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História Ruídos de Saturno - Estranho bom


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Oi, gente! Hoje é meu dia de postar (Jéss) e não vou enrolar muito aqui.
Primeiramente gostaríamos de agradecer aos 300 favoritos! Vocês não imaginam como estamos felizes com esse número! Vocês são maravilhosos, esperamos muito que Ruídos não pare de crescer jamais!*
Mil desculpas pela demora, o bloqueio me pegou mais uma vez, porém consegui reverter a tempo.
Esse capítulo ficou menor que os outros, mas tentaremos compensar o tamanho no próximo 💜
Tenham uma boa leitura!

Capítulo 12 - Estranho bom


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Estranho bom

 

Os olhos castanhos de minha mãe se arregalam, bem como os lábios. De repente, ela pisca duas vezes, como se absorvesse o que acabei de dizer. A testa se enruga, quando as sobrancelhas franzem. Sem mais como expressar confusão, ela indaga a reafirmar o que ouviu:

— O quê?

— Fui eu. — disparo, receoso. — E-eu beijei a Iris. Ela nem gostou... — rumo o olhar para o dela — desculpe-me.

— Shawn, já disse que não precisa se des... — minha mãe interrompe a loira.

— Por quê? — suas mãos pousam na cintura. — Por que você fez isso?

Respiro fundo. A coragem de segundos atrás se vai aos poucos, a deixar espaço apenas às partículas de temor.

— Curiosidade. Nós estávamos vendo um filme com um menino que se parecia comigo. Eu gostei. Quando a menina que o ajudava fez com que se sentisse feliz, ele a beijou. Beijou.

— E a Iris fez com que você se sentisse feliz? — mamãe me pergunta, porém, por algum motivo, parece que a questão é consigo mesma.

— Sim, ma-mas estraguei tudo. — bufo. — Tudo. — insisto. — Iris vai embora, e eu vou ficar sozinho... de novo.

— Shawn, você sempre gostou de ficar sozinho.
Posso sentir que a mãe está mais perdida que eu nos contra-argumentos.

— Sim. — não há como protestar. — E gosto de passar um tempo com dr.ª Patricia e Iris também.

Não construí uma frase impecável. Faltaram palavras fortes ou de mais fácil convencimento. Esqueci-me do rebuscamento, talvez até mesmo de um choramingo; deixei de lado qualquer tipo de fundamento, soltei apenas o desabafo que à noite traçara em desenhos.

Sem mais palavras, os olhos castanhos umedecem e cerram. Os cabelos acastanhados como os meus balançam com sua breve assentida. Mamãe não diz nada; seu silêncio se torna uma fala no instante em que se aproxima e envolve-me em seus braços. Trêmulo, fecho os olhos e liberto a suspirada mais duradoura das que posso me lembrar.

Assim que abro os orbes, percebo que Iris se foi. Como uma estrela cadente, subitamente, sumiu. Semelhante aos meus rabiscos, no entanto, estou a salvo, preso à realidade pelos cuidados de minha mãe.

•••

A tarde é doce. Ao contrário das passadas, esta é divertida. Acredito que compartilhar o que eu sinto não seja de todo ruim. Estou leve como os gases de Júpiter. As pesquisas fluem. Eu emano confiança.

De repente, a porta do quarto se abre, a atrair minha atenção. Com uma camisa social listrada e as mangas brevemente dobradas, papai entra. O sorriso no rosto demonstra que a manhã trabalhada foi tranquila, contudo, a animação exagerada me diz que há mais neste semblante.

 Ele está ainda menos denso que eu.

Rapidamente, seus dedos largos sacam as chaves do carro do bolso.

— Vamos?

— Aonde? — levanto uma das sobrancelhas. — Es-estou lendo um artigo.

— Tudo bem. Se não quiser, posso remarcar a consulta com a psicóloga... — interrompo-o.

— Não! Eu quero. Quero. Vamos. — jogo o objeto de leitura para o lado, seguindo meu pai prontamente.

Estranhei ser levado por ele ao invés de minha mãe como sempre foi. Os minutos a frente caminham silenciosos até o carro, enfim, estacionar. Todavia, a tal quietude não se assemelha nem um pouco com a que convivi na volta da última consulta. 

Agindo conforme as visitas anteriores, espero algum tempo pelo aval para entrar no consultório. Papai estipulou um horário certo para me buscar, e se despediu alegremente. Sair e encontrar pessoas desconhecidas depois de todos esses dias na completa solidão me lembra muito a primeira vez em que vim a este prédio, o nervosismo e o incômodo que eu sentia eram palpáveis. Mas, felizmente, hoje são apenas memórias frias; nada disso é real.

— Shawn? — olho na direção da porta já aberta, a encontrar dr.ª Patricia sorridente. — Podemos começar?

Sigo-a, utilizando passos rápidos devido à ansiedade. Meus olhos varrem cada cantinho da sala à procura de alguém em especial. Em vão. A conclusão de que estamos sozinhos não demora a me abater.

Nenhum sinal de Iris.

Sento no costumeiro divã, percebendo que a cor foi alterada para um laranja pouco envelhecido. Não sei ao certo o que esperar de uma sessão somente com a psicóloga, a julgar pelas raras que tivemos, já que foram desastrosas por conta do silêncio.

— Sei que deve estar estranhando a situação, mas, pensei em começarmos primeiro falando sobre isso, antes de entrar em como se sentiu nos últimos dias. — deixando a caderneta de anotações esquecida, a profissional cruza os braços sobre a mesa, provavelmente escolhendo mentalmente as palavras corretas para começar. — Iris não participará mais de nossas sessões.

— Po-por quê? Ela não quer?

— Acredito que não tenha nada que ela queira mais que isso... — suspira — porém, essa foi a exigência de sua mãe. Após pensar um pouco, conclui que ela tem razão. Suas idas ao consultório precisam ser um momento único, em que você se sinta confortável para me confidenciar coisas. Talvez, com Iris aqui, esse processo passe a regredir. Vocês continuarão se encontrando aos finais de semana, em sua casa.

— Mesmo? — após a confirmação, um grande alívio me preenche.

Dr.ª Patricia não mentiria para mim. Sabendo que Iris não virá, nossa única opção é dar início a conversa, pois o tempo está correndo.

— Você sabe que o cancelamento das consultas foi o jeito que sua mãe encontrou de lhe proteger, não é? Acha que deu certo?

O sentimento sufocante que impedia minha fala nas primeiras consultas, agindo como uma fita sobre meus lábios, hoje não é mais o bastante para me calar.

— E-eu acho que não. Se proteger faz com que eu me sinta triste, não quero proteção.

— Não vir até aqui lhe deixou triste?

— Sim. — confesso, em ato repentino de bravura. — Não só isso. Eu fiquei sozinho no quarto por dias; a-antes nada me faria mais contente, agora já é um costume sair uma vez por semana. Não gosto de mudanças e acho que não gosto mais tanto de ficar sozinho. — minha resposta a satisfaz.

— Percebi o quanto as conversas com Iris o deixam confortável e o quanto gosta dela, até sua mãe chegou a essa conclusão. Quero que me responda com sinceridade, por que acha que encontrá-la com frequência é tão importante?

Penso por um instante. Essa é a pergunta que tenho me feito nos últimos tempos.

Por que Iris se tornou tão importante? Sempre que tento encontrar uma resposta, meus pensamentos se embolam como um novelo de lã. Minha linha de raciocínio é a ponta principal, é difícil achá-la e desfazer os nós formados.

Ainda não tenho uma resposta.

— E-eu não sei! — sou franco. — Podemos falar de outra coisa, por favor?

Com um sorriso doce e a voz baixa, dr.ª Patricia consegue facilmente transformar meu martírio em algo simples, apenas mudando o assunto. Ao menos por ora, não tenho que me preocupar com aquilo.

 As perguntas se variam entre os poucos acontecimentos dos dias anteriores: meu súbito momento de agressividade e a confusão instalada em meus sentimentos. Quando chegamos a esta parte, sei que ela fala como psicóloga, não como a mãe daquela que ocupa meus pensamentos. Eu ainda não sei como prosseguir, saberei assim que decifra-los. Nos nossos momentos juntos, tudo é simples. Posso sentir que, se Iris e eu ficássemos sozinhos sem o resto do mundo, não seria um problema.

 Entretanto, quando estou só e questiono-me sobre tudo, não encontro soluções.

O tempo que passamos no consultório segue leve e calmamente. É estranho, pois é a primeira vez que conversamos de verdade sem companhia. Porém, um estranho bom.


Notas Finais


O que acharam dessa confusãozinha de sentimentos vivida pelo Shawn?
Muito obrigada por lerem até aqui ♥
Com amor,
Lali e Jéss

► Playlist da Fanfic • https://www.youtube.com/watch?v=yKNxeF4KMsY&list=PLQ-MVX5tT4rnzig0i0zEog6RFlXKL0L-1&index=4
► Teaser da Fanfic • EM BREVE
► Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
► Disfarce Invisível (escrita por nós duas) • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
▶ Hurdle (escrita por Jess) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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