– Sabe, eu fiz muitas pesquisas e nada bateu com algo normal. – Niall informou-me.
– Já era de se imaginar. – Revirei os olhos e girei na cadeira.
– Mas descobri algumas coisas interessantes. – Parei a cadeira e o olhei. – Danado.
– Fale logo.
– Eu não sei se isso é bom, mas eu tomei a liberdade de misturar um pouco da amostra dela com uma que eu havia guardado aqui. Se eu não me engano, era um sangue diabético. Eu sei que esquecer o nome é irresponsabilidade, mas eu faço muita coisa da vida. – Explicou como se fosse importante para o que estamos fazendo.
– Não enrole, Niall. – Pedi impaciente.
– O sangue dela curou a diabete em segundos. – O tom de sua voz foi como uma mágica sendo revelada e de fato era uma mágica.
– Como? – Fiquei boquiaberto.
– Como eu não sei, mas foi incrível. Não demorou um minuto e puf, tudo estava “limpo”.
– Inacreditável! – Comemorei.
– Mas escute, eu também fiz uns outros testes e esses me preocuparam um pouco.
– Como assim? – O olhei confuso.
– As formações do DNA dela são estranhas. Há riscos, algumas quebras e ligações que nunca vi. É extremamente surreal, Liam.
– Então, o que você acha?
– Ela pode ser, mas você precisa conversar com ela primeiro. Devemos conhecê-la melhor e escondê-la de Fheder e Drake.
– Tudo bem. – Meu celular apitou. – Está na minha hora, nos vemos amanhã.
Sai do laboratório e subi até minha sala, pois segundo o toque do meu celular havia algo esperando por mim lá. Abri a porta e dei de cara com Drake. Esse cara não me deixa mais em paz, parece um carrapato.
– O que você quer, diabo? – Passei por ele e sentei a minha cadeira.
– Que recepção calorosa. – O mesmo riu. – Você sabe que está ferrado, não é?
– Ferrado pelo que? – Indaguei sem interesse algum. Estou cagando para ele.
– Você e Niall estão proibidos de fazerem experiências sem a autorização de Fheder e só podem se forem relacionados ao que ele deseja.
– Drake, você é tão insuportável. – Controlei bem a raiva que começava a subir.
– Insuportável? Eu prezo pelo bem da empresa, diferente de vocês.
– Você é viciado em dinheiro e um ambicioso de merda. – Falei entre dentes e sua risada espalhou-se pela sala.
– Se você fosse assim, estaria concorrendo ao comando da empresa. – Ele sorriu sacana.
– Eu estou, só não jogo sujo. – Me pus para frente e nos encaramos nos olhos.
– E é por isso que continua ao fundo do poço. – Drake permanecia com o tom divertido.
– Eu não preciso puxar o saco de ninguém pra crescer aqui. Fui contratado para ter um cargo bom e até hoje, depois de 3 anos, eu o mantenho sem nunca ter pisado nos pés dos meus colegas, pois reconheço meu devido lugar e sei que, não vou desviar-me disso agora.
– Boa sorte para mais uma caminhada a lama. – Sorriu cínico.
Drake virou e foi embora, deixando-me extremamente bravo. Esse moleque tem o dom de fazer isso e, infelizmente, o filho da puta faz muito bem. Peguei minhas coisas e após avisar a secretária da minha saída, segui para casa. Hoje não estou com cabeça pra nada.
Entrei em casa e vi Hulk deitada no sofá enquanto desenhava em um caderno. Ela levantou correndo e se jogou contra mim em um salto, fazendo com que minha maleta caísse e eu a sustentasse nos braços. Hulk deu beijos em meu rosto e isso me acalmou de uma forma estranha.
– Estava com saudades. – Fechei a porta com o pé e fomos para o sofá. – Não gosto de ficar aqui sozinha.
– Mas também não pode ficar indo ao meu trabalho como se fosse parque de diversões. – Sentamos e ela ficou sobre minhas coxas. – O que fez hoje?
– Eu desenhei um pouco, assisti TV e comi. – Hulk sorriu feliz. – E você?
– Mexi com coisas inúteis. – Tombei a cabeça para trás e fechei os olhos. – Mas tive boas descobertas.
– Tipo? – Sua curiosidade transbordava.
– Algumas coisas bobas.
– O projeto de Fheder? – A senti levantar e ergui a cabeça abrindo os olhos.
– Como? – Arqueei uma sobrancelha.
– Você sabe. – Ela parecia estar desconfortável. – Eu vi aquele dia e sinto que ele quer coisas horrendas.
– Hey... – Levantei e fiquei próximo a ela. – Não quero que sinta-se desta forma, você não tem culpa do pensamento dele.
– Mas ele vai fazer mal a todos. – Fui para tocar seu rosto, mas ela segurou minha mão e começou a abaixar meus dedos, um por um. – Entende?
– Entendo. – Assenti sem nem ao menos me dar o trabalho de pensar no que raios ela falava. – Bom, vou comer e descansar um pouco. – Beijei sua testa.
Segui para a cozinha e lá, alimentei-me das coisas que ela havia preparado, todas de muito bom gosto. Lavei as coisas que sujei e subi para o quarto, onde tomei banho e vesti um conjunto de moletom cinza. Deitei a cama e puxei um livro que estava mofando ao criado-mudo e voltei a lê-lo.
(...)
Ouvi um grito e despertei sem acreditar que havia dormido antes de chegar ao fim do livro que agora estava jogado ao chão sem ter a última página marcada. Praguejei-me por isso e novamente, o grito atingiu meus tímpanos. Ergui-me com pressa e corri atrás da origem do barulho estridente. Entrei ao quarto de Hulk e a vi encolhida enquanto tremia. Me aproximei devagar e quando a toquei, seus olhos abriram-se com aquele brilho intenso.
Ela segurou meus braços e os arranhou até as costas das mãos, isso me fez berrar muito alto. Foi uma dor insuportável e doía por baixo da pele. Em segundos, a luz diminuiu e a mesma desmaiou em cima de mim. A joguei para o lado e percebi que meus braços estavam sangrando. Levantei e no banheiro, tomei cuidado ao lavar os ferimentos e enrolá-los com faixas.
Passei alguns segundos à frente do espelho, encarando minha expressão facial que era um grande misto de medo e fúria. Bom, havia mais coisas, mas os dominantes eram esses. Respirei fundo e tomei coragem. Segui para a garagem e lá peguei uma corda e uma fita, subi novamente e amarrei Hulk do jeito que achei seguro e para reforçar, passei a fita várias vezes. Joguei a mesma sobre meus ombros e fomos para a sala, a sentei na poltrona e fui para a cozinha, voltando do local com uma faca que deixei a mesinha em minha frente.
A observei por um tempo enquanto mil coisas vinham a minha cabeça, mas nada com muita certeza. Sim, Hulk pode ser o que Fheder procura, mas... Eu acredito 100% de que, na verdade, ela está possuída. Aos poucos, a vi se mexendo e já levantei a faca. Vai que ela tenta atacar mais uma vez? Hulk balançou-se um pouco e ficou agitada ao perceber que estava presa.
– Socorro! – Berrou e, em seguida, olhou para mim assustada. – Liam...
– Chega, Hulk. – Aproximei-me dela. – Você vai me contar toda a verdade ou eu vou te por pra fora daqui!
Ficamos em silêncio por segundos que pra mim foram eternos. Ela tinha uma cara de desespero junto a medo e lágrimas escorriam por seu rosto. Eu poderia estar muito puto, mas ainda tinha coração e ele se partiu com aquela cena. Cortei as amarras de seus pés e mãos e larguei a lâmina na mesa, depois sentei a sua frente.
– O que você quer saber? – Ela perguntou com a voz baixa, mas carregada de tristeza.
– Tudo, Hulk, eu quero saber de tudo! – A olhei, mas logo abaixei a cabeça. O olhar que ela sustentava era um dos piores.
– Primeiro, não me chame mais assim. – Voltei a tê-la em minhas vistas. – Meu nome é Roxanne. Roxanne Zan e eu nasci com uma doença que me faz ser diferente do resto do mundo. – Ela olhou para o lado. – Eu nasci com genes super dotados.
– Você é uma mutante. – Sua cabeça virou para mim e comecei a ficar com mais raiva do que já estava. Sem motivos claros. – E quando pretendia me contar sobre isso? – Levantei e a segurei pelos braços.
– Você está me machucando!
– Eu estou te machucando? Você fez isso comigo duas vezes! Será que lembra disso? Você me jogou contra a porra de uma parede e eu nem sei como não quebrei minhas costelas! E olhe para mim, olhe para os meus braços. – A mesma tombou o olhar e fitou as faixas que já estavam coloridas de vermelho. – Você quase me matou, Roxanne!
– Eu sei, Liam. Mas eu quis ir embora e você não deixou. – Nos encaramos profundamente e ela não parava de chorar um minuto sequer, isso só me dava mais raiva.
– Eu não deixei porque tive pena de você.
– E agora não tem mais? Agora que sabe a aberração que sou não tem mais pena de mim? – Suas mãos bateram em meu peito com força e essa era um pouco mais forte do que as vezes que “sofri” ao uso dela. – Eu sei que no fundo da sua mente, estava desconfiando do que eu era, mas nunca admitiu porque não quis!
– Porque eu não queria acreditar que isso é real.
– Então, não me culpe por você ter se auto iludido. – Ela soltou-se de mim. – Não quero mais falar sobre isso, Liam.
– Você me deve muitas explicações e não pode achar tudo isso normal.
– Porque não é normal! – Berrou cheia de raiva. – Eu não sou normal e nunca serei. Será que pode deixar de usar essa palavra quando se trata de mim?
– Não importa se você é normal ou anormal, eu não quero saber sobre isso. Você nunca iria me contar se eu não começasse a investigar sozinho.
– Não vi necessidade disso. Eu nunca quis te machucar. – Roxanne passou os dedos nas faixas. – Nunca mesmo.
– Mas fez mesmo assim. O que tem dentro de você?
– E-Eu não posso te dizer. Não posso.
– Você não confia em mim? – Fiquei com vontade de esganá-la, mas com certeza, ela venceria.
– Não é isso. – Afastou-se devagar. – Me perdoe por tudo.
Ela correu para longe e com a raiva que estava, virei a mesa e a mesma quebrou. Mas não parei por ai. Pisoteei toda a coitada e sai sem rumo ou hora pra voltar.
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