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História Solitude - Inevitável


Escrita por: janeeiko

Notas do Autor


Só para deixar bem claro (algo que eu deveria ter feito antes, desculpe) aqui vai uma lista dos personagens que não são os 12 meninos.

Park DongWon - Pai de Chanyeol
Park JiWon - Mãe de Chanyeol
Shin Ji Hae - Ex babá de Chanyeol (falecida por mercenários de Dongwon/vingança)
Park Bongsan - Tia de Chanyeol por parte de pai
Park Linzy - irmã mais velha de Chanyeol
Park Doram - Tia por parte de mãe
Park Suncheol - Irmão mais velho (que está no exército, por isso ainda não apareceu)
Choi Sooyoung - psicóloga de Linzy (personagem nova)
-
Do Haewon - mãe de Kyungsoo
Do Junsoo - pai de kyungsoo
-
Kim Solgin - mãe de Jongin
Kim Jaehun - pai de Jongin
Kim Jaebum - irmão mais velho de Jongin (mora em NY e eles têm pouco contato)
-
Jung Teiyong - psiquiatra de Sehun (personagem nova)
Oh Benjamin - pai de Sehun (falecido no acidente de carro)
Oh Yoran - mãe de Sehun (falecida no nascimento do filho)
~
E...hmm... tem mais um personagem vindo aí rs mas vou deixar vcs adivinharem~~~~

Alguns foram brevemente citados, outros ainda vão aparecer e outros terão papeis essenciais na estória. Recomendaria que vcs dessem uma relida nos primeiros capítulos, pois eu revisei e ajeitei algumas coisas que estavam bem ruins (tipo a escrita ksks) e também mudei o formato, deixei mais bonitinha e sem esses espaços enooormes que o bloco de notas do meu celular deixa.
Quando eu tiver tempo pretendo fazer uma capa para cada capítulo também, talvez com fotos dos personagens ou dos ambientes onde a estória se passa, não sei, ainda estou decidindo...

Capítulo 29 - Inevitável


Fanfic / Fanfiction Solitude - Inevitável

– CAPÍTULO VINTE E NOVE –

INEVITÁVEL

 

 

Por favor, coloque-me na cama

E apague a luz

Abra suas mãos

Dê-me um sinal

Abandone suas mentiras

Deite-se ao meu lado

E não escute quando eu gritar


 

 

 

 

 

Jongdae pensou ter quebrado a companhia de tantas vezes que a havia pressionado. Os vizinhos abriram suas portas e reclamaram, mas a única porta que ele queria ver sendo destrancada sequer mexia a maçaneta. Esticou o braço e apoiou sua mão na parede. De cabeça baixa pensava em tudo que havia ensaiado para dizer a Jisoo, todos seus arrependimentos e todas suas desculpas. Era inevitável, ele não conseguia não mentir. Mas, talvez, a palavra nem fosse mais essa.

Prestou o relógio e as horas se passavam rapidamente, mesmo que seus pés sequer houvessem mudado de lugar. Respirou profundamente e massageou as têmporas chegando a conclusão que não tinha outro lugar para ir. Jisoo e Junmyeon eram as únicas pessoas que conhecia ali, apesar de possuir amigos, mas quase todos moravam longe, em bairros referenciais em Seul.

Minseok, Jongin, Luhan. Todos estudavam em Seoul Preparatory School. Jongdae estaria junto a eles se tivesse escondido seu QI acima da média e passado no vestibular aos quinze anos, pulando três séries e indo direto para a faculdade. Sequer havia completado dezoito anos ainda.

— Hey! — Exclamou Junmyeon alegremente. — Entra aí.

O apartamento de Junmyeon estava pronto, com tudo no lugar. Meses foram gastos com pintura, móveis e reformas na cozinha, mas estava ok e combinava com a personalidade do mesmo. Tudo geometricamente organizado.

— Você não parece muito feliz, pelo jeito ainda não voltou a falar com Jisoo.

— Isso mesmo. - Bufou.

— Tenho um enorme respeito por pessoas como a Jisoo... — Jongdae fraziu o cenho e olhou desentendido para o amigo. — Todos esses anos com você e sua família fanática e com você dando desculpas para tudo.

— Eu pensei que vir para cá seria algo bom, mas só mais e mais julgamentos e prescrições, não sou seu irmão mais novo, Junmyeon.

— Não quis ofender. Só quero que seja sincero consigo mesmo, e veja que Jisoo é muito jovem para reprimir seus desejos da forma que ela faz.

— Que desejos?

— Não percebe? Garotas nessa idade gostam de ser elogiadas, domadas, notadas, e não um namorado que toda vez que elas chamam para sair tenha alguma desculpa do tipo "estou estudando para a faculdade" onde na primeira vez fica tudo bem, elas entendem, na segunda elas tentam aceitar como algo de extrema importância e a partir da terceira vez fica na cara que você não está tão interessado assim, mesmo que namore com ela há muitos anos.

— Bravo! — Ironizou Jongdae batendo palmas.

— Faz uma semana que está tentando falar com ela e ela te ignora.

— Parece que alguém tem uma bola de cristal. — Pegou da mão de Junmyeon a barrinha de chocolate que comia.

— Você deveria mudar seus métodos.

— O que eu deveria fazer então?

— Você sabe os horários e os lugares que ela frequenta, não? — Jongdae expirou entediado em afirmação, fazendo Junmyeon o olhar com o sorriso de canto que dizia "então, o que está esperando?"

Era um final de tarde agradável, o céu estava laranja, as nuvens brancas e o congestionamento na enorme avenida regular. Huang Zitao usava um termo elegante, porém não chamativo, tinha de ser discreto. Tomava uma xícara de café forte morno com um caderno de folhas amareladas ao lado de seu pires na mesa.

— Então você veio. — Disse assim que Jongin apareceu ao seu lado, sentando-se na cadeira frente a si.

— Não, aqui é um protótipo. — Zitao riu.

— Fico feliz que tenha vindo. — O olhou nos olhos com ternura. — Isso significa muito pra mim.

— É, eu sei.

— Depois de eu ter insistido umas duzentas vezes... - Fingiu olhar distraído para as próprias unhas.

 — Não sou uma pessoa fácil, se quer saber.

— Eu sempre soube. - Sorriu de lado. De fato, Jongin sempre fora um garoto cabeça quente, que ia de não levar desaforo para casa até xingar ou esmurrar alguém só de pensar em irritá-lo.

— Não faço nada sem ter algo em troca. Então, vamos, me conte tudo do zero.

— Vai precisar de bastante tempo para saber tudo.

— Tanto fa-

— E com certeza você ouvirá tudo sem silêncio. — Interrompeu Jongin antes que terminasse de falar. Era outra coisa que não havia mudado, sempre cortando os outros.

Zitao esperou Jongin parar de mexer a perna direita incansavelmente para continuar.

— As diretrizes foram quebradas, o major do Departamento de Defesa Nacional foi encontrado morto no começo do mês passado, e a causa da morte fora esfaqueamento, sete cortes profundos em seu peitoral. — Jongin franziu o cenho ao imaginar a cena, fazia tempo que não convivia com notícias como aquela. — E o mais interessante é que, pelos cortes, provavelmente seria uma faca ou canivete bem afiados, e... — Olhou com mais interesse para Jongin sobre o que falaria a seguir — Os cortes formavam um símbolo.

— Que símbolo? — Perguntou Jongin olhando atentamente para o amigo.

— Um pentagrama com uma cruz invertida. Bem no meio.

— Um símbolo maçônico? - Jongin sentiu algo esquisito no estômago

— Não tenho certeza, Cheng-Gong não quis revelar detalhes.

— Porra. — Murmurou.

 

— Cheng recebeu uma carta. — Zitao olhou para as próprias mãos. Aquela era a parte que mais o incomodava relembrar. — E na carta estava desenhado o mesmo símbolo... E morte escrita em um ideograma mal desenhado. — O incômodo no estômago havia aumentado, misturando-se a uma sensação de raiva e impunidade. — Meu pai está sendo ameaçado, Jongin. Tudo indica que eles não estão tão longe. Este é o motivo de eu ter insistido tanto.

— E porque você acha que eu posso ajudar nisso?

— Você é filho do Major do exército sul coreano, e tem acesso a informações sigilosas. Sigilosas de extrema importância.

— Não é tão fácil assim, Tao. — Jongin levantou-se, o local onde estavam não era tão movimentado, o maior barulho vinha do andar de baixo onde os carros corriam contra o tempo. — Eu não quero ser um espião, eu sei que o papel do seu pai para o seu país é importante, assim como para você, mas, veja só, ele está sendo ameaçado de morte e vocês sequer sabem do que se trata.

— É por isso mesmo que precisamos da sua ajuda. — Levantou-se e ficou de frente à Jongin.

— Para de repetir isso, caramba!

— Você é o melhor hacker que já conhecemos, Jongin. Desde criança sempre soubemos de sua dádiva com combinações, senhas e tecnologia. — Apontou para o amigo - Você, Jongin, conseguiria hacker facilmente qualquer rede deste planeta, da NASA até dados judiciais. Seu pai não te emancipou prontamente sem motivo.

— Tá, tá bom. Merda! Para de falar. — Apertou a cabeça usando as mãos com força. Cambaleou discretamente para o lado em confusão. Estava com a face um pouco avermelhada.

— Desculpe, Jongin.

Zitao tirou um canivete do bolso do blazer que usava e apontou para Jongin. De primeira parecia que o chinês iria chorar, seus olhos brilhavam e a mão tremia, mas assim que encostou a ponta do canivete no peito de Jongin ele não soube como reagir.

— Então é assim? É assim que você trata seus amigos, Huang Zitao? — Cuspia as palavras — Misturando o trabalho com a vida real? Você nunca soube diferenciar isso, não é mesmo?

— Minha vida real é o meu trabalho.  — Proferiu com veracidade.

— E se você me matar, uh? Quem irá roubar as informações para você? — Levou as mãos até a parte de trás da própria cabeça.

— Você não quer morrer, quer?

— E faz diferença? — Rapidamente socou com agilidade o pulso de Tao fazendo o canivete cair no chão. O mesmo reagiu com um soco que seria no peito de Jongin, mas com o antebraço ele o desviou para o ombro. Ligo o chinês tentou deveras vezes socar Jongin de todas as formas para pegar o canivete no chão, porém, em todas as vezes fora impedido. Até que desistiu e se afastou, deixando que Jongin pegasse o objeto no chão.

— Você nunca esteve enferrujado. Você nunca deixou de ser um mentiroso!

— E você nunca foi meu amigo. — Desarmou o canivete e apontou para o chinês antes de guardá-lo no bolso.

— Uma pena você ter escolhido levar uma vida medíocre como  pessoas normais. - Esticou o braço até as costas, tornado no cós da calça um revólver taurus 88 e apontou para Jongin.  — Não vou deixar que alguém que eu amo morra de novo.

E então Jongin cedeu a Huang, que guardou a arma no lugar que estava antes e o puxou pela parte de trás do pescoço com cuidado até o carro que esperava ambos no andar de baixo.

— Eu sou uma pessoa normal.

 

 

O dia amanhecera silencioso. Não chovia mais e uma ponta de luz surgia discretamente pela fresta da janela do quarto onde Chanyeol havia passado a noite. Apesar da advertência de Sehun, não sentiu nada de estranho no tempo em que esteja ali. Esticou os braços e puxou os fios de cabelo que enrolaram em seu pescoço para trás, amarrando-os em um coque frouxo. O moletom que usava era bastante confortável e tinha um cheirinho diferente, não era de perfume e muito menos de roupa guardada, era um cheiro suave que lembrava Sehun, o que não seria menos óbvio já que a roupa pertencia a ele.

Jogou todo o edredom de cima de si e colocou os pés no chão, mas ao fazer isso sentiu algo grudar nos pés. De súbito olhou para baixo e lá estava o que parecia ser uma fotografia emborcada.

Com cuidado a tirou o chão e a virou. Era uma foto antiga, apesar de o papel estar novo e ser plastificado. Uma mulher sentada em uma cadeira, usando roupas escuras que cobriam até o pescoço. Estava pálida e tinha um olhar parado. O fundo era liso e havia uma placa em seu colo com  o que parecia ser uma data onde tinha uma letra borrada e embaixo outra data mais tardia com uma cruz. Chanyeol sentiu os nós dos dedos apertarem e olhou mais uma vez para o rosto daquela mulher, não havia pupila, estavam sem brilho, arregalados, o que significava que quando a foto fora tirada ela estava...

— Morta. — Deixou o pensamento escapar aos lábios sem perceber.

Eram seis da manhã de um domingo, Linzy não havia retornado suas ligações e Kris ainda não havia se desculpado, se é que iria fazer alguma diferença.

Abriu a porta com cuidado e foi até o quarto de Sehun, mas hesitou ao constatar que talvez ainda estivesse dormindo, e que todo aquele alarde fosse em vão, afinal, era só uma fotografia perdida, talvez alguém tivesse deixado cair sem perceber, ao arrumar o quarto, e era um tanto comum essa prática com as pessoas morriam em Chanyeol pensou em sabe-se lá quantos séculos atrás.

Deu meia volta e andou mais devagar ao quarto. O chão era muito frio, e incomodava. A casa era bem espaçosa, toda trabalhada em madeira escura e, apesar de muito provavelmente ser antiga, o piso brilhava como se fosse novo, apesar dos arranhões visíveis de longe.

Tinha um cheiro esquisito de folhas queimando e de longe a sensação era estranha de se estar ali. No final do corredor da sessão de portas onde ficavam os quartos daquele andar havia uma com faixas amarelas na maçaneta. Curioso, Chanyeol foi até lá.

Uma ventania fez barulho ao seu ouvido e sentiu as costas arquearem em reação. Engoliu seco e olhou para o que estava escrito nas faixas.

"Oh Benjamin - Antigo quarto não entrar”

Chanyeol respirou fundo e achou que talvez fosse melhor voltar ao quarto de hóspedes antes de alguém o flagrasse ali.

Mas, quando se virou, a mulher da foto o encarou com uma faca nas mãos.

Imediatamente desviou de seus ataques, sentindo o coração quase saltitar pela boca, e correu de volta ao quarto. De onde não deveria ter saído, pensou consigo mesmo.

Tudo havia acontecido tão rapidamente que achou não ter sido real, mas foi. O que iria fazer então? O que deveria fazer?

— Droga, Chanyeol! — Murmurou novamente para si mesmo, tentando conter o nervosismo.

Enfim respirou fundo. A foto ainda estava em suas mãos, as jogou para longe assustado. Minutos haviam se passado num estalar de dedos.

Sentou-se volta à cama e escondeu o rosto nas próprias mãos, curvado. Alguém deu três batidas leve na porta e pensou se deveria ou não abrir.

— Chanyeol? — Era a voz de Luhan, sentiu um alívio. — Achei ter ouvido alguém correndo. — Perguntou desconfiado assim que a porta fora aberta.

— Eu... Eu não ouvi nada. — Mentiu.

— Ah... — O ruivo sorriu sem jeito — Desculpa é que, é que a casa é grande e antiga e às vezes eu ouço coisas, sabe.

— Entendo.

— Mas já que você está acordado, se quiser descer para comer algo é só me chamar, geralmente o Sehun acorda muito cedo e faz isso sozinho, então... - Gesticulou com as mãos ao falar.

— Eu acho que não vou comer agora. — Respondeu Chanyeol pausadamente pensando o quão estranho Sehun era. Em tudo. E aquela casa também. — Obrigado.

— Tudo bem, então. — E saiu.

Chanyeol respirou fundo e achou melhor colocar a foto na gaveta do criado-mudo. Nunca mais andaria sozinho naqueles corredores novamente.

 

 

Sehun tinha um olhar confuso. Meio escolhido na cadeira com as pernas e braços cruzados, inspirava e expirava devagar enquanto Luhan, Marta e Chanyeol tomavam o café da manhã.

— Então, como vocês, meninos, estão indo na escola? — Perguntou Marta após beber o primeiro gole de seu café.

— Bem. Relativamente bem, tenho tirado algumas fotos para o jornal da escola e Baekhyun, por incrível que pareça, está me ajudando bastante com isso.

— Baekhyun? Aquele Baekhyun que você sempre fala? — Retrucou Marta.

— Sim, o que me dá dor de cabeça, ele mesmo. — Pegou um pouco de chantilly e colocou nos morangos que comia.

— Ele tem mudado...

Enquanto Marta e Luhan conversavam incansavelmente, Sehun sentia algo ruim rodar dentro de si. Seus olhos ardiam por ter diminuído a frequência de vezes que piscava, franziu o cenho não querendo ter certeza de nada. Chanyeol sorria de canto prestando atenção na conversa, sequer havia tocado na comida e havia um arranhão em seu antebraço próximo ao cotovelo. Sehun quis tocá-la só para ter certeza.

Entretanto, Chanyeol percebera a atenção que Sehun estava dando ao seu braço e procurou o que havia de tão interessante ali. E achou.

— Ah, isso... — Pensou por um instante. — Eu não sei de onde isso surgiu.

Sehun levantou o olhar até os olhos de Chanyeol. Ele sabia que algo havia acontecido, e que Chanyeol não queria contar. Ficou em silêncio.

— ...Eu jurava que você tinha derramado tinta no carpete, eu quase surtei! — Dizia Marta à Luhan animadamente.

Chanyeol já havia perdido a fome. Sehun engoliu seco e em movimentos quase robóticos levantou rapidamente e andou até a saída da cozinha que dava em direção ao Jardim da casa.

— Sabe, às vezes eu acho que o Sehun tem alguma problema com as manhãs. — Comentou Luhan, atônito, porém não durou muito e logo outro assunto surgira para conversar com a tia.

— Com licença. — Pediu Chanyeol levantando-se com apreensão e seguindo o caminho do loiro.

      — Chanyeol também.

 

 

— Você é sempre estranho assim pelas manhãs? — Perguntou um pouco alto pela distância que mantinha do outro. Sehun virou-se devagar e olhou doído para o amigo.

— Hyung... — Não conseguiu terminar o que pretendia dizer, sequer disse o nome do amigo pelo engasgo que tomou conta de si. Tossiu pesarosamente e sentiu o olhar de Chanyeol queimar dentro de si.

— Está muito frio aqui fora. — Aproximou-se,  não muito, de Sehun, oferecendo amparo para que se sentasse no banco de madeira que ficava em baixo de uma bela árvore bem florida com flores vermelhas e roxas. - Acho melhor não ficarmos aqui.

A tosse parou e Sehun hesitou até finalmente olhar nos olhos de Chanyeol.

— Você viu algo, não viu?

— Como?

— O arranhão em seu braço. Somente uma pessoa que conheço sabe fazer esse tipo de arranhão. — Chanyeol sentiu o corpo gelar ao ouvir aquilo de Sehun. A mulher havia sido real, muito real.

— Eu achei uma foto. —  Disse seriamente — Ao lado da cama, no chão.

— De uma mulher, velha?

— Sim...

— O nome dela é Bernadete Bevouir. Morreu envenenada pela amante do marido no século dezessete, e todas as noites ela roda a casa a procura dos dois.

— Mas... Por quê? — O mais velho sentiu-se profundamente estranho pela aquela conversa. Era surreal demais para se contentar.

— Ela morou aqui. Nasceu, morou sua vida toda e o morreu aqui. — Os olhos de Sehun enfureciam-se de lágrimas. Sentiu-se constrangido ao deixá-las cair contra a própria vontade.

 

— Eu sinto muito. — Apertou o antebraço do amigo, não sabendo o que comentar sobre.

— Eu odeio isso. Odeio poder ver eles. — Murmurou choroso. — Os mortos.  Odeio ser clarividente, ou seja lá o que essa merda seja. — Levou as mãos ao rosto tentando conter o choro. — Todos falam comigo, todos que já residiram esta casa. Menos meus pais. Por quê?

Fora quando os soluços começaram e Chanyeol o puxou para um abraço embaraçado. E ali Sehun permaneceu insólito de emoções e confusões, afundado nos braços do amigo real, que emitia calor e respiração descompassada, que caía tão bem em suas vestimentas e nunca desistia de tentá-lo confortar. Sentiu um frio na barriga ao perceber que Chanyeol também sabia e que não era louco. Praguejou e agradeceu aos céus em silêncio por aquele abraço, por não estar mais sozinho enfrentando os próprios demônios.

 

 

 

Jongin sentia os olhos arderem de raiva.  Estava sendo obrigado a fazer algo contra a própria vontade e com uma arma apontada para si. Zitao havia amarrado suas mãos para frente com uma corda grossa que fazia seus pulsos coçarem. O carro balançava de vez em quando e as ruas estavam escuras.

– Para onde estamos indo? – Perguntou com a face e a voz travadas, como se fosse um anti-surto.

– Aeroporto. – Disse Zitao. O revólver estava travado em seu colo.

– O que? – Jongin estava indignado. – Não podemos! Eu não posso! – Protestou - Eu tenho treino amanhã e o que meus pais vão pensar?

– Esqueça tudo.

– Seu filho da... – Zitao não se ofendia com palavrões. Era preciso ser bem mais agressivo para tirá-lo do sério. Agressivo e maluco. –  Cretino! Imbecil! Filho da puta!  – O chinês não expressou sequer uma exclamação pelas ofensas de Jongin. Escondeu a arma no cós da calça e soltou seus pulsos. – Você não presta. Nunca prestou!

Silêncio.

– Vamos. – O carro parou e logo estava de frente ao aeroporto. Pelo relógio na entrada da recepção pode constatar que já passava das nove da noite.

– Espera! Como vou viajar sem passaporte? – Perguntou Jongin enquanto Zitao digitava algo no celular que havia tirado do bolso. Sorriu de canto e o olhou astucioso.

 

– Não vai ser preciso.  – O puxou pelo ombro sem delicadeza e dois homens usando ternos ficaram um de cada lado dos dois. – Você não quer fugir agora, não é mesmo? – Perguntou Zitao o fazendo seguir consigo os seguranças.

 

Em uma porta pequena ao lado do banheiro, bem afastada da movimentação, tinha uma passagem para um corredor enorme e estreito. Não havia câmeras ali e a todo o momento Zitao parecia enviar alguma mensagem pelo o aparelho em suas mãos. Quando se deu conta Jongin estava do lado de fora, na pista de decolagem, só que os aviões estavam bem distantes. Era uma pista menor e menos iluminada. Logo uma ventania forte se fez presente. Um helicóptero.

– Um helicóptero? – Ironizou Jongin.

– Acho bom não tentar fugir pela janela. – Respondeu o chinês no mesmo tom. – Não seria uma boa pousada ao chão.

Então Jongin foi empurrado para dentro do helicóptero, com os cabelos bagunçados e nem um pouco contente, teve as mãos amarradas novamente.

– Acho bom aproveitar meu cativeiro. Pois, quando eu me livrar disso, você será o primeiro o qual irei me vingar. – Sussurrou entre dentes para Zitao. Precisava encontrar alguma forma de ligar para alguém, antes que seu pai sentisse sua falta e descobrisse que a conta do Palácio Xian Ji não era tão segura quanto todos costumavam dizer.

 

O clima não havia mudado desde a tempestade. A diferença era que o vento estava mais fraco e as gotas menos barulhentas. A iluminação do quarto de Sehun era morna, como o sol nas manhãs de outono. A luz era fraca, mas forte o suficiente para enxergar a cor de seus olhos. E era isso o que Chanyeol fazia. Estavam ali fazia longos minutos e não era preciso dizer nada para entender que Sehun não estava bem. E que Chanyeol queria entender Sehun.

Apesar de toda sua confusão mental, Sehun era calmo e delicado. Tinha uma pele de porcelana e dedos finos, que combinavam perfeitamente com os traços delicados de seu rosto, olhos pequenos e retos, um pouco puxados para cima, como os de um felino recém-chegado ao mundo. O nariz era bem desenhado, assim como os lábios, avermelhado e macio.

 

Chanyeol sabia que toda vez que ele sentia que algo estava por perto, ele ficava mais quieto que o normal - o que era possível, mesmo que achasse que não. Ele ficava com os olhos gélidos e corpo paralisado, com os braços mais próximos ao próprio corpo e evitava olhar para os lados. Era como um surto psicótico em um mudo. – Entretanto, Sehun, em seu estado normal, se movia com leveza, andava devagar, como se as nuvens estivessem pairando aos seus pés. Tinha uma mania de franzir o cenho e morder os lábios, mostrando seu par de presas discretamente. Sua aura era tão inexplicável para Chanyeol que achou que sua dificuldade de respirar fosse por outra razão, e não pelas batidas de seu coração em um pensamento rápido sobre aquilo que refletia naquele exato momento.

 

Quando Chanyeol o viu pela primeira vez no cemitério, soube no mesmo instante que não estaria mais sozinho. Pois Chanyeol também via fantasmas. Não tanto quanto Sehun, mas via. E sentia.

Demorou um pouco para ter essa certeza, estava indubitavelmente acreditando ter algum distúrbio mental, com aquelas vozes e pesadelos que batiam na porta de seu quarto todas as noites. Das chamadas e a necessidade que tinha de estar no cemitério, próximo dos mortos e longe dos demônios de sua alma.

Conhecer Sehun e seus modos o fez enxergar as coisas de uma forma diferente, perder suas alusões, o fez e finalmente entender o que era.

– Eu não quero que mais ninguém saiba sobre isso. – Disse Sehun após longos minutos em silêncio. Assegurou não olhar Chanyeol de volta. Olhava para as próprias mãos que descansavam em seu colo coberto pelo cobertor bagunçado de sua cama.

– Ninguém mais sabe.

Sehun era uma incógnita. Era a única conclusão que Chanyeol conseguiu ter após todo o tempo que já gastou o observando.

– Eu não quero que ninguém saiba. Nunca. – Cobriu o rosto com as mãos. Chanyeol sabia, ele se esforçava bastante para não chorar.

– E ninguém vai saber. – Segurou sua mão. – Confie em mim.

– Eu não quero ajuda. – Relutou contra o próprio corpo para que a voz não falhasse. – Não quero ter que tomar mais remédios. - Proferiu meio embargado. Seus lábios tremiam levemente, e não era por causa do frio. – Têm um gosto horrível e dói quando eu engulo. – A voz saía com dificuldade e, apesar de sentir um medo incontestável, mantinha-se no lugar. – Eles devem ter pena de mim... Todo mundo deve sentir pena de um garoto como eu. - Piscou os olhos algumas vezes e os fechou. - E eu odeio isso com todas as minhas forças.

Chanyeol apertou sua mão e sentou mais próximo de si na cama.

– Foda-se o que os outros pensam. Eu não sinto pena de você, Sehun. - Firmou. - Não se martirize com isso.

- Eu não me martirizo. - Retrucou. Com pesares levantou suas pálpebras devagar e nunca pensou que teria alguém tão próximo de si como Chanyeol estava. Seus pensamentos esvaíram-se um pouco e uma sensação do querer desconhecido rodou-o subitamente, mas nada fez. Permaneceu ali, meio deitado tortamente, encharcado de frio e de medo, desejando que aquela pontada de calor em seu peito não fosse irreal. Que fosse tão real quanto seus pesadelos.

– Não precisa aceitar minha ajuda, eu não preciso de consentimentos. Eu vou ajudar, você queira ou não. – Chanyeol não cautelou em persistir o que já havia prometido para si mesmo em segredo.

– Vai agir contra minha vontade?

– Vou agir como seu amigo.

Sehun pensou.

– Eu não entendo... Mal nos conhecemos, apesar dos encontros e desencontros. Não somos tão próximos assim e eu não sei nada sobre você além do que me contou. Nada que eu tenha descoberto por mim mesmo ou presenciado.

Os olhos de Sehun estavam menos embargados, mas mesmo assim brilhavam em lágrimas como o mar brilha em reflexo ao sol num final de tarde. A vontade de chorar havia passado.

– Eu também não... Sobre você.

Chanyeol podia o observar com mais calma, sem se preocupar se alguém acharia estranha a forma como ele olhava. O próprio se achava estranho por agir daquela forma, pois numa fora assim com ninguém antes. Sentia que talvez não fosse apenas o comum e o acaso que o deixasse daquela forma com Sehun, mergulhado em seus olhos tanto quanto em sua dor.

– Chanyeol... – O olhou nos olhos – Eu confio em você. – Proferiu com firmeza. Perguntava-se por que não conseguia deixar de olhar nos olhos do mesmo. Sehun sempre teve medo dos olhos das pessoas tanto quanto dos fantasmas, da própria morte. Mas aquele par de olhos castanhos com olheiras não parecia lhe oferecer perigo. Muito pelo contrário, o que era inquietantemente estranho.

– Eu também confio em você, Sehun.


Notas Finais


Apparat - Goodbye (Letra/Tradução) https://www.youtube.com/watch?v=moU8Zt02QmU


O que acharam?
Estou me superado em atualizar Solitude com frequência uhu
Mas to percebendo que tem menos pessoas acompanhando a fic, apesar de faltar pouco para 200 favoritos a média de visualização por capítulo só diminui...vamos rir para não chorar :') estou realmente me esforçando em fazer algo bom e recomendaria que vcs relessem alguns capítulos anteriores pois o que vai acontecer a partir daqui precisará de algumas recordações ;-;

Só queria dizer que revisei tudo bonitinho até o capítulo 10 <3 fiz até capa e tudo mais. Estou aproveitando ao máximo meu tempo livre revisando os capítulos seguintes e consegui algumas fotos para fazer uma capa para cada capítulo :)
Era para eu ter atualizado ontem, mas fiquei sem internet e ela só voltou agora, o roteador daqui está com defeito ;-;
Espero que vocês estejam gostando de solitude <3 eu escrevo com muito amor e da muito trabalho organizar tantos personagens e acontecimentos, sem contar que procuro sempre renovar minha escrita, de uma forma que não fique tão repetitiva e seja o mais detalhada possível. Confesso que as vezes me sinto bem desmotivada em atualizar, não sinto que eu esteja progredindo com algo, e as vezes minha cabeça está tão cheia de problemas e coisas para resolver que simplesmente jogo tudo pro ar e vou fazer algo que me deixe de bom humor.
Escrever não é fácil e muito menos quando você faz isso sozinha. Já perdi as contas de quantas vezes pedi ajuda de alguém, seja em grupos ou pessoalmente, para me ajudar a revisar, fazer capas ou até mesmo na divulgação, mas ninguém nunca se oferece ou quando dizem que podem me ajudar em algo não ajudam de fato ou somem.
Prometo que não vou mais demorar para atualizar, por mais difícil que seja não quero desistir dessa fanfic. Não quero jogar minhas ideias fora. Vou continuar fazendo tudo sozinha e tanto faz se alguém se importa ou não.
Não sei nem porque eu disse isso aqui, enfim, eu não sou muito normal da cabeça mesmo ksksksksks


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