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História Royals - Yoonmin - Toques Irregulares


Escrita por: parkcyr

Notas do Autor


Atrasei essa semana. Eu tô me sentindo meio revoltada com o jeito que esse capitulo saiu – realmente não consegui gostar dele e acabei projetando umas loucuras minhas nos personagens.
Eu sinto muito se não fizer sentido.
Esses dias foram uma correria muito grande??? E eu queria que o mundo parasse por um segundo pra que eu pudesse acompanhar???
Mas acho que isso não rola né.
Enfim, vou parar de reclamar sempre nas notas iniciais (vou deixar pra fazer isso só nas finais ahhashdea pqp)
Ah! Só pra avisar que eu estava em um desespero tão grande pra postar que o capítulo não foi revisado. Perdão por qualquer erro - quando Luiza revisar, eu reposto.
Vejo vocês no fim do capitulo <3

Capítulo 21 - Toques Irregulares


Fanfic / Fanfiction Royals - Yoonmin - Toques Irregulares

Traiçoeiros e curiosos estão à minha volta
Pessoas com quem me encontro, os efeitos que a minha infância tem sobre mim, ou o bairro e a cidade em que vivo, ou a nação,
As últimas datas, descobertas, invenções, sociedades, autores antigos e novos,
Meu jantar, roupas, amigos, olhares, cumprimentos, dívidas,
A indiferença real ou fantasiosa de um homem ou mulher que eu amo,
A doença de alguém de minha gente ou de mim mesmo, ou ato doentio, ou perda ou falta de dinheiro, depressões ou exaltações,
Batalhas, os horrores da guerra fratricida, a febre de notícias duvidosas, os terríveis eventos;
Essas imagens vêm a mim dia e noite, e partem de mim outra vez,
Mas não são o meu verdadeiro Ser.

Longe do que puxa e do que arrasta, ergue-se o que de fato eu sou,
Ergue-se divertido, complacente, compassivo, ocioso, unitário,
Olha para baixo, está ereto, ou descansa o braço sobre certo apoio impalpável,
Olhando com a cabeça pendida para o lado, curioso sobre o que está por vir,
Tanto dentro como fora do jogo, e o assistindo, e intrigado por ele.

No passado vejo meus próprios dias quando suei através do nevoeiro com linguistas e contendores,
Não trago zombarias ou argumentos, apenas testemunho e aguardo.

 – “Canção de mim mesmo”, Walt Whitman

Por milhões de anos os seres que chegaram a habitar a terra encaravam o céu e uivavam de medo – mas, quem poderia questioná-los?

De alguma maneira, os seres humanos foram colocados na equação, lutando para sobreviver em meio a todas as adversidades enquanto modificavam lentamente seu código genético – torcendo, devagar, para que a tempestade que se formava no horizonte, estranhamente bonita e pavorosa, não os alcançasse, contradizendo as preces e cantos silenciosos para a vinda de chuva.

Mesmo que uma parte de você esteja cansada de esperar – que seu amor chegue, que o mundo acabe, que todas as traições sejam desfeitas, que a vontade dos deuses finalmente se mostre verdadeira no mundo; uma espécie de consolo em meio a tanta loucura – algo interior se serpentina; uma aparição diáfana que perturba seus pensamentos; espera que seus olhos possam observar severos o desenrolar de todos os eventos, como seus antepassados e os antepassados deles.

Quem poderia nos culpar de querer estar presentes quando tudo isso finalmente acabar?

No meio a tantas reflexões, Jimin às vezes se parava indagando se existia algo de terrivelmente errado em seu cérebro – alguma coisa que não conseguia aceitar calma uma derrota, mas uma vitória era igualmente nauseante.

Talvez seja por essa razão que o moreno de olhos escuros encontrava seu interior tão perturbado pela mera presença de Min Yoongi na sua estufa – o rei sulista que conhecia desde que era apenas uma criança ingênua.

Jimin suspirou exausto ao observar a expressão distante de Yoongi, enquanto este tocava as flores que havia cultivado com tanto amor com suas mãos pálidas e ossudas. Honestamente, o mais novo estava apenas aguardando o momento que Yoongi praguejaria em voz baixa – um misto de dor e surpresa – ao cortar-se com os espinhos das rosas brancas pelas quais ele parecia tão fascinado.

Algo que Jimin havia aprendido em sua curta estadia no Leste era que você nunca deveria subestimar flores – ou pessoas. Seus espinhos podiam parecer fracos e inofensivos, mas eles cortavam e doíam, e deixavam cicatrizes que você carregaria durante toda sua vida – uma marquinha branca e reta, quase imperceptível, mas que ele conhecia muito bem, pois possuía varias dessas marcando toda a extensão de suas mãos naquele momento.

O silencio na sala não o incomodava, pelo contrário. Com a calmaria do ambiente, ele podia observar Yoongi e a forma como o mesmo havia mudado com o curto tempo que passaram separados, as súbitas mudanças físicas que faziam toda a diferença na aparência do mais velho. Jimin esperava encontrar ele da mesma forma que o deixara, mas agora seus cabelos loiros pareciam quase desbotados e seus lábios finos quase nunca se abriam em um sorriso – sempre marcados por cortes estreitos que pareciam sangrar toda vez que Yoongi tentava demonstrar algo mais que preocupação.

Mil palavras queriam sair, mas ficavam presas na garganta do mais novo – perdendo-se no meio do caminho; um misto de emoções e pensamentos desassossegados que Jimin não conseguia verbalizar naquele momento e talvez em nenhum outro.

Yoongi estava na sua frente – fechado, tristemente silencioso, ao passo que tudo dentro de Jimin borbulhava aflito, como se seu interior tivesse se tornado uma espécie de obra de arte grosseira e raivosa que fora esquecida no final do atelier de um artista desconhecido e cansado.

Por alguns instantes, ele tentou entender a taciturnidade que parecia abater Yoongi – entender a complexidade das coisas, de toda a beleza e tragicidade etéreas que haviam o circundado durante toda sua vida – ele tentou julgar, mas Jimin não conseguia passar além da superfície – às vezes algumas feridas são tão profundas que apenas encará-las nos doía na alma.

Jimin havia passado metade de sua vida contemplando a eternidade; mas ele não havia entendido nada e isso o doía, doía não entender, não conseguir se comunicar com Yoongi, ser apenas um mero espectador na cadeia grandiosa de eventos que se desenrolava compleza a sua frente. Deuses, o universo inteiro parecia gritar seu luto dentro de seu peito e ele não sabia o que fazer.

- Você tem algo em mente? – O moreno finalmente perguntou soando meio arrogante, porém cansado de se manter passivo diante da situação. Yoongi assustou-se com a súbita quebra de silencio no ambiente, e com a estranha frieza calma que a voz do moreno, antes tão doce e tímida, possuía no momento.

- Não. – Ele respondeu simplesmente – nunca fora um homem de muitas palavras e não iria tornar-se um agora. – Por que a pergunta?

- Não sei. Sua expressão estava estranha enquanto olhava pra essas rosas. Nunca percebi que você possuía tanto apresso por botânica. Na verdade... Estou preocupado com você ao mesmo tempo em que me pergunto o que passa pela sua cabeça ao encarar uma linhagem de reis de uma nação que até ontem era sua inimiga, com toda essa história do Kyungsoo acontecendo, com todas as decisões que terá que tomar... Não sei– Jimin repetiu perdido em palavras. O loiro encarou o mais novo enquanto este adquiria uma coloração avermelhada nas bochechas, fazendo Yoongi rir de uma forma que não conseguia há alguns dias.

- Também não sei muito bem o que estava pensando, sendo bem honesto com você. – Ele começou um pouco incerto de como acabar. – Você... Ainda está chateado comigo? – A voz de Yoongi soou mais aflita do que firme e ele se praguejou mentalmente por nunca conseguir ser forte quando se tratava de Jimin. O moreno, ao contrario, arregalou os olhos negros com a pergunta – aquilo era o ultimo assunto que ele gostaria de tratar no momento.

- Não. – Jimin respondeu em um suspiro, ávido para encerrar o tópico que Yoongi parecia tão determinado em discutir.

- Tem certeza? – Yoongi perguntou cheio de incertezas, que não eram melhoradas pelo olhar triste e distante que Jimin sustentava em seu rosto.

- Sim. Eu nunca estive chateado com você. – O coração de Yoongi deu um salto ao ouvir as palavras ditas por Jimin. Um misto de confusão e infelicidade enuviavam a cabeça do mais velho, o levando para dias mais claros, mais simples, onde ele era apenas um adolescente e Jimin era apenas um sonho distante que morava muito longe de sua casa.

- E o que diabos você esteve então?

- Machucado. – Jimin respondeu baixinho, mais para si mesmo do que para o loiro ao seu lado. – Estive machucado com você. Chateado significaria que eu estava aborrecido com algo que você fez. Não são sinônimos. Mas... Esses dias passaram. Ás vezes parece ter sido uma eternidade; todos esses dias e noites passados em desespero misturados, como se nossa vida fosse uma espécie de livro incrivelmente sádico, como se estivéssemos nos aproximando do clímax de nossa historia. E bem, os protagonistas sempre devem esquecer-se dos erros passados para que o enredo possa seguir em frente. Certo? – Jimin perguntou retoricamente, encarando os olhos de Yoongi, a tristeza conhecida refletida no olhar do loiro – algo antigo e profundo; uma ferida que nem o tempo poderia curar. Durante alguns segundos, Jimin pensou que estava vendo sua própria dor refletida naqueles olhos que ele tanto amava.

- Sim. – Yoongi concordou meio a contragosto. – Mas, se nossa vida for um livro, eu realmente gostaria de matar a pessoa que o escreveu. Deuses, nós nunca temos um minuto sequer de paz, eu e você. E o pior: não possuímos nem aquele misero sopro de consolação que acometem os heróis antigos nas estórias que você tanto adora ler, aquele sentimento divino de que todas as nossas agonias irão se findar algum dia. Se formos protagonistas de alguma historia, Park Jimin, creio que ela não terá um final feliz.

Jimin sorriu discretamente, relembrando momentos passados com Yoongi – momentos onde sua única preocupação era uma coroa dourada e um trono forrado de tecido vermelho. Hoje, Jimin sabia que aqueles dias haviam ficado para trás – hoje eles encaravam uma traição e sentiam o cheiro da morte próximo, espreitando. O futuro parecia apenas uma sombra incerta, vazia de significado enquanto eles deviam tomar decisões que alterariam o rumo de todas as coisas e ele estava apenas ali, com o garoto que havia amado durante todos aqueles anos – impotente, ridicularmente frágil. Jimin sentia o peso do mundo nas suas costas, mas ele nada podia fazer além de dobrá-las, esperando ansioso para saber se quebraria.

- Nem todos os finais são felizes Min Yoongi, seu grande idiota. – Jimin falou, cortando a pouca distancia que o separava do loiro. O calor do corpo de Yoongi irradiava contra o seu enquanto ele passava os braços sobre o torço do mais velho, colocando sua cabeça no pescoço de Yoongi e inalando seu perfume floral, esquecendo-se um pouco de todas as coisas que o estavam atormentando naquele momento. – Nós não vamos conseguir ser felizes o tempo inteiro. Ninguém consegue. Algumas vezes você vai só existir e isso é ótimo. Aprender a contentar-se apenas com “não estar triste” é a grande dificuldade da vida. O que nós não conseguimos entender é que não estar triste é maravilhoso. É realmente incrível.

O choque do súbito contato físico logo deixou Yoongi, dando lugar a um sentimento doce, caloroso, algo que ele só conseguia sentir quando estava perto de Jimin. Por mais que o loiro estivesse se sentindo demasiado intranquilizante naquele momento, o garoto nortenho possuía alguma espécie de poder anestésico sob o corpo de Yoongi – por onde Jimin tocava, a dor desaparecia.

- Você está triste agora Park Jimin? – Yoongi perguntou o mais sério que conseguiu naquele momento. Suas mãos agiram rápidas, tirando o garoto de suas costas e o colocando de frente para si, em uma posição onde o rosto de Jimin estava tão próximo do seu que ele conseguia sentir a respiração quente do garoto sob sua face.

- Eu pareço estar triste? – Jimin devolveu a pergunta mais risonha do que estava no começo da conversa.

- Não. – Yoongi respondeu com um sorriso. – E só de te ver contente, eu já estou mais feliz também.

X

O caminho que levava a sala de reuniões nunca fora tão longo – pelo menos não para Jongin, que andava receoso enquanto carregava inúmeros papeis com suas mãos tremulas.

Ele desconhecia o palácio de Yixing tornando todo o ato mais tortuoso, incomodo. Chanyeol saíra do quarto que estavam dividindo bem cedo, quase ao nascer do Sol, com movimentos rápidos e esguios, impedindo de que o moreno visse para onde estava indo.

Jongin não se importava, porém. Ele sabia que Chanyeol não se atrasaria, muito menos perderia a infame reunião marcada por Yoongi naquele dia – o destino de Kyungsoo era algo que dizia respeito não só ao Sul, mas também no amago de seus seres.

Ele sentia que qualquer decisão tomada ali influenciaria sua vida pra sempre – seja ela boa ou ruim. Parando para pensar, os conceitos de bom e ruim estavam bem relativos em relação a suposta traição de Kyungsoo. Um pensamento preto e branco não seria capaz de resolver aquilo e, de certa forma, era isso que aterrorizava Jongin; o terror de várias cores misturando-se complexas apenas para formar mais caos.

O moreno observou Jimin parado em frente a porta, ao lado de Yoongi. O nortenho ainda estava com o mesmo semblante cansado de dias atrás, mas algo em seus olhos havia mudado – um contentamento silencioso estava instaurado nos orbes negros de Jimin e Jongin não precisava ser nenhum vidente para adivinhar quem provocara tão mudança. Yoongi sorria descaradamente, tentando segurar as mãos do mais novo enquanto este balançava-as – tentando desesperado fugir dos toques de Yoongi, afinal, qualquer membro do palácio ou conselho poderia aparecer a qualquer momento e encontrar o Rei do Sul e o Herdeiro do Norte de mãos dadas não seria a experiência mais prazerosa do mundo.

Jongin sorriu de lado, vendo os dois garotos mais jovens do que ele agirem como adolescentes apaixonados – apesar de saber que o amor dos dois era errado e estranho, Kim Jongin não possuía o menor moral para questioná-los, afinal ele mesmo fora apaixonado por Kyungsoo por muitos anos e talvez ainda fosse. Questionar Yoongi e Jimin, por mais sano que pudesse parecer à luz do seu trabalho de conselheiro, não passaria de uma hipocrisia de sua parte – e esse trabalho ele deixava para Chanyeol, que adorava se meter nos assuntos que envolviam o moreno pálido do Norte.

Ele pigarrou um pouco quando se aproximou mais dos dois, tentando fazer sua presença notada no local.

Jongin riu alto ao ver a coloração avermelhada que havia tomado de conta de todo o rosto de Jimin, da forma como mesmo pulara para fora do alcance de Yoongi, causando uma o surgimento de uma expressão de contragosto no rosto do loiro, que odiava ser contrariado e pior: ser tirado de perto de Jimin.

- Ah, mianhae, Jongin hyung. – O moreno falou enquanto dobrava as costas em um sinal de respeito. – Eu... Acho que é melhor ir embora agora... Boa sorte, pra vocês dois. Tenho certeza de que irão fazer a coisa certa. – O tom de Jimin mudara enquanto ele proferia tais palavras, Jongin percebeu. Durante um minuto, a fachada de garoto abobalhado havia saído totalmente de seu rosto e sua voz, deixando para trás apenas alguns traços de gentileza e vergonha, mascarados por uma seriedade quase solene.

Jongin conseguiu ver o pequeno sorriso e aperto de mão deixado por Jimin em Yoongi – e a forma como o loiro reagira instintivamente a isso, encolhendo o corpo como um pedido mudo para que Jimin não o deixasse sozinho, não agora. Agradava a Jongin perceber que Yoongi conseguia se abrir para uma pessoa no mundo – ele sabia a dor de carregar todos os problemas sozinhos nas costas, sem ninguém para ajudar. Mas ao mesmo tempo achou incrivelmente louvável a atitude do mais jovem, deixando Yoongi sozinho com seus demônios.

Ás vezes, amar significa exatamente isso: dar espaço para que o ser amado possa crescer sozinho, sem a sua ajuda. Amar era dar pedaços de seu próprio coração para que a pessoa pudesse consertar o seu e depois ver-se despedaçado. Era um fenômeno incrivelmente estranho e esquisito, mas, em raríssimas ocasiões, Jongin conseguia entende o quão bonito era de verdade.

- Vamos entrar? – Yoongi perguntou um tanto envergonhado pela forma que Jongin o encarava.

- E Chanyeol? – O moreno indagou de uma forma retorica, observando Jimin desaparecer por entre os inúmeros corredores do palácio.

- Ele... Mandou avisar que não participaria dessa decisão. – O jovem rei respondeu, soando devastado. Jongin observou os olhos de Yoongi, percebendo que a alegria com que o mesmo encarava Jimin havia desaparecido por completo, dando lugar uma preocupação constante, ao semblante que ele estava tão acostumado a ver.

- E por que diabos ele fez isso? – O tom raivoso escapou dos lábios de Jongin, fazendo Yoongi passar as mãos por seus cabelos loiros bagunçados enquanto um suspiro grande saia de sua boca, demonstrando sua exaustão.

- Eu realmente não sei. Mas Chanyeol tem estado estranho desde a história de Kyungsoo. Sei que isso é difícil para você, Jongin, mas agora a decisão deve ser tomada por nós dois.

- Você tem razão. – As palavras rolaram pela língua de Jongin sem que este percebesse – sua cabeça processando lentamente todas as atitudes estranhas de Chanyeol – incluindo seu impreciso sumiço pela manhã – que ele havia achado melhor ignorar com o passar dos dias. – É melhor começarmos essa reunião, Yoongi. Já está tarde e essa decisão precisa ser tomada o mais rápido possível.

X

A cabeça de Yoongi doía enquanto seu cérebro insistia em repetir a tarde infernal que tivera com Jongin – um loop exaustivo de gritos e lágrimas que, deuses, ele daria tudo para esquecer.

Tudo era um borrão em sua memória – palavras e papeis misturavam-se avulsos enquanto ele vagava pelo palácio, parando em frente a varanda onde encontrara Jimin pela primeira vez no Leste.

Tudo voltava para ele, no fim das contas. Yoongi sempre corria desesperadamente para Jimin quando precisava de conforto.

Mas agora, ele sabia, aquele problema era grande demais para ser evitado ou resolvido com um simples abraço do moreno de quem tanto gostava. Jimin poderia tentar aconselhá-lo de todas as maneiras possíveis, mas o que estava feito, estava feito e ele não conseguia se arrepender de ter assinado aquele documento oficializando a culpa de Kyungsoo e sua família, por mais que Jongin protestasse e derramasse lágrimas.

Ele não se sentia bem por tomar tal decisão, mas era o que devia ser feito. Um rei deve aguentar o peso de mortes afim de que seus súditos possam descansar tranquilos em suas casas e, o único jeito de abafar toda a revolta do pai de Kyungsoo seria matando-o, eliminando todo e qualquer traço que ele pudesse ter deixado no Sul, incluindo seu filho.

O loiro encostou a cabeça nas mãos, tentando desesperadamente desligar as vozes que gritavam altas em seu pensamento – duas forças opostas que guerreavam entre a ideia de que ele estava certo ou que era um péssimo rei. Yoongi desejava, naquele momento, se tornar alheio a vontade da segunda, que questionava cada decisão que ele fazia.

- Olá Yoongi. – Ele deu um pulo com a súbita voz que perturbava o silencio do recinto, fazendo-o virar-se para trás e encarar Yixing, que nunca parecera menos real do que naquele momento.

O atual rei do Leste usava um suéter de lã branca, cuja gola cobria toda a extensão de seu pescoço – seu cabelo negro como o de Jimin caia sob seu rosto, liso e macio, sem nenhuma espécie de arrumação sobre ele. Seu rosto era iluminado pela lua, tornando suas feições magras mais pálidas que o normal – naquele momento, Yoongi desejou possuir a calma que nunca parecia sair dos olhos negros de Yixing.

- Você quase me matou. – O loiro falou em um suspiro. – O que aconteceu com suas roupas? – A pergunta informal de Yoongi fez o mais velho rir enquanto encarava as simples vestes que trajava.

- Nada. São minhas roupas. Não vejo nenhum motivo para não usá-las. Se me permite dizer, elas parecem mais confortáveis que as suas. – Yoongi devia admitir que naquele quesito, Yixing estava mais do que certo. O terno preto que sempre usava parecia queimar cada centímetro de sua pele – sem contar com a sensação de enforcamento que a gravata causava.

- Gostaria que as coisas fossem assim no Sul. Mas ao me acostumar ao usar roupas confortáveis, quando voltasse para casa jamais iria querer entrar nas minhas novamente. Por isso ainda não me rendi à tentação.

- Entendo... – Yixing respondeu vagamente, enquanto se aproximava do monarca mais novo. – Como foi à reunião hoje? Vi Jongin chorando pelo corredor enquanto procurava por você. Bem... Que pergunta idiota, não é mesmo? Se ele estava chorando, obviamente que a decisão final foi condenar Kyungsoo... Certo?

- Sim. – Yoongi respondeu soando exausto. – Eu... Não encontrei outra solução além de mata-lo.

- Sempre existem outras soluções. Prendemo-nos as mais simples por mera conveniência. Mas... Você acha que fez a escolha certa?

- Não sei... Sinto-me bastante complicado hoje, mais que o comum. Gostaria que essas coisas se tornassem mais fáceis com o passar do tempo.

- Acredite em mim quando digo que nunca será fácil. Mas, dessa vez, irei ousar e dizer que nós nunca somos tão fracos quanto às pessoas nos fazem, porque toda vez que algo acontece e você sente que será seu fim, você acaba se tornando o fim daquilo.

 - É algo bonito de se dizer. – O loiro disse pensativo. – Mas... Eu me tornarei o fim da vida de uma pessoa. De várias pessoas. Isso não é algo fácil de engolir, principalmente quando paro para pensar em todo o significado guardado por Kyungsoo; que ele provavelmente não teve nenhuma escolha. Eu... Não sei como serei capaz de me encarar depois que tudo isso acabar.

- Sabe... Ás vezes também acho difícil olhar pra quem eu sou. – Yixing começou, desviando os olhos escuros de Yoongi apenas para direcioná-los para o céu carregado de estrelas do Leste. – Você sabe: eu vim do nada. Literalmente, do nada. A família de Yifan me acolheu e me transformou em um deles – é por isso que hoje eu sento em um trono de ouro que vale mais do que a vida de meus parentes de sangue. Meu passado, presente e futuro são tão diferentes e eu não sei que tipo de pessoa isso me faz – e eu odeio pisar em um chão e não saber se ele vai afundar. Antes de Jimin e os outros chegarem aqui eu me perguntava que tipo de cicatriz era aquela que nunca parava de doer e hoje eu me pergunto se o meu passado nunca vai parar de me assombrar. Quando Yifan estava vivo, existiam noites que eu dormia pesadamente. Elas não acontecem mais; na maior parte do tempo eu sou deixado com olhos cansados e com uma cabeça que diz que eu nunca serei bom o suficiente. Mas eu continuo, mesmo sem saber como continuar. Creio que esse seja o verdadeiro significado de ser um monarca.

- Sim, mas... Desde que colocaram essa coroa em minha cabeça, não tive nada além de problemas. Separaram-me de Jimin, me cegaram em relação a você... Além de todos os comentários que são feitos a meu respeito – de Norte a Sul, Leste a Oeste. O rei inconsequente, impulsivo. Eu os escuto a noite, quando todos estão dormindo. Luto comigo mesmo para acreditar que isso não passa de um monte de mentiras, mas, no amago de meu ser consigo ouvir meu pai dizendo que a verdade sempre encontra um jeito de sair da boca das pessoas.

- Yoongi... As pessoas te julgam, pois você é jovem e diferente; e isso é letal. Eles dizem que você não sabe o que é amor apenas porque não o demonstra da maneira que esperam que demonstre. Dizem que querem te ver feliz, mas essa felicidade deve vir embrulhada em seus próprios termos. As pessoas acham que te entenderam, Yoongi, mas a verdade é que você muda todos os dias.  E isso não é algo para se envergonhar – ou entristecer.

- Você é muito doce, Yixing. Quase me esqueço da bestialidade que sinto quando estou perto de você.

- Sinto-me lisonjeado. – Yixing respondeu com um sorriso. – Mas não negue sua bestialidade, Yoongi. Somos monstros; todos nós. O que importa é a quem mostramos nossas garras e porque fazemos isso.

X

Kyungsoo quase conseguia se esquecer de todos os seus problemas enquanto encarava o céu da cidade noturna – parado no meio da rua, esperando um atrasado Baekhyun que mandara um recado de que eles deveriam se encontrar hoje.

Um silencio infindável e infinito. Uma paleta de tons escuros e claros; azuis, violetas, vermelhos. Um lugar de tranquilidade, contraposto com o fato de uma estrela milhares de vezes maiores que o nosso sol poderiam explodir e não fazer um som sequer – a paz destroçada que ele tento procurava.

Ele suspirou, esfregando os braços para que o frio da noite não o afetasse mais do que estava afetando – com o fim das coisas se aproximando, Kyungsoo se sentia extremamente nostálgico e arrependido, desconectado da causa de seu pai e, de certa forma, de sua própria vida.

Os papeis que trazia embaixo do braço uivavam devido a brisa leve que corria pelas ruas. O estomago de Kyungsoo se revirou ao pensar no que poderia acontecer se ele perdesse algum daqueles documentos.

Sua mão apertou-se forte, fazendo suas juntas embranquecerem devido a enorme força aplicada no local.

Vamos Baekhyun... O moreno pensou desesperadamente, onde diabos você está?

Kyungsoo virou-se para analisar o local, deparando-se com uma figura baixa e esguia que caminhava despreocupadamente pelas ruas da capital, trajando uma capa negra que cobria quase toda extensão de seu corpo.

Baekhyun, sua mente o informou aliviada ao reconhecer o formato do corpo do primo enquanto este passava em baixo da luz que iluminava quase toda a rua.

- Você demorou hoje. – O moreno ralhou, passando os documentos cuidadosamente aos braços do mais novo – tomando todo o cuidado do mundo para que nenhum deles se perdesse no meio da noite.

- Estava me preparando para partir. A viagem será longa.

- Não. – Kyungsoo discordou ativamente. – Pelo contrario, ela deve ser rápida. O pai de Jimin deverá estar aqui antes do retorno de Yoongi e não sabemos quando isso acontecerá. Você deve chegar ao Norte e encontrar nosso informante o quanto antes.

- E se o pai de Jimin não aceitar os documentos? – Baekhyun perguntou enquanto checava os papeis em suas mãos. – O que faremos então?

- Acredite, ele aceitará. Todos eles possuem o selo real e a assinatura de Yoongi, que eu mesmo falsifiquei. Ninguém será capaz de contestar a veracidade desses documentos. E, quando eles chegarem às mãos de Minho, Jimin será levado de volta ao Norte e teremos Yoongi na ponta dos nossos dedos e poderemos finalmente iniciar a guerra contra o Leste, matando Yixing e eliminando da face da terra todos os inimigos de nossos pais.

- Mandarei noticias quando chegar. – Baekhyun falou com o olhar entristecido. – Espero... Que eu e você possamos ser pessoas normais um dia. Homens bons, com um trabalho decente.

- Não espere muito, Baek. Odiaria ver você desapontado mais uma vez. Agora vá. E faça uma boa viagem. Espero ver você daqui a alguns dias.

- Sim. – O mais novo concordou, puxando o primo para um abraço caloroso. – Encontre um jeito de deixar Yoongi pelo Leste por uma semana. Isso é todo o tempo que preciso.

- Não se preocupe, ele ficará lá. Darei meu jeito.

- Ótimo. Então... Chegou a hora de trocarmos nossas despedidas. Adeus, Kyungsoo.

- Adeus, Baek.

 

Quem faz o mal, se torna mau... Ainda que faça o mal a quem é mau. 

 


Notas Finais


Vocês já se sentiram totalmente perdidos? Se sim, vão entender esse capitulo. Ou não. Não sei. A confusão da maioria das pessoas tende a ser diferente da minha.
Peço perdão. Desculpas. Mianhae. Sumimasen. *insere desculpas em mais um milhão de línguas*
Agora, sério. Desculpas pelo capitulo nunca sair como eu quero, nem como vocês mereciam. Royals está acabando e isso tá me deixando triste também.
A música desse capítulo seria outra, mas decidi colocar If I Could Fly da one direction. É uma música realmente boa. E me lembra das coisas realmente importantes – e do longo caminho que percorri desde que tinha 12 anos até hoje.
Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=A6gR8kGkaOI
Aliás, estou viciada em Turf do Aminé, então vai ser a música do capítulo também. Como 21 é meu número da sorte, o capítulo 21 terá duas músicas.
Turf: https://www.youtube.com/watch?v=AZR5LYwMuZY
Vejo vocês na próxima <3


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