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História Ruídos de Saturno - Cores


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Hello, hello!
Cá estou eu, Lali, para agradecer mais uma vez todo o carinho que nós duas estamos recebendo. Estamos muito felizes com a repercussão e com os elogios da história. É uma honra saber que vocês estão gostando deste enredo que escrevemos com tanto apreço.
► As atualizações estão mais frequentes por conta das férias, se alguém considerá-la precoce, por favor, avise-nos;
► O teaser da fanfic está pronto e será postado logo, logo — deixaremos o link nas notas finais quando estiver ativo;
► O capítulo não está revisado, desculpem-nos (e avisem-nos!!) os erros.
Boa leitura, torcemos para que gostem.
Este capítulo é bem delicadinho e fofo ♥

Capítulo 5 - Cores


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Cores

Meus pés desajeitados deslizam em velocidade lenta. Todo meu corpo reage receoso por conta da atmosfera nova, mas, conforme a mão de Iris me puxa para frente, sou forçado a caminhar. O toque sutil, porém, firme em meu braço foi o que me sustentou até onde estamos; minhas mãos estão suadas, os dedos agitados, o coração desesperado.

Necessito de algo que não imagino o que possa ser. Foi uma surpresa encontrar a filha da psicóloga, exatamente no mesmo canto do consultório em que a vi no início da semana. Alguma coisa em mim não esperava que fôssemos nos encontrar mais uma vez, todavia, outra parte gostou disso.

Iris convenceu sua mãe de que uma consulta em um lugar diferente do consultório faria bem para mim. A mais velha concordou, dando a liberdade de sairmos sozinhos por alguns instantes. Eu deveria ter suspeitado que algo hoje seria inovador, já que está a anoitecer, ao contrário do horário das últimas consultas.

Não estou acostumado a frequentar lugares novos, principalmente, ao ar livre. Reconheço que estamos em um parque, o prédio do consultório é logo noutro lado da rua, o que significa que andamos pouco, mas, para mim, cada passo aparentou uma eternidade.

— Aqui está bom. — paramos embaixo de uma árvore, onde Iris é a primeira a se sentar. Ela ajeita o corpo aparentemente confortável na grama verdinha, e, curioso, acabo fazendo o mesmo.

Minhas mãos, estas posicionadas nas laterais dos joelhos, agarram a textura fina imediatamente. Há uma pinicada gostosa no mato, um cheiro gostoso que me remete a chás. Noto que o gramado ainda está quente, por conta do sol que foi embora há pouco. A sensação de tocar a natureza desta forma não é ruim, gosto dela. Encosto a nuca no tronco da árvore e puxo o ar para os pulmões, disposto a me acostumar com o novo. Meus olhos observam o espaço bonito e fresco sob a iluminação rasa dos postes.

Mesmo que seja quase à noite, existem outras pessoas aqui. As mais novas que eu andam de bicicleta, o som de suas gargalhadas denuncia felicidade. Já as mais velhas, talvez não tanto, praticam atividades variadas: algumas leem sentadas nos bancos; outras se exercitam nuns equipamentos coloridos, e existem aquelas que mostram satisfação apenas digitando algo no celular.

Nenhuma delas presta atenção em mim, essa informação é suficiente para me relaxar de vez.

— Você já tinha vindo a um parque antes? — esforço minha mente, encontrando, entre as memórias vasculhadas, a lembrança de um tempo quando as coisas eram mais fáceis.

—Já. Já, sim, quando mais novo.

Voltamos ao completo silêncio, não um silêncio parecido com o que se faz presente no consultório. Lá, nos momentos em que não me cobram palavras, esperam por elas; agora, sinto que se ficássemos parados e quietos até a hora de ir, Iris não se incomodaria. Com o passar dos segundos, as nuvens claras vão dando lugar às escuras, entre elas surgem as primeiras estrelas. Pequenas e brilhantes, elas não conseguem se destacar tanto quanto a cândida lua.

Ouço a respiração calma da filha da psicóloga ao lado. Essa simples ação me faz perceber que gosto disso. É bom observar o céu ao ar livre com ela, sem uma janela alta nos prendendo. É a primeira vez que faço o que tanto gosto com companhia.

— Entendo que conversar não soe muito atrativo para você, mas não vejo problema nenhum em nos conhecermos um pouco mais. — rompe a quietude. — Afinal, passaremos as próximas tardes juntos. — assinto, dando uma deixa para a primeira pergunta.

Sei que dependendo de qual for, posso não sentir vontade de respondê-la.

— Tudo bem, você prefere fazer ou responder perguntas? — não me enxergo fazendo perguntas a ela, sendo assim, reservo-me o direito de não dizer nada.

Iris me deixa intrigado desde o primeiro encontro, contudo, não há nada forte o suficiente para questioná-la. Ao menos, ainda não.

— Qual é sua cor favorita? — dispara.

Enrugo a testa.

Lembro-me de que, quando era menor, os médicos costumavam usar muito essa mesma pergunta para tentar iniciar um diálogo. Eles não obtinham sucesso, pois eu não sabia o que responder. Hoje entendo que não tenho uma cor preferida.

De modo peculiar, elas variam de acordo com o ambiente. Por meses, estive familiarizado com o branco dos consultórios que frequento, assim, o tom claro se tornou meu preferido por algum tempo. Todavia, agora tudo está diferenciado.

Encaro fixamente Iris a aguardar uma resposta, ela desvia o olhar para o céu e não parece incomodada com a demora. Suspiro. Analisando-a, como fiz no primeiro dia em que a vi, observo a luz das estrelas espelhadas em seus olhos azuis, a cor é tão clara que me possibilita enxergar as constelações diretamente dali.

— É... azul.

— O quê? — agora voltamos à posição inicial, com ela me fitando atentamente.

— Mi-minha cor preferida... é azul. Azul, como os seus olhos. — seus lábios sorriem. — A-as estrelas refletem neles... é bonito.

Esfrego as duas mãos na barra áspera da calça, esperando uma resposta. Entretanto, ela não vem em forma de palavras, conforme o esperado.

Iris absorve a frase ouvida aos poucos, até que a expressão confusa se apaga gradativamente. Antes que eu possa me desesperar, seus lábios se puxam para o lado em um sorriso, e descubro que compartilhar meus pensamentos, mesmo que só às vezes, não seja uma escolha ruim.

A buzina de um carro tira a nossa atenção. Viro meu rosto para o lado mais escuro do parque, onde passa a rodovia, reconhecendo o veículo. Com o braço para fora, a minha mãe acena, sorridente. Gesticulo para que espere.

— Ande logo, Shawn, não posso ficar parada aqui. — verbaliza ao longe.

Solto uma risada curtinha. Iris se levanta prontamente e estende a mão para me ajudar a ficar de pé. Balanço a cabeça em negação e ergo-me por conta própria. Bato a parte de trás da calça, a tirar a poeira no tecido e caminho, junto a dona dos olhos bonitos, lentamente para fora.

Despeço-me com uma assentida. Gentilmente, ela abre a porta do carro para que eu entre. Com um sorriso no rosto, apresenta-se à minha mãe e atravessa a rua para o consultório da psicóloga. Acomodo-me no banco de couro e recosto o rosto na janela.

O veículo atravessa a escuridão. No trajeto, algumas palavras são escapadas da moça quem me colocou no mundo, mas só respondo com um ranger de garganta. Meus olhos estão fixos nas estrelas, contando-as uma a uma, nada é capaz de me despertar deste transe.

Quando estacionamos na garagem, o cheiro delicioso do jantar invade nossas narinas. Olho a mamãe a sorrir e devolvo o mesmo riso. Saltamos do carro às pressas.

Entrando pela cozinha, avisto a mesa posta para nós três. O cheiro do tofu na chapa é maravilhoso, ainda mais apaixonante que o do frango ensopado. Purê de couve-flor roxa, salada verde e, para mim e o papai, tofu.

Optei por não comer carne ainda mais novo, quando descobri as alergias e o cardápio restrito. Assim que me disseram que produtos cárneos eram animais mortos, larguei-os de imediato. Em compaixão, meu pai segue a dieta pura também.

O silêncio se faz presente à mesa. Nossas bocas estão muito ocupadas com a refeição extremamente saborosa para interromper este momento com conversas. O pai é um cozinheiro de mão cheia. Gostaria de aprender a ser como ele, mas sempre me advertem pela proximidade do fogão.

Longe da cozinha, mantenho-me no quarto. Gosto da companhia do lar e as estrelas. Com o tempo, eles se tornaram meu refúgio. Quando há alguma confusão aqui em casa, finjo por alguns instantes que estou no espaço e tudo aparenta pleno, silencioso. Agora, tenho outra amiga que não seja uma das constelações: Iris.

— Está pensando no quê, meu filho? — inquire o pai.

— Oi?

— Está sorrindo... está pensando em alguma coisa. — conclui, e dou-me por vencido. — O que é?

— Psicóloga.

Ele assente e sorri.

— Mason, Shawn fez uma consulta no parque hoje. — explica a mãe. — Ele foi olhar as estrelas com a filha de doutora Patricia.

— Que legal, querido! Você se divertiu?

Concordo com a cabeça.

— Arrumou uma nova amiga?

Assinto outra vez.

— Ela também gosta das estrelas?

— Estuda. Iris estuda as estrelas.

Para minha surpresa, os dois se entreolham em choque. Eles conversam com suas feições, contudo, não sou capaz de decifra-las.

— Sobre o que conversaram no parque, meu amor? — a mãe indaga, ao colocar mais uma porção de frango em seu prato.

— Cores.

— Muito bem! — parabeniza-me, colocando a mão sobre a minha. — Fico feliz que esteja gostando das consultas.

Meus lábios se esticam em um sorriso. Balanço a cabeça, afastando a timidez por ser encarado pelos pais ao mesmo tempo. Rumo meus olhos para a comida e continuo a jantar. Eles, realmente, aparentam felizes por mim.

Enquanto mastigo, analiso como estive errado. Não tenho só Iris e as constelações como amigos, meus pais também são. Talvez, eles sejam os melhores.


Notas Finais


Muito, muito obrigada por lerem até aqui!
Vejo vocês em breve ♥
Com amor,
Lali e Jéss.

► Disfarce Invisível • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
► Conheça Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
► Conheça Hurdle (escrita por Jess) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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