Suas longas pernas já doíam pela fuga. Com respiração irregular, seguia correndo no breu da floresta. Os cabelos loiros se agitavam, quando vez ou outra virava o rosto, olhando para trás, na esperança de seu agressor ter desistido de persegui-la. Em vão…A cada vez em que se virava, lá estava ele, veloz, parecendo mais próximo de alcançá-la.
Taylor não sabia por quanto tempo mais aguentaria. Com pés descalços, era como correr em cima da brasa. O vento batia aos galhos, açoitando às copas das árvores. No silêncio, sua respiração desesperada parecia audível como uma orquestra barulhenta. Continuava a correr, agora, com a sensação da presença tão próxima, a centímetros de tocar-lhe. Sua visão já embaçada, detinha lágrimas de derrota.
Maldita hora que decidira abastecer no posto deserto. Por que fora tão ingênua a ponto de baixar o vidro para ouvir o que um estranho tinha a dizer?
Em uma última tentativa, com o medo exalando de si, ela correu, a um passo de ser alcançada. O impulso que dera, ainda que mínimo, foi o bastante para que não entregasse os pontos logo ali, no escuro.
Seu rosto, banhado em lágrimas, trazia alguns cortes superficiais, dos arranhões dos galhos. Seus soluços altos e desesperadores, rompiam o silêncio da noite, enquanto continuava a correr.
Fora então, em um momento de distração, onde seu pé encontrou um vão no solo. Taylor urrou de dor com a torção, se agachando. Olhando pra cima, massegando o pé ferido, pedia silenciosamente aos céus que o maldito não a pegasse.
Acostumada a ter seus pedidos negados pelas divindades, logo sentiu uma mão pesada em seu ombro. As gotas que fluiam dos olhos, eram de ódio, e a tristeza fora esquecida naquele momento.
O desgraçado empurrou seu corpo de bruços contra o chão, pressionando seu rosto pra baixo. As mãos alheias lhe afastaram as pernas, enquanto subia seu vestido. Não, ela não imploraria. Não suplicaria. Nem por um segundo. O ódio, presente em cada átomo de seu corpo, não lhe permitiria. Seus braços foram contidos e amarrados por uma corda, a mesma que prendera seus pulsos antes da fuga, cerca de uma hora atrás.
A loira se lembrou de quando fingiu-se de morta no porta-malas do próprio carro, do chute certeiro nas malditas bolas do filho da mãe. E todo ódio que corria em suas veias nos momentos dos quais se lembrava, voltou a si de uma vez. Ele mudou de ideia, e a virou, decidindo que a queria de frente. Ledo equívoco.
Ela o chutou de novo, no mesmo lugar. A dor foi demais, obrigando-o a recuar. Taylor correu de novo, com mãos amarradas e um pé dolorido.
Pouco tempo de vantagem ela teve, quando o infeliz a seguiu outra vez.
Seus fios loiros esvoaçantes foram agarrados no ar, pelas garras do bastardo. Seu coração estava a ponto de explodir. Águas salgadas brotando rapidamente, enquanto deixou-se, enfim, vencer-se pelo cansaço.
— Agora eu perdi a paciência, minha querida. — O Diabo sussurrou em seu ouvido, em tom ofegante e sórdido. Taylor foi empurrada com força contra uma árvore. — Você me deu uma canceira sem tamanho, vadia. Por isso vou te comer por trás. — O ar gélido se apossou de seu estômago no mesmo instante e, assim como o medo lhe dominou, sentia como se pudesse vomitar agora mesmo. O tecido de seu vestido fora rasgado sem muito esforço. Ele fez o mesmo com sua calcinha. Uma mão repugnante sobre sua boca, impedindo sua voz de sair, seu corpo inteiro tremia. No instante em que ouviu o som de zíper descendo, desejou já estar morta.
Um morango, carinhosamente colocado em sua boca pela namorada. Sorriu, sentindo o sabor doce e levemente ácido invadir suas papilas gustativas. Ela se inclinou, com os lábios ligeiramente mais vermelhos, e alcançou um beijo. Seus dedos passearam entre os fios pretos e lisos durante o contato entre suas bocas. A língua deslizou pelo lábio inferior, para logo adentrar.
— Eu tenho que ir, Tay. — Murmurou contra os lábios. Embora as mãos dela ainda estivessem em sua cintura fina.
— Tem mesmo? — Devolveu, apertando a bunda com jeito. — Katy, quando é sua próxima folga? — Pegou o distintivo da bancada, escondendo atrás de si, travessa. Seus lábios se separaram.
— Tay, devolve. Eu vou me atrasar. — Pedia.
Com um sorriso sutil brincando em sua boca, a loira entregou o objeto.
— Promete que vai me encontrar hoje à noite, sem que eu precise ligar dez vezes, enquanto você usa o trabalho como desculpa? — Sua voz com notas de chantagem emocional surtiu o efeito desejado. Katy não conseguiria negar isso à ela. Aliás, nunca conseguira negar nada à loira.
— Eu prometo, meu amor. — Selaram outro beijo.
Um estrondo ensurdecedor foi ouvido, e Taylor sentiu um líquido quente escorrer em seu pescoço. Por último, o baque surdo de corpo pesado batendo contra o solo. Seus batimentos ainda descompassados, e a respiração pesada denunciavam o susto.
Katy sentiu uma dor aguda se apossar de seu peito, assim que pensou talvez ter chegado tarde demais. Ela largou a arma e correu até a loira, abraçando-a com toda força e cuidado ao mesmo tempo. Afagava seus cabelos tentando conter os soluços.
— Vista meu casaco, querida. — Ofereceu, soltando-se de seu corpo.
Taylor olhava ainda horrorizada para o morto. Ciente de todo constrangimento ao qual a loira seria submetida, Katy pensou seriamente sobre enterrar o crápula e não comunicar o acontecido aos seus colegas. Iria contra todos os seus princípios, mas, amava Tay ao ponto de passar por cima disso.
— Por Deus, Katy, ele quase… — Seus olhos estavam inundados de novo. A garganta ameaçava fechar a cada vez que revivia os acontimentos mais recentes.
— Ssh — Sussurrava, alisando seu braço enquanto a envolvia lateralmente.
Arrastando o defunto pela mata até o lugar onde cavaria a cova, Katy se preocupava unicamente com o fato do disparo ter sido feito por sua arma. Bem, teria de arranjar uma desculpa.
Taylor tinha ido até o carro buscar algumas coisas.
— E os rastros de sangue? — Preocupou-se ao voltar.
— A neve vai cobrir amanhã. — Garantiu, pegando a pá e começando a cavar. Taylor ligou a lanterna, iluminando a futura cova.
A morena desviou sua atenção à amada, bem ao seu lado, observando os pequenos cortes em seu rosto, e as marcas em seus pulsos. Ela descansou a pá, se aproximando do cara morto, chutando-o com toda força.
— Katy, não! — Gritou, vendo que sua intenção não era parar. — Não vale à pena. — Tentou tranquiliza-lá.
Voltou a cavar.
Levou horas, e o corpo todo estava dolorido quando finalmente conclui a escavação. Arrastou o homem, e em seu ato final, empurrou-o com o pé para dentro do buraco. O processo de jogar toda a terra em cima fora concluído em menos tempo.
As mulheres se abraçaram, com lágrimas silenciosas nos olhos.
— Prometi que te encontraria essa noite. — Seu olhos azuis esverdeados admiravam de perto os predominantemente azulados. Katy sorriu, colando suas testas.
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