas coisas que era para Fheder comandar. Como ele não iria fazer muita coisa, eu mesmo tomei rédea de tudo e passei o trabalho todo fazendo ligações e marcando encontros.
Meu expediente teve final e quando estava para ir embora, minha secretária avisou que Niall esperava por mim no laboratório. Isso quer dizer que terei boas notícias. Desci para o subsolo e caminhei para a sala de Niall enquanto assobiava, sentia que algo bom sairia de sua boca. Adentrei a ela batendo a porta e o vi tomando um café.
– E ai? – Perguntei curioso ao me aproximar.
– Não vai acreditar. – Ele sorriu. – Isso aqui é incrível! Eu só tive poucas horas para observá-los, mas foram coisas magníficas que descobri. – Niall me puxou e apontou para o microscópio. Abaixei-me e olhei. – O da esquerda é o da Hulk e o da direita é o meu. Veja como as células dela se multiplicam de forma desacelerada.
– E o que isso quer dizer?
– Por enquanto, eu não sei. – Admitiu. – Mas é incrível. É como se ela fosse uma fábrica incansável de células, não que nós não sejamos, mas ela é diferente demais. Talvez, esse seja o motivo de ela ser "estranha". – O olhei.
– Estranha em qual sentido?
– Todos. Ela ainda continua sendo um enigma, mas se eu tiver mais tempo, posso comprovar com certeza o que Hulk é.
– Não quero que ela seja descoberta. – Sussurrei. – Niall, é melhor pararmos.
– Pararmos? Por que? – Ele ficou indignado. – Olha só o passo que estamos dando para a genética, Liam! Hulk pode ser o que Fheder procura, mas isso não quer dizer que vamos entregá-la a ele.
– Niall, olhe só o que está dizendo! – Irritei-me. – Está comprando a ideia deles!
– Você pediu que eu fizesse isso.
– E agora, te proíbo de continuar. – Coloquei o indicador em seu peito, o cutucando com força. – Não dê outros passos nisso, Niall. Eu não quero que a machuquem, eu não quero que ela seja caçada, eu não quero que ela se torne uma aberração.
– Que interessante. – Pulamos de susto e viramos vendo Drake observando o sangue de Hulk. – Aonde arrumou isso?
– O que está fazendo aqui? – O segurei pela gravata e já estendi a mão para dar um soco em sua cara.
– Tenho todo o direito de vir aqui, valentão. – Ele apontou para o microscópio. – De quem é aquela amostra?
– Não é da sua conta! – Berrei. – Saía já daqui, Drake!
– Ah, Payne... Você e Niall estão por um fiozinho. – O mesmo riu sarcástico. – Não vai mesmo me contar?
– Isso é um teste. – Niall contou. – É o meu sangue misturado com outros fatores. Algum problema nisso?
– Vocês acham mesmo que estão me enganando? – Um silêncio instalou-se. – Tudo bem. – Drake fez com que eu o soltasse e assim que se viu livre, pegou o objeto com as amostras e o jogou ao vidro, quebrando e perdendo o trabalho de Niall. – Se divirtam.
Drake deu meia volta e tudo que eu conseguia ouvir era sua alta e medonha risada, mas a minha vontade era de socar toda a sua cara. Olhei para Niall e ele pediu que eu fosse para casa, assenti controlando a raiva e segui para casa a mil.
Cheguei a mesma e fiquei dentro do carro. Por incrível que pareça, eu comecei a chorar e muito. Estava com medo por Hulk, arrependido de ter envolvido Niall nisso, ódio de Drake e Fheder. Eram três fatores que iriam me enlouquecer com facilidade. Senti a porta sendo aberta ao meu lado e sentaram em meu colo, enrolando os braços em meu pescoço. Pelo cheiro de uva, era Hulk.
– O que houve, Li? – Ela alisou meu cabelo que já havia passado da hora de cortar.
– Mil desculpas. – Olhei para ela. – Por favor, me desculpe.
– Pelo que? – Sua cabeça tombou para o lado.
– Eu cometi muitos erros e sinto que tudo isso cairá sobre seus ombros, não quero me sentir culpado, mesmo sabendo que irei.
– O que fez, Liam? – Hulk preocupou-se.
– Eu... – Acariciei seu rosto. – Vamos sair? Cansei disso.
– Não vai me contar por que?
– Porque não quero que fique preocupada, vamos nos divertir. Lanchonete, pode ser?
– Tá bom, vou me arrumar.
Ela beijou minha bochecha e saiu do carro. Permaneci por algum tempo ali, depois segui para o quarto, onde tomei um banho e troquei de roupa. Vesti uma boxer amarela, blusa de manga curta branca, calça jeans, jaqueta de couro e tênis, todos pretos. Desci, fui para a garagem, entrei no carro e fiquei esperando Hulk.
Ouvi uma batida no vidro e abri a porta, a relevando. Ela estava toda bonitinha com uma regata de seda branca, skinny jeans escura e jaqueta cinza com touca cheia de pêlos. Sem contar, as botinhas que também tinham pêlos, mas eram pretas. A mesma sentou no banco e pude ver uma cor avermelhada em seus lábios junto a olhares de gatinho em suas pálpebras.
– Não me olhe assim, Liam. – Ela se assegurou e encolheu os ombros.
– Me desculpe, mas é que... Eu gostei da roupa e da maquiagem. – Sorri e ela fez uma reverência. – Posso te questionar uma única coisa? – Dei a partida e liguei o rádio. Tocava aquele CD que Harry havia me dado.
– Pode sim. – A vi mordendo o lábio, estava nervosa.
– Não é nada do que pensa. – Avisei, mas o nervosismo permaneceu. – Aonde arruma essas roupas? – Hulk gargalhou alto e fiz o mesmo. Foi contagiante.
– Ah, eu arrumei por ai. Sabe, eu fiz uns pãezinhos, vendi e com o dinheiro, fui naquelas lojinhas baratas.
– Comprou um guarda-roupa novo em um brechó? – Arqueei a sobrancelha.
– Isso! No brechó. Tinha cada coisa lindinha, mas eu não comprei tudo, só o que meu orçamento deu. Foi legal, Li.
– Mulheres gostam de compras. – Ri fraco e ela bateu em meu braço. – Seus socos doem, seja mais calma.
– Não gostei do que disse, foi... Foi... Foi bem idiota. – Ela balançava a cabeça.
– Tudo bem, retiro o que disse, mesmo que seja verdade.
– Dirige, Liam.
Ri alto e prestei atenção as ruas. Estava um clima bem... Estranho. Não depois do que eu disse, mas o ar do carro em si. Tocava uma música romântica e a única luz que nos iluminava era a da rua. Não sei porque a vida está fazendo isso e prefiro que seja apenas uma pegadinha.
Parei o carro e descemos dele. Adentramos a lanchonete e nos sentamos em uma mesa perto de uma jukebox. Esse local tem um toque bem anos 50 e eu adoro vir aqui. Olhamos o cardápio e escolhemos nossos alimentos. Dois x-saladas, batatas-fritas e milk-shakes de morango. Segundo o garçom, um belo pedido.
– Então, como foi o dia? – Ela questionou olhando para mim fixamente.
– Estressante. – Suspirei e girei meus dedos, passando um pelo outro sem pausas. – Drake me tira do sério.
– O que ele fez? – Hulk apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na palma da mão, o olhar havia ficado mais sereno.
– Acabou com minha pesquisa. Era algo em conjunto com Niall, mas ele não tinha o direito de meter os dedos nisso.
– Entendo. – Respirou fundo e os cabelos caíram pelo rosto.
– E o seu dia? – Vi um pequeno sorriso aos seus lábios.
– Eu não fiz nada. Fiquei atendendo o telefone, desenhando, pensando... Sei lá, foi estranho não te ter comigo hoje.
– Isso é um elogio? – Ri fraco.
– É... – Ela ficou envergonhada. – Dias melhores virão.
– Acredito que sim.
A comida foi posta a mesa e comemos enquanto ouvíamos o que saía da caixa ao nosso lado. A música condiz muito com o ambiente e lembra vários filmes em que pessoas tendo encontros românticos começam a cantar na volta para casa. Não que isso seja um encontro romântico, mas é um encontro.
Terminamos de comer, paguei a conta e fomos para o carro, logo seguimos para casa.
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