História Rye e Willow : Jogos Vorazes - Calmaria

  Alívio, essa é a palavra certa para o que Luttias sentia quando colocava suas mãos em baixo da água gelada. 7 passos de distância da porta de entrada do prédio Rye se ajoelha ao lado do amigo. 
  - 3° dia, estamos indo bem. 
  - É,- Luttias respondeu concordando, porém continua - mas acho que não importa muito o tempo que ficamos vivos se não vencermos. 
   Mais uma vez dentro daquela arena, surgiu pensamentos de o que fazer se sobrevivesse dois aliados de Distritos diferentes até o final, e também como a Capital é horrível e maldosa. Mas os pensamentos foram deixados de lado. 
   Rye voltou a se levantar. Começou a caminhar e andou entre as poças. Luttias continuou com as mãos aliviadas enquanto pensava. Luttias parou e se agachou de frente a uma das congelada. Pegou a faca que estava com ele fez um buraco lá. Como era uma poça, não era nada funda, mas Rye de lembrou das iscas de peixe, e estava prestes a ir contar a Luttias quando "as coisas" apareceram magicamente na água. Rye se levantou e observou o que parecia ser enguias verdes claras nadando. 
   - Luttias! 
  Luttias olhou assustado - o garoto poderia já estar morrendo -, e viu Rye indo em sua direção. 
  - Luttias, ali tem uma poça com aquelas coisas. 
  - Onde? 
  - Vem. 
   O garoto tirou as mãos da água e acompanhou o menino. 
  - Eu disse para ficar longe dos bichos não me chamar pra ver. 
   Eles observaram as coisas se movendo em baixo do gelo. 
   - Acho que são algum tipo de enguias. - falou Rye
   - Bom, enguias já são ruins, se forem realmente enguias, são especiais dos Jogos, - explicou Luttias - ou seja, são piores do que as enguias normais e é melhor sairmos de perto. 
  - Tudo bem. 
  Eles então voltaram para Luttias colocar as mãos de volta na água. 
   - Espero que depois elas não voltem a coçar. - Luttias disse vendo as mãos que ganharam de volta a cor branca. 
   Rye se sentou ao seu lado. 
   - Nós temos iscas. - disse 
   - Sim. 
   - Serve para pescar peixes.. Ou coisas do tipo. 
   - Isso mesmo Rye, - Luttias olhou para ele sorrindo - é para isso que serve iscas de pesca.
   - Eu sei.. 
   - Porquê? Não está pensando em pescar aqueles bichos né? 
   - Não. - Rye riu. - Nós estamos sem comida, talvez tenhamos que pescar para comer. 
   - É... Será que aquelas coisas são comestíveis? - Luttias disse
   Rye o olhou com uma cara de "Tomara que não." 
   - Espero que a gente ache algo antes de ter que chegar a esse ponto. 
   Luttias tira as mãos da água. 
   - Vamos ver se volta a coçar. 
   - tomara que não. Já estou vendo aquelas coisas saindo e vindo atrás da gente. 
    - Fica quieto Rye. Não seja negativo. 
    Rye de lembrou da ocasião da colheita em que foi muito negativo enquanto Willow tinha certeza que não seria a escolhida. Lembrou também que tinha deixado de ser negativo e sabia que ia vencer aquilo. 
   - Não estou sendo negativo, só imaginei. 
   - Bom, não acho que vão sair de lá. 
   - Na verdade também acho que não. 
   - Até agora não senti nenhuma coceira, - Luttias disse - acho que finalmente acabou. 
   - Bom, então vamos entrar e pensar em um plano para conseguir comida. 
   - Sim Rye - Disse Luttias sorrindo com sua mão melhor - Mas pescar com isca não vai rolar. 
   - Por que não? 
   - Porque não temos vara de pescar.

  - Willow, posso te fazer uma pergunta? 
   Willow olhou para Marlow sorrindo, ele soube qual seria a resposta. 
  - Você já fez! 
  - Quanto tempo você acha que ficaremos aqui? 
   - Não sei. - ela respondeu - até os idealizadores quiserem mais ação e nos forçar a sair. 
  Luttias olho pela janela e viu que estava calmo. Dentro da casa havia uma mesa de madeira com quatro cadeiras velhas, um armário de cozinha mal feito com madeira, além de seis lanças encostadas no canto da parede. A única coisa que parecia ser bom ali, eram as paredes, o teto e a janela. 
   - Onde será que está Rye? - perguntou Willow - Será que está com o Dale? Ou com o Luttias? E se não estiver? Onde estará Dale? 
   - Eu não posso responder nenhuma dessas perguntas. - disse Marlow e se sentou em uma das cadeiras 
   "Espero que meu irmãozinho esteja bem." Willow pensou
    - Sua perna está bem? - perguntou 
   Marlow olhou para sua perna. 
   - Sim, acho que sim. 
   - Mesmo? 
   - Sim, acho que não terei mais problemas com ela. 
    - Ótimo. - respondeu - Olha, só temos essa vasilha com 4 frutas e um pacote de biscoitos, quando acabar ficaremos sem nada. E eu sinceramente não sei aonde acharemos mais comida sem roubar outro tributo. 
   - Calma Willow, sem estresse agora. Você está com muita fome? 
   - Sim, mas acho que posso aguentar mais um pouco. 
  - Então vamos descansar um pouco e depois comemos - ele sugere - Essa noite a gente não conseguiu dormir muito. 
   - Eu concordo. - Willow afirmou - Mas não ache que iremos conseguir dormir bem aqui na arena. 
   - Claro que não. 
   Então dormiram, um de cada vez por umas três horas enquanto o outro vigiava, depois dividiram metade de uma maçã, não sabiam quando achariam mais comida. 
   - Se eu vencer vou me empanturrar de comida. - disse Marlow 
  - A Capital é muito má! Não sabem o que é passar fome. - Willow disse mesmo sabendo que provavelmente iriam cortar aquilo, não iriam passar aquelas palavras para toda a Kanem. 
  Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. Então Marlow perguntou:
   - Você já passou fome? 
   - Não. Graças a Deus. Por quê? Você já? 
   - Não. É que achei difícil imaginar alguém dos primeiros 4 Distritos passando fome.
  Willow olhou para ele. 
   - Você é do 2, já passou fome?
   - Não. - Ele balançou a cabeça e olhou em seus olhos acinzentados - Mas acho uma grande injustiça e burrice humana alguns viverem no lucho e gastarem dinheiro à toa enquanto outros ficam felizes com um pedaço biscoito velho. 
   Aquelas palavras foram tão impactantes que até o próprio autor ficou em silêncio. Até Willow dizer:
   - Temos que pegar mais água. 
   - Agora? 
   - Pior que sim. - respondeu Willow - Ou então podemos esperar até o amanhecer, já que pode ser perigoso sair lá fora à noite. 
   - Acho melhor esperarmos. 
   - Tudo bem então. 
   E esperaram. 
   Já deveria ser dez da noite quando alguém chutou a porta com toda a força possível fazendo os dois quase gritarem de susto. 
  Eles olharam para a porta e um para o outro. Willow fez um sinal com o dedo indicador pedindo silêncio, e então pegou devagar duas lanças, dando uma para Marlow. 
  "Talvez seja agora", pensou Willow "eles invadem e matam nós dois." 
   Outra batida. 
  - Eles estão chutando. - sussurrou Marlow, Willow concordou. 
   Os dois ficaram lá olhando um para o outro e para a porta esperando outra batida, as lanças prontas para o ataque, não eram uma das melhores armas, mas era tudo o que tinham. 
  - Vamos abrir a porta. - disse Willow baixinho 
  - Abrir a porta? Você ficou doida? - perguntou Marlow - Porquê iriamos Abri-la? 
   - Um abre e o outro joga a lança. 
   Marlow olhou para a porta, e se desse algo errado? Os dois poderiam acabar morrendo, ou feridos. E se fossem os carreiristas? 
   Willow estava confiante.
   - Não se preocupe, - ela disse - você abre e eu jogo. 
   Marlow olhou para ela pensando, então decidiu:
  - Tudo bem, mas você abre e eu jogo. 
  - Tem certeza?
  -.. Sim. 
   - Então vamos. 
  Willow caminhou bastante silenciosa até a porta, se posicionou para abri-la, Marlow levantou a lança, pronto para jogá-la ele acenou com a cabeça para Willow. Agora! 
  Ela abriu rapidamente a porta e Marlow não jogou a lança, ele ficou lá parado como se estivesse decidindo se devia jogar ou não. Willow ficou o observando olhar para algo lá fora e para ela. 
   - Marlow o que foi? - ela perguntou - Vou fechar. 
   - Não espere! - ele respondeu fazendo o gesto de pare com a mão livre - Venha ver antes que ele decida vir pra cima de mim. 
   Willow vagamente foi chegando a cabeça para a porta aberta até vê-lo: um Dale bem armado sem nenhum arranhão com a espada pronta para o combate. 
  - Dale!?. - Ela meio falou perguntou exclamou. 
   - Willow! - Dale disse - Graças a Deus.

   Os três sentados a mesa conversavam. Dale ficou preocupado com Rye não estar ali. 
   - Espero então que ele esteja com o tal Luttias. - ele disse - Acho que confio nele. 
  - Ele está vivo, espero encontrar ele, ou ele nos encontrar, antes que algo ruim aconteça.
  - Como conseguiu tantas armas sem ganhar nenhum arranhão? - perguntou Marlow
   - Fui o primeiro a chegar no chifre. - ele contou - peguei o arco para Rye, espada pra mim, esse cinto de facas, - ele o tirou e colocou em cima da mesa - que apareceu na minha frente e essa mochila que peguei na saída. - ele também colocou a mochila junto com o cinto que contia 6 facas - Acho que as melhores mochilas ficam mais perto da cornucópia, pois essa veio bem recheada, principalmente de comida. 
   - Você ficou sozinho esse tempo? 
   - Sim. Estava a procura de você e Rye, esperava que estivessem juntos... Há, descobri onde achar comida! 
  - Onde?- os dois falaram juntos
  - Embaixo das pedras. 
  - Embaixo das pedras? - Marlow e Willow voltaram a falar em uníssono 
  - Acreditem ou não. Quanto maior a pedra, maior o prêmio para quem conseguir movê-la. Claro, nas pedras bem menores não tem nada, nas que tem poder conter frutas, frutas secas, pão, e até.. 
  - Pão? - Marlow pareceu não acreditar
  - É, pão de forma.
  - E até o quê? - quis saber Willow 
  - Madeira, acho que serve pra fazer fogo e derreter o gelo para conseguir água. 
  - Como colocam essas coisas em baixo de uma pedra? - perguntou Marlow 
   - Depois mostro pra vocês. Mas acho melhor nós dormimos um pouco agora. 
   - Pode dormir primeiro. Eu e Marlow ficamos acordados.
  - Sério? - Dale com seus olhos verdes olhou de um para o outro
  - Sim, eu e Willow já descansamos essa tarde. 
  - É, e acho que você não deve ter dormido até agora, já que estava sozinho. - Willow disse 
   - Tudo bem. 
   Mais tarde teve o hino e o brasão da capital brilhou nos céus do campo de força que separava a arena do mundo. Nenhuma baixa.