História Royals - Yoonmin - A idade do Céu

Não somos o que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu. – “A idade do céu”, Paulinho Moska.

Na maior parte do tempo Yoongi perguntava-se realmente estava pronto para assumir o Trono de seu pai.

Ele não era bobo, sabia que seu pai planejava sua coroação para ontem. Imaginava até mesmo que os “assuntos estatais” que o pai de Jimin viera de tão longe para tratar eram, na verdade, a cerimonia que colocaria para sempre a coroa prata em sua cabeça.

Quando criança, nunca questionara seu destino previamente traçado. Yoongi nascera para governar e deixar descendentes que, por sua vez, assumiriam quando estivessem prontos. Só isso e nada mais. As perguntas não foram deixadas para ele; não era de sua alçada estar à procura de respostas que não lhe serviriam.

A vida indomável como é, pregara mais uma vez peças no jovem de cabelos dourados e olhos escuros. Yoongi agora tinha Jimin e toda a felicidade avassaladora que o moreno proporcionava.

Observou calmamente o Sol que surgia quase envergonhado no céu pelas janelas de um quarto que era tudo menos seu. Jimin dormia tranquilamente, aninhado em seu peito e, naquele momento, Yoongi desejou não ser herdeiro, não ser nada. Yoongi desejou ser apenas um camponês com direito de escolha para amar e viver como bem entendesse.

Pensou no que faria quando Jimin partisse de volta para o Norte. Pensou em como ocuparia seus dias, suas tardes, suas noites, sem o sorriso inebriante do moreno para lhe distrair.

Yoongi sabia que depois que Jimin partisse, eles provavelmente não se veriam tão cedo, afinal, ele ficaria preso com os assuntos da corte e Jimin teria que se preocupar com sua própria coroação, que não tardaria em chegar.

Sem sombra de dúvidas, Jimin seria um rei melhor do que Yoongi, por mais que o mais novo adorasse contestar tal fato. Jimin, Yoongi sabia, seria mais paciente, mais caloroso, mais gentil. Já Yoongi seria caprichoso, teimoso e difícil de lidar.

Jimin se mexeu suavemente na enorme cama que dividiam escondido, fazendo Yoongi voltar os pensamentos para o garoto adormecido em seus braços. Yoongi passou os dedos suavemente pela pele macia do rosto de Jimin, demorando-se na pequena cicatriz que ele possuía no início da testa, uma fina linha branca coberta por seus cabelos escuros.

Um sorriso bobo escapou dos lábios de Yoongi ao lembrar-se de como o mais novo havia adquirido a singela marca com o formato que, estranhamente, assemelhava-se a um coração.

Jimin e Yoongi corriam pelas ruas da Capital, fugindo dos guardas que seus pais mandaram para os levarem de volta ao Palácio.

O vento batia nos rostos descobertos das crianças, fazendo seus cabelos esvoaçarem como cortinas – uma preta e outra dourada.

Yoongi sorria tanto que sentia que os cantos de sua pequena boca poderiam se arrebentar a qualquer minuto. Apesar de estar na frente do garoto mais novo, Yoongi conseguia ouvir os passos apressados de Jimin e sua risada escandalosa logo atrás de si.

O fim do mundo aconteceu minutos depois de atravessarem voando uma esquina estreita que dava para as margens do rio. Yoongi diminuiu a velocidade de sua corrida, parando apenas para recuperar o fôlego cada vez mais escasso. Virou-se para checar como Jimin estava e se deparou com o menor jogado no chão a alguns metros de distância.

O infantil coração de Yoongi partiu-se em um milhão de pequenos pedaços ao perceber que o melhor amigo estava desacordado em cima de uma poça de sangue rubro como a cor que simbolizava o reinado da família de seu pai.

Yoongi, por alguma razão, não conseguia mover as pernas para ajudar o amigo, muito pelo contrário, ele sentiu seus músculos contraírem e o fazerem cair no chão com um barulho surdo. Sentia as lágrimas escaparem de seus olhos, mas da sua boca não saia nenhum som, ele não conseguia nem mesmo pedir ajuda.

Ele não saberia dizer quanto tempo passou ali – para ele pareceu uma eternidade inteira, mas a última coisa que lembrava era de chegar a sua casa e escutar gritos e lágrimas desesperados vindos da mãe de Jimin e de sua própria. 

Jimin abriu seus pequenos olhos vagarosamente, tentando acostumar-se com a claridade do quarto onde estava. Yoongi passou as mãos delicadamente sobre a testa do mesmo, alisando seus cabelos e demorando-se na cicatriz que ali se encontrava.

- Bom dia, hyung. – Jimin falou com a voz rouca e o semblante perdido. Yoongi achava adorável o jeito que o garoto acordava com o rosto amassado e o cabelo ridiculamente bagunçado.

- Bom dia, Jiminnie! – Yoongi desejou animado, pegando as mãos do mesmo e depositando pequenos beijos nessas, fazendo Jimin rir da sensação engraçada que aquele pequeno ato provocava em suas terminações nervosas.

- O que eu perdi que fez você acordar com um bom humor tão grande?  

- Você, idiota. Dormir com você me fez acordar com um bom humor tão grande. – Yoongi respondeu, sorrindo com a visão angelical de Jimin e suas bochechas rosadas.

- Não sei o que aconteceu com você, hyung. Pensava que detestava demonstrar sentimentos. – O mais jovem falou, cobrindo o rosto com o lençol macio.

- Ah, Jiminnie. Existe essa infinita suavidade em mim quando se trata de você.

X

Yoongi andava de um lado para o outro na sala do trono, com raiva demais para conseguir desferir insultos ao seu Real pai. Suas mãos tremiam assim como todo o seu corpo, o estado de choque fora maior do que ele conseguira prever.

Claro, ele seria coroado. Disso ele não possuía dúvidas, o único propósito de estar vivo era usar a coroa dourada – que deveria ser mais pesada ainda do que a sua – e de sentar no trono que havia passado de geração em geração, com reis competentes e loucos. Esse era seu destino e não cabia a ele tomar a decisão de quando seria o melhor período para concretizá-lo.

Mas, apesar do sangue real, Yoongi era jovem. Jovem, apaixonado e inconsequente. Ele agora não desejava mais o trono – todos os pensamentos em sua cabeça conturbada agora tinham nome e um sorriso lindo. Park Jimin fizera Yoongi desacreditar em todas as verdades que sustentavam sua frágil existência e agora ele estava à deriva em um oceano, impossibilitado de fazer uma decisão que agradasse sua cabeça e seu coração.

- Como... – Yoongi começou fracamente. – Como pode fazer isso sem ao menos me consultar? – As palavras saiam dolorosas de sua garganta, como se brasa estivesse queimando suas cordas vocais.

- Yoongi, você sabia que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde. Pensei que ficaria mais feliz se Jimin estivesse presente durante toda a cerimônia. – Jimin. A coroação era o decreto mudo que separaria os dois para sempre.

- Você se enganou, pai. Jimin não vai fazer nada a não ser piorar ainda mais as coisas. – Yoongi falou baixinho, com a voz embargada.

- Yoongi, acalme-se. A coroação só será realizada daqui a uma semana, quando todos os príncipes convidados chegarem. – Seu pai explicou calmamente.

- Príncipes? Que príncipes? Meu único amigo é Park Jimin. – Yoongi falou com rigidez, fazendo seu pai rir calorosamente.

- Bem, eu não pude deixar de convidar outros representantes, Yoongi. Quer você goste ou não.

- E quem são esses representantes? – O jovem loiro perguntou com desconfiança.

- Jung Jaehyun, você deve lembrar-se dele. Ele é bastante amigo de Jimin. – O nome de Jaehyun veio como um estalo na cabeça de Yoongi. Claro que ele se lembrava perfeitamente de Jaehyun, o príncipe perfeito que adorava se meter em suas brincadeiras junto com Jimin. – Também virão Lee Taeyong, o tailandês Ten Chittaphon e o caçula das famílias do Leste, Mark Lee.

- Pensei que seriam mais pessoas. – Yoongi falou emburrado apesar de não querer nenhum daqueles desconhecidos em sua casa.

- Sim, virão. Falei apenas os mais importantes. Ah, quase esqueci.

- Aconteceu algo? – Yoongi perguntou.

- Não. Apenas gostaria que você avisasse a Jimin que Jaehyun está de chegada hoje. Tenho certeza de que ele gostaria de ver o amigo. – Seu pai falou animado, fazendo Yoongi revirar os olhos de pura revolta. Até parece que ele ia deixar o seu Jimin se animar com a chegada de Jaehyun.

X

As coisas nunca aconteciam do jeito que Min Yoongi planejava. E era exatamente por conta deste pequeno fato que ele se encontrava parado na entrada de seu palácio aguardando a chegada de um príncipe que ele detestava ao lado de um Jimin que sorria tanto que chegava a ser irritante.

Claro que em outras ocasiões Yoongi não se irritaria com o sorriso de Jimin, muito pelo contrário, ele o acharia a coisa mais linda do universo inteiro. Mas, especialmente hoje, aquele sorriso estava sendo destinado a uma das pessoas que Yoongi guardava mais rancor no mundo inteiro: Jung Jaehyun.

Se você perguntasse a Min Yoongi porque ele odiava Jaehyun, ele provavelmente riria e balançaria a cabeça em incredulidade, afinal, existia alguma coisa em Jaehyun passível de ser gostada? Jaehyun, com seus cabelos e olhos castanhos que emolduravam um rosto perfeito, quase que esculpido por deuses. Jaehyun, que sempre arrancara risadas de Jimin, aquele sorriso perfeito que deveria ser destinado somente a Yoongi.  Jaehyun, o príncipe de qualidades tão avassaladoras que se costumava dizer que ele não possuía nenhum defeito. Então, que razões Yoongi tinha para odiar Jung Jaehyun? Todas.

- Aish, Yoongi. – Jimin o chamou manhoso. – Melhora essa cara! O hyung deve estar chegando? – Algo dentro de Yoongi ferveu quando ouviu Jimin chamar o bastardo traidor da palavra que sempre usava para si. Seja lá o que diabos hyung deva significar.

- Pensei que era o seu hyung, Park Jimin. – Yoongi falou irritando, fazendo Jimin rir ainda mais da pronúncia pobre de Yoongi.

- O Jaehyun também é meu hyung. Ele é o meu hyung amorzinho e você é meu hyung azedo! – Jimin disse animado fazendo Yoongi o olhar incrédulo.

- Azedo?

- Suga, deixa disso. – Jimin falou mais sério, pegando as mãos de Yoongi que pousavam nervosas do lado de seu corpo. – Você sabe que não existe ninguém como você, amorzinho ou não. Eu sempre vou preferir meu hyung mal-humorado. – Yoongi olhou para um Jimin sorridente e não conseguiu resistir ao impulso de puxar o moreno para um abraço, atraindo olhares curiosos de alguns guardas que cuidavam da segurança do local.

- Você não sabe o quanto eu queria poder te beijar agora... – Yoongi sussurrou na orelha de Jimin, aproveitando para inalar o perfume floral que exalava do garoto.

- Aish, hyung. Se você fizer isso nós vamos nos fuder. – Jimin falou, rindo do palavreado que acabara de usar.

- Como diabos você consegue ser fofo até xingando? – Yoongi perguntou em meio a sorrisos. – Isso não é justo!

- Mianhae, hyung. – Jimin falou docemente. – Não é minha intenção parecer fofo xingando uma pessoa. Acho que ninguém quer parecer fofo em uma situação assim.

- Pra mim você é fofo em todas as horas, Park Jimin.

- Eu não sou fofo! – Jimin disse, se soltando do abraço de Yoongi. – Eu sou assustador, Min Yoongi.

- Claro que é, 1,75m. – Yoongi falou bagunçando os cabelos do menor.

- 1,75m, incrivelmente intimidador. As pessoas têm medo de mim. Eu não sou fofo. – Jimin disse fazendo um biquinho que qualquer ser humano na face do planeta acharia fofo.

- Você não é intimidador, Jimin. É apenas teimoso.

- Ora seu...

- Majestades. – Um guarda falou, fazendo uma pequena referência aos príncipes.

- Algo aconteceu? – Jimin perguntou preocupado, fazendo Yoongi revirar os olhos atrás de si.

- De forma alguma, vossa Alteza. Passo para informar apenas que a comitiva do príncipe Jaehyun já se encontra nos portões da propriedade.

- Já? – Yoongi perguntou irritado. – Mas que inferno. Por que você demorou tanto e esse cara chega em questão de dias? – A frustação na voz do príncipe loiro era visível.

- Não fale assim do Jaehyun, Yoongi. – Jimin ralhou, parando de encarar o mais velho e focando sua visão no guarda que olhava curiosamente os dois. – Muito obrigado pelo aviso.

- Não fiz mais que minha obrigação, Alteza. Com suas licenças. – O guarda falou, fazendo outra reverência ao se retirar.

- Sabe... Você deveria estar animado. Jaehyun, assim como eu, cruzou metade do território apenas para ver uma coroa ser posta em sua cabeça. Muitos deles vêm de lugares tão ou mais distantes que o Norte. Você deve mostrar um pingo de consideração e respeito, Yoongi. Mesmo se a ideia não lhe for agradável. – Jimin disse, sua voz soando extremamente chateada.

- Jimin, eu... – Yoongi começou meio atordoado.

- Não precisa dizer nada. Veja só, Jaehyun já está descendo da carruagem. – Jimin falou, apontando seus dedos pequeninos em direção ao garoto alto que descia do luxuoso veículo prateado.

Jaehyun continuava impecável, exatamente como Yoongi lembrava-se. Seus cabelos insistiam em voar de sua testa com o ralo vento que corria nos arredores do palácio; seus lábios abriam-se em um sorriso doce e gentil, parecido com o de Jimin. Céus, Yoongi pensou com seus botões, ele ainda está mais bonito do que eu lembrava.  O pior de tudo foi observar o rosto de Jimin acender-se com a visão do garoto que Yoongi tanto detestava.

- Wǒ xiǎngniàn nǐ, Jimin. – Jaehyun falou alegremente ao se aproximar, proferindo palavras que, para variar, Yoongi não conhecia. Porém ele sabia o suficiente para entender que a frase falada por Jaehyun não era na língua natal de Jimin; aquelas palavras soavam mais como música nos ouvidos despreparados de Yoongi do que os xingamentos que Jimin parecia dizer toda vez que falava algo em sua língua mãe.

- Ah, hyung! Senti muito sua falta também! – Jimin disse, pulando nos braços do maior. Yoongi teve que controlar tudo que existia dentro de si para não puxar Jimin de volta para os seus braços, afinal, o moreno pertencia a ele e a ele somente.

- Olá, Yoongi. Há quanto tempo? – Jaehyun perguntou educadamente, sorrindo enquanto abraçava Jimin de lado.

- Olá, Jaehyun. Faz menos tempo do que eu gostaria que fizesse. – Yoongi respondeu com sinceridade, sem retirar os olhos das mãos de Jaehyun que se encontravam na cintura de Jimin.

- Vejo que você não mudou nem um pouco desde a última vez que nos vimos. Tive a ilusão de que a convivência com Jimin o deixaria um pouco mais... Doce. – O garoto alto falou com ironia.

- É como dizem, pau que nasce torto, morre torto. Você também não mudou nada, pelo menos não aos meus olhos. Continua o mesmo idiota arrogante.

- Yoongi. – Jimin sibilou, encarando o loiro com olhos chateados. Jimin detestava conflitos, principalmente quando estes eram desnecessários e sem lógica.

- Sim, meu amor? – Yoongi perguntou sarcástico.

- Pare com isso, Min Yoongi. – Jaehyun falou, soltando a cintura de Jimin e ficando cara a cara com o príncipe de olhos desafiadores.

- Ah, Jung Jaehyun. Eu ainda nem comecei.