História Rumo a um tom de esperança - Capítulo1

CAPÍTULO 1

Há dezessete anos atrás,dia 21 de julho,acredito que tenha sido o dia preto mais escuro de todos.O nascimento de Melanie Seidel Lourini.O meu nascimento.

Foi um breu não pelo fato de eu ter passado a existir,mas porque isso custou a existência da minha mãe.Eu não me lembro desse dia,mas não consigo acreditar que algum futuramente possa ser de um tom mais escuro de preto,pois ele levou de mim alguém que seria o meu apoio em todos os momentos,que seria a minha melhor amiga,que seria o meu mundo e que era extremamente colorida.

Apesar de eu nunca a ter conhecido posso ter essa certeza porque eu nunca estive envolvida em um abraço físico dela,mas já estive envolvida por cada parede de seu coração e por mais estranho que pareça ser,as vezes sinto que ainda estou.

Minha mãe engravidou de mim aos 23 anos.Ela teve complicações no parto e devido a uma grave hemorragia, acabou falecendo.Isso destruiu meu pai de uma forma que não consigo descrever,e mesmo que ele não me culpe pelo que aconteceu,eu mesma acabo me culpando.

Quando eles tiveram as primeiras conversas e os primeiros planos de ter um bebê,imaginavam que seria para somar na família e não para permanecer com os mesmos componentes ,subtraindo um,como se fosse uma equação matemática.Minha mãe não imaginava que a realização do maior sonho dela seria a causa de sua morte.

Sempre que eu toco no assunto de eu ser a causa desta tragédia,as pessoas me mandam de modo prático calar a boca e dar graças a Deus por minha vida,pois ele é o dono do mundo e tinha um plano pra minha mãe quando isso aconteceu e que com certeza tem um pra mim também.Porém existe uma exeção.Meu pai.Ele nunca me culpa,mas ele nunca faz o esforço de negar.E eu sei que quando ela morreu ele desejou morrer junto com ela,mas eu gostaria muito que ele entendesse que eu posso ser a luz da vida preta dele,a luz da esperança,basta ele aceitar.Mas o fato dele sempre  se fechar pra mim,se fechar pra tudo que ofereço e não demonstrar o mínimo interesse, já me fez desistir de ser uma cor clara pra ele.Não tem como  tentar ser um amarelo vivo para alguém preto piche.

A única coisa que sei sobre minha mãe é que ela se chamava Helena Rosie Lourini e que realmente era muito boa em tudo o que fazia,principalmente em tocar piano,pois até hoje o piano dela permanece na nossa sala de estar.Tirando isso,eu nunca se quer vi o rosto dela. Meu excelentíssimo pai Humberto Lourini,fez questão de sumir com todas as fotografias e retirar da nossa casa tudo que lembre ela. Eu peço a ele todos os dias uma história apenas,algo referente a mulher que viria a ser meu porto e meu tom de esperança na vida. Apenas uma. O meu pedido é sempre negado.

Essa é minha vida.Sou uma adolescente de 17 anos que não sabe nada sobre a pessoa que me deu a luz e que passa os dias imaginando como ela era e lutando para que meu pai aceite o fato de que agora só é ele e eu. Eu fico pensando qual eram as  comidas preferidas dela, o que ela mais gostava de vestir,qual era seu cheiro e principalmente sua face. Mas como tudo isso não passa de imaginação eu me uni a única coisa que me liga a ela.A música.

Eu toco piano desde os meus 11 anos,assim como a minha mãe tocava.Eu não sei ao certo o porquê do meu pai não ter se desfeito do piano dela,mas imagino que ele gostasse muito dos momentos que ela tocava,pois é um dos únicos fatos sobre ela que eu tenho conhecimento. E quando eu soube disso,o meu objetivo de vida se tornou ingressar em uma faculdade de música e viver disso,desta forma ligada a minha mãe pra sempre.

Eu amo compor e cantar juntamente ao piano,é o meu entretenimento preferido e fazendo isso eu sinto que minha mãe nunca se foi. Ela só está dormindo no quarto e quando acordar vai olhar nos meus olhos e dizer “Que lindo mel! Te trouxe um achocolatado e biscoitos”. Eu sei que parece loucura mas é apenas minha vida resumida em música e imaginação.

Apesar de tudo,eu me considero uma adolescente cheia de sonhos e canções a compor.Uma pessoa que precisa escrever sua história sem ligar para as páginas velhas que estão sem vida e cheias de erros ortográficos.Devido a isso ingressei para a faculdade Music Word e amanhã é o meu primeiro dia como novata. Não nego que estou extremamente nervosa,porém também não nego que eu tenho um talento maravilhoso e sinto que herdei isso da minha rainha Helena.Então apesar do nervosismo eu estou anciosa.

Parece loucura,mas a verdade é que geralmente as pessoas me consideram uma pessoa confusa,estranha e louca,mas não sou necessariamente assim. A questão é que até hoje não encontrei ninguém que compreendesse meus pensamentos e sentimentos mais profundos com exceção da música.

Acho que de todas as ideias que flutuam no meu cérebro ,uma das coisas mais interessantes que eu percebi é que não importa se é verão ou inverno,outono ou primavera,os dias sempre são importantes e a esperança em cada um deles deveria sempre estar presente também.Adimito que muitas vezes  eu não percebo a importância de cada dia,nem entendo o porquê de serem ruins de vez em quando,mas sem os ruins não haveriam dias bons.Simplesmente não seriam notados.

Assim,dentre minhas exóticas manias,sempre que tenho oportunidade de  refletir,classifico meus dias com cores atribuindo à elas significados unicamente meus,tornando todos os meus dias coloridos por piores que sejam.Eu tento encontrar a esperança em cada tom de cinza ou preto.