Uma tosse insistente fez Yixing se trancar por horas no banheiro em frente à pia. Era uma força inevitável, o ar faltava e a tosse vinha como marteladas em seu peito. Seus olhos lacrimejaram e fora previsível que seu nariz e lábios ficassem vermelho carmesim, assim como as gotas que caíam com destreza no azulejo pálido.
Minutos se passaram e nada da dor passar. Não teve escolha, teve que tomar o remédio. O maldito remédio.
Abriu a última gaveta do armário debaixo da pia, morava praticamente sozinho mas ainda sim achava necessário esconder certas coisas. Juntou o pouco que força que ainda lhe restava e achou o que precisava. O útil não era tão necessário.
Encheu a seringa daquele líquido transparente e limpou o antebraço com as mãos trêmulas. Não doía mais sentir as veias sendo rasgadas milimetricamente por aquele fio pontiagudo.
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O barulho nunca fora um incômodo para Baekhyun. Desde criança convivia com o mesmo e, também, era a única lembrança que tinha de seu passado de qualquer forma. Frequentar aquele bar onde ele havia sido adotado por uma ex prostituta não era uma opção. Seu passado sempre o chamava nas cálidas noites solitárias, e agarravam seu pescoço como um alicate agarra um prego.
Dinastia. Baekhyun havia sido abandonado. Fora deixado ali, naquele lugar imundo cheio de pessoas sem razão, e sequer podia perguntar o porquê. Lembrava-se de relance dos olhos de sua progenitora, dos cabelos secos e quebrados, sem vida. Lembrava de suas mãos trêmulas e do choro de todas as noites. Ao contrário das outras crianças de sua idade, não eram cantigas de ninar que ele ouvia antes de dormir.
E não sendo suficiente esconder esta parte de sua vida de todos, ele havia mentido para o melhor amigo. E não somente um, mas dois.
Yixing e Luhan. Os dois confiavam tanto em si, apesar de sua personalidade sem freio e desmerecida de qualquer empatia. Haviam lágrimas nos cantos de seus nos que não podiam cair.
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Tao estava perplexo. Há anos que não pisava em Seul, da última vez havia presenciado um ataque terrorista ao Banco Central da cidade, tal esse que o havia feito ganhar uma cicatriz no joelho. Huang Zitao, um jovem chinês militar que trabalhava para as forças armadas anti-comunistas de Hong Kong. Já nascera nesse ramo. Ele e Jongin eram na mesma escola preparatória de soldados, desde seus primeiros passos o que ele fazia era apenas lutar. E não somente em guerra, mas lutar para sobreviver. E viver sobre à margem da sociedade era uma das consequências.
- Alô? - Estendeu o braço para atender o celular.
- Código 13. - A voz era metálica e o sinal estava péssimo.
- Certo. - Respondeu Tao com hesitação. Não era um bom sinal. Precisava contactar aos outros soldados e, o mais difícil de tudo, convencer Jongin a voltar.
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O refeitório era sempre uma bagunça, e Yixing odiava isso. Usava um moletom por baixo da farda para que pudesse levantar o capuz e esconder-se ali, em sua barraca anti-olhar das pessoas.
- Eu e os meninos estamos pensando em ir a esse acampamento. - Baekhyun surgiu de repente. Carregava alguns livros de capa brilhosa, pareciam novos, porém, não era de praxe Byun ler livros.
- Bom pra vocês. - Murmurou evitando o olhar nos olhos.
- Qual é... - Reclamou - Você deveria ir com a gente. Aliás, você deveria se juntar conosco no refeitório mais vezes. - Se refeia aos outros meninos sentados não tão longe, que pareciam bem animados em conversar sobre algo, menos um garoto dos cabelos sem cor.
- Acho que não me cabe lá. - Engoliu um pedaço de batata inteiro sem querer, tendo que tossir algumas vezes para fosse para o lugar certo.
- Hmm... - Baekhyun iria reclamar da arrogância do amigo se não fosse outra coisa que tivesse chamado a sua atenção.
Yixing estava rouco, olhos fundos e nariz vermelho. Parecia ter perdido peso, o bastante para as marcas que tinha nas bochechas ficassem um pouco mais fundas quando as contraía. Sem contar que estava de mal humor e ele evitava olhar para si.
- Não seja modesto. - Não havia pensado direito no que responder, apenas soltou a primeira coisa que veio em mente para não criar aquele silêncio esquisito de fim de conversa que ele tanto detestava.
- Desculpe, eu só fui sincero.
- Beleza. - Murmurou. Sentou na cadeira ao lado de Yixing e o encarou por longos minutos, tentando ignorar o incômodo que sentia com toda aquela imensidão do amigo. Pelo menos o barulho no refeitório disfarçava seu constrangimento.
- Me conta mais sobre esse acampamento escolar. - Bufou, irritado, mostrando que não tinha como ganhar um diálogo com Baekhyun. Se é que teria havido algum. Yixing sempre cedia e fazia o que o amigo queria. Era irritante, mas não reclamava.
- Quem era aquele garoto com quem você estava conversando mais cedo no refeitório? - Perguntou desconfiado. Novamente deixando perguntas bobas escaparem. Apoiou o queixo com a mão, deixando os livros de lado.
- Por que?
- É por isso que você não quer andar com a gente? Prefere conversar com ele?
- Não estávamos falando sobre o acampamento escolar? - Interrompeu.
- Pelo que eu sei aquele garoto é o que foi apelidado de esquizofrênico na escola... - Soprou as palavra ao vento. Sabia que havia falado o que não devia.
- Não. Esse daí é aquele seu amigo fantasma, o Sehun! - Vossiferou exaltado.
- Ele não... Yixing, por favor, não quero discutir com você.
- E eu não quero falar sobre minha vida pessoal. - Suspirou - Quando vai ser a merda acampamento? - Perguntou impaciente. Havia perdido a vontade de comer e as dores musculares pareciam ter voltado.
- Não tente mudar de assunto.
- Mas que-
Levantou-se.
- Não minta pra mim Yixing! Eu sei que você está escondendo algo que não quer me contar! - Protestou.
- E você não? - Vociferou. Baekhyun ficou estático. - Você não tem seus segredos, Baekhyun? Nos conhecemos há anos e você sempre agiu estranho sobre sua família. Por que não me apresenta sua família? Por que nunca me conta nada sobre a merda da sua vida que você vive dizendo que eu não gostaria de saber?
- Por que eu não tenho uma. - Gritou - Minha família é você. - Murmurou com a voz trêmula. Aquelas lágrimas não podiam cair ainda.
- Está com ciúmes? - Ignorou o olhar de Baekhyun e igualmente o que ele havia dito. Era necessário a arrogância.
- Deveria, mas não.
- Eu conheci ele semana passada, ele apenas não tinha outro lugar para se sentar.
- Sei.
- É sério.
Silêncio.
- Quando eu não quiser contar algo não insista. - Ordenou.
- Nas férias de verão... - Disse doído, olhando o amigo nos olhos. Não era exatamente culpa o que ele sentia. - O acampamento.
- Ótimo. - Pegou a mochila que estava em cima da mesa e saiu com passos pesados.
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