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História Ruídos de Saturno - Buraco negro


Escrita por: souhamucek e Jeleninhaz

Notas do Autor


Hello, hello!
Estou de volta aqui com mais uma atualização de Ruídos. Este capítulo é o mais intenso até agora e estou levemente receosa com ele justamente por ele ter uma carga, acho que podemos chamar assim, diferenciada dos outros. Espero que vocês gostem dele, nós ficamos tão empolgadas que o escrevemos em menos de uma hora.
Alguns avisos:
► Como a Jéss avisou no capítulo anterior, aumentamos a história e ela terá vinte capítulos;
► A parte escrita em itálico é um flashback;
► O teaser da fanfic está pronto e o link estará nas notas finais.
Boa leitura!

Capítulo 9 - Buraco negro


Fanfic / Fanfiction Ruídos de Saturno - Buraco negro

Por trás dos vidros escuros do carro, meus olhos captam cada detalhe possível presente na paisagem de fora. O acelerar do peito, há pouco desencadeado, ainda não passou; minhas pernas continuam bambas, e o sorriso tolo não abandona meus lábios. Em meu interior, uma nave de sensações me passeia.

Após uma conversa sobre o beijo, onde Iris permitiu que algumas das minhas dúvidas fossem esclarecidas, senti uma estranha vontade de repeti-lo. Porém, dr.ª Patricia voltou o olhar a nós dois neste meio tempo, o que me fez questionar se seria ruim ou não fazer aquilo na frente dela. Entalado pelas novas perguntas, resolvi esperar até a próxima consulta.

— Vejo que alguém está muito sorridente hoje. — mamãe comenta o óbvio, parando o carro, durante o sinal vermelho, como de costume.

Concordo com ela, sem palavras suficientes para explicar o quão estou alegre. Apenas assunto e liberto um sorriso exagerado.

— Fizeram algo novo na consulta de hoje? — questiona, curiosa com o meu comportamento.

Sem demora, resolvo compartilhar a experiência de mais cedo, é um costume contar meus aprendizados a ela quando surge a vontade.

— Iris me mostrou uma coisa... —sussurro, atraindo mais curiosidade. — ela me mostrou um beijo. Um d-diferente... aqui. — toco os lábios em forma de explicação. Entretanto, o contato não dura muito tempo, pois sou obrigado a me segurar no banco de couro, por conta de uma freada súbita e brusca provocada pelo carro.

Em instantes, percebo que a expressão no rosto de minha mãe já não é mais a mesma; vejo uma mistura de surpresa, medo e preocupação. Rapidamente, isso me assusta. Observo cada linha enrugada na testa pálida de minha mãe, tentando decifrá-las uma a uma, todavia, não obtenho sucesso.

— O que disse?

— Iris e eu nos beijamos. Beijamos. — respondo com mais clareza.

— Shawn, quero que escute uma coisa, okay?

Neste momento, o carro não está mais em movimento, está parado em algum canto da rua. As mãos compridas abandonam o volante e fecham-se em punho, a demonstrar toda a raiva ali abrigada. Mamãe me olha de uma forma desconhecida, a qual me incomoda ao ponto de não conseguir sustentar este olhar.

— Nunca mais repita isso em voz alta. Quero que se esqueça desse... incidente.

– O quê? Po-por quê? — pergunto, agitado.

Iris me disse que beijar não era ruim, que deixava as pessoas satisfeitas quando ambos queriam. Por que a minha mãe entende como algo tão diferente?

— Só apague da memória, filho. Não posso cobrar mais nada de você... — ela bufa — a culpa não é sua.

Depois do suspiro intenso, o assunto morre, assim como minha alegria exacerbada. Um silêncio pesado, carregado de tensão, invade todos os espaços presentes no carro. Sua presença me incomoda, inclusive, mas, sem precisar pensar muito, percebo que não nos abandonará, ao longo do caminho.

Mamãe não ousa me dar explicações longas, apenas estende o braço em direção às escadas e pede para que eu aguarde o jantar em meu quarto. Silenciosa e obedientemente, caminho os degraus acima. Abro a porta de madeira e sento-me na cama macia. Minha mão ansiosa vasculha o controle remoto entre as cobertas quentes e, ao encontrá-lo, liga a televisão.

— Temos que tomar alguma atitude, isso não é certo! — a voz desesperada de minha mãe exclama ao fundo, sendo pouco ocultada pelo som da TV, o qual abaixo, mergulhando de vez na curiosidade em ouvi-los.

— Não sei nem o que dizer... — a voz de meu pai é confusa, talvez perdida. — A Patricia está ciente? Como ela permitiria algo assim. Eu-eu... — ele gagueja — estou mais surpreso que decepcionado.

Tudo estava bem até eu contar sobre o beijo. Fui eu quem causara este caos. Eles estão discutindo por minha culpa, mesmo que, no carro, mamãe tenha dito que não. Isso é estranho. Muito estranho. Iris me garantiu que beijar nos lábios não era uma coisa ruim.

— Des-desculpe-me. — solto em um murmuro quase imperceptível, afastando o meu rosto de vez.

Como no filme, este deveria ser o momento em que Iris diz alguma coisa compreensiva e satisfatória. No entanto, os segundos seguintes, após nosso encontro de lábios, foram os mais silenciosos possíveis. A menina com constelações nos olhos não demonstra nenhuma reação diferente do comum, mesmo que eu esteja trêmulo como um a estrela prestes a explodir, o que acaba por me incomodar. Talvez eu tenha errado em alguma coisa. Ou, quem sabe, isso que fiz não seja uma coisa tão boa.

— Não tem porque se desculpar, Shawn. — abro um sorriso no rosto. — Só peço que não faça novamente. — devolve no mesmo tom.

— Do que estão falando? — a voz súbita da psicóloga acelera meu coração.

— Shawn está confuso com a cena, estou lhe explicando... — Iris mente.

O desespero, então, alcança-me gradativamente. A sensação de um buraco negro a sugar os sentimentos bons é torturante. Iris não gostou de minha atitude. Afundei-me no desconhecido, vestido de expectativas, e surpreendi-me com o vazio. Se a filha da psicóloga tivesse gostado, não me pediria para não repetir.

Eu errei.

Minhas mãos suadas se agitam. De repente, não sei onde colocá-las, nem sei o que devo fazer. Inquieto, esmago os meus dedos contra o jeans da calça e esforço-me a manter a atenção na rigidez do tecido. Um nó de saliva se alastra pela minha garganta e entala-a. Engoli-lo em seco exige uma força que não tenho. Estou sem capacidade de distrair minha mente. Preciso de respostas.

— Por que não? — disparo, talvez um pouco alto demais. Dr.ª Patricia nos espia com o canto do olho, e, disfarçadamente, espero para falar de novo. — O que eu-eu fiz é... ruim? Eu não-não queria... — balbucio, tentando me expressar da maneira mais baixa e, ao mesmo tempo, decifrável possível.

Contudo, o contato das mãos delicadas de Iris se entrelaçando nas minhas me acalma. Seus olhos mergulham nos meus, estabelecendo uma leve conexão entre nossos olhares.

— Beijar não é ruim. — sibila. — Pelo menos, não quando os dois querem. Quando duas pessoas se sentem atraídas uma pela outra, pode acontecer. — franzo o cenho. — Você nunca tinha visto um beijo antes? — assustada, sussurra. Nego, em prontidão.

Sua pele gelada toca minha bochecha aquecida, formando um carinho tranquilizador.

— Está tudo bem! Você não precisa ter medo do novo sempre que se deparar com ele. — concordo com a cabeça, desviando meu olhar ao filme. — Não há problema em sentir vontade de conhecer as coisas. — conforta-me, em muxoxo.

— Mesmo? — agora é a vez dela de assentir, cheia de convicção. — Mas... você gostou?

— Foi um dos gestos mais singelos que já recebi de alguém. — Iris garante, exibindo um tímido sorriso nos lábios, há pouco, tocados por mim.

Outras dúvidas se fazem presentes em um tempo mínimo. Meu desejo é de bombardeá-la com perguntas; em especial, o porquê de não podermos fazer novamente. Não obstante, sem coragem suficiente para soltá-las, decido por ceder ao empasse de me calar. Apenas me permito sorrir.

— Por que estão cochichando o tempo inteiro? Shawn estava tão concentrado e receptivo... está achando chato? — balanço a cabeça negativamente mais uma vez, trazendo de volta a timidez inicial. — Tem certeza de que está gostando, Shawn? Qualquer coisa, podemos voltar a consulta ao normal...

— Não. Não precisa. Gosto... do filme. É legal.

Devorando meu nervosismo, esboço um sorriso amarelado e assinto. Este é o momento em que tenho a certeza de que coisas assim só são especiais nos filmes. Prendo meus olhos na ficção e retorno a assimilar minha realidade com a do personagem.

No fundo, talvez eu seja um.

As palavras de minha mãe são rápidas e seguidas, assemelhando-se a mísseis. Ela dispara argumentos ríspidos que, em toda a minha vida, nunca os ouvi. Embora esteja mais calmo, o pai concorda com as sílabas hostis. Posso notar o temor em seu timbre. Ambos estão nervosos, eufóricos e amargos.

Do lado de fora da porta, uma chuva de meteoros marca presença. Sinto meus pés tremerem sobre o chão a destruir aos poucos. Cruzo as pernas sobre o colchão, mentindo a mim mesmo sobre estar a salvo. Com a mão esquerda, fisgo o pingente no pescoço e balanço-o, na tentativa falha de embarcar para Saturno. Certo os olhos fortemente, a concentrar-me no planeta seguro.

— Não é sair impune... — o contra-argumento de meu pai é audível.

— Não podemos negar o óbvio. — bem como o grito da tréplica. — Esse beijo foi, sim, um abuso de incapaz. O Shawn não é apto para tomar suas próprias decisões, nem nunca será.

Com o peso intenso das palavras de minha mãe, a decolagem a Saturno é abortada. Meus olhos se abrem com tamanha dor da realidade. A boca entreabre sob os efeitos do impacto do foguete de volta à Terra. Minha mão, trêmula e insegura, abandona o pingente.

Percebo um marejar diferente em meus olhos, a vista se embaça. Por um ínfimo instante, meu pescoço fraqueja e a cabeça aparenta robusta demais para ser sustentada. Uma lágrima gelada percorre toda extensão de minha bochecha, marcando o trajeto de dor em meu rosto.

Movo o polegar para o botão do volume no controle, este ainda repousado na mão, e pressiono-o, às pressas. Neste momento, até o chiado junto aos ruídos da televisão me confortam. Qualquer barulho é melhor que a voz de meus pais. Até os soluços do choro. Minha única vontade é de apagar o dia de hoje e a sensação de culpa que me envolve como a camada de ozônio abraça o planeta do qual sou incapaz de fugir.

Não quero ouvi-los. Não quero.


Notas Finais


Muito obrigada por lerem até aqui!
A Jéss e eu estamos extremamente felizes com todo o feedback de vocês, eles significam muito para nós duas. Seremos eternamente gratas por terem abraçado a nossa história ♥
Com amor,
Lali

► Playlist da Fanfic • https://www.youtube.com/watch?v=yKNxeF4KMsY&list=PLQ-MVX5tT4rnzig0i0zEog6RFlXKL0L-1&index=4
► Teaser da Fanfic •
► Conheça Amputado (escrita por Lali) • https://spiritfanfics.com/historia/amputado-7215366
► Disfarce Invisível (escrita por nós duas) • https://spiritfanfics.com/historia/disfarce-invisivel-9197476
▶ Conheça Hurdle (escrita por Jess) • https://spiritfanfics.com/historia/hurdle-8473781


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