1. Spirit Fanfics >
  2. Ruídos de Saturno >
  3. Atmosfera

História Ruídos de Saturno - Atmosfera


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Hey, gente! Jéss aqui!*
Sei que ando meio sumidinha, mas garanto que não é por mal.
Estamos adorando o rumo da história e a interação de vocês, continuem aparecendo 💜
Boa leitura!

Capítulo 7 - Atmosfera


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Atmosfera

Não demoro a me sentar, quando entro no consultório da psicóloga. Como de praxe, a doutora me espera, sorridente, em sua poltrona perante o sofá de tom amarronzado. A presença de sua filha também se tornou habitual, mesmo que, a cada consulta, ela esteja em um canto diferente da sala. Um novo atendimento, mas de caráter comum. Pelo menos, de início.

Surpreendentemente, Iris dispensou o jaleco branco e está usando uma blusa azul. A tonalidade combina com a de seus olhos, levemente mais escura, no entanto.

 Eu gostei, ficou mudada. Uma transformação boa. Sentada à mesa de centro, posso notar que as mãos dela se ocupam em alguma coisa. Curioso, ergo o pescoço para descobrir o que tem sua atenção, ato responsável por um nascer de sorriso em seu rosto.

Inclinando-se para o lado, a loira permite que eu veja o que está a fazer. Os planetas esculpidos por mim no encontro passado estão posicionamos sobre a superfície de madeira e coloridos. Com a mão direita, a filha da psicóloga apoia o pequeno Mercúrio e, com a outra, desliza o pincel sujo de vermelho pela argila seca.

Fazendo menção com a mão para que eu vá até ela, encaro sua mãe à minha frente e, assim que recebo o aval dela, aproximo-me. Todos os planetas foram cuidadosamente coloridos e detalhados. É uma pena que eu tenha a visto pintar apenas o último.

— Não se preocupe, você também ajudará Iris a terminar o sistema solar. — a voz da psicóloga suaviza meus tímpanos como a terna canção de Coldplay.

— Preferi pintar os planetas sozinha para ganharmos tempo, já que temos muito o que fazer. — explica-se. — Ainda precisamos de um sol, estrelas e organiza-los em órbitas.

Um sorriso interessado se faz presente em meus lábios. Ao julgar pela consulta passada, habilidade manual não é o meu forte, mas devo confessar que é divertido. Gostei da argila, acho que posso apreciar alguma outra atividade voltada à arte.

— As estrelas estão prontas, são adesivos que brilham no escuro. — assim que dr. ª Patricia introduz, lembro-me das que decoram meu quarto. — Nossa conversa será em jogo: perguntarei alguma coisa, e, quando você quiser responder, colará a estrela em um lugar específico da sala; quando não, darei um cometa para que pendure onde quiser.

— Não há perdas, Shawn. — a de fios alourados me sorri.

— Tu-tudo bem.

Viro-me para a especialista, um tanto receoso com a primeira pergunta. Seus olhos acinzentados encontram os meus castanhos, a me amedrontarem; de imediato, desvio-os para o chão e concentro-me em uma pequena rachadura no piso. Respiro fundo.

— Shawn, você gostava de vir aos nossos encontros?

Engulo em seco, pegando uma bola de isopor com um plástico colorido ao redor, acredito que seja papel celofane, a qual simboliza um cometa. Olho para a psicóloga e caminho para o lado oposto, a pendurar a esfera na estante de livros.

— Agora, com a presença da Iris e as atividades, você gosta de vir?

Assinto, permitindo que um pequeno sorriso surja em meus lábios. Busco o saquinho com adesivos de estrelas em uma das mãos da doutora.

— Gos-gosto. — para sua surpresa, colo a pequena estrela em sua mão.

— Shawn? —  ela encara o adesivo. — Por que em mim?

— Porque eu gosto da senhora.

Pela primeira vez, posso perceber os olhos de Patricia brilharem enquanto ela sorri, assim como os tão bonitos de sua filha. Sem mostrar os dentes, devolvo a feição amigável. Pego outra unidade, colando-a no sofá. Tendo em vista que aquela era outra resposta.

Conforme as perguntas vem, eu as julgo. Ora me sinto confortável para me abrir, ora não. Não vejo mal em falar sobre minha opção por não comer carne, mas incomodo-me ao citar minha preferência por roupas escuras. É difícil arranjar um motivo, apenas me sinto mais seguro assim, um tanto discreto.

Iris comemora minha revelação sobre ter gostado de Yellow, no entanto, suas bochechas ruborizam no momento em que digo considerá-la amarela como a canção. Devo admitir, o tom rosado no rosto combina com sua blusa azul. Ela parece uma pintura, uma espécie de obra de arte fugida de um museu. Iris é especial.

— Se você pudesse pedir qualquer coisa a alguém, o que seria?

Irônico. Esta pergunta não é complexa, consigo entendê-la; pensar na resposta; considerar algumas hipóteses, contudo, nenhuma palavra são da minha boca. Poderia facilmente pedir para todos os olhares sobre mim mudarem ou as análises, livros novos, momentos como estes, mas não. Nada disso me escapa.

— Saturno.

— Não podem lhe dar saturno. — a voz de Iris se faz presente. — Sem contar que você não poderia carregá-lo para onde quisesse; Shawn, tem de amá-lo como é, livre e intocável.

— Eu sei — suspiro, dando-me por vencido —, mas isso é o que eu pediria. — pego mais um adesivo de estrela e colo-o no dorso da mão pálida da estudante. — Gosto de imaginar que saturno é meu, mesmo que eu o vigie de longe, sinto como se eu o protegesse.

—  Como um manto invisível? — ergue uma das sobrancelhas.

Reviro os olhos, na tentativa de digerir esta analogia. Não sei se um esta é a melhor forma de explicar como eu me sinto em relação ao sexto planeta do sistema solar. Meu fascínio pelos anéis vai além da beleza, é um encanto pela originalidade. Sinto uma necessidade de zelar por ele.

— É, como a atmosfera, que aquece e protege a terra. Gosto.

— Também gosto. — rebate ela, repousando a sua mão sobre a minha.

O toque macio e cálido me causa um estremecer. Encaro nossos dedos sobrepostos e solto uma gargalhada silenciosa. Analiso cada detalhe, ainda a absorver a conversa. Aquecido, protegido e vigiado de longe. A verdade estava sob meu nariz, Iris é minha atmosfera.

Uma semana depois.

Na consulta de hoje, sinto uma considerável diferença em Iris. Embora continue falante, procurando estabelecer uma conversa interessante entre nós, ela me analisa um pouco mais que o de costume. Como se tentasse encontrar uma brecha para fazer ou dizer algo. Quando, enfim, terminamos nosso planetário, dr.ª Patricia segue para sua mesa, pronta para fazer as costumeiras anotações. Iris e eu ficamos sozinhos sobre o tapete colorido, a repousar no chão.

— Então... — sua voz aveludada abstrai as dúvidas em meu cérebro. — Preciso lhe dizer algo.

— E-eu já sabia. — rebato, provocando nela um delicado espanto. — Pareceu que estava tentando conversar comigo, mas algo lhe impedia... impedia o tempo todo.

— Você me analisou. — desconversa, com um estranho olhar de admiração. — Faz isso sempre? — concordo, desconfortável.

Ainda não entramos em uma conversa sobre as minhas manias.

— Por favor, diga o que queria me dizer.

— Na semana passada, você confessou que se pudesse pedir alguma coisa a alguém, pediria Saturno. E eu discordei, como se fosse um pedido inalcançável. — olho atentamente os lábios que se movem depressa. — Hoje mais cedo, pensei sobre isso enquanto dirigia até aqui. Imaginei como muitas vezes é errado tentar convencê-lo de que seus desejos são impossíveis, quando, na verdade, não são. — sua provável delicada mão zarpa até um dos bolsos da jaqueta que usa.

É uma jaqueta de couro vermelha e diferente das roupas que costuma vestir. Porém, gosto de como o tom loiro de seus cabelos se destaca em contato com a vibrante cor. Do pequeno bolso, ela retira uma caixinha de veludo e entrega-me, mesmo que receosamente. Dentro dela, há um pingente. Pequeno, prateado e de metal.

Imediatamente, reconheço:

Saturno.

— Talvez seja impossível de imaginar, entretanto, não de conseguir.— assustado, apanho a joia, analisando-a o mais perto que consigo. Tenho certeza que meus olhos estão brilhando agora. — Sei que não é exatamente o que desejava, mas...

— Não, não. — interrompo-a, antes que termine.

 — É perfeito! — seus lábios sorriem. — Não recebo m-muitos presentes, as pessoas nunca sabem o que me dar. Você soube.

Assim como acredito que estejam os meus, os olhos azuis da filha de minha psicóloga brilham. As estrelas estão ali.

— Soube por que você me contou. — insiste ela.

— Não importa... eu gostei. Obrigado!

A verdade é que não sei muito o que dizer. Talvez não seja educado dizer que é um dos melhores presentes que já ganhei, ou, quem sabem, confessar isso seja o mais correto. Eu não sei.

 Contudo, meus lábios não se mexem em busca de palavras; estão ocupados demais sustentando um sorriso inteiramente voltado para Iris. Não costumo fazer muitos planos para o futuro, mas, já no carro, enquanto faço o caminho para casa, concluo que, não importa onde esteja, eu carregarei saturno comigo. Não me despedirei dele.

E, de certa forma, levar o presente significa levar Iris também.
             Sempre estaremos juntos, mesmo que como um pingente.
              Sempre.


Notas Finais


O capítulo não foi revisado, então se houver algum errinho relevem que logo arrumaremos.
Opinem sobre o que estão achando dessa proximidade dos dois, talvez já possamos chamá-los de...amigos? Digam aí!
Voltaremos na próxima semana 💜
Com amor,
Lali e Jéss.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...