Coreia do Norte
Dentro daquele carro preto, não mexi um músculo, alguém ainda segurava meu braço. Eu não consegui pensar em nada, nunca havia entrado em um carro antes.
A pessoa ao meu lado começou a dizer alguma coisa, eu não consegui distinguir o que. Então ela tocou meu rosto e o virou para que eu pudesse a olhar nos olhos.
-Você é Eunji certo? Eunji Kim? -Era uma mulher, de uns trinta e poucos anos, com olhos grandes e o cabelo comprido em um rabo de cavalo perfeito. -Trabalho com o seu pai, você não precisa ter medo, estamos aqui para te ajudar. Meu nome é Marina Lee e esse é Kinam. -Disse apontando para o motorista.
-Meu pai trabalha em uma mercearia. -Falei baixinho. -Ele nunca disse nada sobre você. Onde ele está? Cadê minha mãe?
-Calma, calma. Eles estão perfeitamente bem, vão explicar tudo quando chegarmos.
Não falei nada o caminho todo, pior não poderia ficar, precisava confiar na mulher naquele momento.
Ficamos horas dentro daquele carro, viajando para só deus sabe onde, já não aguentava mais.
-Preciso ir ao banheiro.
-Porra, é sério? -Perguntou o motorista, um cara de cabelo comprido, usando óculos escuros. Kinam.
-É sério. Precisamos parar. -Falei pela primeira vez encarando cada um. E foi o que precisei fazer.
-Kinam, se eu não me engano tem um restaurante à três quilômetros, eu vou com ela. -Marina disse tentando ser o mais doce possível. Paramos em um restaurante antigo na beira da estrada, era todo de madeira e blocos. -Espere no carro. -A mulher disse ao motorista.
Ela saiu primeiro e estendeu a mão para que eu segurasse, ela era mais alta do que eu tinha percebido em meio a correria, exitei por um segundo mas segurei sua mão. Ela me conduziu até o banheiro, depois para dentro do restaurante, comprou alguns salgadinhos e refrigerante.
-Sua filha? Você parece tão nova para ter uma filha desse tamanho... -Perguntou um senhor usando um chapéu de pesca do outro lado do balcão do caixa.
-Minha sobrinha. -Respondeu Marina rapidamente.
-Oquê vocês estão fazendo nessa estrada? Pra lá não tem nada para duas jovens. -Disse o velho entregando as sacolas para nós.
Marina não respondeu, simplesmente se virou em direção a porta e saiu me puxando pelo braço. Isso me deixou mais tensa. Por que tantos segredos?! Isso me dava arrepios.
Entremos no carro e Kinam acelerou. Mais nenhuma palavra foi dita, nenhum olhar foi trocado entre nós. Estávamos em uma estrada que parecia não ter fim, com apenas plantações de arroz e pântanos em volta, nada parecia sobreviver naquele lugar. Não sabia se eu iria sobreviver naquele lugar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.